Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnológico Departamento de Engenharia Mecânica Coordenadoria de Estágio do Curso de Engenharia Mecânica CEP 88040-970 - Florianópolis - SC - BRASIL www.emc.ufsc.br/estagiomecanica [email protected] RELATÓRIO DE ESTÁGIO – 1/3 (primeiro de três) Período: de 09/08/2010 a 27/08/2010 Aluno: Alexandre Skrabe Guterres Supervisor: Liziane Castegnaro Orientador: Dylton do Valle Pereira Filho Florianópolis, 27/09/2010 1. A empresa O estágio está sendo realizado na ELETROSUL Centrais Elétricas S.A. que é uma empresa subsidiária da Centrais Elétricas Brasileiras S.A. ELETROBRAS, vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Foi constituída em 23/12/1968 e autorizada a funcionar pelo Decreto nº. 64.395, de 23/04/1969. É uma sociedade de economia mista de capital fechado, concessionária de serviços públicos de transmissão e geração de energia elétrica. Com sede em Florianópolis, estado de Santa Catarina e atuação preponderante nos estados da região Sul e Mato Grosso do Sul, realiza estudos e projetos, constrói e opera instalações de transmissão e de geração de energia elétrica, investe em pesquisa e desenvolvimento, fomenta o uso de fontes alternativas de energia, presta serviços de telecomunicação e pratica outros atos de comércio decorrentes destas atividades. Para isso, conta com um quadro funcional formado por mais de 1500 profissionais. No segmento Transmissão, integra e interliga as fontes de energia elétrica aos mercados consumidores, criando condições para a competição. Viabiliza, com os demais países do MERCOSUL, a importação e/ou exportação de energia elétrica e garante a qualidade da energia nos pontos de suprimento. As atividades de operação do sistema elétrico sob sua responsabilidade são coordenadas e controladas do Centro de Operação do Sistema, localizado em sua sede, que atua de acordo com procedimentos definidos pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). No segmento Geração, dá continuidade às atividades para implantação de empreendimentos hidrelétricos e de fontes alternativas, que consolidarão seu retorno a este mercado. Há usinas sendo implantadas em muitos locais do Brasil, e em breve estarão em funcionamento. A política de investimentos e a busca incessante da excelência na gestão empresarial, com destaque para a qualidade e a confiabilidade do sistema elétrico, estão alinhadas com as políticas públicas do Governo Federal que tem dado suporte para o crescimento e desenvolvimento continuado do País. Neste particular, responsável por obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ELETROSUL cumpre seu papel na expansão da infra-estrutura eletro-energética, de suma importância para a manutenção do forte ritmo de crescimento que o Brasil vive hoje. 2. Área de Atuação na Empresa O estágio está voltado para área de geração de eletricidade, mais especificamente a manutenção de usinas hidrelétricas. Como se trata de uma área nova para empresa, que está voltando para este nicho de mercado após 12 anos, e ainda não existem usinas da empresa em funcionamento para manter, estão sendo feitos estudos com especialistas da área para se obter um planejamento ótimo de como e quando devem ser feitas as manutenções preventivas e preditivas das usinas. Além disso outra função do SEMUS (setor de engenharia e manutenção de usinas) é treinar técnicos para que as manutenções ocorram com qualidade. Para que todo esse trabalho seja feito da melhor maneira possível, há um estudo aprofundado e específico do projeto de cada usina que está sendo construída. Este estudo é feito por um grupo de engenheiros das áreas mecânica, civil e elétrica, sendo dois especialistas em manutenção de usinas. Outra atividade importante que auxilia no planejamento das manutenções e no treinamento dos técnicos são as visitas técnicas constantes as usinas da empresa que estão sendo construídas para que haja além do conhecimento teórico o conhecimento prático da montagem das usinas para que se possa conhecer também os possíveis processos de desmontagem caso sejam necessários. Além de dar uma noção das dimensões das usinas que fogem do padrão de outras construções menos complexas. Há também integração com outras empresas do setor, sendo algumas também subsidiárias da ELETROBRAS, para troca de conhecimentos, onde se pode aproveitar as manutenções que estão sendo feitas em outras usinas como aulas práticas para os técnicos e engenheiros adquirirem experiência antes mesma de se ter as usinas da ELETROSUL em funcionamento. 