Funcionalismo (cap 7) O funcionalismo se concentra no funcionamento, no modo de operação (modus operanti), dos processos conscientes (e não na estrutura ou conteúdo da consciência) Herbert Spencer (1820-1903) Inglês, desenvolveu uma filosofia que teve enorme impacto nos EUA: o darwinismo social, que aplicava a teoria evolucionista de Darwin ao caráter humano e as instituições sociais. Cunhou o termo “a sobrevivência dos mais aptos” e supôs que para haver a evolução da espécie humana e da sociedade era necessário deixar a ordem natural atuar. Para isso, portanto, o governo não deveria intervir na economia (ajudando instituições) nem no bem-estar da população (com subsídios à educação, à moradia e combatendo a pobreza). Defendeu, portanto, o liberalismo, teoria inteiramente compatível com o espírito individualista americano, com a livre-iniciativa, a auto-suficiência e a independência da interferência do Estado, compatível com o senso prático e funcional dos americanos. Em sua “Filosofia sintética” discutiu a noção de que a forma atual da mente é resultado dos esforços adaptativos a diversos ambientes. William James (1842-1910) Norte-americano, no livro “Os princípios da psicologia” (1890) apresentou a idéia de que a psicologia não tem como meta a descoberta dos elementos da experiência, mas o estudo da adaptação dos seres humanos ao seu meio ambiente. Criticou Wundt afirmando que a sensação simples não existia na experiência da consciência (era artificial). Para ele, a consciência é um fluxo constante e contínuo. A mente também é contínua e é seletiva: ela filtra, combina, separa, seleciona experiências relevantes e rejeita as irrelevantes. A função da consciência é nos guiar aos fins necessários para a sobrevivência, ela é uma necessidade de um ser complexo em um ambiente complexo. Ela proporciona a capacidade de adaptação, permitindo a escolha voluntária (que possibilita uma ação diferente da determinada pelo hábito). Enfatizou que o físico afeta o intelecto (por isso devia ser estudada a ação do cérebro sobre a consciência), e que os aspectos não racionais as emoções, as necessidades e os desejos - determinam crenças e influenciam a razão e os conceitos. Método. Aceitava e adotava vários métodos: introspectivo, experimental, comparativo. Foi pragmático, como Peirce (defendeu a idéia de que verdadeiro é o que funciona, de que o significado das idéias está em suas conseqüências práticas). Afirmou que as emoções são o mesmo que as reações físicas (e portanto não as antecedem) o medo é o batimento cardíaco, respiração ofegante e etc. Afirmou que os hábitos facilitam a execução das repetições e assim exigem menor atenção da consciência. A fundação do funcionalismo O termo funcionalismo foi usado primeiramente por Titchener, em 1898 (6 anos depois de chegar nos EUA e 8 depois da publicação de “Princípios ...” de James) , para diferenciar do estruturalismo. O Funcionalismo consistiu: 1) interesse pelas funções da consciência 2) aplicação da psicologia à adaptação do homem ao ambiente. Funcionalismo na Escola de Chicago: Dewey, Angell e Carr Funcionalismo na Universidade de Columbia: Thorndike e Woodworth Escola de Chicago Dewey Escreveu em 1896 um artigo (o conceito de arco reflexo na psicologia) que foi o ponto de partida da psicologia funcional. O objeto de estudo da psicologia de Dewey é o organismo inteiro e seu funcionamento no ambiente. Consciência e comportamento trabalham para o organismo. A consciência gera o comportamento adequado, que permite o organismo sobreviver. Para ele, não se deve estudar o arco reflexo por meio apenas de seus elementos sensórios/motores: Estímulo e resposta. Ambos (estímulo e resposta) devem ser vistos como uma unidade, um círculo (a mesma criança que é, primeiramente, atraída pelo fogo, o repele quando se queima, mudando assim sua percepção do objeto). Angell Descreveu os principais temas do funcionalismo: 1) modus operante do processo mental, 2) utilidades da consciência (e de outras funções como o julgamento e a vontade), 3) relações entre a mente e o corpo, e entre o organismo e seu ambiente. Carr 1) Definiu a atividade mental (memória, percepção, sentimento, imaginação, julgamento e vontade) como objeto de estudo da psicologia. 