Efeito da oxigenoterapia conservadora versos convencional na mortalidade entre os pacientes na Unidade de Cuidados Intensivos: Ensaio clínico Randomizado do oxigênio na Unidade de Cuidados Intensivos Apresentação: Fernanda Arantes Alves (R3 de Terapia Intensiva PediáTrica/HMIB/SES/DF www.paulomargoto.com.br Brasília, 17 de dezembro de 2016 Introdução A hipoxemia aguda ocorre frequentemente em pacientes hospitalizados e é geralmente tratada com oxigênio inalatório suplementar. Apesar dessa estratégia ser consistentemente orientada por protocolos no manejo de pacientes criticamente enfermos, não existem valores alvos fornecidos de PaO2 e SatO2. Exposição dos pacientes à hiperóxia desnecessária, com lesão iatrogênica potencial. Introdução A toxicidade pulmonar é talvez a consequência prejudiacial mais conhecida da hiperóxia (fibrose intersticial, atelectasia e traqueobronquite) A hiperóxia sistêmica induz: vasoconstrição periférica e aumento da produção de espécies reativas do oxigênio. Introdução O ensaio PROXI (Perioperative Oxygen Fraction– Effect on Surgical Site Infection and Pulmonary Complications After Abdominal Surgery- Efeito da fração de oxigênio perioperatório na infecção do sítio cirúrgico e complicações pulmonares após cirurgia abdominal) demonstrou associação entre a administração de altas frações de oxigênio no perioperatório e aumento da mortalidade a longo prazo. O ensaio AVOID (Air Versus Oxygen in Myocardial Infarction-Ar versus Oxigênio no Infarto do Miocárdio) demonstrou que paciente com infarto agudo do miocárdio com elevação do segmento ST mas sem hipóxia, a terapia de oxigênio suplementar aumentou a lesão miocárdica precoce e esteve associado a maior tamanho de infarto do miocárdio em 6 meses. Introdução Há incertezas clínicas a cerca da segurança e benefício da hiperóxia após isquemia cerebral, parada cardíaca fora do hospital e cirurgia cardíaca. Apesar dessas inúmeras sugestões do efeito nocivo da hiperóxia, tanto o tratamento sugerido nos protocolos, quanto o comportamento padrão dos clínicos promovem uma rápida e descontrolada administração de terapia de alto fluxo e alta concentração de oxigênio, com alcance de valores acima dos normais de PaO2. Introdução Estudos observacionais recentes destacaram que em Unidades de Terapia Intensiva os pacientes são manejados com uma FiO2 excessiva e ficam em hiperóxia por períodos substanciais. Apesar de uma estratégia de administração de oxigênio controlada pela oxigenização arterial parecer racional, ela não é validada na prática clínica em termos de segurança, eficácia e aplicabilidade. Objetivo O objetivo desse estudo randomizado foi determinar se a aplicação de um protocolo de suplementação de oxigênio conservador em manter a PaO2 dentro dos limites fisiológicos pode melhorar os desfechos de pacientes criticamente enfermos de uma Unidade de Terapia Intensiva. Métodos Ensaio clínico randomizado com 2 grupos paralelos realizado em um único centro (UTI médico-cirúrgica do Hospital Universitário de Modena, Itália). Período: 1 de março de 2010 a 30 de outubro de 2012. Critérios de inclusão: >18 anos, tempo de internação na UTI por 72h ou mais. Critérios de exclusão: <18 anos, gestantes, pacientes readmitidos, pacientes em cuidados paliativos, imunossuprimidos ou neutropênicos, pacientes com descompensação aguda de DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) e SARA grave (protocolos específicos de suplementação de oxigênio). Métodos Na admissão os pacientes eram randomizados por geração de um número computadorizado aleatório na proporção de 1:1 entre os grupos convencional e conservador. A sequência de randomização era ocultada dos pesquisadores e aberta depois que o paciente era incluído no estudo (após 72h de admissão). Grupo controle: a terapia de oxigênio era administrada de acordo com a prática padrão da UTI, na qual o paciente recebia uma FiO2 de no mínimo 40%, permitindo uma PaO2 de até 150 mmHg e SatO2 de 97 a 100%. Se a SatO2 caísse para abaixo de 95-97%, a FiO2 era aumentada até atingir o valor de SatO2 alvo. Recebiam FiO2 100% durante intubação, aspirações ou transferênica hospitalar. Métodos Grupo do protocolo conservador: a terapia de oxigênio era administrada com a menor FiO2 possível para manter uma PaO2 entre 70 a 100 mmHg ou valores de SatO2 entre 94 a 98%. A FiO2 era gradualmente reduzida ou descontinuada quando a PaO2 excedesse 100 mmHg ou a SatO2 fosse maior que 98%. A suplementação de oxigênio era oferecida apenas quando a SatO2 fosse menor que 94%. Pelo menos uma gasometria arterial era coletada por dia em cada paciente. Métodos Variáveis: tipo de paciente (clínico ou cirúrgico); comorbidades; severidade da doença (Simplified Physiology Score-II); infecção documentada; falência respiratória, cardiovascular, renal ou hepática (escore SOFA). Registro do tempo médio de FiO2 e PaO2; uso de ventilação mecânica, drogas vasoativas e terapia de substituição renal; débito urinário, concentrações de creatinina e bilirrubina plasmáticas e evidência de novas infecções. Desfecho primário analisado: mortalidade na UTI Desfechos secundários: falência respiratória, cardiovascular, renal ou hepática; necessidade de reoperação em pacientes cirúrgicos; infecções (da corrente sanguínea, respiratória ou do sítio cirúrgico); mortalidade hospitalar e tempo fora da ventilação mecânica (VM). Métodos Em maio de 2012 ocorreu um violento terremoto que danificou seriamente o Hospital Universitário de Modena e foi necessária uma evacuação temporária da UTI (redução de 20 – 25% dos leitos até final de 2013). A amostra original incluia 660 pacientes para serem analisados durante 2 anos, contudo o estudo foi interrompido após 32 meses (com 480 pacientes analisados), como sugerido pelo revisor estatístico do estudo e pelo Comitê de Ética após análise interina. Análise estatistica As variáveis basais e os resultados foram comparados usando os testes de Mann-Whitney U e quiquadrado. O efeito conservador da terapia de oxigênio no tempo até à morte foi avaliada usando a análise de Kaplan-Meier e o teste de log-rank. Os pacientes que saíram de alta foram considerados como tendo sobrevivido. Em uma análise post hoc, foi avaliada a evolução primária em pacientes subdivididos por paciente conforme suas caracteísticas na sua inclusão no estudo e duração de permanência na UTI. Os dados são apresentados como média (desvio padrão) ou como mediana com intervalos interquartil (IQRs), salvo indicação em contrário. O desfecho primário foi testado um nível de significância de 0,05. SPSS versão 20 foi utilizado para a análise estatística. Resultados Um total de 480 pacientes com tempo de permanência na UTI por de 72 horas ou mais foram randomizados entre os grupos convencional (n = 244) e conservador (n = 236). 46 pacientes foram excluídos (2 por não consentirem, 9 por falta de dados durante internação na UTI e 35 por tempo de permanência menor que 72h). Dessa forma, o “grupo modificado com intenção de tratar” incluiu 218 pacientes no grupo convencional e 216 pacientes no grupo conservador (Figura 1) Na Tabela 1, as Características dos pacientes estudados Resultados A mediana de FiO2 e PaO2 durante internação na UTI foi maior no grupo convencional (mediana de FiO2 de 0,39 e mediana de PaO2 de 102 mmHg) comparado aos pacientes que foram manejados conservadoramente (mediana de FiO2 de 0,36 e mediana de PaO2 de 87 mmHg). O número de análises de gasometrias com PaO2 menor que 70 mmHg por paciente foi