A ABORDAGEM ECOSSISTÉMICA NO PLANEAMENTO E GESTÃO DO MEIO MARINHO Como surgiu a abordagem ecossistémica? A abordagem ecossistémica surgiu na COP da CBD, em 2000, em Nairobi, no Quénia, passados 8 anos da assinatura da Convenção. Hoje já é uma realidade no plano legal, traduzida na Directiva Quadro Agua (2000) e agora, mais recentemente, na Directiva Quadro Estratégia Marinha (2008). No entanto a norma chegou antes da mudança na cultura organizacional e de uma nova forma de estruturar o pensamento em política e gestão do ambiente. O que é a abordagem ecossistémica? É uma estratégia para a gestão integrada da terra, da água e dos recursos vivos que promove a conservação e o uso sustentável dos recursos de modo equitativo – permite atingir um equilíbrio entre os 3 objectivos da Convenção Diversidade Biológica (CBD). Baseia-se na aplicação de métodos científicos adequados focados nos vários níveis de organização biológica, que abrangem estrutura, processos, funções e interacções entre organismos e o seu ambiente. A abordagem ecossistémica reconhece os seres humanos, com a sua diversidade cultural, como parte integrante de muitos ecossistemas. Os princípios • Os objectivos de gestão são uma matéria de escolha social • A gestão deve ser descentralizada ao nível mais baixo apropriado • Os gestores dos ecossistemas devem considerar os efeitos das actividades nas áreas adjacentes e nos outros ecossistemas Os princípios • Para reconhecer ganhos potenciais é preciso que a gestão compreenda o ecossistema num contexto económico, considere a mitigação das distorções de mercado, alinhe incentivos para a promoção de usos sustentáveis e internalize custos e benefícios • Uma questão chave da abordagem ecossistémica inclui a conservação da estrutura e do funcionamento do ecossistema • Os ecossistemas devem ser geridos dentro dos seus limites de funcionamento Os princípios • A abordagem ecossistémica deve ser desenvolvida à escala adequada • E deve reconhecer a variedade de escalas temporais e efeitos de atraso que caracterizam os processos e definir objectivos de longo prazo para os ecossistemas • A gestão deve reconhecer que a mudança é inevitável Os princípios • A abordagem ecossistémica deve procurar um equilíbrio entre a conservação e o uso da biodiversidade • Deve considerar relevante todo o tipo de informação, incluindo conhecimento científico, conhecimento local, inovações e práticas • A abordagem ecossistémica deve envolver todos os sectores relevantes da sociedade e disciplinas científicas Factores de sucesso • Identificar explicitamente a conservação da biodiversidade como um objectivo chave do programa e adoptar uma abordagem equilibrada para manter a saúde e a produtividade dos ecossistemas costeiros de forma a poderem continuar a fornecer recursos que sustentem o bem-estar económico e social da comunidade • Construir e implementar programas em torno de um processo participativo que permita às partes interessadas a nível local ter mais controlo sobre os recursos naturais dos quais depende a sua subsistência e permitir desta forma soluções sustentáveis Factores de sucesso • Desenvolver abordagens de gestão de uso múltiplo para os ecossistemas costeiros e seus recursos, que permitam atingir objectivos económicos sem afectar de forma adversa os ecossistemas que os sustentam • Utilizar uma variedade de ferramentas (regulamentação, zonamento, planos de acção, planos de contingência, avaliação de incidências ambientais, etc.) para minimizar o impacto das actividades humanas sobre os habitats naturais • Assegurar a capacidade e mandatar a coordenação das actividades no interior que conduzem à degradação e destruição da biodiversidade costeira e marinha Factores de sucesso • Incorporar um sistema de áreas protegidas costeiras e marinhas enquanto ferramenta de conservação • Construir grupos de apoio para as medidas de conservação da biodiversidade e gestão costeira através de programas de divulgação e informação, no sentido de todos os níveis de governo, organizações e comunidade criarem um interesse comum na promoção da conservação dos ecossistemas • Incorporar ferramentas de resolução de conflitos no processo Factores de sucesso • Melhorar a compreensão científica das funções desempenhadas pelos vários ecossistemas costeiros, os recursos por gerados por estes e o modo como a actividade humana tem impacto no funcionamento do ecossistema • Definir metas específicas em termos de condições do ecossistema e estabelecer um sistema de monitorização • Investir em desenvolver competências nos recursos humanos responsáveis pelo planeamento e gestão Como implementar a abordagem ecossistémica no meio costeiro e