HOSPITAL DE SAÚDE MENTAL DE MESSEJANA DEPARTAMENTO DE PSIQUIATRIA CLUBE DE REVISTA ANA CLÁUDIA GONÇALVES RESIDENTE DO 2ºANO Prospective Study of Peer Victimization in Childhood and Psychotic Symptoms in a Nonclinical Population at Age 12 Years Arch Gen Psychiatry. MAY 2009 Andrea Schreier PhD em Psicologia, Warwick Medical School, University of Warwick, Coventry, England Escreveu sua Tese sobre ansiedade e depressão em mães e seus filhos. Desde então, tem mantido o seu interesse e fascínio em estudar fatores etiológicos da saúde mental, especialmente em crianças e adolescentes. Seu trabalho mais recente está relacionado com as experiências de vitimização e sintomas psicóticos. 'Anxiety disorders in mothers and their children: prospective- longitudinal community study‘ 'Clinical characteristics of major depressive disorder run in families--a community study of 933 mothers and their children' 'Maternal suicidality and risk of suicidality in offspring: findings from a community study. ' Introdução Sintomas psicóticos não clínicos (ocasionalmente referidos como sintomas psicose-like {PLIKS} ou experiências) são comumente experienciados na infância e em adultos sugerindo que a psicose possa ser um fenótipo contínuo. A presença de sintomas psicóticos na infância foi demonstrada como aumento do risco de início da psicose em adultos. No estudo de coorte Dunedin Multidisciplinary Health and Development, 14% das crianças com 11anos de idade relataram experenciar pelo menos 1 sintoma psicótico fraco ou forte. Crianças com sintomas fracos (1 de 5 itens provavelmente presente) tinham 5 vezes mais probabilidade de desenvolver transtorno esquizofreniforme aos 26anos do que seus colegas, e crianças com sintomas fortes (≥ 2 de 5 itens prováveis ou ≥ 1 definitivamente presente) tinham 16 vezes mais probabilidade. Introdução Estudos recentes têm demonstrado uma associação entre eventos traumáticos como abuso na infância e psicose em adultos . Entretanto alguns investigadores questionam essa relação causal, exigindo uma clarificação por meio de estudos de base populacional. Em adição há somente evidências emergentes de que vitimização por colegas possa estar associado com psicose ou sintomas psicóticos não clínicos. Vítimas de bullying por seus colegas recebem interações negativas repetidas (por exemplo, tentativas intencionais de infligir dano ou desconforto) por 1 ou vários estudantes. Vitimização por colegas tem sido consistentemente descoberta como preditor de início de uma gama de problemas comportamentais e sintomas depressivos concomitantes ou futuros. Introdução Dois estudos recentes demonstraram associação entre bullying e experiências psicóticas não clínicas entre as idades de 12 e 17anos: Lataster et al encontraram uma forte e independente relação entre ser vítima de bullying e experiências psicóticas, e Campbell e Morrison relataram correlações significantes entre ser vítima de bullying e experienciar alucinações, dissociações e paranóia. Em adultos, Bebbington et al descobriram que vitimizações repetidas por colegas eram relatadas retrospectivamente mais freqüentemente por participantes com um transtorno psicótico quando comparados com aqueles sem o transtorno. Alguns estudos sugerem uma relação dose-resposta entre o número de eventos vitimizantes e os riscos para sintomas psicóticos e/ ou a gravidade do transtorno psicótico. Introdução No entanto, em estudos prévios, sintomas psicóticos e / ou eventos vitimizantes foram avaliados apenas brevemente, baseando-se principalmente no relato de um único participante. Foram desenhos de corte transversal e / ou utilizados recordação retrospectiva. Para nosso conhecimento, nenhum estudo até então tem examinado prospectivamente a relação entre vitimizações repetidas por colegas na infância e sintomas psicóticos no início da adolescência, controlando para possíveis fatores de confundimento , como psicopatologia prévia ou QI. O objetivo deste estudo foi examinar a relação entre vitimização por colegas e sintomas psicóticos em um estudo de coorte prospectivo desde o nascimento. Introdução As questões específicas foram as seguintes: Qual é a associação entre vitimização repetida por colegas avaliada em entrevistas diretas