TRANSTORNOS ALIMENTARES (Salvador de Rossi Busse e Beatriz Leal da Silva – psiquiatras) Profª Ms. Sílvia R. T. P. de Albuquerque Bases Históricas da Anorexia Nervosa (AN) Conceito: é um transtorno do comportamento alimentar caracterizado por limitações dietéticas auto-impostas, padrões bizarros de alimentação com acentuada perda de peso induzida e mantida pelo paciente, associada a um temor intenso de tornar-se obeso. Bases Históricas da Anorexia Nervosa (AN) ANOREXIA ANN = SEM OREXIS = DESEJO/ APETITE Designa inapetência. Entretanto, vários autores não concordam que NA haja falta de apetite. Na observação destes, as pacientes só deixam de ter apetite quando se encontram extremamente caquéticas e jamais nas fases iniciais. Bases Históricas da Anorexia Nervosa (AN) As primeiras descrições... 1691: o médico inglês Richard Morton descreve uma jovem de dezessete anos que, não se alimentava, tinha feições cadavéricas, os pêlos haviam sido substituídos por lanugo, estava bradicárdica, hipotérmica, hipotensa e suas extremidades eram cianóticas (coloração azulada da pele ou das mucosas), mas não apresentava nenhuma afecção orgânica que justificasse esse quadro. 1790: o médico inglês Robert Willlan, relatou a história de uma jovem, descrito sob o título de “Um Caso Marcante de Abstinência”, com as mesmas características descritas por Richard Morton 1859: Marcé descreve duas jovens com padrões alimentares bizarros que, segundo os historiadores Blewett e Bottéro, foram um marco no estudo da NA. Um ano depois , Marcé publica um livro, obra de grande valor que, lamentavelmente, não foi reconhecida no meio científico. Após sua morte, Lasègue e Gull ignoraram seu trabalho, tomando para si a primazia de terem sido os primeiros a descrever a nova entidade móbida. Bases Históricas da Anorexia Nervosa (AN) Sintomas observados por Marcé, eram os mesmos observados por Gull e Laségue: -Pele muito ressecada; -Perdas dentárias; -Tempertura corpórea baixa; -Amenorréia (sintoma bastante valorizado para o diagnóstico de AN). Bases Históricas da Anorexia Nervosa (AN) 1868: Gull, durante encontro da Associação Médica em Oxford, descreveu, sob o título de “Apepsia Histérica” (dificuldade de digerir), três jovens com idades entre quinze e 23 anos, caracterizadas por extremo emagrecimento, e atribuiu o quadro à tuberculose latente ou à doença mesentérica (artéria que irriga grande parte do intestino) . 1873: Lasègue, na França, descreve quadro semelhante, ressaltando os traços predominantes de linhagem histérica. Por esse motivo denominou-se “anorexia histérica” 1874: Gull denominou esses quadros como “anorexia nervosa”. 1895: Sollier, na França, popularizou a terminologia como “anorexia mental”, a qual é adotada até hoje naquele país. Bases Históricas da Anorexia Nervosa (AN) 1914: com as publicações de Simmonds sobre a caquexia (aparência senil/fraqueza geral do organismo) decorrente da necrose anterior da hipófise, passou-se a enfatizar os aspectos orgânicos da AN. 1924: Sante de Sanctis, aventou a possibilidade de a AN ser um quadro psicótico de cunho histérico denominando-se psicose histérica. 1975: Bruch postulou-se que as anoréxicas seriam psicóticas, em razão dos distúrbios do esquema corpóreo. 1977: Cantwell et al. postularam que a AN é uma doença afetiva. Em seus estudos, 67% de uma série de 26 anoréxicas mostram humor disfórmico. 1990: Holden procurou correlacionar a AN com distúrbios obsessivocompulsivo, encontrando, inclusive, fortes evidências genéticas para tal. Bases Históricas da Anorexia Nervosa (AN) 1993: Lask, entre outros autores procuraram atribuir a AN a transtornos por déficit de zinco. BULIMIA NERVOSA (BN) A bulimia nervosa foi por muito tempo descrita como sintoma de fome voraz. BOUS = BOI LIMOS = FOME Primeiras descrições: 400 e 500 anos a.C. 1870: foi observada por Gull. Depois disso há poucos registros sobre BN nos sessenta anos seguintes. 1940: surgem descrições de alguns casos. 1970: Bruch conclui que menos de 25% de suas pacientes com AN experimentaram também episódios bulímicos. 1980: mais de 50% das pacientes com AN eram bulímicas / DSM III ASPECTOS CLÍNICOS Anorexia Nervosa Início: -puberdade -10 e 30 anos -revisto e mais bem avaliado (Kaplan) -12 e 16 anos (Monteiro dos Santos) Sexo -quase exclusivamente em mulheres (8 a 10 vezes maior no sexo feminino do que no masculino. ASPECTOS CLÍNICOS Alta taxa de mortalidade. Sintoma mais importante: recusa em ingerir alimentos, sobretudo os ricos em carboidratos e gorduras (no início carboidratos e, posteriormente, as gorduras). Não há, nas fases iniciais, perdas de apetite, apenas uma luta contra este. É no decurso da morbidade que elas realmente conseguem aboli-lo. Por isso o termo “anorexia”, para muitos autores, seria incorreto. ASPECTOS CLÍNICOS Características: -a perda de peso é constatada pelos familiares só muito tempo depois; - embora ingiram quantidade de comida muito pequenas, nunca fazem em lugares públicos; - levam horas para completar uma refeição. Os alimentos levados à boca ficam sem ser mastigados por vários minutos; - negativa em se alimentar; - são extremamente preocupadas com as refeições de seus familiares (relatando os valores calóricos de cada alimento); - muitas são exímias cozinheiras, despendendo grande parte do tempo preparando quitutes; - fazem de tudo para anular o apetite, inclusive comendo gelo ASPECTOS CLÍNICOS ANOREXIA RESTRITIVA BULÍMICA - rebelde; - perfeccionista; - limita suas opções alimentares; - consome o mínimo possível de calorias; - traços obsessivos-compulsivos; - excesso de atividades físicas; - melhor prognóstico. - instabilidade emocional; - impulsividade; - grande taxa de suicídio; - abuso de drogas; - sexualmente ativas; - prognóstico ruim. ASPECTOS CLÍNICOS Ambas são incapazes de se separarem psicologicamente de suas mães. ASPECTOS CLÍNICOS -fazem de tudo para perderem peso: suprimindo alimentos, provocando vômitos, usando diuréticos, laxantes e anorexígenos, mesmo em se tratando de mulheres extremamente emagrecidas ou caquéticas; - questionadas sobre seu regime, procuram dissimular, não assumindo que realmente o estão fazendo; -quando lhes