XIII ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO PROCESSOS FORMATIVOS E AS QUESTÕES PEDAGÓGICAS 23 A 26 DE ABRIL DE 2006 RECIFE - PERNANBUCO VALORIZANDO O PROCESSO FORMATIVO NA ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA EM NITERÓI Fabiane Florido de Souza1 Marcia Nico Evangelista2 FME/RJ3 A formação continuada dos professores tem sido uma preocupação constante na Rede Municipal de Ensino de Niterói. O mundo atual exige que se busque a capacitação do profissional da educação para a aquisição e desenvolvimento permanente de novas competências, através da valorização de sua atividade mental construtiva. Sabe-se que o desenvolvimento de uma nação dá-se através da Educação de qualidade de seu povo. É necessário, portanto, investir muito mais na educação, na formação geral dos profissionais. A partir das avaliações do ano de 2001 até o ano vigente, sentimos necessidade em mudar a nossa forma de intervir nas práticas pedagógicas dentro das unidades escolares. O que nós fazíamos como “visita pedagógica”, ou seja, orientação pedagógica ao professor dentro de sua sala de aula, não estava surtindo efeitos positivos no desenvolvimento do seu trabalho. O professor continuava sem saber o que fazer com seus alunos e, também, não dávamos conta de trabalhar com um número significativo de profissionais. Além disso, não podemos esvaziar a função de uma equipe técnicopedagógica4 dentro da unidade escolar. Com intuito de suprir essa demanda, a Fundação Municipal de Educação de Niterói, através da FSDE5 propôs às equipes a oferecer às escolas um cardápio pedagógico. Foi quando o nosso grupo da Coordenação de 1º e 2º ciclos elaborou um plano de trabalho voltado para formação de professores em serviço, buscando a 1 Pedagoga pela UERJ, pós-graduada em Psicopedagogia Institucional Escolar pela UFF. Trabalha na coordenação de 1º e 2º ciclos (ensino fundamental) na Fundação Municipal de Educação de Niterói. 2 Pedagoga pela USU, pós-graduada em Psicopedagogia Clínica pela UERJ. Trabalha na coordenação de 1º e 2º ciclos do ensino fundamental na Fundação Municipal de Educação de Niterói. 3 Fundação Municipal de Educação de Niterói/RJ. 4 Em Niterói, a equipe técnico-pedagógica é formada pelos seguintes profissionais: diretor supervisor educacional e orientador educacional lotado em cada unidade escolar. 5 Superintendência de Desenvolvimento de Ensino 2 melhoria da qualidade da escola e do ensino pelo qual passa a maioria de nossas crianças. Para que a escola seja eficaz na sua função de promover o conhecimento, precisamos vencer barreiras do nosso sistema educacional como a formação precária dos nossos professores. A escola ao invés de ser o local de promoção do desenvolvimento das potencialidades de todos, torna-se palco de fracassos ou de desenvolvimento insatisfatório. Visamos à ação pedagógica como um movimento dinâmico e constante que consiste numa leitura e releitura do processo de aprendizagem. O que ensinar? Como ensinar? Para que ensinar? Consideramos o professor como investigador de sua prática e o sentido da formação contínua sendo a reflexão dessa prática docente. O professor precisa voltar sua prática para a pesquisa/investigação. Refletir sobre que aprendizagens significativas os sujeitos necessitam, fazendo com que esta seja prazerosa e que traga para problemas que eles vivenciam. A escola precisa adaptarse às necessidades do indivíduo enquanto este a freqüenta e prepará-la para o futuro e não fazer com que este se adapte a ela. Acreditamos que a escola é o “lócus” ideal para a formação de professor em serviço. Seguindo esse pressuposto e nos baseando nas informações do diagnóstico das necessidades dos alunos e professores, oferecemos, a princípio, cinco oficinas pedagógicas6 e um curso7 voltado para a construção da leitura e escrita numa perspectiva discursiva. Estamos fazendo a experiência de acompanhar as escolas, que nos solicitam com as oficinas pedagógicas, no horário de planejamento pedagógico, que