com a criança em idades de 8 e 10 anos e sintomas psicóticos na idade de idade 12 anos; As associações com sintomas psicóticos são comparáveis quando relatos de vitimização por colegas feitos por professores e mães são considerados; Existe uma relação dose-resposta entre a gravidade ou cronicidade da vitimização e o risco de sintomas psicóticos; e As associações observadas são independentes de variáveis confundidoras potenciais? Métodos Participantes Nós examinamos os dados longitudinais da coorte de nascimento Avon Longitudinal Study of Parents and Children (ALSPAC). A coorte consiste de crianças nascidas de residentes da antiga área Avon Health Authority, South West England, que tinham a data prevista de nascimento entre 1º de abril de 1991 e 31 dezembro de 1992. Os pais completaram questionários regulares por correio sobre todos os aspectos da saúde e desenvolvimento dos seus filhos desde o nascimento. Desde a idade de 7,5 anos, as crianças tiveram avaliação clínica anual onde participavam de uma série de entrevistas presenciais, testes psicológicos e físicos. O estudo é baseado em 6437 crianças que completaram o Psychosislike Symptoms Interview (PLIKSi) na avaliação clínica anual com 12,9 anos. Métodos Aprovação O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Foi obtido consentimento esclarecido dos pais das crianças após a explicação da natureza do estudo. Instrumentos Sintomas psicóticos foram medidos no ALSPAC usando o PLIKSi aplicado pessoalmente. Os psicólogos classificaram as crianças se elas tinham tido qualquer dos seguintes 12 sintomas psicóticos nos últimos 6meses antes da entrevista: alucinações (visual e auditiva); delírios (delírios de ser espionado, perseguido, seus pensamentos serem lidos, referência, controle, grandiosidade e outros delírios não especificados); e delírios bizarros (irradiação, inserção e retirada dos pensamentos). Os itens foram avaliados como não presentes, suspeitos , ou definitivamente presentes. Métodos Instrumentos Três resultados do PLIKSi foram considerados no artigo: amplo, intermediário e estreito. Amplo (≥1 de 12 sintomas do PLIKSi eram suspeitos ou definitivamente presentes) ; Intermediário (≥1 de 12 eram suspeitos ou definitivamente presentes e não ocorreram durante um estado de adormecer, despertar, febre ou após uso de qualquer substância) e Estreito (≥1 de 12 eram definitivamente presentes). Sintomas que são definitivamente presentes no PLIKSi indicam a presença de sintoma psicótico no respectivo indivíduo. A vitimização por colegas refere-se a um estudante ser exposto a ações negativas por 1 ou mais estudantes com intenção de causar prejuízo. O bullying deve ser uma ação repetida e ocorrer regularmente no decorrer do tempo. O mesmo foi avaliado usando relatos das crianças em uma entrevista estruturada e separadamente em relatos de pais e professores. Métodos Instrumentos O Bullying and Friendship Interview Schedule foi aplicado quando as crianças tinham 8 anos e novamente aos 10anos. As crianças foram questionadas por um psicólogo treinado sobre vitimazação por colegas nos 6 meses anteriores. Cinco itens foram referidos para vitimização manifesta: ter seus bens retirados, ser ameaçado ou chantageado, ser agredido ou espancado, ser enganado e ser chamado por nomes desagradáveis. Quatro itens foram referidos para vitimização relacional: crianças se recusando a brincar com eles, crianças tentando mandá-los fazer aquilo que não querem (isto é, excluir outros do grupo), crianças falando mentiras ou coisas desagradáveis sobre eles (isto é, espalhando rumores), e brincadeiras de crianças para aborrecê-los (isto é, excluí-los socialmente). Métodos Instrumentos Vítimas manifestas e relacionais foram definidas como aquelas que experienciaram a vitimização repetidamente (≥ 4 vezes nos últimos 6meses) ou muito freqüentemente (≥1 vez por semana). As seguintes variáveis de vitimização foram formuladas: 1) se as crianças experienciaram qualquer vitimização por colegas (manifesta e/ou relacional) nas idades de 8 e/ou 10 anos; 2) cronicidade da vitimização (instável, estável ou nunca vitimizada ); e 3) gravidade . Pais e professores avaliaram a ocorrência ou não de vitimização por colegas num único item presente