são ofertados alimentos, elas não o recusam, porém escondem-nos, como se tivessem comido, na fronha dos travesseiros, embaixo da cama etc. - não têm crítica com relação a seu esquema corpóreo, embora, mesmo estando extremamente magras ou caquéticas, sintam-se gordas; - pele seca, amarelada, cabelos finos e quebradiços, leve alopecia (perda de cabelos e pêlos), lanugo - interrupção do ciclo menstrual. ASPECTOS CLÍNICOS Exames laboratoriais são encontrados: 1) Hipocalemia - fases terminais é uma grande razão para óbito; 2) Diminuição do nível de zinco; 3) Alterações eletrocardiográficas; 4) Teste de supressão da dexametasona positivo; 5) Tomografia computadorizada: aumento do espaço dos sulcos e até atrofia cerebral; 6) Densidometria óssea: diminuição considerável da densidade óssea. CASO CLÍNICO Página 37: depoimento de uma paciente, para que se tenha uma exata noção do quadro descrito. ASPECTOS CLÍNICOS Critérios Diagnósticos: Com o surgimento do Manual Estatístico e Diagnóstico das Desordens Mentais (DSM III) em 1952, foi possível unificar os critérios para diagnóstico da AN. Somente em 1980 o DSM III inclui a AN entre as doenças mentais em crianças e adolescentes e caracteriza-se em: 1) Medo intenso da obesidade; 2) Perda de 25% ou mais do peso esperado; 3) Distúrbio da imagem corporal; 4) Ausência de doenças físicas. ASPECTOS CLÍNICOS Em 1989 o DSM III – R classifica a AN entre os transtornos alimentares, e considera uma margem menor para perda de peso (15%). As características são: 1) Recusa em manter o peso acima do mínimo normal adequado à idade e à altura; 2) Medo intenso do ganho de peso ou de se tornar gordo, mesmo com peso inferior; 3) Perturbação no modo de vivenciar o peso corporal (“sente-se gorda”); 4) Ausência de pelo menos três ciclos menstruais consecutivos. ASPECTOS CLÍNICOS Já o CID 9, em 1976 incluiu a AN no grupo de sintomas ou síndromes especiais. Ele faz uma súmula dos sintomas da AN, sem se ater aos parâmetros de peso com fins diagnósticos. Já o CID 10, em 1993, corrige esta falha e traz instrumento de avaliação – o índice de massa corporal de Quetelet – que é a relação entre o peso do indivíduo dividido por sua altura elevada ao quadrado (IMC = peso/ alt. x alt.) As características são: 1) Peso corporal é mantido em pelo menos 15% abaixo do esperado; 2) A perda de peso é auto-induzida; 3) Há distorção da imagem corporal; 4) Transtorno endócrino (amenorréia mulheres/ perda do apetite sexual homens) 5) Se o início é pré-puberal, os eventos da puberdade é demorada ou mesmo detida ASPECTOS CLÍNICOS Bulimia Nervosa Caracterizada por repetidos ataques de hiperfagia, preocupação excessiva com o controle corporal, levando o paciente a adotar medidas extremas a fim de mitigar os efeitos de engordar da ingestão de alimentos. Idade: tende a ser ligeiramente mais tardia que na NA, situando-se ao redor dos 18 anos, mas podendo observar quadros bulímicos com início aos 10 anos de idade. Por essa razão, o número é inferior na infância e adolescência ASPECTOS CLÍNICOS Diretrizes Diagnósticas 1) Preocupação persistente com o comer e um desejo irresistível de comida. Episódios de hiperfagia, os alimentos são consumidos em um curto período de tempo; 2) Tenta-se neutralizar os “efeitos engordativos” (ex.: vômitos/laxantes/períodos de inanição/uso de drogas); 3) Pavor de engordar e o paciente estabelece um limiar de peso definido logo abaixo do seu peso pré-mórbido, que constitui o peso ótimo e saudável na opinião do médico. ASPECTOS CLÍNICOS Características: -maioria do sexo feminino; -grupo de risco: pessoas ligadas à moda, bailarinas, atletas, países de Primeiro Mundo; -não perda importante de peso (70% peso normal); - binge (orgias alimentares) são traços marcantes; - assíduas frequentadoras de academias de ginástica; - métodos para perderem peso: vômitos, laxantes etc.; - tem fáceis de lua cheia (em virtude da hipertrofia das glândulas paratirótidas, em face dos vômitos constantes); - lesão da pele do dorso da mão; - desgaste dentário; - presença de cárie devido o suco gástrico. ASPECTOS CLÍNICOS As bulímicas podem ter um ciclo menstrual normal. Não ocorre distorção da imagem corpórea entre as bulímicas. Estudos de comorbidades têm mostrado forte presença de doenças afetivas, transtornos ansiosos, abuso e dependência de drogas. ETIOLOGIA ANOREXIA NERVOSA orgânicos familiares genéticos Hipótese mais plausível: conversão de conflito emocional em sintoma físico ETIOLOGIA Anorexia Nervosa – características: Bulimia Nervosa – características: - disciplina; -parentes de primeiro grau bulímicos; - rigidez; - inflexibilidade; - 33% gêmeas monozigóticas/ 0% dizigóticas; - personalidades obsessivas ou anancásticas (quando peso muito baixo); - disfunção dos neurotransmissores (hipotálamo) como na AN; - depressão; - fatores socioculturais; - altas taxas de letalidade e suicídio. - abuso sexual na infância / idades pré-pubianas. PSICODINÂMICA Anorexia Nervosa (AN) É como se o corpo não fizesse parte do seu self das anoréxicas, mas pertencesse a seus pais, não havendo individualidade própria para as meninas que passaram a vida inteira tentando agradá-los e sendo distinguidas como “boas meninas”. Ao atingirem a adolescência, com essa total falta de controle sobre seu corpo, cria-se um sentimento de revolta à procura do self , o que pode ser considerado como autocura. Mediante dietas, as anoréxicas conseguiriam ter total domínio de si mesmas e, com isso, transferindo todas as suas ansiedades e os seus problemas psicológicos para o comer e o peso. PSICODINÂMICA Mãe: estabelece um vínculo patológico com a filha, procura atender apenas as suas necessidades, e por isso a criança não é percebida como um ser autônomo, mas apenas uma extensão daquela. Há uma “apersonalização” da criança. As anoréxicas, por meio da inanição podem conseguir seu intento, ou seja, ser admiradas e valorizadas por seus próprios méritos, e conquistar a sua individualidade. PSICODINÂMICA O entendimento psicodinâmico pode ser dividido em seis itens: 1) Tentativa desesperada de ser única e especial; 2) Ataque ao falso self incentivado pelas expectativas dos pais; 3) Afirmação