similar entre os grupos, embora o número de análises com PaO2 menor que 100 mmHg foi significativamente maior no grupo convencional em comparação ao grupo conservador. Resultados 25 pacientes dentro do grupo conservador (11,6%) morreram durante internação na UTI em comparação com 44 que morreram no grupo convencional (20,2%). Redução do risco absoluto:0.086[95%CI,0.017-0.150] e risco relativo de 0,57 (IC 95%, 0,37 – 0,9). A mortalidade hospitalar também foi menor no grupo conservador (24,3% versus 33,9%), com redução do risco absoluto:0.099[95%CI,0.013-0.182]e risco relativo de 0,71 (IC 95%, 0,52 – 0,96).Tabela 2 e Figura 2 Nenhuma diferença significativa foi observada entre os 2 grupos estudados entre a ocorrência de nova falência respiratória ou renal. Resultados A ocorrência de novo episódio de choque foi menor no grupo conservador (redução do risco absoluto:0.068 [95% CI, 0.020-0.120]; risco relativo: 0.35 [95% CI, 0.16-0.75]; P=.006) A ocorrência de nova falência hepática foi menor no grupo conservador: redução do risco absoluto:0.046 [95% CI, 0.0080.088]; risco relativo:,0.29[95%CI,0.10-0.82];P=.020). A ocorrência de novas infecções foi similar entre os grupos, mas no grupo conservador foi associado a um menor risco de infecção da corrente sanguínea (redução de risco absoluto de 0.05[95%CI,0.00-0.09]e risco relativo de 0.50 [95% CI, 0.25-0.998; P =.049) e maior tempo livre da ventilação mecânica (diferença de 24h na mediana). (Tabela 2) Resultados A estratégia conservadora de oxigenioterapia reduziu o risco de mortalidade na UTI em pacientes com falência respiratória (redução de risco absoluto de 0.05[95% CI,0.00-0.09]; risco relativo:0.67[95%CI,0.46-0.96])nos que receberam ventilação mecânica durante o estudo (risco relativo:0.69;95%CI,0.49-0.98) e naqueles que tiveram menor tempo de permanência (risco relativo:0.46;95%CI,0.21-0.98 Discussão Esse foi o primeiro ensaio clínico randomizado que avaliou o efeito da oxigenioterapia conservadora em comparação à oxigenioterapia padrão em relação à mortalidade. Vários estudos observacionais demonstraram associação entre a hiperóxia arterial e o aumento da mortalidade em diferentes categorias de pacientes criticamente enfermos. Um recente estudo prospectivo (referência 22) mostrou que pacientes sob ventilação mecânica com suplementação de oxigênio conservadora foi, em geral, segura e associada com menor disfunção orgânica não-respiratória e maior redução dos níveis de lactato. Discussão O atual estudo mostrou menor ocorrência de choque e bacteremia nos pacientes do grupo conservador. Esse achado pode ser relacionado a um possível efeito prejudicial da hiperóxia sobre o sistema imune inato. In vitro, a exposição curta de hiperóxia (FiO2 > 80%) reduziu a produção de citocinas produzidas pelos leucócitos humanos e induziu mudanças estruturais dos macrófagos alveolares, com significante prejuízo na atividade antimicrobiana e marcada redução da produção de citocinas inflamatórias ao estímulo(referência 23) Discussão Em modelo animal com pneumonia, a disseminação da infecção e a mortalidade em ratos foi significativamante maior naqueles expostos à hiperóxia do que aqueles mantidos em ar ambiente. Ratos submetidos a concentrações maiores de oxigênio inalatório mostraram maiores aumentos na produção de espécies reativas do oxigênio, IL-6 e IL-10, sugerindo uma influência da hiperóxia na resposta inflamatória e nos mecanismos de remoção bacteriana. Pacientes submetidos a cirurgia da tireóide, os níveis pósoperatórios de PCR, IL-6 e IL-10 foram menores em pacientes que receberam FiO2 de 80% no perioperatório em comparação aos que receberam FiO2 de 30%. Discussão Em contrapartida, Kiers et al. recentemente observaram que um período curto