acontece todas as quartas-feiras. Desenvolvemos a oficina em três encontros quinzenais de duas horas cada. Totalizando seis horas de atendimento para cada temática. Já o atendimento ao curso difere do atendimento das oficinas. Eles acontecem em outro espaço que não a escola, mas oferecido somente ao professores da rede municipal que necessitam, também, discutir e ressignificar sua prática em relação às questões da construção da leitura e escrita numa concepção discursiva. Desenvolvemos o curso em dez encontros de quatro horas cada, num total de quarenta horas de 6 Oficinas pedagógicas oferecidas às escolas: 1. A diversidade textual na sala de aula. 2. Verdades e mentiras sobre a cópia, ditado e leitura oral. 3. Alfabetização Cartográfica: representando o espaço através do desenho. 4. O ensino da ortografia nas séries iniciais. 5. o trabalho com material de apoio: construindo o conhecimento lógico-matemático. 7 Alfabetização, leitura e escrita numa perspectiva discursiva. 3 discussão e reflexão. Apesar das diferenças no atendimento, ministramos esse curso com a mesma dinâmica das oficinas. Levamos em consideração, em ambos os casos, que: Todo professor já possui um saber construído. Portanto não vamos as escolas ensinar ninguém. E sim, com o objetivo de auxiliar a reflexão de novas propostas e construir estratégias didáticas para um trabalho mais reflexivo. O professor é um sujeito portador de um saber que quer aperfeiçoar, a partir de sua prática. Oferecemos a proposta a partir do diagnóstico das necessidades da rede municipal de Niterói. Portanto, não tratamos de um tema isolado, mas sim da realidade local e da sociedade mais ampla. Outro ponto importante que observamos nestes anos de trabalho com o professor é que a teoria só faz sentido se tiver origem na prática. Acreditamos na construção da formação do professor como um movimento de ação-reflexãoação. Onde teoria e prática estão num caminho de mão dupla constituindo-se como uma unidade indissolúvel. A DINÂMICA DO NOSSO TRABALHO Seguimos sempre uma mesma linha, tanto para as oficinas pedagógicas, quanto para o curso de alfabetização. Nas dinâmicas dos encontros tentamos fazer com que o professor perceba um tipo de trabalho que pode ser desenvolvido na sua sala de aula, com seus alunos. Para tanto, no primeiro encontro, discutimos com o grupo de professores o contrato didático, que visa estabelecer regras de funcionamento que serão combinadas por todos que fazem parte do grupo. Iniciamos os nossos encontros com a leitura de um texto que denominamos de Leitura Compartilhada. A proposta consiste em ler diferentes gêneros, especialmente literária, com a finalidade de divertir, refletir, comover, aprender mais, contribuir de alguma forma para a ampliação do horizonte cultural ou para o simples prazer de compartilhar uma boa história. É importante que os professores descubram que ler ou ouvir a leitura de bons textos é algo que não tem hora nem idade. Explicitar para eles as razões pela qual um determinado texto foi escolhido, comentar seu conteúdo antes da leitura, falar sobre o autor, ler com entusiasmo são procedimentos que contribuem para o envolvimento com a leitura. 4 Se quisermos que nossos alunos sejam produtores de textos, precisamos fazer hábito à leitura de bons textos. Tornar a leitura fonte de prazer sem torná-la somente essencial para a interpretação ou cobrança de um conteúdo qualquer. O trabalho pessoal é uma atividade, também permanente, dos nossos encontros. Esta atividade tem como objetivo socializar as interpretações e idéias desencadeadas a partir das atividades realizadas no encontro anterior, e recuperar o entendimento que o grupo teve sobre o que foi tratado. A proposta sempre se dá através do desenvolvimento de uma atividade estudada, discutida, observada nos encontros e trabalhada com seu grupo de alunos na escola. Também oferecemos textos como referencial teórico para estabelecimento da ponte entre teoria e prática. Enfim, a