O TRANSPORTE DE CARGAS NO BRASIL Análise da eficiência do transporte no Brasil Jurandir Peinado Geopolítica de Transportes no Brasil A geografia aponta uma vocação marítima brasileira. A menos de 200 km da costa tem-se 85% da população e 83% de todas as receitas. •Norte: Planalto das Guianas e Serra Imeri. Pontos mais elevados do território nacional. •Noroeste: Floresta Amazônica. Principal transporte é a bacia amazônica com 24.000 km de vias navegáveis. •Oeste:Cordilheira dos Andes (transposição apenas pela Argentina – paso de Mendoza) •Sudoeste: Planície do pantanal •Sul:Ligações rodoviárias, Ferroviárias e Hidroviárias (favorece mercosul) •Leste: Oceano Atlântico (7.408 km) Jurandir Peinado Fonte: Atlas geopolítico Produtividade da Mão de Obra A produtividade da mão de obra no transporte brasileiro é 4,5 vezes inferior se comparada a produtividade norte americana •A medida adotada para a produção no transporte está em termos de milhões de toneladas por quilômetro útil. •O modal rodoviário é o menos produtivo. A opção de seu uso intensivo no Brasil gera um desempenho baixo no sistema como um todo. •TKU = Tonelada por Km útil Jurandir Peinado Produtividade (106 TKU/empregado) Geral Rodoviário 4,5 1,0 1,8 0,6 21,2 Ferroviário Aquaviário 9,3 17,1 8,2 Brasil EUA Fonte:Geipot 2001; Bureau of transportation statistics Infra-estrutura de transporte A infra-estrutura dos transportes no Brasil é bem menor, mesmo se comparada a outros paises em desenvolvimento e de mesma extensão territorial •A densidade de infraestrutura é calculada a partir do número de quilômetros de infra estrutura disponível por cada km2 de área do país. •Os EUA possuem uma densidade de malha de transporte 16,9 vezes maior que a brasileira. •A infra estrutura americana é de 447 km por cada 1000 km2 de área. Jurandir Peinado 2 km por 1000 km de área Canadá 39,6 México 8,4 45,3 China 17,8 6,1 Brasil 17,3 3,4 5,6 0,3 1,5 10,5 14,5 Rodoviário Ferroviário Hidroviário Fonte: Geipot; CNT Infra-estrutura de transporte Apenas para se ter idéia, a densidade a malha ferroviária norte americana é cerca de 9 vezes superior a malha ferroviária brasileira Jurandir Peinado Fonte: CNT COPPEAD: Transporte de cargas no Brasil Infra-estrutura de transporte O mapa abaixo demonstra a densidade das malhas de transporte de todos os modais em conjunto. Densidade das Malhas de Transporte (km por 100 km2) - 2000 More than 100 km / 1002 km 60-100 km / 1002 km 40-60 km / 1002 km 20-40 km / 1002 km 10-40 km / 1002 km Less than km / 1002 km Jurandir Peinado Infra-estrutura de transporte A infra-estrutura de transporte brasileira, além de reduzida, apresenta baixa qualidade. Frase de pára-choque: “A quantidade de buracos nas estradas brasileiras está diminuindo”. •A disponibilidade de rodovias pavimentadas ainda é pequena. •Em 1999 de um total de 1,725 milhões de km de rodovia, apenas 164,213 mil eram pavimentados •Os estudos anuais da CNT avaliam que 78% da extensão das estradas pavimentadas é péssimo, ruim ou deficiente. Jurandir Peinado Fonte: pesquisa anual CNT 2002 Segurança no transporte O número de mortes por quilometro nas estradas brasileira chega a ser 70 vezes maior que a dos paises mais desenvolvidos Índice de morte nas estradas (1996) N0 de mortes por 1.000 km de rodovia Jurandir Peinado 14 10 10 7 Alemanha Japão Reino Unido EEUU 213 21 Brasil 10 Itália 3 França •Os acidentados de trânsito ocupam cerca de 62% de todos os leitos de traumatologia dos hospitais Canadá •Os acidentes de transito no Brasil são o segundo maior problema