A vida por um bit! Américo T. Bernardes Depto Física/UFOP CADSC II - São Carlos, julho 2005 Sumário • • • • Fatos: evolução e envelhecimento Modelo básicos Modelos computacionais Resultados CADSC II - São Carlos, julho 2005 Estudando populações Tabela de vida para o carneiro montês de Dall •Num instante de tempo •Variando o tempo Numa população de N(t) indivíduos, que podem ser agrupados em faixas etárias Nj(t), define-se a probabilidade de sobrevivência como: Sj N j 1 (t 1) N j (t ) CADSC II - São Carlos, julho 2005 idade 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 sobreviventes 608 487 480 472 465 447 419 390 348 268 154 59 4 2 0 S 0,80 0,98 0,98 0,98 0,96 0,94 0,93 0,89 0,77 0,57 0,38 0,07 0,50 0,00 Probabilidade de sobrevivência para o carneiro montês de Dall A queda da probabilidade de sobreviência com a idade é chamada de senescência ou envelhecimento. Diversos fatores podem influenciar a distribuição de probabilidades Probabilidade de sobrevivência da pulga d’água em relação à densidade populacional CADSC II - São Carlos, julho 2005 Taxa de mortalidade: q j 1 N j 1 (t 1) Para a população americana. N j (t ) 1,000000 1 Lei de Gompertz q ( x ) qo e 0,100000 cx 0,010000 Taxa de mortalidade para a população alemã. 0,001000 0,000100 CADSC II - São Carlos, julho 2005 12 23 34 45 56 67 78 89 100 111 As populações podem variar com o tempo Evolução de população da mariposa de inverno Variação da população de carneiros na ilha da Tasmânia “pequenas” flutuações CADSC II - São Carlos, julho 2005 E onde entram as ervilhas? Em 1866, Mendel publica o resultado de um árduo trabalho de pesquisa, onde são definidas as idéias básicas da hereditariedade Demora um pouco até o trabalho de Mendel ser notado. A partir da década de 1920, são formuladas as bases da moderna Teoria Genética de Populações CADSC II - São Carlos, julho 2005 Assim, a evolução de uma população será determinada por: Reprodução Mutação Seleção Em 1953, Watson e Crick apresentam a descoberta da dupla hélice do ADN A informação sobre a constituição de um ser vivo está armazenada no interior dos núcleos das células, nos cromossomos CADSC II - São Carlos, julho 2005 Envelhecimento!? ao diabo com isto.... ... em biologia, conjunto de modificações inevitáveis e irreversíveis, que acontecem num organismo com o passar do tempo e que Mefistófeles e Fausto, finalmente conduzem à na vesão de C.Marlowe. morte. CADSC II - São Carlos, julho 2005 Na reprodução, falhas podem ocorrer na duplicação do DNA, gerando mutações. As mutações são, geralmente, maléficas (deletérias). As doenças genéticas podem se expressar em diferentes idades. Quanto mais tarde aparecem, maior será sua disseminação entre a população: As mutações que provocam doenças que se expressarão em idades avançadas são fracamente selecionadas. Há um acúmulo destas mutações na população. É este o principal causador do envelhecimento. CADSC II - São Carlos, julho 2005 Síndrome de Hutchinson Gilford: cerca de 20 casos Fibrose cística: 1/3900 da população americana. Metade dos portadores morre antes dos 30 anos Sindrome de Hutchinson Gilford Doença de Alzheimer: 1,5% da população americana. Surge por volta dos 60 anos de idade. Fibrose cística Doença de Alzheimer CADSC II - São Carlos, julho 2005 Como fazer um modelo? Ingredientes básicos: •População com estrutura etária ou não •Indivíduo caracterizado pelo genoma • levar (ou não) em conta o fenótipo •Reprodução •assexuada ou sexuada •Mutação • só na reprodução ou também somática •Seleção •expressão genética •acidentes aleatórios •predação •Ambiente finito CADSC II - São Carlos, julho 2005 Classes de problemas • Microevolução – dinâmica de uma população (Eigen, Charlesworth, Penna, Heumann-Hotzel) • Coevolução – competição e coexistência de populações (Penna, Lotka-Volterra) • Macroevolução – a dinâmica de muitas epsécies (Bak-Snnepen) CADSC II - São Carlos, julho 2005 Microevolução Teoria Genética de Populações (1908-) ! Somente para casos muito especiais é possível acompanhar o processo evolutivo em estado selvagem. Hipóteses fundamentais (teoria clássica) • população constante - supõe-se que a população atingiu um estado de equilíbrio: balanço seleção-mutação. Para fitness decrescente, implica em uma taxa de natalidade crescente. Alguns fenômenos são causados pela evolução fora de equilíbrio de populações finitas: extinção ? CADSC II - São Carlos, julho 2005 • gerações sem interseção - como na reprodução de bactérias. Alguns modelos atualmente trabalham com populações com distribuição etária. • tamanho do genoma constante – todos os modelos assumem que o genoma permanece com o tamanho inalterado no processo evolutivo. ? Isto deve ser alterado para o estudo de especiação. meio-ambiente constante- o processo evolutivo não altera o meioambiente. A especiação em geral é uma resposta à mudanças no meioambiente. ?Hipermutação pode ser uma resposta a meio-ambientes muito agressivos CADSC II - São Carlos, julho 2005 Modelos para evolução de populações Os primeiros modelos: O primeiro modelo foi proposto em 1740 por Linnaeus. É o modelo do crescimento exponencial A população do ano seguinte, depende do tamanho da população hoje e da taxa de crescimento. CADSC II - São Carlos, julho 2005 Malthus, em 1800, afima que o crescimento deveria ser detido por restrições ambientais (falta de comida, espaço....) dN N rN 1 dt N max Isto influenciou Darwin na sua proposta de seleção dos mais aptos (1865) CADSC II - São Carlos, julho 2005 O mapa logístico representa a evolução de populações com período de acasalamento bem definido. Xo X1= Xo (1- Xo) X2 X3 ... 0,202000 0,612545 0,901868 0,336308 0,848179 0,489331 0,949567 0,181979 0,565677 0,933609 0,235537 0,684225 0,821033 0,558364 0,937056 0,224133 0,660810 0,851733 0,479880 0,948462 0,185752 0,574743 0,928771 0,251391 0,715135 0,774125 0,664452 0,847232 0,491835 0,949747 Xt+1= Xt (1- Xt ) X é a população relativa; é a taxa intrínseca de crescimento. Mapa logÃ-stico populaç ã o relativa Exemplo: = 3,8. Duas séries: Xo=0,200 Xo=0,202 0,200000 0,608000 0,905677 0,324620 0,833119 0,528320 0,946952 0,190888 0,586909 0,921298 0,275531 0,758531 0,696014 0,803998 0,598823 0,912889 0,302186 0,801304 0,605020 0,908089 0,317160 0,822964 0,553639 0,939067 0,217437 0,646600 0,868332 0,434460 0,933677 0,235312 1,0 0,9 0,9 0,8 0,8 0,7 0,7 0,6 0,6 0,5 0,5 0,4 0,4 0,3 0,3 0,2 0,2 Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li Li n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n h h h h h h h h h h h h h h h h h h h h h h h h h h h h h h tempo CADSC II - São Carlos, julho 2005 Modelos computacionais Os modelos mais utilizados são dos tipo bitstring, isto é, o genoma (ou parte dele) é representado por sucessão de bits cada gene tem dois alelos Em nosso trabalho, dois modelos vem sendo utilizados: Penna e uma versão adaptada de Charlesworth CADSC II - São Carlos, julho 2005 O modelo de Penna (1995) Pegue somente os genes cuja mutação provoca uma doença genética. Ordene-os, seguindo a cronologia das doenças que poderão aparecer. “Genoma cronológico” No quarto período de vida este indivíduo poderia expressar uma doença. Penna TJP, J Stat Phys, 78 (1995) CADSC II - São Carlos, julho 2005 Apenas dois alelos 0 - normal 1 - mutação Cada posição representa um período na vida do indivíduo (“ano”). Aquele que sofrer T doenças, morre. Como funciona 1. Reprodução cada indivíduo com idade acima de R anos produz a cada ano F filhas. 