3. Atividades realizadas 3.1 Introdução Durante a primeira semana de estágio foi feita uma apresentação sem aprofundamentos sobre cada parte da usina para se ter uma visão geral assunto, essa explanação envolveu não só a parte mecânica mas também as partes civil, elétrica e até hidrológica das usinas. Essa apresentação envolveu fotos, vídeos e textos e essa visão geral da usina foi de grande importância para os ensinamentos mais aprofundados que se seguiram nas semanas seguintes. Na segunda semana foi dado aprofundamento nos ensinamentos da parte mecânica da manutenção das usinas hidrelétricas, que dentro da ELETROSUL está dividida em três partes: Turbinas hidráulicas e reguladores de velocidade: Tem como responsável a Engª. Liziane Castegnaro e envolve o rotor, os mancais de escora e guia, o distribuidor e pré-distribuidor, tubo de sucção caixa espiral além de outros equipamentos auxiliares ao funcionamento destes. Equipamentos hidromecânicos: O responsável é o Eng. Luís Eraldo Cassias Pereira, e envolve as comportas, as grades, os condutos e os tubos e acessórios. Gerador: Tem como responsável a Engª Ana Paula e envolve o gerador (rotor e estator) e seus sistemas de resfriamento. Cada uma das partes foi explicada de forma individual entre o estagiário e seu respectivo engenheiro responsável e abaixo será feita uma descrição mais detalhada dos assuntos abordados. 3.2 Turbina Definição: Turbinas são equipamentos instalados em usinas hidrelétricas que transformam a potência hidráulica em energia mecânica. Esta conversão ocorre quando há uma diferença de altura entre a entrada e saída de um circuito hidráulico, onde a energia da água ao passar pela roda da turbina é transmitida, por acoplamento de eixo, a um hidrogerador. 3.2.1 Classificação a) turbinas de ação: são aquelas em que a água é pressurizada ao passar por um orifício e sua energia cinética é transferida para as pás da roda, na forma de um jato de alta pressão. O principal tipo é a turbina Pelton, mas há outras do tipo MichelBanki utilizada em máquinas de pequeno porte. b) turbinas de reação: são aquelas que, ao passar pelas pás da roda, a água cria um campo de pressão que provoca o movimento de rotação e a transformação da energia. São dividas em dois grupos: radiais quando a água passa radialmente ao rotor (Francis) e axiais quando a água atinge axialmente o rotor (Kaplan, Bulbo, Straflo e Tubular S). 3.2.2 Campo de aplicação Tipo Pelton Queda 100 a 1.800 m Francis 20 a 800 m Kaplan e Hélice 5 a 70 m Bulbo e Straflo 2 a 40 m Tubular tipo S 2 a 25 m 3.2.3 Caixa espiral: é a estrutura externa envoltória da turbina que promove a distribuição uniforme de água para o rotor da turbina. Para turbinas (Kaplan) de baixa queda (aproximadamente 30 m) é constituída de caixa de concreto com seção retangular e incorporada à barragem. Para pressões superiores é fabricada em virolas circulares de chapas de aço soldadas na forma de caracol (Francis). A turbina Pelton possui um desenho próprio para distribuição tangencial dos bicos injetores. 3.2.4 Pré-distribuidor: é a estrutura metálica imediatamente entre a caixa espiral e a turbina e, é constituídos do anel superior e inferior e interligados por palhetas verticais fixas. Sua função é estrutural na medida em que suporta cargas da caixa espiral, a tampa da turbina e em máquinas verticais, todo o peso do conjunto girante. Em sua concepção de construção também é avaliada hidraulicamente a distribuição equilibrada da água para evitar vibrações. 