de hiperóxia (3,5 horas com FiO2 100%) não influenciou o papel da produção de citocinas, da fagocitose dos neutrófilos ou da geração de espécies reativas do oxigênio em ratos e humanos. A toxicidade pulmonar induzida pela hiperóxia conduz mudanças histopatológicas similares àquelas observadas na SARA e na lesão pulmonar induzida pela ventilação. Entretanto, no presente estudo a ocorrência de nova falência pulmonar não teve diferença entre os 2 grupos. Possivelmente, a alta porcentagem de pacientes com acometimento respiratório incluídos no estudo (58%) pôde ter dificultado na sensibilidade do desfecho do estudo. Discussão Entretanto, no presente os pacientes do grupo conservador mostraram um aumento do tempo livre de ventilação mecânica em comparação com aqueles do grupo convencional, nos quais uma suplementação de oxigênio excessiva podem exacerbar uma lesão pulmonar preexistente ou oculta. Limitações Único centro de estudo Finalizado antes do previsto (perda de amostra) Exclusão de pacientes com tempo de permanência menor do que 72 horas na UTI e menos do que 1 gasometria arterial por dia. A amostra pequena não permitiu uma análise detalhada dos efeitos da hiperóxia em categorias de pacientes diferentes. Houve um desequilíbrio entre os grupos (pacientes do grupo convencional tiveram uma tendência maior a doenças mais severas). A incidência de novas infecções pode ter sido subestimadas pois somente aquelas com cultura positivas foram consideradas. Conclusões Entre pacientes criticamente enfermos com tempo de permanência na UTI por 72 horas ou mais, o protocolo de oxigenioterapia conservadora comparada com a terapia convencional resultou em menor mortalidade na UTI. Entretanto esses achados preliminares foram baseados em um ensaio clínico terminado inesperadamente antes do previsto e um ensaio maior multicêntrico é necessário para avaliar o potencial benefício da oxigenioterapia conservadora em pacientes criticamente enfermos. Editorial Em alguma extensão, esse ensaio superestimou o verdadeiro efeito terapêutico da oxigenioterapia conservadora por algumas razões: 1) Houve desequilíbrio entre os grupos na randomização que favoreceram o grupo conservador (idade, severidade da doença, falências orgânicas). 2) O estudo foi interrompido precocemente após uma análise interina não planejada que mostrou um efeito positivo. 3) Apesar do número de pacientes recrutados ser de aproximadamente 500, o número de desfechos foi pequeno, particularmente no grupo conservador, com apenas 25 mortes. Editorial Apesar do valor de P ser significante, o estudo ainda assim perde força e aumenta a probabilidade de resultados falso positivos. O estudo designou o “grupo modificado com intenção de tratar”, que excluiu os pacientes que já foram randomizados, mas que não permanceram pelo menos 72h na UTI. Essa modificação na análise excluiu pacientes baseado em eventos que ocorreram após a randomização e isso é extremamente problemático pois a intervenção pôde ter influenciado quem seria incluído em uma análise primária. Por exemplo, se a oxigenioterapia conservadora resultou em aumento de mortalidade precoce, isso não foi demosntrado no estudo, pois esses pacientes foram excluídos. Editorial Esse estudo contrasta com outro ensaio clínico publicado recentemente (ANZICS) que demonstrou a segurança na administração conservadora de oxigênio em um ensaio piloto com 103 adultos. Entretanto, esse estudo não mostrou desfechos favoráveis com alvos menores de oxigênio. Nota do Editor do site, Dr. Paulo R. Margotto Consultem também! Aqui e Agora A hiperoxemia, tão ou mais lesiva que a hipoxemia; está nas mãos dos cuidadores Níveis de oxigenação no período neonatal: existe limite seguro? (Atualização em Neonatologia: O PULMÃO FETAL, Hospital Universitário, Universidade de Brasília, 21/5/2013) Paulo R. Margotto Consultem os efeitos do uso descontrolado do oxigênio sobre o cérebro, pulmão, intestino, olho, na genética, no crescimento, no maior risco de infecção e maior risco de leucemia na infância [email protected] NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Oxigênio(oxi=ácidos e geno=formadora; molécula relativamente inerte): terapia mais usada com significativa melhora na sobrevivência e desabilidade No entanto.... Há formação de radicais tóxicos do O2 (altamente reativos) na hiperoxemia e reo-oxigenação após hipoxemia Os pré-termos são altamente sensíveis aos efeitos bioquímicos e fisiológicos do O2 Falta de proteção antioxidante (beta-caroteno; glutationa oxidase;superóxido dismutase nas hemácias) Soliz , 2008;Askie, 2011 NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Oxigênio e lesão pulmonar Estudo experimental em rato (Wilson et al, 1985) O2: -inibi o progresso da formação de alvéolos e capilares aumento da muscularização arteriolar no pulmão imaturo persistiu após a suspensão do O2 (aumenta a reatividade vascular?) Após 4 semanas Sob FiO2 de 0,8) Oxigênio:fator de lesão pulmonar! NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Oxigênio:fator neurotóxico! Hiperoxia leva a morte celular no desenvolvimento cerebral Uluc Yis,2008: estudo experimental Ratos nos primeiros 5 dias de vida: FiO2:21% x 80% Efeitos da hiperoxia na densidade neuronal/fragmentação do DNA no hipocampo;(A;C) grupo controle e (B/D) grupo da hiperoxia. A densidade neuronal é significativamente menor no grupo de hiperoxia. A fragmentação do DNA é significativamente maior no grupo da hiperoxia (seta) Densidade neuronal Fragmentação do DNA NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Efeitos da hiperoxia sobre a morte celular (A) e Peso dos cérebros (B) A Morte celular B Peso dos cérebros NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Hiperoxemia/Hipocapnia (1ª 2 h) x Paralisia Cerebral (PC) em RN com asfixia perinatal: Apgar < 5 – 5º min (244 RN) Morte, severa PC, cegueira, surdez e atraso do desenvolvimento -Hiperoxemia - severa (> 200 mmHg): OR: 3,85 (1,67- 8,8- p =0,002) -Se associada a hipocapnia severa (20mmHg): OR: 4,56 (1,4-14,9-P=0,0012) Hiperoxemia: radicais livres tóxicos/ perfusão cerebral Margotto,PR (ESCS) Klinger G, 2005 NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? HIPEROXEMIA e velocidade do fluxo sanguíneo cerebral (FSC) Niijima, 1998:15 RN a termo (39sem) /17 RN pré-termos (31sem) sem asfixia (submetidos a <10 minutos de hiperoxemia) Pré-termo: a queda do FSC persistiu em média de 10 minutos ao retornar à normoxemia Deficiente controle da vasculatura cerebral Risco de retinopatia NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Oxigenoterapia e Leucomalácia periventricular: lesão oxidativa de oligodendróticos (estresse oxidativo) Haynes, 2003:17 casos de LPV/28 controles Dramática perda de oligodendróticos na substância branca gliótica no RN com leucomalácia periventricular (PVL)-RN de 35 sem Collins, 2001:1105 RN (500-2000g);Hiperoxemia Paralisia cerebral (OR:2,5;IC a 95%:1,3-5,1) Sola,2006:Prognóstico melhor nos RN≤1250g quando se evitou Sat>94% NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Oxigênio: fator carcinogênico! Spector Oxigênio e câncer infantil LG,2005:segmento de 60 mil RN RN expostos a 100% de oxigênio por 3 minutos ou mais Risco de Câncer :RR: 2,87;IC a 95%: IC 95% 1.46- 5.66). (leucemia,câncer no SNC, linfoma, neuroblastoma, retinoblastoma, tumor de Wilms) Possível explicação: dano às proteínas e ao DNA pelo estresse oxidativo radicais livre de O2 Processos degenerativos NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Oxigênio: fator infeccioso! Oxigênio e Infecção Torbati D et al J Crit Care. 2006 Mar;21(1):85-93; ratas expostas ao O2 (100%) de forma constante tiveram aumento significativo nos glóbulos brancos no 4º dia de vida. radicais livres interferem com alguns códigos genéticos essenciais para a defesa humoral nas ratas em estudo. NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Oxigênio e o crescimento Torbati D et al:International Pediatrics;21;175-182,2006 ratas expostas às saturações entre 8594% cresciam melhor do que as expostas as saturações altas Oxigênio: fator de retardo do crescimento! NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Oxigênio e os genes Soliz A,2008: A hiperoxia causou a saída de 8 genes da banda esperada (de 10.000 genes do cérebro de ratas) quantos genes tem que estar afetados para produzir a anemia drepanocítica: APENAS 1 Oxigênio: fator genético! NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Oxigênio e Enterocolite Necrosante Haase, 2004:reanimação de porquinhos recém-nascidos com 21%,50% e 100% de O2 Corte histológico do íleo terminal e reanimação: A-controle B-com ar (21%) C: com 50% de O2 D: com 100% d Necrose intestinal com pneumatose Oxigênio: fator de necrose intestinal! A reanimação com 100% de O2 estresse oxidativo (radicais livre de O2) lesão por reperfusão NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Oxigênio e Retinopatia da Prematuridade (ROP) Uma das principais causas de cegueira prevenível na infância 50.000 crianças cegas no mundo (24.000 – América Latina) A primeira epidemia: 10.000 crianças ex-pretermas cegas! anos 40-50-60 uso descontrolado de oxigênio. Houve necessidade de 10 anos para se fazer a ligação da ROP e o uso descontrolado de oxigênio. Depois, o oxigênio foi mais restrito e muitos RN morriam até por excesso de diminuição de oxigênio A segunda epidemia: anos 70-80 mais RN pequenos sobrevivendo nos países desenvolvidos, com a melhora dos cuidados intensivos. A terceira epidemia: é uma mistura das duas acima: uso não controlado de oxigênio, sem monitorização ou insuficiente, sem misturadores. Silverman,1982; Clare, 2010 NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? E agora, qual é o alvo seguro? ANTES DE 5 DE MAIO DE 2013 2011-Saugstad-revisão sistemática e Metanálise (10 estudos) Desfechos: -severa retinopatia da prematuridade (n=3811) -displasia broncopulmonar (DBP)/ou problemas pulmonares (n=4612) -mortalidade (n=-1611) NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Retinopatia da prematuridade (ROP) Heterogeneidade I2=23%;p=0,25 (pouca evidência de heterogeneidade) n=3811 8 estudos (1 randomizado/ 7 observacionais) Significante redução da ROP com baixa SatO2 Saugstad, 2011 NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Displasia broncopulmonar/ou problemas pulmonares Heterogeneidade I2=59,4%;p=0,09) Heterogeneidade I2=68%;p=0,003 n=4612 8 estudos (3 randomizado/ 5 observacionais) Significante redução da DBP com baixa SatO2 Saugstad, 2011 NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Mortalidade Heterogeneidade I2=56.9%;p=0,13) (moderada) n=1611 2 estudos (1 randomizado/ 1 observacional) Sem significância estatística Saugstad, 2011 NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Assim, com alvo menor de saturação de oxigênio: 50% na ROP 20-25% da DBP/problemas pulmonares Centenas de milhares de recém-nascidos prematuros ficariam sem DBP / ROP ao redor do mundo se diminuirmos a SatO2 Mortalidade: -inconclusiva (apenas 2 estudos foram avaliados) -são necessários grandes estudos randomizados Sugestão: Talvez SatO2 de 85% seja muito baixa No entanto: Sat > 95% é detrimental Assim, evitar SatO2 entre 85-89%! Saugstad, 2011 NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? DEPOIS