tarefa de casa exerceu um papel de grande importância na concretização de um dos nossos objetivos da metodologia de oficinas. Outro momento pertinente para ser destacado é quando dinamizamos, em duplas ou no grupo, o levantamento dos conhecimentos prévios dos professores sobre a temática em estudo. Esse levantamento era realizado através de questões problematizadoras que levavam o professor a refletir e construir seus próprios conceitos. Diálogos e brincadeiras visando um espaço dialógico entre objeto de estudo e sujeito pensante. Podemos registrar que no decorrer dos encontros, outras atividades foram propostas objetivando a ampliação dos conhecimentos e a organização do cotidiano escolar, dentro de uma perspectiva reflexiva e investigativa, tais como programas de vídeo, textos, transparências, jogos e outras atividades afins. Acreditamos que o caminho de formação dentro do seu próprio espaço economiza o tempo de deslocamento dos professores e valoriza o planejamento como momento para estudo e discussões coletivas de temas pertinentes à área pedagógica. Além de todos esses motivos, podemos ainda destacar que a escola é o lugar ideal para se trabalhar as demandas, os problemas e as possíveis soluções. Percebemos que dentro desse coletivo cria-se um clima adequado a novas práticas, mesmo que essas mudanças, inicialmente, não sejam unanimamente aderidas pelo grupo. Vale destacar que essa estratégia foi bem aceita pelo corpo docente e pela equipe técnico-pedagógica, como vislumbramos abaixo: A oficina foi muito boa. Foi bem embasada teoricamente e ficamos todas interessadas em ler o livro do Artur Gomes de Morais. (Professor/E.M. Tiradentes). Interessante, à medida que começa associar teoria e prática, açãoreflexão-ação. (Professor/E.M.João Brazil) 5 Informações práticas são sempre bem vindas, principalmente aquelas que trazem idéias para que trabalhemos em sala de aula. (Professor/E.M. Padre Leonel Franca). Troca de experiências, sugestões... As atividades e as leituras sempre enriquecem e contribuem. (Professor/E.M. Padre Leonel Franca). A oficina foi muito boa, tanto no aspecto teórico quanto no prático, pena que o tempo é curto. (Professor/E.M. Vera Lucia Machado) Quanto ao número de professores contemplados com essas propostas, podemos afirmar que nossas expectativas foram superadas. Conseguimos atingir 28% dos professores do 1º e 2º ciclos (ensino fundamental) em um semestre de trabalho efetivo, ainda com a solicitação de continuidade das mesmas estratégias para o ano de 2006. Já abordamos anteriormente duas vertentes imprescindíveis para formação contínua dos profissionais da educação. Uma seria a escola como o “lócus” privilegiado de formação para professores do ensino fundamental. E a outra, a valorização e o reconhecimento do saber docente. Somente nos resta, agora, concluir com uma questão muito pouco explorada e que Candau (1997) nos chama à atenção, pois parece determinante para o sucesso esperado por nós formadores, ou seja, considerações sobre as diferentes etapas que o professor percorre durante sua trajetória de formação. ... não se pode tratar do mesmo modo o professor em fase inicial do exercício profissional, aquele que já conquistou uma ampla experiência pedagógica e aquele que já se está situando em relação a aposentadoria; os problemas, necessidades e desafios são diferentes, e os processos de formação continuada não podem ignorar esta realidade promovendo situações homogêneas e padronizadas...(pp.56) Dentro dessa perspectiva, procuramos estabelecer nas oficinas um ambiente democrático onde o diálogo entre profissionais com muitos anos de experiência fosse equilibrado e construtivo com aqueles que estão iniciando suas carreiras. Essa experiência nos trouxe um caminho mais positivo para as transformações que acreditamos serem necessárias à atualização pedagógica. Bibliografia: CANDAU, Vera Maria (org.). Magistério: construção cotidiana. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.