de um self verdadeiro nascente; 4) Ataque ao introjeto maternal hostil, visto com equivalente ao corpo; 5) Defesa contra a voracidade e o desejo; 6) Esforço para fazer os outros se sentirem desamparados e ávidos no lugar da paciente. PSICODINÂMICA Ajuriaguerra sugere que na AN há uma negação da figura feminina adulta e o temor de assumir todos os papéis concernentes desta, inclusive a gravidez, combatida freneticamente com a recusa alimentar. Schulte salienta a tentativa das anoréxicas de não tomar a conformação física de mulher adulta pelo emagracimento intenso, coseguindo, com isso, não apresentar os contornos arredonados do corpo feminino, ausência de mamas, permanecendo como seres assexuadas, permanecendo crianças. Os conflitos existentes entre mãe e filha mobilizam a anoréxica a não introjetar a figura feminina adulta (mãe), vista como negativa, e o desejo de não copiá-la. CASO CLÍNICO Página 55: B.L.S., 11 anos, feminino, natural de São Paulo, estudante. BULIMIA NERVOSA (BN) Características (heterogeneidade): - desde psicose até neurose, passando por borderline; -Incapacidade de retardar a descarga do impulso (enfraquecimento do ego e superego frouxo); - o comer e a evacuação excessivos não são problemas impulsivos isolados (comportamentos sexuais/autodestrutivos/abuso de drogas); - usam os relacionamentos como forma de obter punição (AN afasta-se / agressão inconsciente às figuras paternas – raiva deslocada para comida que é destruída de forma canabalística); - dificuldade de separação (tanto dos pais como das BN /. ausência de um objeto transicional como chupeta ou cobertor); - ingestão do alimento = simbiose com a mãe / expulsão do alimento = esforço para separação da mãe; - relação pais com os filhos como extensão de si próprios; BULIMIA NERVOSA (BN) Características (continuação): - cada membro da família depende de todos os outros para manter o senso de coesão; - envolve na aparência uma forte necessidade de cada um ver a si mesmo como “totalmente bom”; - os comportamentos inaceitáveis dos pais são projetadas na criança, que passa a ser depósito de todas as “coisas ruins”. ANOREXIA NERVOSA (AN) Tratamento: Flaherty (1990) alertou para o primeiro problema a ser enfrentado no tratamento da AN: INTERNAR? OU NÃO INTERNAR? Normalmente, interna-se (tratamento hospitalar) em fase dos riscos de letalidade. Mas, isso só acontece quando a paciente está em condições físicas precaríssimas. ANOREXIA NERVOSA (AN) Tratamento (continuação): Para resolver a polêmica, o autor estabeleceu os seguintes critérios: a) rápida perda de peso, maior que 30% ao longo de seis meses; b) severa perda de energia; c) hipocalcemia ou alterações eletrocardiográficas. ANOREXIA NERVOSA (AN) Cordás (1995) também compartilhou a necessidade de tratamento hospitalar, porém acredita que deva ser usado com parcimônia. Ele propõe cinco categorias para o tratamento de AN: 1) Em regime de hospitalização, com vigorosos cuidados de enfermagem, dieta hipercalórica, mesmo contra a vontade da paciente; 2) Psicoterapia comportamental ou cognitiva; 3) Psicoterapia familiar (pacientes que ainda vivem em seu núcleo familiar e casadas); 4) Psicofarmacoterapia. Skinner ANOREXIA NERVOSA (AN) O primeiro medicamento usado foi a clorpromazina (antipsicótico/ controle de náuseas/ bipolar/ TOC/ esquizofrenias/bloqueia os receptores pós-sinápticos). Slater (1978) recomendou o uso de 300-800 mg diários associados à insulinoterapia 20-100 unidades pela manhã e repouso absoluto. Matarazzo (1992) tratou 14 pacientes com doses diárias entre 20 e 200 mg. Resultados: - 4 tiveram melhora parcial (apenas ganharam peso); - 10 melhora total (ganho de peso e desaparecimento de traços anormais de comportamento); - a maior parte das anoréxicas melhorou com doses de 50-75 mg/dia. Busse (1993) tratando suas pacientes com 75 mg/dia obteve remissão total dos sintomas. ANOREXIA NERVOSA (AN) Os antidepressivos têm sido largamente usados no tratamento da AN, como: 1) Amitriptilina (50-100 mg/dia); 2) Clorimipramina (50-250 mg/dia por via oral) – pouco eficaz; 3) Maprotilina (25-100 mg/dia) – utilizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; 4) Trazodona (Hudson (1985) não obteve resposta terapêutica em dez pacientes; 5) Fluoxetina (20-40 mg). BULIMIA (BN) Tratamento: A hospitalização da paciente bulímica é indicada com muito menos frequência que a da anoréxica. Recorre-se àquela, somente quando da vigência de complicações clínicas, riscos de suicídio ou diante de fracasso no tratamento ambulatorial. -O tratamento deve ser feito por equipe multidisciplinar; - o paciente deve ser submetido a psicoterapia individual e familiar; - caberá à nutricionista orientar e estabelecer técnicas comportamentais cognitivas; - o uso de psicofármacos é de grande importância no controle a compulsão alimentar. BULIMIA (BN) Tratamento (continuação): As bulímicas são beneficiadas com o uso de antidepressivos, como se pode comprovar pela diminuição da frequência de vômitos e dos episódios de binge. Porém, não há evidências de que uma classe de antidepressivo seja melhor do que outra no tratamento da bulimia nervosa. BULIMIA (BN) Além dos antidepressivos, há outras medicações que podem ser usadas: - lítio; - fluvoxamine (antidepressivo/TOC) (100200 mg / reduz binge e depressão); - naltrexone (depend. drogas) (reduz binge com urgência / aumento do nível das B-endorfinas (exp. emocionais) / não há provas para tratamento da BN); - fenfluramina (anorexígeno) (45 mg/dia / diminui a ingestão alimentar e consumo excessivo de carboidratos); - paroxetina mg/dia) (antidepressivo) (40-60 DEPRESSÃO E ANOREXIA NERVOSA E BULIMIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA ( Lee Fu – I: psiquiatra infantil / adolescência) Profª. Ms. Sílvia R. T. P. de Albuquerque DEPRESSÃO NA AN E BN As crianças deprimidas têm dificuldades em adquirir peso. Algumas, porém, podem ter aumento de apetite e passam a ter peso excessivo. Em adolescentes deprimidos, a preocupação com a comida e a insatisfação com o próprio corpo pode assumir dimensões que “esconde” sintomas prejudiciais. Isto é, eles estão deprimidos, têm ideação ou planejam