CRISES NAS ORGANIZAÇÕES Aula 5 e 6 Profª Ana Simões No mundo, nos últimos anos estamos assistindo a inúmeros tipos de crises ocorridas com diversas organizações e indivíduos. No Brasil não é diferente. No Brasil, estima-se haja mais de seis milhões de empresas de pequeno a grande porte.E todas passaram ou passarão por crises. O ICM Brasil realizou um estudo para levantar as três causas mais frequentes das crises corporativas, abrangendo 70 mil casos, ocorridos nos últimos dez anos. Mais de um quinto está relacionado com a incompetência na gestão. Os outros 20% decorrem dos crimes do “colarinho branco”, ou seja, fraudes, corrupção e extorsão. E o terceiro são os conflitos trabalhistas. Sem dúvida, os profissionais da comunicação no Brasil estão no caminho certo. Segundo dados de mercado, das 402 crises no Brasil em 2008, 74% permaneceram apenas um dia na imprensa. Portanto, no ambiente de negócios altamente competitivo e de alta performance em que vivemos hoje, é chegado o momento das empresas prevenirem as crises de forma eficaz, reforçando assim sua reputação, credibilidade e transparência. Crises ocorrem nas organizações, independentemente de seu tamanho, área de atuação ou origem. Elas são inerentes à própria natureza da operação e quase sempre não podem ser eliminadas, mas minimizadas, se medidas adequadas forem tomadas, antes, durante e após a ocorrência. Outro ponto é que elas invariavelmente colocam a prova à reputação e a sobrevivência das organizações Uma crise, seja de qual origem for, sempre é uma ameaça ao bem mais precioso de uma empresa: sua reputação. Confiança, reputação e credibilidade são ativos intangíveis e de extrema valia. Atributos conquistados arduamente, durante anos, que podem facilmente ser destruídos em poucos dias. As empresas estão mais vulneráveis aos olhos do público. Antigamente existia uma defasagem de tempo até a notícia chegar ao público. Hoje, nos dias atuais as notícias chegam a tempo real e, às vezes até mesmo a imprensa antes dos próprios funcionários ficarem cientes. Ramos (2002) faz uma relação oportuna sobre comunicação e globalização: “Sem comunicação não há o que partilhar, globalizar. A comunicação, por sua vez, exige um meio de comunicação tão veloz quanto a informação. Pontos Chave de uma Crise Baixa probabilidade Alto impacto Incerteza = causas e efeitos ambíguos Diferentes percepções Ameaças Específicas Organizações: para as Viabilidade operacional Reputação Credibilidade Saúde financeira Atuação legal (ética, moral e jurídica) Efeitos: Incertezas/ambigüidades Urgência de respostas Efeitos estratégicos das decisões Desgastes nas relações inter e intrapessoais Características Comuns de uma Crise: As coisas acontecem “de repente” É preciso tomar decisões urgentes O tempo é curto Ameaças específicas são identificadas Todo mundo quer informações urgentes sobre o que está acontecendo Há uma sensação geral de perda de controle A pressão cresce a cada segundo Trabalhos de rotina se tornam extremamente difíceis Características Comuns de uma Crise: São feitos pedidos descabidos para tentar descobrir quem são os “reclamadores” O “pessoal de fora” (imprensa, sindicatos, políticos, “amigos”) começa a ter um súbito interesse pela empresa A reputação da empresa se abala As comunicações ficam incrivelmente difíceis de serem gerenciadas (tanto as internas quanto as externas) Objetivos da Gestão de Crise: Prevenção Sobrevivência Melhoria da situação geral no pós-crise O gerenciamento de uma crise começa mesmo antes que ela ocorra. Segundo o Institute of Crises Managment (ICM), apenas uma em cada cinco empresas está preparada para uma crise nos EUA. E a prevenção à crise é comumente ignorada. Identificando Crises Potenciais Sua empresa está aberta aos alertas e colocações de funcionários? Essas pessoas são recompensadas, ignoradas ou punidas quando expressam sua opinião? Faça um Brainstorming: Causas externas: mudança radical de uma tecnologia; crise econômica no país; comprovação de que o uso de celular provoca câncer Identificando Crises Potenciais Causas internas: queda acentuada das vendas; empresa não observou as tendências do mercado e “perdeu o bonde” do crescimento; acionistas e executivos tem idéias diferentes sobre a melhor forma de gerir a empresa; Associados perderam a crença na empresa e na “causa” Estes dados sugerem, que nem sempre as crises estão somente relacionadas aos produtos, serviços e acidentes ambientais. Para estas, o preparo é certamente mais efetivo. Mas, por que uma empresa deve investir na prevenção de uma crise ao invés de apenas gerenciá-la? Alto Nível de Ameaças: Segurança pessoal (aspectos psicológico e financeiros) Imagem da organização Relacionamento com os clientes Relacionamento com os acionistas Relacionamento com a comunidade Manter o fato que gerou a crise em sua real dimensão, liderando o processo de comunicação com os públicos interno e externo, resumem o conceito do gerenciamento de uma crise, que