2. Mutação Em cada filha (cópia), M mutações são introduzidas aleatoriamente. 0 -> 1 1 -> 1 3. Seleção T doenças expressas matam o indivíduo. Morte também devido N(t) a restrições ambientais. Psurv 1 CADSC II - São Carlos, julho 2005 Nmax Resultados de uma simulação Dados: • No=10.000 • Nmax=1.000.000 • R=8 • T=3 • F=2 • M=1 • tempo=10.000 CADSC II - São Carlos, julho 2005 CADSC II - São Carlos, julho 2005 O modelo de Penna (SEXO!) Organismo diplóide: o surgimento de uma doença depende de o gene ser recessivo ou dominante “Genoma cronológico” No quarto período de vida este indivíduo poderia sofrer uma doença. No décimo, certamente sofreria Apenas dois alelos 0 - normal 1 - mutação CADSC II - São Carlos, julho 2005 Como funciona 1. Reprodução A partir de uma idade R uma fêmea escolhe aleatoriamente um macho (com idade acima de R) e gera com ele B descendentes. O genoma do descendente é formado pela “fusão” dos gametas de mãe e pai. crossing-over e recombinação CADSC II - São Carlos, julho 2005 2. Mutação Quando os dois gametas se unem, M mutações são aleatoriamente introduzidas > > Definido o novo indivíduo, o sexo é escolhido de forma aleatória, com igual probabilidade para macho ou fêmea. 3. Seleção T doenças expressas matam N(t) Psurv 1 o indivíduo. Morte também devido Nmax a restrições ambientais. CADSC II - São Carlos, julho 2005 Caos em dinâmica de populações Caso das mariposas do inverno • idade de reprodução bem definida • alta taxa de natalidade • grande predação Ao contrário de uma estabilidade, observamos uma evolução irregular, sugerindo um padrão caótico. ATB, Moreira e Castro-e-Silva: EPJ 1, 393 (1998); Castro-e-Silva e Bernardes, PA, 301 (2001) CADSC II - São Carlos, julho 2005 A dinâmica do modelo Penna pode ser representada pela equação: X t 1 λ t X t 1 X t Onde X(t) representa a densidade da população e (t) a taxa de crescimento intrínseco da população Simulação: No=105 Nmax=10No M=1 R=4 T=6 B=20; 35 CADSC II - São Carlos, julho 2005 Estudo da série através do “embedding theorem” (Takens and Manè). Variáveis importantes: time lag (L) e embedding dimension (de) CADSC II - São Carlos, julho 2005 A existência de vários expoentes de Lyapunov pequenos configura o cenário nomeado por Kaneko de homeochaos. - caos fraco - alta dimensionalidade - robustez frente a alterações O caos fraco é importante, pois permite a estabilidade do sistema quando perturbações externas se apresentam. Grandes oscilações ou alterações rápidas na dinâmica (caos forte) podem levar a poplação a um estado em que não seja capaz de sobreviver. Como o homeochaos existe numa região mais larga que aquela dada por um ponto crítico (a fronteira do caos), ele é mais robusto para mudanças de parâmetros. CADSC II - São Carlos, julho 2005 Menopausa Do ponto de vista evolucionário, a cessação da reprodução e morte estão intimamente relacionados. Um exemplo é a senescência catastrófica do salmão do pacífico. Assim, é um enigma a existência de um longo período de vida após a cessação do período reprodutivo: menopausa. Moss de Oliveira S, Bernardes AT & Martins JSS, EPJ B 7, 501 (1999) CADSC II - São Carlos, julho 2005 É muito difundida a idéia de que a menopausa seria um produto dos avanços da civilização: o tempo de vida da