DE 5 DE MAIO DE 2013 Canadian Oxygen Trial (COT):Canadá,EUA,Argentina, Finlândia, Alemanha e Israel 1201 RN (23sem a 27sem6d)(dez/2006 a Agost/2012) Sat 85-89% x 91 a 95% (até IGpc de 36 semanas) Desfechos: primário: Morte aos 18 meses OR ajustada:1.11 (IC a 95% de 0,80 a 1,54) Neurodesenvolvimento aos 18 meses OR ajustada:1,o8 (IC a 95% de 0,85 a 1,37) secundário: Retinopatia da prematuridade OR ajustada:1,09 (IC a 95% de 0,84 a 1,41) Severa displasia broncopulmonar OR ajustada:0,94 (IC a 95% de 0,71 a 1,23) Sat 85%-95% NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? BOOST II (Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia) Sat 85-89% x 91 a 95% (até IGpc de 36 semanas) 2448 RN 28 semanas (março/2006 a dez/2010) -1261 (51,5%): algoritmo original do oxímetro Morte hospitalar: RR:0,90 (IC a 95%:0,70-1,15) NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? -1187 (48,5%): algoritmo revisado do oxímetro Morte hospitalar: RR:1,45 (IC a 95%:1,15-1,84) (para a menor saturação) AINDA: Menor saturação Redução do tratamento para ROP: RR:,0.79; 95% CI, 0.63 - 1.00; p=0.045) Maior taxa de enterocolite necrosante RR:1,31;1,02-1,68; p=0,04) NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Maior mortalidade hospitalar com Sat 85%- 89% (oxímetro com algoritmo revisado) Recomendação: RN<28 semanas:EVITAR Sat<90%! NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Bancalari/Claure (5 de maior de 2013):Editorial A atualização do sofware do oxímetro corrigiu 2% de superestimação entre 87% a 90% Após este procedimento, no COT: 2,7% maior de mortalidade na menor saturação (sem significância estatística, mas caminhou na direção do SUPPORT e BOOST II) (há necessidade de análise mais detalhada para entender como a atualização do oxímetro influenciou na mortalidade) Nenhum desfecho é mais importante que a sobrevivência NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Discrepância entre PSaO2 e SatO2 O monitor de saturação de O2 deve ser considerado um adjunto essencial na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal No entanto, ele não deve abolir a monitorização da PaO2, principalmente nos casos de severa hipoxemia esta medição pode não ser tão precisa O algorítmo dos oxímetros deveria ser atualizado? Rosychuk et al, 2012: 2-3% acima da saturação verdadeira medida pela gasometria arterial, principalmente em saturações baixas (mais uma razão para evitarmos saturações muito baixas) Dziedzic e Vidyasagar: RN sob dopamina (SatO2<PSaO2) (RN de 24-32 semanas) Com dopamina Sem dopamina NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? NO ENTANTO, AINDA.... Há questões que necessitam de respostas metanálises destes estudos resultados do estudo NeOProM (Neonatal Oxygenation Prospective Meta-analysis Collaboration study protocolfollow-up de 5000 crianças-2014) Bancalari/Claure, 2013 NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? Relação Enfermagem/paciente e Alvo de Saturação de O2 Sink et al, 2011 Alvo:85-92% / Hiperoxemia: 98-100% (RN <29 semanas) Com a adição de mais um paciente Aumento da proporção de tempo fora do alvo /aumento do tempo em hiperoxemia Ajuste automático de FiO2 no respirador Pode melhorar o controle da oxigenação Com redução da carga de trabalho enfermagem (Bancalari, 2010) NÍVEIS DE OXIGENAÇÃO NO PERÍODO NEONATAL Existe limite seguro? MENSAGENS! À luz das evidências, maio de 2013 Alvo de SatO2 seguro: entre 90-95% (nunca acima de 95%) A HIPEROXEMIA ESTÁ NAS MÃO DO PROFISSIONAL! É TÃO (OU MAIS) LESIVA QUANTO À HIPOXEMIA (RN com cardiopatia? >75% (80-85%) O problema continua nas nossas mãos! Paulo R. Margotto www.paulomargotto.com.br Sola, 2010; Bancalari/Claure,2013; Ramos, 2005 OBRIGADA! Dra. Fernanda