suicídio. DEPRESSÃO NA AN E BN Sobre a Depressão na Infância e na Adolescência É necessário fazer uma distinção entre sentimentos depressivos que uma pessoa experimenta temporariamente quando perde algo de valor e o estado persistente de tristeza e desesperança. Habitualmente, reagimos com sentimentos de tristeza por perda ou luto de algo valioso e, esse sentimento deveria ser transitório. A intensidade do sofrimento é determinada pelo valor afetivo do objeto perdido. Características: - sentimento de tristeza; - desinteresse pelo exterior; - perda da capacidade de amar; - inibição de quase todas as funções. DEPRESSÃO NA AN E BN DEPRESSÃO = DEPRESSÃO MAIOR (DM) Ocorre quando o estado de tristeza ou desânimo torna-se intenso e persistente e associado a outros sintomas fisiológicos que alteram a rotina de uma pessoa DEPRESSÃO NA AN E BN Classificação Internacional da Doença – 10ª versão (CID – 10) 1993 – ver quadro (pag. 163) Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM – IV) – 1994 – ver quadro (pags. 164 e 165) DEPRESSÃO NA AN E BN Características da Depressão em Crianças: utiliza-se os mesmos critérios para adultos (em crianças é mais difícil, pois elas podem ter dificuldades em nomear e manifestar sentimentos); - antes da linguagem verbal, elas expressam por meio da expressão facial, postura e pela falta de respostas aos estímulos visuais e verbais; - humor irritadiço ou instável (explosões de mau humor/ momentos de tristeza/ choro fácil); - indiferença afetiva (em algumas crianças); - perda de interesse nas atividades de lazer; - não têm iniciativa para brincar; - queixam-se que estão entediadas ou não sabem brincar; - queixam-se de dores inespecíficas; - cansaço excessivo ou falta de energia; - pesadelos ou despertar noturnos (insônia/ansiedade/rituais noturnos); - agitação / falta de controle dos impulsos/ dificuldade de memorização. DEPRESSÃO NA AN E BN Características da Depressão em Adolescentes: - relatam sentimentos depressivos; - aumento de irritabilidade e de hostilidade; - falta de esperança; - sensação de que as coisas jamais mudarão (tentativas de suicídio); - insônia ou hipersonia; - alteração do apetite e de peso; - perda de energia; - desinteresse em atividades de lazer; - isolamento social; - sensibilidade exagerada de rejeição ou ao fracasso; - uso abusivo de drogas. DEPRESSÃO NA AN E BN Enquanto as meninas manifestam mais sintomas de depressão e de ansiedade, os meninos relatam mais comportamentos inadequados (fuga de casa/ roubo/ abuso de substâncias/ delinqüência). Há maior ocorrência de humor depressivo em meninas do que em meninos. Pensamentos suicidas, geralmente, estão presentes em todas as faixas etárias (menos em crianças). As crianças relatam sentimentos de culpa e que devem ser punidas, que seria melhor morrer para “não dar mais trabalho aos familiares”. DEPRESSÃO NA AN E BN Depressão e Anorexia e Bulimia Nervosa de Início Precoce Apesar de alguns trabalhos mostrar que não foi necessário desenvolver um critério de diagnóstico específico para DM dos 1-16 anos, entre os vários itens do critério para diagnóstico de DM do DSM – IV, alguns são de fato difíceis de reconhecer em crianças menores, pois dependia da experiência do observador e, também, do nível de sofisticação psicológica da criança examinada. DEPRESSÃO NA AN E BN O DSM-IV ressalta a necessidade de adaptar os critérios de DM a diferentes níveis de desenvolvimento. Item importante para o diagnóstico de depressão em qualquer faixa etária: - o não ganho de peso em crianças como equivalente ao sintoma de perda de peso em adultos deprimidos. Obs.: a alteração de hábito alimentar e a alteração de peso para mais ou para menos não são sintomas exclusivos de anorexia (AN) ou bulimia (BN), nem de DM. DEPRESSÃO NA AN E BN DEPRESSÃO TRANSTORNOS ALIMENTARES Para distinção, precisamos compreender o fenômeno psíquico que levou às alterações. DEPRESSÃO NA AN E BN O profissional deve observar as seguintes características para o diagnóstico de AN e BN: - a preocupação excessiva ou irrealista com a comida; - a necessidade exagerada de assegurar que está com boa aparência. Mas, pode ter suas correspondentes em sintomas depressivos, como: - desesperança; - culpa inapropriada; - baixa auto-estima. DEPRESSÃO NA AN E BN DEPRESSÃO NA AN E BN Em crianças e adolescentes deprimidos ocorre uma anorexia genuína e primária. Esses pacientes não ficam preocupados com a alimentação porque desejam ficar magros e sim, para melhorar sua auto-estima. Muitos deles até se culpam por estar com apetite voraz ou de ter perdido interesse por comida, mas geralmente não há luta contra o impulso de apetite e muito menos a situação “fome” auto-imposta como prioridade cotidiana, como nos casos de AN. DEPRESSÃO NA AN E BN Jovens deprimidos poderiam até ser inquietos ou ansiosos, mas não há do nível de atividade psicomotora como nos casos de AN e BN. Sintomas de bulimia também podem ocorrer na DM, embora às vezes possa haver evidência de hiperfagia no contexto de depressão “atípica”, acompanhada por hipersonia e hipersensibilidade à rejeição social. Não se depara na DM características como episódios frequentes de vômitos provocados e uso abusivo de laxantes ou inibidores de apetite como na BN. DEPRESSÃO NA AN E BN Estudos recentes continuam a indicar que, aproximadamente 50 a 60% de pacientes com AN apresentam sintomas depressivos suficientes para diagnóstico de DM moderada ou grave. Por causa das similaridades neuroquímicas entre depressão e transtorno alimentar, as pesquisas levaram hipóteses bastante diversificadas: -Transtorno alimentar pode ser um subtipo de transtorno afetivo; - adolescentes que tiveram depressão associada à AN, apresentam maior risco de ter depressão, sem sintomas de AN, nos anos subsequentes; - depressão e AN ou BN são consequências do estado de inanição causado por transtorno alimentar; - antecedentes mórbidos e os fatores sociofamiliares na infância de mulheres com AN associada ou não a quadro de sintomas de bulimia com depressão na infância pode aumentar o risco de BN na fase adulta; - os portadores de BN tiveram mais problemas de relacionamento familiar do que AN