3.2.5 Distribuidor: também denominado como conjunto de palhetas móveis ou diretrizes são pás retangulares com hastes encaixadas em buchas, sendo a mais longa acoplada a alavancas e bielas. Normalmente em número de 20 a 24, cuja finalidade é a regulação de vazão e conseqüente rotação ou potencia da turbina. Seu dimensionamento é adequado para manter um fluxo sem turbulência e suportar o esforço de sobrepressão quando do fechamento brusco da vazão. A usinagem possui tolerância precisa de forma a garantir um mínimo de vazamento entre as faces na posição fechada. As palhetas são interligadas a um aro comum denominado anel de regulação que como um volante acionado por servomotores produz o movimento de giro para o comando de abertura ou fechamento das palhetas móveis (distribuidor). Está apoiado sobre patins de bronze ou ptfe (politetrafluoretileno – vulgo teflon) ou outro elemento, normalmente autolubrificante na superfície superior da tampa da turbina. 3.2.6 Roda: é o elemento mais importante da turbina e que suporta os esforços hidráulicos e, efetivamente transforma a energia da água( cinética ou potencial) em energia mecânica, e conectado ao gerador por meio de um eixo. Os tipos mais comuns são Francis, Hélice, Kaplan e Pelton. Francis: constituída de cinta com pás ligadas a uma coroa e, tendo sob a coroa um cone para direcionar a vazão para o centro da cinta. Na circunferência externa da cinta e coroa, são incorporados faixas de inox denominadas de anéis de desgaste, cuja função é de promover a mínima folga entre o rotor girante e o anel de descarga fixo. O projeto da roda depende da queda e, em geral para alta pressão a roda é “achatada” e para pressões menores é mais alta( menos achatada) e com diâmetro da cinta maior que a coroa. Hélice: é fabricado normalmente com 3 a 7 pás fixas ao cubo da roda. É tipo empregado em usinas de baixa queda e vazão axial. Kaplan: tem a mesma configuração da hélice, porém suas pás não são fixas ao cubo da roda, ou seja, as pás são móveis e permite a variação do ângulo das mesmas. O interior do cubo possui um único pistão hidráulico que ligadas a alavancas e bielas promove o movimento das pás, possibilitando o melhor rendimento para as condições de variação de carga. A alimentação do óleo é realizada por meio de tubo que passa por dentro do eixo que acopla a roda ao gerador, e no topo do gerador está instalado o cabeçote Kaplan. Este componente recebe o óleo pressurizado do sistema de regulação e distribui por tubulação giratória para alimentação do servomotor das pás da roda. Pelton: é constituído de um disco que no seu diâmetro externo incorpora diversas pás em forma de concha. Estas conchas serão atingidas por jatos d’água que saem de injetores e que transforma esta energia em altas rotações da roda. Em geral são conchas de inox não muito afetadas por corrosão, porém vulneráveis à cavitação devido às grandes velocidades do fluxo. Esta roda é característica de usinas de altas quedas. 3.3 Equipamentos hidromecânicos 3.3.1 Tomada d’água: tem a finalidade de captação e direcionamento da vazão de água para turbinas. Sendo constituída pelas grades, comporta vagão (emergência) e comporta ensecadeira (stop-logs). As grades são fabricadas em chapas de aço verticais e travadas com travessas horizontais sendo o vão entre elas de acordo com o tipo de turbina, em média: Pelton = 1/5 do diâmetro do injetor Kaplan e Francis de médio porte = 5 a 8 cm Kaplan de grande porte = 8 a 15 cm A limpeza é uma rotina importante para manter o rendimento da turbina e eliminar o risco de acidentes quando obstruída com excesso de detritos. 3.3.2 Adução: é o canal que interliga a tomada d’água até a casa de força onde estão alojadas as turbinas. Em trechos longos são escavados diretamente no maciço rochoso e blindados internamente com revestimento metálico na desembocadura. Em trechos mais curtos é constituído de tubulação metálica embutida ou exposto conhecido como conduto forçado. Em usinas de baixa queda, normalmente a casa de força é uma estrutura integrante da barragem sendo a adução conectada diretamente à tomada d’água (Kaplan). No caso de turbinas para alta queda e longa distância entre tomada d’água a solução empregada é construção de um único canal com bifurcações na aproximação da casa de força para alimentação de cada máquina. Neste caso há necessidade de instalar grandes válvulas borboletas na entrada de cada turbina. 