2) Afirmou que a função da atividade mental é a aquisição, fixação, retenção, organização e avaliação das experiências e a sua utilização para determinar a ação (ie, o comportamento de adaptação). Utilizou-se de vários métodos para estudar a consciência e o comportamento: experimental, introspectivo, análise das criações culturais (arte, literatura), pesquisa com animais. Universidade de Columbia Thorndike Recebeu toda formação nos EUA, estudou com William James e trabalhou com psicologia animal Acreditava que a psicologia devia estudar o comportamento e não os elementos mentais e a experiência consciente. O comportamento devia ser reduzido aos seus elementos mais simples: estímulo e resposta. Elaborou uma teoria da aprendizagem objetiva e mecanicista: A aprendizagem é o estabelecimento de conexões entre situações e respostas. A mente é um sistema de conexões. Conexionismo: não se trata de associações entre idéias, mas entre situações (verificáveis) e respostas. Projetou uma caixa-problema para gatos (eles tinham que abrir uma porta puxando uma alavanca ou uma corrente, para alcançar a comida) e mostrou que os animais faziam movimentos de tentativa e erro. Ficavam, no entanto, gravados os movimentos que produziam satisfação. Formulou duas leis da aprendizagem Lei do efeito: Associação entre respostas que produziam satisfação e a situação em que a resposta produzia satisfação. Lei do exercício (uso e desuso): quanto mais o comportamento é realizado mais forte se torna a associação entre comportamento e situação. Thorndike no seu experimento registrava medidas quantitativas: número de movimentos errados e tempo de aprendizagem. Influenciou muito o Behaviorismo. Woodworth Os psicólogos devem estudar os estímulos/respostas (a parte mais objetiva do estudo) mas também o organismo vivo que de acordo com níveis de energia e experiência passadas e presentes, atua junto com o estímulo para determinar a resposta (E-O-R). A psicologia dinâmica deve estudar as relações de causa e efeito, mas principalmente as motivações PSICOLOGIA APLICADA (CAP 8) Simultaneamente a fundação do funcionalismo como escola de pensamento ocorreu o movimento da psicologia rumo a prática, ao mundo real (escolas, fábricas, agências de publicidade,tribunais, clínicas de orientação infantil e centros de saúde). 1893: feira mundial de Chicago, exibição dos equipamentos de Galton e medição da capacidade sensorial Muitos psicólogos foram para a prática, além da pesquisa experimental, devido a dificuldades financeiras. Para os cursos conseguirem mais verbas era necessário mostrar para a população que a psicologia era capaz de ajudar a curar os males da sociedade. Granville Stanley Hall (1844-1924) Foi aluno de Wundt e criou o primeiro laboratório nos EUA de psicofisiologia (1883) (9 anos antes de Titchener chegar nos EUA). Ressaltou a importância da psicologia para educadores. Teoria da recapitulação. O desenvolvimento da mente envolve uma série de estágios evolucionários. A criança repete no seu desenvolvimento pessoal a história da raça humana (do estado selvagem à civilização). Promoveu o estudo empírico da criança (do funcionamento da criança no mundo real) e o conceito de desenvolvimento psicológico (estudava o desenvolvimento humano e animal relacionado com a adaptação). James Mckeen Cattell (1860-1940 ) Estudou com Wundt e foi companheiro de Galton. Por influência de Galton, desenvolveu testes mentais e foi um dos primeiros psicólogos americanos a quantificar, classificar e utilizar a análise estatística dos resultados experimentais, conseguindo assim mensurar as diferenças individuais. Ofereceu serviços psicológicos para a indústria e para a comunidade em geral. Os testes mentais de Cattell baseavam-se em medidas sensóriomotoras, mediam: força, velocidade de