na infância DEPRESSÃO NA AN E BN DEPRESSÃO NA AN E BN Indícios têm demonstrado que os familiares de 1° e 2° graus dos portadores de AN e BN têm maior risco de apresentar depressão, ansiedade e alcoolismo. Deve-se observar casos de crianças ou adolescentes trazidos para consulta com queixas de alteração de hábito alimentar associado a diversos tipos de alteração de comportamento. A seguir, serão relatados alguns casos clínicos para ilustrar os aspectos abordados (pag.: 170, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 177 e 178): BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Zulmira Maria Lobato (nutricionista) Susan Meire Mondoni (psiquiatra) Profª. Ms. Sílvia Regina T. P. de Albuquerque BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA A importância da nutrição durante a vida parece óbvia. No entanto, a alimentação não consiste apenas no ato de comer, mas sim em técnicas que podem ser chamadas de cuidados nutricionais. Para a população sadia, os cuidados nutricionais são direcionados à manutenção da saúde e à prevenção de doenças, mediante a orientação nutricional para a aquisição de hábitos alimentares saudáveis, enquanto para condições patológicas os cuidados são específicos e visam, além da promoção e manutenção da saúde, à recuperação do estado nutricional. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Indivíduos com transtornos alimentares (TA) têm comportamentos diferentes dos de padrões normais, que os levam a alterações em sua composição corporal. Por se tratar de doenças que levam ao comprometimento nutricional, os TA ganham papel de destaque na nutrição. Dada as alterações corporais, nutricionais e emocionais dessas pacientes, o acompanhamento nutricional se torna necessário no tratamento integrado, estando o nutricionista apto a realizar as orientações dietéticas, avaliar o estado nutricional, estabelecer a dieta fazendo as adequações necessárias de acordo com a Resolução do Conselho Federal de Nutricionistas n°200/98. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Atendimento Nutricional A terapia nutricional para atendimento aos TA é um processo integrado, no qual o nutricionista e a equipe trabalham juntos para modificar os comportamentos relacionados ao peso e à alimentação do paciente. O nutricionista deve procurar relacionar aspectos psicológicos e nutricionais dos TA durante a abordagem nutricional. De acordo com a Associação Dietética Americana (ADA), o nutricionista que trabalha com essas patologias deve criar um vínculo terapêutico com as pacientes, oferecendo ajuda, apoio e orientação. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Avaliação Nutricional Complicações de ordem física e nutricional estão presentes nos TA, por isso é necessária anamnese detalhada a fim de verificar o estado nutricional. A anamnese nutricional deve constar o levantamento de: a) atividade física; b) atitudes em relação aos alimentos; c) comportamento gastrintestinal; d) uso de medicamentos; e) informações adicionais. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Avaliação Antropométrica O método ideal para avaliar a composição corporal deve ser confiável, de fácil execução, de baixo custo e não-invasivo, optando-se pela antropometria. Peso Anorexia Nervosa (AN): a porcentagem obtida da relação entre peso atual medido no momento da avaliação e o peso habitual parece ser um índice mais preciso para a determinação da depleção nutricional porque indica a alteração ocorrida no peso dessas pacientes. A porcentagem tanto de perda de peso quanto do peso nunca alcançado para critérios de diagnóstico para AN corresponde a 15% (CID-10). Um dos índices utilizados para avaliação do estado nutricional é o Índice de Quetelet, o Índice de Massa Corporal (IMC). Padrões iguais ou inferiores a IMC=17,5 Kg/m2 indicam quadro de AN. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Bulimia Nervosa (BN): o peso da maior parte das pacientes com BN é normal, mas varia muito de acordo com o comportamento alimentar compulsivo. As pacientes costumam ser muito sensíveis a qualquer variação de peso, iniciando novo ciclo bulímico quando sentem algum ganho de peso. Avaliação Dietética A entrevista deve ser feita de modo objetivo, para que se obtenha os padrões alimentares mais próximos do real, pois a paciente pode não querer falar sobre seus hábitos alimentares. O nutricionista deve pesquisar, mediante questionamentos diretos, nãoindutivos, o consumo de alimentos. A dificuldade consiste na fidedignidade das informações obtidas devido a: BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA - influência do grau de conhecimento e conscientização do paciente a respeito de suas necessidades nutricionais. Pacientes anoréxicos têm grande conhecimento sobre nutrição, conhecendo esses que não necessariamente estão corretos; - influência de entrevistador (indução); - dificuldade no levantamento quantitativo exato da ingestão diária e freqüência. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Apresentação do Registro Alimentar de 24 horas – Hospital das Clínicas – Instituto de Psiquiatria, 1999 Horário Refeição Preparação Alimento Medida Caseira 5h30 Desjejum Cereal matinal Flocos de milho Leite desnatado Com adoçante 03 col. de sopa 03 col. de sopa 12h45 19h30 Almoço e Jantar Frango cozido Verdura refogada Coxa de frango Escarola 01 unidade peq. 06 col. sopa Fonte: anamnese alimentar de paciente BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Apresentação do Registro Alimentar de 24 horas – Hospital das Clínicas – Instituto de Psiquiatria, 2000 (duas irmãs gêmeas) Horário Refeição Preparação Alimento Medida Caseira 8h30 Desjejum Leite com suplemento hiperprotéico Leite integral com suplemento hiperprotéico 50 ml 01 col. sopa 10h Colação Bolacha doce Bolacha doce recheada 03 unidades 12h Almoço Arroz Salada Beterraba Arroz cozido Beterraba cozida 02 col. sopa 01 col. sopa 18h Lanche Sopa de legumes Sopa de legumes 1 ½ concha peq. 18h30 Jantar Leite c/ suplemento hiperprotéico Leite integral c/ suplemento hiperprotéico 50 ml 01 col. sopa BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA A avaliação do registro alimentar deve ser direcionada às Leis da Alimentação adaptadas às especificações próprias de cada faixa etária. Analisando quantitativamente essa anamnese, esta se mostra inadequada em relação à ingestão energética, bem como a proporção de macronutrientes para obtenção e manutenção do peso ideal esperado para a idade e o sexo, proteínas e lipídios. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Características Dietéticas das Anoréxicas Alguns comportamentos são típicos na AN, como: - hábitos de esconder alimentos em armários, banheiros, roupas etc; - dividir alimentos em pequenas porções; - preparar deliciosos pratos para os outros, sem nada provar; - observar curiosamente as refeições dos demais; - evitar comer na presença de outros; - interesse por tudo o que diga respeito à culinária e a dietas; - vasto conhecimento sobre nutrição. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA a) controle de calorias; b) fracionamento das refeições; (na anamnese é demonstrado omissão de refeições intermediárias, permitindo maior consumo de calorias e nutrientes) Horário Refeição Preparação Alimento Medida Caseira 5h30 Desjejum Café preto c/ adoçante Café 100 ml 13h Almoço Filé de frango grelhado Arroz Salada de tomate Peito de frango Arroz Tomate 01 filé peq. 02 col. Sopa 03 rodelas 20h Filé de frango grelhado Cenoura Maçã Peito de frango Cenoura crua Maçã Peito de frango Cenoura crua Maçã 01 filé peq. 01 unidade 01 unidade BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA c) macronutrientes;(esta anamnese mostra-se inadequada em relação a ingestão energética, bem como na proporção de macronutrientes) Horário Refeição Preparação Alimento Medida Caseira 7h Desjejum Leite Pão com queijo Maçã Leite desnatado Pão integral 200 ml 01 fatia 01 fatia fina 11h Colação Maçã Maçã 01 unidade 13h Almoço Blanquet de peru Salada de alface Abacaxi Blanquet de peru Salada* de alface Abacaxi 01 fatia fina 02 folhas médias 01 rodela fina 19h Jantar Blanquet de peru Salada de alface Abacaxi Blanquet de peru Salada* de alface Abacaxi 01 fatia fina 02 folhas méidas 01 rodela fina 21h Chá Chá Chá de ervas Laxantes com adoçante 200 ml * Sem nenhum tempero / Obs.: a paciente seguiu este cardápio por dois meses. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Em anoréxicas, um padrão de alto consumo de proteínas e um consumo alterado de carboidratos induz a um tipo não-comum de desnutrição. Extrema edemaciação resultante de déficit calórica, na AN, corresponde a um metabolismo protéico relativamente preservado, com níveis plasmáticos de aminoácidos normais. d) Pequena quantidade de alimentos; (cardápio repetitivo, monótono, desequilibrado e cansativo) e) Vitaminas e minerais; (ingestão de vitaminas e minerais são insuficientes, mas as deficiências clássicas são raras. A hiperbetacarotenemia - elevada concentração de carotenóides - é frequentemente encontrada. Baixa ingestão de ferro, ácido fólico, zinco, vitaminas do complexo B. A anemia é mais comum em adolescentes) f) Gorduras; ( são eliminadas do cardápio. As refeições são preparadas sem adição de óleo, azeite ou margarina. Alimentos que contenham no rótulo “0% de gordura” ou “lipídios reduzidos” são os preferidos das anoréxicas. Na eliminação das gorduras pode ocorrer deficiência de ácidos graxos) BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA g) Carboidratos; (são eliminados, sobretudo, os carboidratos simples (açúcar/doces/bolos/tortas/etc) e, os complexos (farinha/arroz/batata/macarrão/etc.), predominando o tabu de que em dietas hipocalóricas não podem ingerir carboidratos de nenhuma espécie. Alimentos especiais para diabéticos, como doces diet, sucos dietédicos, refrigerantes diet e adoçantes são os preferidos por essas pacientes) BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Apresentação do Registro Alimentar Domiciliar de 24 horas Hospital das Clínicas – Instituto de Psiquiatria, 2001 Horário Refeição Preparação Alimento Medida Caseira 9h30 Desjejum Iogurte Iogurte natural desnatado 200 mL 13h Almoço Carne com ervilhas Salada de Beterraba Gelatina diet Carne moída com ervilhas Beterraba Gelatina diet 01 concha 01 concha 01 pote grande 14h Lanche Gelatina diet Gelatina diet 03 potes (durante a tarde) 19h Jantar Peixe assado Batata assada Salada de alface Suco diet Pescadinha Batata inglesa Alface Suco diet 01 filé médio 02 pequenas 01 prato cheio 400 mL Fonte: anamnese alimentar de paciente BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA h) proteínas; ( são restritas sob a forma de leguminosas (feijão/lentilha/ervilha seca ou grão de bico) e carnes vermelhas. Leite e derivados eventualmente são consumidos, desde que desnatados. É comum essas pacientes tornarem-se vegetarianas) i) fibras; (o aumento da ingestão de fibras deve-se ao baixo valor calórico, ao alto grau de saciedade e ao fato de funcionarem como aceleradoras do trânsito intestinal) BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Apresentação do Registro Alimentar Domiciliar de 24 horas Hospital das Clínicas – Instituto de Psiquiatria, 2001 Horário Refeição Preparação Alimento Medida Caseira 9h Desjejum Maçã Maçã 01 unidade peq. 12h30 Almoço Salada de alface e tomate Pêra Alface Tomate Pêra 04 folhas 01 unidade peq. 01 unidade peq. 19h Jantar Salada de cenoura ralada Maçã Cenoura Maçã 04 col. Sopa 01 unidade peq. Fonte: anamnese alimentar de paciente BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA j) Água; (alto consumo para obter sensação de saciedade ou eliminação quase total para diminuir o peso e o volume. É comum a desidratação em anoréxicas) l) Sal; (com medo da retenção de líquidos, os alimentos são preparados quase sem sal, principalmente as saladas) m) Preparações; (só são consumidos alimentos cozidos em água ou a vapor, assados ou grelhados) n) Horário das refeições; (geralmente são feitas no mesmo horário, com duração longa. Muitas anoréxicas passam horas comendo uma pequena refeição. Outras se recusam a comer à noite com medo de engordar) BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA o) Montagem do prato; (os alimentos são dispostos no prato de forma isolada e a paciente