mulher ultrapassaria o estoque de óvulos . ??? Contudo: •existem citações antigas da ocorrência do fenômeno •existência em outras espécies de mamíferos Williams (1957): a menopausa pode ter surgido como uma adaptação a um ciclo de vida caracterizado por: envelhecimento, um longo período de dependência juvenil e problemas na gravidez e parto. CADSC II - São Carlos, julho 2005 Novos ingredientes no modelo: • Cuidados maternais: se a mãe morre, todos os filho(a)s menores que Amc morrerão • Risco reprodutivo: quando dá a luz, a fêmea tem um risco = Gd / T de não sobreviver; = fator predefinido (0.25) Gd = número atual de doenças genéticas • Cessação da reprodução das fêmeas: inicialmente Am=32. Am(mãe) 1 com (1-Pm)/2 Am(filha) = Am(mãe) com Pm CADSC II - São Carlos, julho 2005 • Simulações No = 1600 Nmax= 160000 M=2 R = 10 T=4 = 0.25 Amc=5 Pm=0.5 Evolução temporal da idade de cessação da reprodução para a população de fêmeas. <Am> (acima), m (abaixo) CADSC II - São Carlos, julho 2005 Distribuição de idade de menopausa: círculos - Amc=5; diamantes - Amc=0 Taxas de sobrevivência: círculos (cheios: M; abertos F) para Amc=5; dimantes - Amc=0 CADSC II - São Carlos, julho 2005 Evolução em ambientes mutáveis Quando penicilina e outras drogas antibióticas foram descobertas ou desenvolvidas, imaginou-se que tínhamos as armas definitivas para eliminar bactérias Contudo, cada vez aparecem novos microorganismos cada vez mais resistentes. Esta resistência a ambientes extremamentes hostis pode ocorrer naturalmente devido a processo de regulacão metabólica. Será que isso violaria as definicões mais fundamentais da teoria da evolucão? Fehsenfeld, Dickmann, ATB, PRE (2003) CADSC II - São Carlos, julho 2005 O problema aqui é simular a dinâmica de uma população que evolui num meio ambiente que pode alterar-se bruscamente. Definimos uma população de (inicialmente) N0 indivíduos haplóides (bactérias) ..... 1 2 3 4 5 6 7 127 128 A probabilidade de sobrevivência deste indivíduo será dada por A Ï„ Pse 1 e e H 128Ï„ e A Ï„ • representa a flexibilidade do ambiente • A representa a variabilidade genética que pode existir neste ambiente; • H é a distância de Hamming entre o indivíduo e um genoma ideal para este ambiente. CADSC II - São Carlos, julho 2005 REP Cada um dos N(t) indivíduos gera 2 descendentes (ao contrário do modelo Penna, neste caso não há superposição de gerações). MUT Em cada descendente são introduzidas m mutações (dadas por uma distribuição de Poisson). SEL Mede-se a distância de Hamming e calcula-se a probabilidade de sobrevivência Pse. A sobrevivência dos indivíduos também é regulada por um fator de Verhulst: Ps 1 CADSC II - São Carlos, julho 2005 N t N max Dependendo dos valores de e A, pode ocorrer ou não extinção. No = 105 Nmax = 10 No A população final tem uma distribuição de classes dada por uma gaussiana CADSC II - São Carlos, julho 2005 Com base nos resultados de simulação e campo médio, podemos construir o diagrama de fases. extinção CADSC II - São Carlos, julho 2005 Em andamento: - o problema da hipermutação simulado através de mudanças repentinas no genoma ideal - número de mudanças - velocidade das mudanças - isto implicará na introdução de uma taxa de mutação que dependerá do stress sofrido pelo indivíduo (hipermutação) CADSC II - São Carlos, julho 2005 Há muito a se fazer • Problemas em aberto: – especiação – evolução em ambientes mutáveis – coevolução – dinâmicas em ecosistemas – interação em redes • Mas afinal, como surge a vida e em que condições ela se estabiliza? CADSC II - São Carlos, julho 2005