movimento, limiar de distância de dois pontos para sensibilidade tátil, sensibilidade a dor, percepção da diferença entre dois pesos, tempo de reação ao som e para nomear cores. Posteriormente concluiu que o resultados dos testes não tinham correlação com o desempenho universitário. Binet (1857- 1911) e Terman Binet, francês, desenvolveu testes de inteligência que avaliavam funções cognitivas (e não sensório-motoras, como Galton e Cattel): julgamento, compreensão e raciocínio. Desenvolveu o conceito de idade mental (idade em que as crianças conseguem realizar as tarefas exigidas no teste). Terman (1916) desenvolveu o conceito de quociente de inteligência (QI) que é a proporção entre idade mental e a cronológica. Depois da primeira guerra mundial uma epidemia de testes psicológicos varreu os EUA, testes de inteligência para selecionar militares, testes para avaliar as características de personalidade, para trabalhadores, para crianças nas escolas, para vestibulandos ... até para descobrir eventuais jogadores de beisebol. Eram vistos como termômetros, Raio-X da mente, necessários para medir a força mental dos indivíduos que constroem a sociedade (como a necessária avaliação do material que constrói uma ponte). Os testes foram usados na seleção de imigrantes (gerando idéias bem racistas, russos eram mais inteligentes que judeus, que eram mais inteligentes que húngaros e estes que italianos. Que imigrantes da região do mediterrâneo, da America latina e os negros tinham QI mais baixo (Bond, um psicólogo afro-americano mostrou que a diferença de QI devia-se ao fator ambiental e não hereditário). Lightner Witmer (1867-1956) Aluno de Wundt e Cattel aplicou a psicologia na avaliação e no comportamento anormal. Inaugurou o campo da psicologia clínica e em 1896 abriu a primeira clínica de psicologia do mundo que avaliava e tratava problemas de aprendizagem e comportamento das crianças em idade escolar (proporcionava diversas experiências sensoriais e envolvia a família e a escola no tratamento). A Psicologia clínica cresceu muito na época da 2ª guerra, para tratar dos distúrbios emocionais dos soldados, além da orientação vocacional e pessoal para sua inserção na sociedade. (Hoje a clínica é a maior ocupação, com 1/3 dos psicólogos que fazem pósgraduação). Walter Dill Scott (1869-1955) Também aluno de Wundt, aplicou a psicologia nos negócios e na publicidade. Identificou métodos para motivar trabalhadores (melhoria do ambiente) e consumidores (melhoria do mercado). Na publicidade trabalhou com a sugestionabilidade do consumidor que, segundo Scott, não age pela razão mas pela emoção, simpatia e sentimentalismo. Dizia que a mulher é mais sugestionável e que a publicidade devia usar comandos diretos e cupons, para que o consumidor tomasse uma atitude direta. Na seleção dos funcionários criou escalas de classificação para diversos cargos, baseada no relato dos superiores. Definiu a inteligência em termos práticos (julgamente, rapidez e precisão) e desenvolveu testes para aplicação em grupo. Na segunda guerra mundial as armas se tornaram tão complexas que exigiam profissionais qualificados para operá-las o que estimulou as técnicas de seleção e treinamento. Desenvolveu-se também a ergonomia, ciência que estuda a adequação dos instrumentos às habilidades humanas Em 1927, pesquisas indicaram a importância do aspecto social e psicológico para os trabalhadores, o que levou a novas pesquisas a respeito de liderança, grupos informais, atitudes, comunicação, motivação, produtividade e satisfação. Münsterberg (1863-1916) Desenvolveu a psicologia forense. Tentou usar a psicologia para detectar culpados e desenvolveu pesquisas para testar a confiabilidade do relato das testemunhas oculares. Escreveu um livro sobre psicoterapia e utilizava a hipnose para sugestionar o paciente a esquecer idéias perturbadoras e dificuldades emocionais. Tratou do alcoolismo, dependência de drogas, alucinações, obsessões, fobias e distúrbios sexuais. Trabalhou também como consultor em diversas empresas.