no Strengths and Difficulties Questionnaire. As taxas gerais de concordância entre os diferentes informantes foram: mães e professores (66%), mães e crianças (59,9%) e professores e crianças (57,5%) Métodos Variáveis Sociodemográficas e de Nascimento O peso ao nascer foi obtido a partir de registros do nascimento . Questionários durante o período pré-natal forneceram informações sobre a etnia da criança, estado civil da mãe , situação do imóvel residencial da mãe , classe social e escolaridade materna . Confundidores Potenciais O Family Adversity Index (FAI) foi utilizado para examinar o efeito de múltiplos fatores de risco familiar. O FAI neste estudo consistiu de 17 itens retirados de questionários administrados durante toda a gestação (8 , 12 ,18 e 32 semanas de gestação). O índice foi baseado em uma série de medidas descrevendo aspectos do funcionamento familiar que abrange: idade materna precoce na primeira gravidez (<17anos) ou ao nascimento da criança do estudo (< 20 anos); condições de habitação; dificuldades financeiras; relacionamento problemático com o parceiro; transtorno afetivo materno (depressão, ansiedade, suicídio); dependência química (drogas ou álcool), ou envolvimento em crime. Adversidades presentes em um item foi classificada como 1, e os escores foram totalizados em todos os 17 itens. Métodos Confundidores Potenciais Uma forma abreviada da Wechsler Intelligence Scale for Children–III (UK version), foi utilizada para deduzir um QI geral das crianças no ALSPAC de 8 anos . Os diagnósticos psiquiátricos segundo o DSM-IV foram feitos aos 91 meses utilizando o Development and Well-being Assessment (DAWBA) baseados em relatórios de pais e professores. A presença de qualquer diagnóstico no Eixo I (TDAH, transtorno de conduta, transtorno desafiador opositor, depressão ou ansiedade vs nenhum diagnóstico) foi considerado aqui. Métodos Análise Estatística Todas as análises foram realizadas utilizando Stata version 9.0 statistical software. Modelos de regressão logística foram utilizados para estimar ORs com 95% IC. A exclusão foi determinada comparando aqueles que responderam a PLIKSi com aqueles perdidos no seguimento (Tabela 1). Diferenças entre os sexos foram avaliadas para os diferentes sintomas psicóticos e variáveis de vitimização por colegas (Tabela 2). As associações brutas (sem quaisquer variáveis de controle) entre os vários identificadores de vitimização por colegas (crianças, pais e professores) e a classificação de sintomas no PLIKSi foram computados. A experiência de ser uma vítima de qualquer tipo (manifesta e / ou relacional), a cronicidade e gravidade aos 10 anos de idade foram as variáveis independentes (Tabela 3). Para examinar a possível heterogeneidade do sexo no ORs, nós avaliamos adicionalmente interações com o sexo. Foram também avaliadas interações com os escores do FAI e DAWBA. As análises foram repetidas para controlar confundidores potenciais em múltiplas análises de regressão logística (Tabela 4). Resultados O risco de sintomas psicóticos foi aumentado cerca de 2 vezes (OR = 1,94; IC 95%, 1,54-2,44) entre as vítimas de bullying nas idades de 8 e / ou 10 anos, independente de outra psicopatologia prévia, adversidade familiar ou QI da criança. Resultados semelhantes foram encontrados utilizando relatórios de vitimização de mães e professores. Associações foram mais fortes (até OR = 4,60, 95% IC, 3,24-6,50), quando a vitimização era crônica ou severa . Comentários O objetivo deste estudo foi explorar a relação entre vitimização por colegas na infância e sintomas psicóticos no início da adolescência em uma população não clínica. Foi constatado que vitimização por bullying é um preditor forte a moderado de sintomas psicóticos na idade de 12.9 anos. Não é o tipo de vitimização presente (isto é, manifesta ou relacional), mas a severidade e cronicidade da vitimização que está mais fortemente relacionada com a probabilidade de sintomas psicóticos identificadas com o PLIKSi, indicando uma relação dose-resposta. Esse achado de uma relação dose-resposta é consistente com os achados da relação entre outras formas de abuso de poder, tais como abuso sexual ou físico de crianças com psicose e outros transtornos mentais. Comentários