de saúde pública no país, o primeiro maior problema é a desnutrição. Fonte: Anuário estatístico GEIPOT Segurança no transporte A violência nas estradas tem crescido de forma inusitada nos últimos anos. 24,4% das empresas do transporte rodoviário registraram ocorrência de roubo em 2001 •As seguradoras brasileiras não aceitam fazer seguro sobre alguns tipos de produtos. •Gastos com seguro e gerenciamento de riscos mais altos. Escolta armada, rastreamento etc. •Roteirização com vistas á segurança, portanto não ótima. Roubo de cargas - número de ocorrências por ano 8.000 7.000 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 94 95 96 97 98 99 0 1 •Utilização incorreta da capacidade, divisão da carga para diminuir probabilidade de roubo Jurandir Peinado Fonte: Pesquisa empresas de carga CNT - 2002 Segurança no transporte O empresariado demonstrou apreensão quanto a evolução da corrupção no Brasil. Para 66,2% dos entrevistados a corrupção tem crescido nos últimos 2 anos Corrupção (%) 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Jurandir Peinado 45,6 20,4 20,6 9,2 1,2 3,0 Muito melhor Melhor Igual Pior Muito pior NS/NR Fonte: Pesquisa empresas de carga CNT - 2002 Consumo energético O índice de aproveitamento energético brasileiro é 29% pior que o americano. No Brasil se utiliza mais o modal rodoviário que consome mais óleo Diesel •O índice de aproveitamento energético é dado em BTU’s gastos pelo setor, para cada dólar gerado no PIB do país. •O consumo ineficiente de energia não renovável implica em: •Maior emissão de poluentes •Maior custo de frete •Maior dependência do petróleo importado •Pior desempenho na balança comercial Jurandir Peinado Consumo energético BTU's / U$ 83.924 64.862 EEUU 1996 Brasil 1999 Fonte: CNT COPPEAD: O transporte de cargas no Brasil 1. Desbalanceamento da matriz de transportes No Brasil existe uma priorização do modal rodoviário que é sobretudo menos eficiente. •O modelo da matriz de transporte no Brasil é equivalente aos de paises de pouca extensão territorial. Participação dos modais no mundo Ton / km útil •A participação dos modais ferroviário e aquaviário no Brasil é diferente daquela encontrada em outros paises de grande extensão territorial. Jurandir Peinado Fonte: CNT COPPEAD: O transporte de cargas no Brasil 1. Desbalanceamento da matriz de transportes A matriz de transporte brasileira precisa ser firmemente reorientada para a hidrovia, ferrovia cabotagem e sobretudo, para a multimodalidade Matriz de transporte de cargas Brasil x EEUU Participação do modal rodoviário em paises de mesma extensão territorial 60% 60% 38% 26% 20% 14% 16% 5% Rodoviário Ferroviário Aquaviário Brasil 2% Dutoviário 1% 1% Areoviário 24% 26% Austrália EUA 8% China Brasil EEUU •A participação do modal rodoviário sobe para 92% se forem excluídos os produtos primários (minerais e agrícolas) Jurandir Peinado Fonte: Ministério dos transportes 1999 1. Desbalanceamento da matriz de transportes Quando o serviço de transporte não oferece vantagem competitiva, a melhor escolha será aquela associada ao melhor desempenho do modal selecionado Características operacionais Ferroviário Rodoviário Aquaviário Dutoviário Aéreo Velocidade 3 2 4 5 1 Disponibilidade 2 1 4 5 3 Confiabilidade 3 2 4 1 5 Capacidade 2 3 1 5 4 Freqüência 4 2 5 1 3 Total 14 10 18 17 16 A menor pontuação indica melhor classificação Jurandir Peinado Fonte: Bowersox – Closs Logística empresarial p. 291 1.1. Baixo preço do frete rodoviário O circulo vicioso do transporte rodoviário de cargas: Pequenas barreiras