O Sr. Lincoln Portela (PL - MG) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Quero hoje abordar tema de preocupação crescente na sociedade brasileira e em todo o mundo: as mudanças climáticas, causadas pelo aquecimento global. Novas evidências científicas mostram que o ritmo de elevação da temperatura da Terra está bem maior do que o anteriormente previsto. O dióxido de carbono atingiu, em 2005, concentração 35 vezes maior que a existente antes da Revolução Industrial. Os cientistas projetam um aumento de 1°C na temperatura média do planeta em apenas 15 anos, o que vem acelerar o derretimento do gelo nos pólos e nas geleiras de terra firme, causando a elevação do nível dos oceanos, fenômeno que deve provocar inundações que expulsarão até 100 milhões de pessoas das regiões costeiras. 2 Além dessa tragédia social, há muito anunciada, calcula-se hoje que os custos econômicos da inação dos governos frente ao problema podem ser assustadores. Recente estudo, produzido por Nicholas Stern, chefe do Serviço Econômico do governo britânico e execonomista-chefe do Banco Mundial, mediu o impacto do aquecimento global sobre a economia do planeta. As enchentes, secas, quebras de safra, a perda de infra-estrutura, as migrações em massa, extinções de milhares de espécies, epidemias, entre outras conseqüências das mudanças do clima, levarão a uma redução de até 20% no PIB global até 2050. Contrariamente, basta investir anualmente 1% do PIB mundial, até o mesmo ano de 2050, para estabilizar as emissões de carbono nos atuais níveis, o que evitaria pelo menos as mais nefastas conseqüências do aquecimento global. Tal investimento no período, segundo Nicholas Stern, não impossibilitaria o crescimento da economia mundial a taxas expressivas. 3 Diante do quadro e das perspectivas que se apresentam, assiste-se, felizmente, ao início de uma reação por parte dos governos, que pôde ser constatada, mês passado, na 12ª Conferência das Partes do Clima, em Nairóbi. Na COP 12, definiu-se a revisão do Protocolo de Kyoto, para que não haja falhas entre sua primeira e segunda fases, e reconheceu-se, pela primeira vez, a necessidade de redução das emissões de carbono em mais de 50%. A partir de 2012, quando se iniciará a segunda fase do Protocolo, os países ricos deverão, perseguir metas mais rígidas, assim como serão certamente previstas metas diferenciadas também para alguns países em desenvolvimento, responsáveis por grandes emissões, como é o caso da China, Índia e Brasil. Já somos o 4º maior emissor de gases do efeito estufa. Nesse contexto, Sr. Presidente, é preciso que façamos uma análise mais realista e responsável de nossa 4 contribuição para este estado de coisas, assim como de nossa participação para solucioná-lo. As mudanças climáticas, assim como outros problemas ambientais globais, ocupam, hoje, o topo da lista de prioridades das economias mais avançadas, a ponto de alguns governos europeus se elegerem com essa agenda e, ao mesmo tempo, desentenderem-se com governos de outro países por causa da mesma agenda. Vivemos um momento de transição, de mudanças, de escolhas e de decisões importantíssimas na área de energia em todos os países. Sob este aspecto, estamos muito bem posicionados. O Brasil é considerado a potência das energias limpas e renováveis: 85% de nossa matriz é composta pela hidreletricidade. Temos, hoje, a segunda maior frota de veículos a gás natural do mundo. Temos ainda o Proálcool, o maior programa de energia renovável do mundo e a primeira patente mundial de biodiesel é do Brasil. 5 Ainda assim, duas fontes renováveis merecem mais investimentos: a eólica e a solar. Hoje, de todas as fontes de energia do mundo, a que mais cresce é a do vento: mais de 20% ao ano. Somente em 2004, foram investidos, em todo o planeta, 40 bilhões de dólares em energia eólica. Uma energia que é abundante no Brasil. O mapeamento eólico do País identificou regiões, onde as oportunidades de investimento são excelentes: todo o litoral do nordeste, o norte da Bahia e de Minas Gerais, o oeste de Pernambuco, o estado de Roraima e todo o Sul do País. Infelizmente só o Ceará parece ter identificado essa oportunidade. O Estado investe, atualmente, 700 milhões de dólares, para que, em 2008, 30% de sua matriz energética seja proveniente do vento. Várias fontes de energia apresentam, ao longo do tempo, curvas decrescentes de custo. Para a energia eólica esta redução é impressionante. A cada duplicação da 6 capacidade instalada no mundo, tem-se uma redução de 30% no custo dessa energia. Quanto à energia solar, a cada dia os técnicos se surpreendem com sua viabilidade, mesmo em lugares com pouca insolação. Imagine-se então o potencial dessa fonte, a partir da incidência de radiação no Brasil o ano todo. De olho nisso, o físico Ênio Pereira, com recursos da ONU, coordena o mais completo mapeamento solar já feito no Brasil. As perspectivas são tão boas que ele propõe uma comparação: “se cobríssemos com painéis fotovoltaicos uma área alagada correspondente à usina hidrelétrica de Balbina – que foi um desastre ecológico – teríamos capacidade para prover todo o Brasil com energia elétrica e ainda poderíamos exportar o excedente”. Infelizmente, a energia solar não conta ainda com o apoio de nenhum incentivo governamental, o que não é o caso da energia eólica, que está contemplada por programa governamental de incentivo. 7 Trata-se do PROINFA - Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, instituído pela Lei nº 10.438, de 26 de abril de 2002. O PROINFA é um importante instrumento para a diversificação da matriz energética nacional, o que virá garantir maior confiabilidade e segurança ao abastecimento. O Programa, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, estabelece a contratação de 3.300 MW de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN), produzidos por fontes eólica, de biomassa e de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), 1.100 MW de cada fonte. O PROINFA conta com linha de crédito do BNDES, que prevê financiamento de até 70% do investimento, com carência de seis meses após a entrada em operação comercial, amortização por dez anos e não pagamento de juros durante a construção do empreendimento. Duas modificações na Lei são importantes: incluir incentivos também à energia solar e ampliar a área de 8 abrangência do PROINFA, uma vez que sua implementação está restrita ao Sistema Interligado, o qual, por sua vez, não inclui a Amazônia. A partir desse arrazoado podemos concluir, Sr. Presidente, que, na parte relativa a energias renováveis, nosso País é líder, com programas de governo em andamento e com grandes perspectivas no mercado internacional. Com todo essa vantagem, por que somos, então, o quarto maior emissor de gases do efeito estufa e, portanto, co-responsáveis pelo aquecimento global? Ocorre, Senhores., que 75% de nossas emissões provêm do desmatamento, em sua grande maioria concentrada na região amazônica. Esse é o nosso calcanhar de Aquiles. Para a próxima legislatura, caros Colegas, esta Casa precisa debater esse problema. Precisamos, urgentemente, de uma Política para a Amazônia, que desenvolva a região, com a floresta em pé, por meio do manejo florestal 9 sustentável para a extração madeireira, do ecoturismo, do extrativismo, da exploração comercial dos recursos de nossa biodiversidade. O Parlamento precisa ser o palco desse debate, que tanto interesse tem para a sociedade brasileira, para a comunidade global, para as futuras gerações. Muito obrigado.