começa na prevenção. O gerenciamento de crise é a base que sustenta toda a ação que consideramos necessária para tentar evitar uma crise. Em primeiro lugar, estar preparado para enfrentá-la, quando necessário, e mais, conseguir fortalecer a reputação e imagem da empresa durante e após a crise, quando possível. Uma organização que não assume na íntegra sua responsabilidade social, por exemplo, pode ter sua imagem comprometida, pois a sociedade exige das organizações mais do que o cumprimento de suas obrigações legais e sim todo um envolvimento com o social. Quando este tipo de crise acontece, é natural que o nome da organização ou indivíduo ocupe um espaço grande e de destaque nos meios de comunicação e seja o principal assunto entre os públicos da organização. E para que todo o processo flua, assertivamente, há um elementochave: a comunicação. É a área de comunicação corporativa que poderá trabalhar com todos os públicos para manter a fluidez das mensagens, para medir o impacto e para planejar ações que possam minimizar os danos à imagem da empresa. Gerenciamento das Crises O gerenciamento de crises deve envolver diversos departamentos, setores ou áreas de uma empresa. Isto varia em função do tipo de crise que aparece. Geralmente, o comitê de crises deve possuir membros dos setores de Comunicação (Comunicação Corporativa, Marketing, Assessoria de Imprensa, Atendimento ao Cliente), Jurídico, Financeiro, Segurança, das áreas técnicas envolvidas na crise e, principalmente, da alta administração. Este grupo multidisciplinar enriquece as discussões e impede que a atitude de uma área atrapalhe ou dificulte o trabalho da outra. Mário Rosa elaborou uma lista básica baseada no modelo adotado por grandes empresas americanas e também proposto pelo consultor Jefrey Componigro, autor do livro, The crisis Counselor (Conselheiro da Crise). O modelo é composto pelos: presidente; consultor; diretor de relações públicas ou comunicação; diretor de recursos humanos; diretor das divisões corporativas; representante da área de operações ; representante da área de segurança; segurança industrial ou segurança médica; representante da área de qualidade; gerente industrial; consultor externo. (ROSA, 2001 p.137). “A direção (da empresa) deve decidir de antemão com clareza, o que vai ou não revelar durante uma crise(...) evasivos, subterfúgios e palavras brandas para ganhar a confiança do público não produzem bons resultados.” Em alguns casos, quando as organizações possuem várias plantas, é necessário montar uma redação – vídeos/conferências, computador/internet, fax, telefone, rádio, televisão - na diretoria onde as decisões estão sendo tomadas para agilizar o processo de comunicação. Quando a empresa pertence ao setor de prestação de serviços e a crise afeta o fornecimento, é conveniente contratar um call center para fazer o atendimento ao público. A imprensa deve ser bem atendida e abastecida. O porta-voz deve, na medida do possível e dependendo do tamanho da crise, atender às demandas da imprensa. Os profissionais do departamento de Comunicação devem atualizar os boletins e divulgá-lo diariamente. É importante monitorar a mídia e corrigir eventuais erros para que não haja novas crises. Os demais públicos - colaboradores, clientes, acionistas, fornecedores, grupos de pressão, sociedade e governo - também devem ser mantidos informados e suas reações, acompanhadas. Cada empresa deve ter condições de reconhecer que provavelmente seja necessário elaborar uma mensagem para os membros de sua comissão, diferente daquela que deverá ser passada ao público geral. As pessoas voluntárias e até mesmo os empregados podem também requerer diferentes tipos de comunicação. A equipe de Comunicação, em caso de crise, deve desenvolver uma listagem de públicos potenciais. Um dos mais esquecidos é o público interno, o que não pode acontecer de forma alguma. Pois internamente se faz necessário comunicar mais, para que haja um fortalecimento da equipe interna e para controlar os rumores. Esse público é talvez o mais forte, pois através dos mesmos, pode-se mudar toda uma história, e até mesmo evitar especulações que podem não ter um bom retorno para as organizações. Na verdade a reputação da empresa também se reflete em seus próprios funcionários. Quanto maior a reputação maior o potencial de ser abatido por uma crise. Mário Rosa (2001 p. 22), em seu livro A Síndrome de Aquiles afirma que o sucesso não um antídoto das crises. Ao contrário, funciona muitas vezes como um passaporte para elas. Rosa ainda considera que as empresas não se preparam para enfrentar uma crise, pois persiste no Brasil uma cultura reativa no que se refere ao gerenciamento de crises. No entanto, isto poderá levar a um arrependimento futuro e custo do planejamento antecipado, que a princípio parecia alto, poderá representar nada comparado aos custos de RECOMUNICAÇÃO. CASO TYLENOL O caso Tylenol, ocorrido em 1982, é um bom exemplo de administração