de entrada e altas barreiras de saída contribuem para o baixo preço praticado •Os principais impactos desta concorrência predatória são: •Alto índice de acidentes e mortes •Emissão excessiva de poluentes •Engarrafamentos Aumento da oferta Baixo valor do frete Baixa Renovação Baixa manutenção Sobre peso •Consumo excessivo de combustível Jurandir Peinado Jornada longa Fonte: CNT COPPEAD – O transporte de cargas no Brasil 1.1. Baixo preço do frete rodoviário – Idade da frota O envelhecimento da frota também é conseqüência do baixo preço do frete rodoviário praticado no Brasil. 76% dos veículos com mais de 10 anos de uso Evolução das vendas de caminhões no Brasil Projeção da evolução da idade média da frota 73.517 2000 69.273 50.835 1998 52.806 54.769 42.134 1996 56.153 1994 50.419 37.769 1992 25.659 41.646 1990 41.313 •Projeção da idade média da frota brasileira caso se mantenham as taxas de renovação dos últimos 5 anos Jurandir Peinado Fontes: ANFAVEA; Panorama Setorial da Gazeta Mercantil e GEIPOT; Análise Coppead 1.1. Baixo preço do frete rodoviário – Baixa manutenção O pequeno investimento em manutenção da frota também é conseqüência do baixo preço do frete rodoviário no Brasil. 70% abaixo do mínimo recomendado •O custo recomendado para manutenção que envolve peças, mão de obra, pneus e óleo atinge cerca de R$ 0,23 por quilometro rodado. •Caminhões com mais de 25 anos necessitam de mais manutenção e em contrapartida recebem menos investimentos em manutenção que os caminhões mais novos Média de gastos com manutenção em R$/km (por faixa de ano de fabricação) 0,171 0,161 0,161 0,157 0,161 0,138 0,096 Abaixo de 75 75 a 80 80 a 85 85 a 90 90 a 95 95 a 99 Acima de 99 “Não importa o ano de fabricação, caminhão não é como carro, caminhão não tem idade” Gilberto Barbosa – Chefe de Expedição Jurandir Peinado Fontes: Pesquisa autônomos CNT - 2002 1.1. Baixo preço do frete rodoviário – Jornada de trabalho longa As longas jornadas de trabalho feitas pelos motoristas são responsáveis pela redução artificial do preço do frete. São 15 h contra 8 h recomendadas na CLT •O círculo vicioso se fecha, as longas jornadas de trabalho são ao mesmo tempo causa e conseqüência dos baixos preços dos fretes. •Isto resulta no aumento da oferta de fretes permitindo o contratante fazer pressão para reduzir o preço do frete. •Muitas vezes o motorista recebe prêmios para reduzir o tempo de trânsito. •O uso de anfetaminas é comum e comprado em inúmeros locais junto as estradas Jurandir Peinado Horas trabalhadas por dia Pesquisa CNT Motoristas (tranportadoras) 14,5 15 Autonomos CLT 8 Fontes: Pesquisa autônomos CNT - 2002 1.2. Poucas alternativas ao modal rodoviário Entre 1975 e 1995 a ferrovia parou de crescer e foi abandonada. O alto custo de capital no Brasil é um dos motivos do baixo nível de investimento •O investimento por km de linha férrea, após privatização é 1/3 das ferrovias americanas, considerando-se investimentos apenas para manutenção. •Os investimentos para expansão da ferrovia são praticamente nulos Investimentos governamentais na RFFSA Investimentos privados U$ por km 1997 Jurandir Peinado 1998 1999 10.778 31.614 34.205 6.927 10.968 15.661 32.132 37.314 Brasil EEUU 2000 Fontes: CNT – COPPEAD O transporte de cargas no Brasil 1.2. Poucas alternativas ao modal rodoviário O fluxo de contêineres descendo do norte para o sul representou apenas 13% do total movimentado em 2001 Fluxo de cargas em conteineres Sul e sudeste para sul e sudeste 3% Norte e nordeste para norte e nordeste Norte e nordeste