não permite que eles se misturem. A dupla arroz e feijão, quando consumida, é dividida: um é consumido no almoço e outro, no jantar) p) Temperatura dos alimentos; (gostam de alimentos em alta temperatura. Geralmente esquentam o prato no microondas, várias vezes numa mesma refeição) q) Alimentos calóricos e jejum; (algumas delas apresentam preferências por alimentos calóricos, como sorvete, chocolate, batata frita e biscoitos recheados. Porém, quando consomem esses alimentos, o fazem em pequeniníssimas quantidades e, tomam outros cuidados como, excluir todas as outras refeições) BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Apresentação do Registro Alimentar Domiciliar de 24 horas Hospital das Clínicas – Instituto de Psiquiatria, 2001 Horário Refeição Preparação Alimento Medida Caseira 6h Desjejum Café Café com adoçante 100 mL 12h Almoço Salada de alface Bombom Alface Chocolate 01 pires de chá 05 unidades 18h Jantar Maçã Biscoito recheado de chocolate Maçã Biscoito recheado de chocolate 01 unidade pequena 08 unidades Fonte: anamnese alimentar de paciente BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Apresentação do Registro Alimentar Domiciliar de 24 horas Hospital das Clínicas – Instituto de Psiquiatria, 2001 Alimentos Excluídos - Gorduras - Carnes vermelhas - Doces, açúcar etc. - Leite integral - Sal - Pães Alimentos Permitidos - Produtos light - Peixe e frango - Pães integrais - Leite desnatado Frases Justificando -“Você como nutricionista não sabe que gordura faz mal e engorda?” - “Eu vi na revista que não são saudáveis, têm colesterol” - “Estou de regime e não posso comer” - “É muito calórico” - “Sal engorda porque junta água” - “Eles pesam no estômago” Frases Justificando -“Eu como porque são mais saudáveis” - “São carnes magras” - “Eles são especiais para quem faz dieta” - “São mais leves e não engordam” BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Características Dietéticas das Bulímicas a) Comportamento Alimentar; (é descrito como “caótico” e “bizarro”) b) Tempo do Episódio; ( comer num pequeno período de tempo uma quantidade definitivamente maior que a maioria das pessoas) c) Perda de controle; (uma sensação de perda de controle sobre a ingestão alimentar durante o episódio) d) Epísódios às escondidas; ( os episódios bulímicos ocorrem às escondidas e são acompanhados de posterior sensação de culpa, vergonha e desejo de punir-se) e) Alta ingestão de alimentos; (ingerem grande quantidade num período pequeno de tempo, prestando pouca atenção ao gosto ou à textura do alimento. Geralmente ingerem alimentos ricos em carboidratos, como doces, chocolates, mel, sorvetes, leite condensado, biscoitos, alimentos que durante o restante do dia excluem de sua dieta. Um episódio bulímico pode chegar até a 15 mil kcal ingeridos) BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA f) Controle de calorias; ( as pacientes insistem em começar uma “nova dieta”, frequentemente ingerindo baixa quantidade de alimentos e se limitando a alimentos com poucas calorias. Durante os episódios bulímicos desencadeia-se um processo de comer compulsivo) BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Apresentação do Registro Alimentar Domiciliar de 24 horas Hospital das Clínicas – Instituto de Psiquiatria, 2001 Horário Refeição Preparação Alimento Medida Caseira 6h30 Desjejum Leite com café Leite desnatado Café c/ adoçante 150 mL 50 mL 16h Episódio compulsivo* Arroz Repolho cozido Feijão Goiabada Refrigerante Carne Cozida Arroz Repolho Feijão Goiabada Refrigerante Carne 02 escumadeiras 01 escumadeira 02 conchas ½ lata 1 litro 02 conchas Fonte: anamnese de paciente • *Os alimentos foram consumidos no prazo de 40 minutos, sem ordem certa • O episódio foi seguido de vômito BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Apresentação do Registro Alimentar Domiciliar de 24 horas Horário Refeição Preparação Alimento Medida Caseira 8h Desjejum Leite com café Pão Flocos de milho Leite desnatado Café c/ adoçante Pão de forma integral Flocos de milho 150 mL 50 mL 02 fatias 14h Episódio compulsivo* Bolacha Requeijão Água Bolacha cream Cracker Requeijão cremoso Água • *Os alimentos foram consumidos no prazo de 2 horas. O episódio foi seguido de vômito • ** Sem quantia certa. A água era consumida para facilitar o vômito ½ xícara 08 pacotes (200 g cada) 08 copos +ou- 02 litros** BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA g) Diet e Light; (tendência ao consumo de produtos diet e light, inclusive durante os episódios bulímicos h) Alimentos mais freqüentes nos episódios bulímicos; (ver pg. 251 e 252) BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Conduta Nutricional Planejamento da Dieta: uma dieta adequada e equilibrada é aquela que atinge todas as necessidades nutricionais de um indivíduo para manutenção e reparação, processos diários, e para crescimento ou desenvolvimento (Mahan, 1995). Anorexia Nervosa (AN) a) Realimentação A síndrome de realimentação (feedback: parte da saída de um sistema é transferida para a entrada deste mesmo sistema com o objetivo de diminuir ou ampliar a saída do sistema) pode ser causa de morte em pacientes com anorexia nervosa, desnutridos ou ainda aqueles que recebem nutrição parenteral BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA b) Necessidades Calóricas Para direcionar a terapêutica nutricional são realizados cálculos para estabelecer as necessidades calóricas diárias. O estabelecimento de um plano de realimentação é complicado e requer habilidade de negociar com as pacientes que a sua colaboração conduza o tratamento a seus objetivos finais. c) Necessidades Protéicas Para assegurar que a proteína oferecida não seja utilizada como fonte energética e, sim, para promover síntese protéica, calorias totais devem ser oferecidas em quantidades adequadas BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA d) Lipídios Discreta hipercolesterolemia.A elevação do colesterol está na fração lipoprotéica de baixa densidade, são normais os níveis de lipoprotéicos (de alta e baixa densidades) e normal a concentração de triglicérides na anorexia nervosa. Desconhece-se a causa da hipercolesterolemia (para previní-la, seguir as recomendações do Conselho Brasileiro de Dislipidemias). A recomendação dietética para a prevenção de dislipidemias é: gordura total até 30% das calorias totais e colesterol menor que 300 mg/dia. e) Carboidratos O aporte de carboidratos deve fornecer quantidades suficientes de substrato energético para o organismo em anabolismo (a partir de moléculas simples são criadas moléculas mais complexas), assim como para garantir a síntese protéica. O equivalente a cerca de 50 a 60% das calorias totais em dietas hiperprotéicas. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA f) Vitaminas e Minerais Em relação aos micronutrientes, o mínimo recomendado é o preconizado pela Recommended Dietary Allowances (RDA), já que não existem determinação a real necessidade desses nutrientes para a patologia em estudo. Segundo Nuñez (1994), apenas uma dieta com mais de 2.400 Kcal atendem às recomendações da RDA. g) Horário de Refeições e Fracionamento As refeições devem ser feitas em horários programados, visto que a tensão nervosa frequentemente contribui para a deficiência de peso em algumas pacientes. O horário das refeições deve ser tranquilo. Maior fracionamento permite maior consumo de calorias e nutrientes. As refeições devem ser monitoradas para evitar desperdícios e episódios purgativos. Repouso pós-prandial é necessário para melhor aceitação da dieta. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA h) Água As necessidades hídricas são supridas com 1ml/ Kal/ dia. Termogênese da Dieta Geralmente as pacientes anoréxicas apresentam hipotermia, assim como elevação da temperatura corporal durante a realimentação. A hipotermia pode ser um efeito das alterações metabólicas em relação aos hormônios tireoidianos T4 e T3. Outra provável explicação é uma alteração no centro hipotalâmico de regulação térmica. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA j) Alimentação Enteral Como as anoréxicas apresentam resistência para a ingestão oral é indicado a nutrição enteral. A ingestão oral inferior a 60% do gasto energético total durante sete a dez dias é indicador importante de que é necessário uso do suporte nutricional enteral. A nutrição enteral deve ser administrada em horários intermediários às principais refeições com o objetivo de não prejudicar a aceitação e estimular a via oral. Um plano de estímulo de ingestão oral deve estar presente na terapia nutricional, envolvendo uma abordagem de temas básicos sobre nutrição a fim da retirada da nutrição enteral o mais breve possível. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA l) Peso-alvo Ao determinar um peso ideal mínimo, o nutricionista deve considerar não só essa diretriz, mas também a história ponderal (desenvolvimento peso/altura) do paciente e sua constituição física. m) Ganho de Peso A queda da taxa do metabolismo de repouso que ocorre na desnutrição poderia indicar rápido ganho de peso quando implantado o tratamento nutricional. Porém, não é o que ocorre com a AN. A introdução de nutrientes promove aumento termogênese (energia gasta durante e logo após a alimentação) e do metabolismo de repouso, dificultando o ganho de peso. O aporte calórico deve ser aumentado progressivamente para que se chegue ao peso ideal estimado. Um ganho de peso máximo de 1 kg por semana é tido como ideal para prevenir complicações gastrintestinais e metabólicas. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA n) Melhora Cardíaca As anormalidades cardíacas, como bradicardia e hipotensão, encontradas em anoréxicas e em pacientes desnutridos, estão relacionados com o menor consumo de oxigênio. É demonstrado que a realimentação devolve ao paciente anoréxico níveis cardíacos normais. o) Melhora do Hábito Intestinal Pacientes anoréxicas podem não apresentar alterações na motilidade do cólon e que somente a realimentação pode restabelecer o trânsito intestinal. O uso de laxantes só deve ser introduzido na manutenção da queixa após três semanas de consumo de dieta equilibrada. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Bulimia Nervosa (BN) Os objetivos principais da abordagem nutricional na BN são: a eliminação do ciclo “jejum / episódio bulímico/ purgação”. a) Hidratação As bulímicas tendem a ter desidratação devido ao uso de laxantes e diuréticos. Eles afetam o peso pela perda de água. O uso de laxantes em abundância leva à perda de fluidos e eletrólitos, mas não à perda de calorias, o que resulta de perda de potássio e de bicarbonato pelas fezes. Algumas pacientes necessitam de internação para corrigir os eletrólitos. Os vômitos auto-induzidos levam à perda de sódio, hidrogênio, cloreto e potássio. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA b) Melhora do Hábito Intestinal Em razão do uso indiscriminado de laxantes, as bulímicas podem apresentar obstipação (ritmo intestinal irregular/ fezes endurecidas e ressecadas) prolongada, com sintomas como empachamento e cólicas abdominais. Esse problema é amenizado com hidratação e alimentação adequada. BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA c) Educação Nutricional Objetivo do Tratamento Dietoterápico Anorexia Nervosa - Restabelecer as funções fisiológicas normais -Favorecer o ganho gradual de peso -Manter o peso-alvo Bulimia Nervosa -Favorecer a quebra do ciclo da bulimia (restrição alimentar/ episódio bulímico / purgação) - manter aceitar o peso normal Objetivos Comuns -Estabelecer um padrão alimentar saudável - orientar a eliminação de práticas alimentares não-saudáveis - restabelecer uma relação saudável como o alimento BASES NUTRICIONAIS NA ANOREXIA E BULIMIA Registro Alimentar O registro alimentar funciona como um diário alimentar no qual as pacientes são instruídas a anotar os alimentos ingeridos, data e hora. Ele ajuda o nutricionista a quantificar os hábitos de ingestão alimentar, identificando os efeitos desses hábitos no estilo de vida e diretamente nos planos de tratamento e seus objetivos. a) Educação Nutricional na AN (pg. 265) b) Educação Nutricional na BN (pg. 265) Referência Bibliográfica: Anorexia, Bulimia e Obesidade. Salvador de Rosis Busse (org.) – 2007 – Ed. Manole.