marinho? Há 40 anos atrás a “zona costeira” era “a área de terra afectada pelo mar e a área de mar afectada pela terra”, ou seja, a planície costeira até ao limite da plataforma continental. Na maior parte dos países a gestão costeira incidiu apenas no 1º ou 2º quilómetro a partir da linha de costa. E apenas raramente incluíram as áreas das bacias hidrográficas. E ainda mais raramente se estendeu ao longo do mar territorial ou até à zona económica exclusiva. Hoje reconhecemos que a área de gestão da zona costeira é afectada a montante pela gestão da bacia hidrográfica da área costeira adjacente e a jusante pela área de oceano aberto. Um exemplo – o planeamento espacial marinho É um processo político orientado para o futuro semelhante à GIZC em conceito. É a peça que falta para um planeamento integrado das bacias hidrográficas costeiras e dos ecossistemas marinhos. É uma das ferramentas existentes para manter o mar saudável, produtivo e resiliente. Em direcção a uma gestão ecossistémica Integrar & Analisar Sistema & Componentes Processo & Resultado Participação top-down & Participação bottom up Em direcção a uma gestão ecossistémica 1 – Identificar necessidades e estabelecer autoridade 2 – Obter financiamento 3 – Organizar o processo através do pré-planeamento 4 – Organizar a participação pública 5 – Definir e analisar as condições actuais 6 – Definir e analisar as condições futuras 7 – Preparar e aprovar um plano de gestão espacial 8 – Implementar e executar um plano de gestão espacial 9 – Monitorizar e avaliar a execução 10 – Adaptar o processo de gestão espacial Algumas lições aprendidas – Planear sem implementar é estéril e implementar sem planear é uma receita para o fracasso, o desenvolvimento de PEM requer 2 tipos de autoridade: uma autoridade para planear e uma autoridade para implementar (exemplos do Reino Unido, Austrália e EUA e exemplos da Europa) – Nestas equipas são necessárias competências técnicas que normalmente não são normalmente incluídas (planeamento, gestão organizacional, pensamento estratégico, planeamento financeiro, comunicação estratégica, resolução de conflitos, etc.) Algumas lições aprendidas – É muito comum decisores anunciarem formas de envolvimento que indicam elevados níveis de influência que na prática se revelam muito limitadas, gerando frustração e condicionando a participação efectiva das partes interessadas. É prudente ser claro desde o início para que os participantes saibam o que podem esperar. – Definir e analisar condições futuras não é uma ciência exacta. Em vez de localizações exactas devem indicar-se padrões, tendências e direcções. Este exercício permite revelar que a procura total de espaço no oceano é maior do que aquele que está de facto disponível e ilustra que certos tipos de uso não podem continuar sem entrar em conflito com outros usos ou com o ambiente. Algumas lições aprendidas – A Terceira Dimensão – Zonamento Vertical - Diferentes regras e actividades são definidas ao longo da coluna de água desde o fundo até à superfície. Acautelando as relações ecológicas entre as comunidades de fundo e as de superfície esta pode ser uma das formas apropriadas de proteger o fundo e manter actividades de recreio à superfície. – A Quarta Dimensão – Zonamento Temporal - Algumas áreas são particularmente sensíveis numa determinada época do ano (zonas de desova, rotas de migração, etc.) e dependendo dos factores envolvidos o ciclo de tempo pode ser de longo prazo, sazonal, cíclico ou mesmo diário. Não esquecendo que – Os limites de estudo devem ser mais abrangentes que os limites de gestão – A gestão integrada não substitui a gestão sectorial – O processo é contínuo, repetitivo e adaptativo e o foco deve ser o processo de planear e não a produção de um documento Outro exemplo – os Grandes Ecossistemas Marinhos – GEM são regiões do oceano que albergam as áreas costeiras (bacias hidrográficas e estuários) e as zonas marinhas adjacentes da plataforma continental – Cerca de 50 GEM produzem a maior parte da biomassa mundial de recursos pesqueiros anualmente capturada – Existem actualmente 10 projectos aprovados pelo GEF que envolvem 72 países e estão em preparação 7 projectos em águas internacionais que envolvem 54 países Outro exemplo – os Grandes Ecossistemas Marinhos – Modelo científico de gestão ecossistémica das actividades humanas (metodologia de avaliação e gestão a ser testada presentemente) – Envolve partes interessadas, integra a comunidade científica e conduz ao desenvolvimento de instituições de gestão adaptativa – Permite integrar programas nacionais e internacionais de forma eficiente na gestão local efectiva de um determinado território marinho