de crises até hoje. O medicamento foi adulterado com cianeto, matando sete pessoas nos Estados Unidos. Apesar do grave problema, a imagem da Johnson & Johnson não foi afetado. O modo como a crise foi administrada pela empresa é considerado um modelo a ser seguido. A diretoria assumiu a responsabilidade, auxiliou as pessoas afetadas e não sonegou informações à imprensa, pelo contrário, tratou-a como parceira na divulgação dos fatos. CASO TYLENOL Foi à imprensa e divulgou que o medicamento foi adulterado. • Solicitou à população que o uso do Tylenol em versão cápsulas fosse suspenso; • Recolheu todo o estoque do medicamento dos hospitais, farmácias e demais pontos de venda; • Deu subsídio aos hospitais caso algum caso de envenenamento fosse registrado; • Ofereceu aos consumidores a opção de trocar o medicamento em cápsulas que tivessem em casa pela versão em tabletes, que não podia sofrer sabotagem; • Ofereceu prêmio em dinheiro a quem pudesse dar informações sobre o adulterador. CASO TYLENOL As explicações dadas pela empresa sobre o ocorrido foram bem aceitas pela imprensa. Comprovando a confiança que a Johnson & Johnson merecia, o setor de Relações Públicas da empresa catalogou mais de 125 mil recortes de jornais, com notícias sobre o caso Tylenol, todos eles favoráveis. CASO TYLENOL Na época do ocorrido, o Tylenol em versão cápsulas abastecia 35% do mercado norteamericano de analgésicos vendidos em balcão. As vendas representavam US$ 450 milhões por ano e 15% dos lucros da Johnson & Johnson. Foram recolhidos 31 milhões de unidades, um prejuízo de US$ 50 milhões. Porém, a credibilidade da empresa não foi abalada e a mesma continua no mercado após todos esses anos, com sua imagem ilesa. REFLEXÃO A cada minuto surgem novos produtos, novos serviços, novas necessidades e, com a intenção de acompanhar essas tendências, as empresas estão investindo nessa área para atender melhor os seus clientes em busca a tão sonhada excelência. È válido ressaltar que o planejamento estratégico da comunicação organizacional servirá como base para qualquer eventualidade ocorrida com a comunicação. Este se bem planejado, pode evitar maiores transtornos em um gerenciamento de crises. Identificando Crises Potenciais (Exercício 1) Piores Coisas que Podem Ocorrer Situação O que fazer sobre isso 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Fonte: Harvard ManageMentor Priorizando as Crises Potenciais (Exercício 2) Riscos da Empresa XYW Descrição do Risco Estimativa do Impacto da sua Ocorrência Perda de clientes que correspondem a 30% das compras R$ 4 milhões por ano 50% R$ 2 milhões em perdas por ano Greve no transporte: atraso de matériasprimas R$ 300.000,00 perdas de lucro 15% R$ 45.000,00 de perdas no lucro Probabilidad e da Ocorrência Valor Estimado Fonte: Harvard ManageMentor Melhor Forma de se Lidar com Crises Pode-se fazer uma avaliação de todas as possíveis crises para poder, eventualmente, enfrentá-las. Deve-se estudar os pontos onde a empresa é mais vulnerável. Estudo no Instituto de Gerenciamento de Crises, em Louisville, Kentucky, em uma amostragem de 31.500 casos, mostra: 5.700 problemas causados por falha de administração; 4.500 por acidentes. Modelo de Gestão de Crises Condições Anteriores Crise Intrínseca Percepção da Crise Resposta imatura para a crise Gestão amadurecida da crise Revisões e Feedback Fonte: Harvard ManageMentor O que não Fazer “Foi um episódio isolado. Não vai acontecer novamente”. “Não quero incomodar meus chefes”. Comunique a crise imediatamente a escalões mais altos. Tempo é chave. “Legalmente estamos cobertos”. Não ignore sinais de alerta. Resolva problemas potencialmente graves da primeira vez, antes de se tornarem crises. Ter razão em crises não significa vencer. A questão é de imagem, não apenas de leis. “Foi um problema menor. Não há motivo para pânico”. Não se iluda. Uma pequena rachadura num dique pode significar catástrofe. Fonte: Revista Exame, São Paulo, janeiro-2009. Três Critérios para Avaliar o Sucesso na Gestão da Crise: A capacidade da organização foi recuperada? As perdas foram minimizadas? As lições foram aprendidas? Bibliografia Sugerida BARTON, Laurence. Crisis in organizations: managing and communicating in the heat of chaos. EUA, South-western Publishing, 1993. Bueno, Wilson da Costa. Comunicação Empresarial: teoria e pesquisa. São Paulo, Editora Manole, 2003. BUENO, Wilson da Costa. Comunicação Empresarial no Brasil: uma leitura crítica. São Paulo, All Print Editora, 2005 (o livro está esgotado e será relançado pela Mojoara Editorial em 2007, atualizado e revisado). CHAMPI Jr, Afonso e BARBOSA, Djalma Gonçalves. Diário de uma crise: lições do caso Parmalat. Rio de Janeiro, Qualitymark, 2004. Bibliografia Sugerida COHEN, Jeff e SOLOMON, Norman. Through the media looking glass. Decoding bias and blather in the news. EUA, Common Courage Press, 1995. CROTEAU, David & HOYNES, William. 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