3.3.3 sistemas auxiliares mecânicos: são todos os sistemas fundamentais para o funcionamento da usina é de longe o que mais exige manutenção. Dentre os vários sistemas podemos citar como principais os seguintes: Ar comprimido de serviço: é o sistema que fornece ar comprimido para funcionamento do regulador de velocidade, do sistema de frenagem do gerador, da vedação de parada e acionamentos pneumáticos em geral. Ar de rebaixamento: é o sistema de ar comprimido com grande volume de armazenamento que permite o rebaixamento do nível de água na turbina (quando parada), deixando a câmara da roda livre para trabalhar como motor consumidor de potência reativa do sistema. Água de resfriamento: é o sistema que filtra a água bruta e distribui para todos os trocadores de calor do gerador e turbina para resfriamento do óleo ou ar. Drenagem e esgotamento: são sistemas de bombas individuais que fazem drenagem no ponto mais baixo da casa de força e o esgotamento da água do circuito hidráulico para eventual manutenção interna da turbina. Regulação: é o sistema composto de reservatório, bombas, válvulas, cilindros pressurizadores de óleo para movimentação das palhetas móveis do distribuidor ou pás Kaplan no controle de vazão na turbina, e conseqüente rotação. Gerador de emergência: é o sistema composto de motor diesel e gerador independente da usina para suprimento de energia elétrica quando eventualmente houver corte de fornecimento externo de energia elétrica, aliada a todas as unidades geradoras da usina paralisadas. Centrais hidráulicas dos hidromecânicos: são conjuntos hidráulicos que operam a abertura/fechamento das comportas da tomada d’água e vertedouro. 3.3 Gerador Geradores elétricos, grupo de aparelhos utilizados para converter a energia mecânica em elétrica. Chama-se gerador, alternador ou dínamo a máquina que converte energia mecânica em eletricidade. O princípio básico é a indução eletromagnética descoberta por Michael Faraday. Se um condutor se move através de um campo magnético, de intensidade variável, induz-se naquele uma corrente. O princípio oposto foi observado por André Marie Ampère. Se uma corrente passa através de um condutor dentro de um campo magnético, este exercerá uma força mecânica sobre o condutor. Os motores e geradores têm duas unidades básicas: o campo magnético, que é o eletromagneto com suas bobinas, e a armadura - a estrutura que sustenta os condutores que cortam o campo magnético, e transporta a corrente induzida em um gerador, ou a corrente de excitação, no caso do motor. Em geral, a armadura é um núcleo de ferro doce laminado, ao redor do qual se enrolam, em bobinas, os cabos condutores. Geradores de Corrente Contínua Se uma armadura gira em um campo fixo, a corrente induzida se move em uma direção durante a metade de cada revolução; e em outra direção durante a outra metade. Para produzir um fluxo constante da corrente em uma direção, ou contínuo, utilizam-se retificadores, por exemplo, de diodos. Geradores de Corrente Alternada (alternadores) Um gerador simples sem comutadores retificadores produzirá uma corrente elétrica que muda de direção à medida em que a armadura gira. Como a corrente alternada apresenta vantagens na transmissão da energia elétrica, são desse tipo a maioria dos geradores elétricos. A freqüência da corrente fornecida por um alternador é igual à metade do produto do número de pólos e o número de revoluções por segundo da armadura. Esse tipo de corrente se chama corrente alternada monofásica. Quando se agrupam três bobinas de armadura em ângulos de 120°, produz-se uma corrente em forma de onda tripla, conhecida como corrente alternada trifásica. 4 Conclusão O Estágio além da parte básica como introdução dos ensinamentos para dar base para posteriormente se ter mais responsabilidades realizei junto aos engenheiros uma revisão dos projetos das usinas além de realizar cálculos para transformar os dados do modelo reduzido da turbina para o protótipo. O trabalho vem sendo realizado com bastante acompanhamento dos engenheiros da empresa que possuem bastante habilidade ao ensinar e ao tirar dúvidas. Há também uma grande variedade de filmes e fotos e esquemas sobre o assunto que não podem ser anexados ao relatório devido ao limite de espaço para download no site.