para sul e sudeste Sul e sudeste para Norte e nordeste Jurandir Peinado 26% 13% 58% Fontes: CNT – COPPEAD O transporte de cargas no Brasil 1.2. Poucas alternativas ao modal rodoviário A capacidade física de crescimento dos portos pode ser outra causa de redução de desempenho do setor •O crescimento da cabotagem nos últimos anos vem causando preocupação com a falta de espaço nos portos. •Em particular o porto de Manaus possui limitação de crescimento por estar incrustado na cidade. Quantidade de TEU's movimentados no porto de Manaus 88.807 48.553 1999 Jurandir Peinado 2000 Fontes: Anuário estatístico dos transportes – 2001, Fotos DNIT - BIT 1.2. Poucas alternativas ao modal rodoviário As barcaças que transportam as carretas rodoviárias (Manaus – Belém) são ineficientes e são de propriedade de apenas duas empresas. •Um navio com 700 contêineres de 40 pés equivale a uma frota de 500 carretas com no mínimo 500 motoristas. •Apenas 11 tripulantes são necessários para conduzir este tipo de navio. •O consumo de Diesel deste navio é 50% do consumo das 500 carretas considerando a mesma quilometragem percorrida. Jurandir Peinado Fonte: Transportadora Transalex 1.2. Poucas alternativas ao modal rodoviário O sentido da correnteza do Rio Amazonas influi significativamente no tempo de translado das cargas •Uma embarcação deste tipo consegue transportar 35 carretas, são 4 dias no sentido Manaus – Belém a favor da correnteza do Rio Amazonas. •O sentido Belém – Manaus realiza o mesmo percurso em 6 dias rumando contra a correnteza do rio. •O tempo de viagem também varia em função da potencia do empurrador utilizado na barcaça. Jurandir Peinado Fonte: Transportadora Transalex 1.2. Poucas alternativas ao modal rodoviário O tempo de percurso das barcaças tem o dobro de duração de um navio de cabotagem contribuindo com a ineficiência do transporte de cargas no Brasil • O tempo de trajeto de uma barcaça com 35 baús no trecho Manaus – Belém dura em média 4 dias. Neste período um navio porta contêiner atinge o porto de Suape em Pernanbuco. •O índice de avarias na carga transportada por navio é praticamente nulo. •O valor do seguro neste modal é três a cinco vezes inferior ao seguro de transporte rodoviário Jurandir Peinado Fonte: Aliança Navegação 1.2. Poucas alternativas ao modal rodoviário A pequena quantidade e baixa qualidade dos terminais intermodais em rios navegáveis torna pouco atrativo este modal •Um dos gargalos no escoamento do modal hidroviário é a falta de estradas vicinais. Terminais intermodais aquaviários •No Brasil a maioria dos rios estão distantes dos pólos produtores •O Brasil tem 64 terminais intermodais hidroviários, contra 1.137 terminais nos Estados Unidos Jurandir Peinado Fonte: CNT COPPEAD: O Transporte de cargas no Brasil 1.2. Poucas alternativas ao modal rodoviário A baixa eficiência na utilização dos ativos é outra razão para o baixo desempenho do transporte de carga no Brasil •Uma forma de se medir a eficiência na utilização dos ativos é o tamanho dos comboios. •Mais uma vez o desempenho americano é significativamente superior à nossa mais eficiente hidrovia. Jurandir Peinado Fonte: Ministério dos transportes 4. Insegurança Os investimentos por km de rodovia pública no Brasil estiveram cerca de 10 vezes menores que os dos Estados Unidos entre 1991 e 1996 Investimento governamental U$ por km de rodovia pública 5.265 4.084 4.300 4.630 396 360 353 190 310 602 1991 1992 1993 1994 1995 1996 Brasil Jurandir Peinado 5.133 5.133 EEUU Fonte: Pesquisa empresa de cargas CNT - 2002