Foram encontradas associações comparáveis quando mães ou professores foram os informantes com respeito a experiências de vitimização da criança. Quando considerados adicionalmente adversidades familiares, psicopatologia prévia e nível de QI como possíveis confundidores foi encontrado que a força dessas associações dificilmente se modificam. A história familiar de esquizofrenia não foi considerada como preditor de sintomas psicóticos nessa população. Existe uma evidência crescente de que as vítimas diferem de crianças que não estão envolvidas em bullying em aspectos outros que não os analisados. As crianças que irão desenvolver esquizofrenia são mais passíveis de sofrer bullying devido a alterações no comportamento. Visto por essa perspectiva o bullying atuaria como um fator desencadeante, e não causal. Comentários Embora algumas crianças possam ser mais vulneráveis a serem escolhidas por provocadores, os achados de uma relação doseresposta com controle de confundidores pouco alteram os resultados, sugerindo que a experiência de vitimização em crianças com ou sem qualquer precedente de vulnerabilidade , seja de causa genética ou psicossocial propriamente dita, aumenta o risco de sintomas psicóticos. Uma avaliação de sintomas psicóticos antes das avaliações de bullying poderia ter ajudado a esclarecer uma interpretação causal vs risco de vitimização. Infelizmente, em crianças menores de 8 anos, o que seriam considerados sintomas psicóticos em adolescentes ou adultos podem ser parte do desenvolvimento normal, tornando assim muito difícil estimar com segurança e incontestavelmente o processo normal vs patológico. Comentários Uma variedade de mecanismos tem sido propostos para explicar a ligação entre eventos traumáticos, tais como a vitimização, e sintomas psicóticos: Sensibilidade aumentada ao estresse é considerada uma característica primordial da esquizofrenia, e há evidências de que isto está relacionado com hiperatividade do eixo hipotálamohipófise-adrenal e liberação de cortisol; Modelos cognitivos de transtornos e sintomas psicóticos têm sido propostos para explicar o papel da vitimização por colegas e outros eventos traumáticos no desenvolvimento de PLIKS. Comentários Os pontos fortes deste estudo são os seguintes: Avaliação direta e detalhada de vitimização por colegas e sintomas psicóticos em crianças; O uso de múltiplos informantes da vitimização por colegas em adição ao das próprias crianças; O achado de taxas de prevalência da vitimização por colegas que são semelhantes aos relatados em outros estudos no Reino Unido; O desenho de estudo prospectivo com avaliações de bullying durante a infância e sintomas psicóticos na idade 12.9 anos; As crianças terem sido retiradas da população geral, assim, afastando os efeitos confundidores da busca por tratamento; A disponibilidade de diferentes definições de sintomas psicóticos utilizando o PLIKSi indicando que quanto mais graves os sintomas, mais fortes e claras as associações observadas; e Disponibilidade de informações sobre uma variedade de possíveis fatores de confusão que poderiam estar incluídos nas análises. Comentários Limitações Embora sintomas psicóticos tenham sido avaliados aproximadamente de 3 a 9 anos após a avaliação do bullying e apenas abrangeram sintomas existentes durante os 6 meses antes da entrevista, a idade em que os sintomas realmente iniciaram não foi avaliada e nenhuma avaliação de sintomas psicóticos antes da avaliação do bullying está disponível. Além disso, o PLIKSi foi realizado com apenas 45.8% da coorte, e a falta de dados especialmente de professores como informantes e fatores de confusão significam que o tamanho da amostra promoveu redução nas análises controlando para possíveis confundidores. Conclusões Os resultados do estudo dão suporte à relevância dos fatores psicossociais na etiologia de sintomas psicóticos em populações não clínicas e das experiências adversas no desenvolvimento da psicose. A redução da vitimização repetida por colegas e do conseqüente estresse causado às vítimas poderia ser um alvo vantajoso para os esforços de prevenção e intervenção precoce para os comuns problemas de saúde mental e psicose. BULLYING: UMA BRINCADEIRA QUE NÃO TEM GRAÇA