2º.Seminário Nacional da PNH A DOR E A DELÍCIA DE SER UM PROFISSIONAL DE SAÚDE: contribuições à discussão sobre algumas especificidades do trabalho na área oncológica Liliane Mendes Penello Brasília,06/08/2009 Dor, Sofrimento, Prazer - constatações de um homem comum dirigidas ao seu médico dias antes de morrer • “ A quem interessar possa,atesto que em certos casos, é claramente perceptível a aproximação do fim. É o que está acontecendo comigo. Posso garantir que não viverei o dia de amanhã, três de junho, sexta-feira. Mas hoje ainda estou vivo e tenho algo a dizer, a declarar, a escrever neste caderno quase vazio, dado a mim pelo meu querido doutor Ademar, o qual arrisco classificar de amigo, e a quem, daqui a pouco, entregarei estas poucas páginas escritas.É o seguinte: consegui finalmente a separação completa e perfeita entre dor e sofrimento. Está doendo muito nesse momento e, no passado,foram incontáveis as grandes e pequenas dores, do corpo e da alma, cuja lembrança por sua vez, também dói. Mas eu nada mais sofro.Da dor, meu caro Ademar, não há vivente que escape. Sofrer, no entanto, agora compreendo, não é obrigatório.Sofre quem assim o deseja.Eu sei: como moribundo sou suspeito para afirmar qualquer coisa. A suspeição é lamentável porque seria bom que pudessem acreditar. Estou em paz, numa enorme paz que ousarei chamar de felicidade.Uma felicidade de pouca duração,devido às circunstâncias, porém intensa o suficiente para compensar todos os trancos e barrancos com que a ela cheguei”. • Pertan, A.R – “Pequeno diário de um doente terminal (trechos) – Divulgado pelo site da Sociedade de Psicanálise da Cidade do Rio de Janeiro/SPCRJ – 07/06/2005 ATENÇÃO AO VÍNCULO E COMUNICAÇÃO EM SITUAÇÕES DIFÍCEIS NO TRATAMENTO: uma aposta no seu papel central para ampliação da clínica e novas formas de gestão na área oncológica LILIANE MENDES PENELLO,Priscila Melillo de Magalhães; Liliana Maria Planel Lugarinho; Selma Rosário Eschenazi; Regina Neri; • Trata-se de um esforço constitutivo inovador mediado pelo Ministério da Saúde, através de convênio firmado entre o Instituto Nacional de Câncer(INCA) e Hospitais Federais que constituem a Rede de Atenção Oncológica no Município do Rio de Janeiro, e a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, amparado pela Portaria GM 3276 de 28/12/2007 publicada no DOU de 31/12/2007 que faculta o emprego de recursos advindos de renúncia fiscal dos chamados HOSPITAIS DE EXCELENCIA, a serviço do SUS. Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein Apresentação Mesmo que o diagnóstico precoce e o desenvolvimento dos meios de tratamento venham expandindo-se de forma crescente, o câncer ainda carrega um intenso estigma de morte. Além do estado fragilizado dos pacientes, existe um despreparo dos profissionais da área de oncologia para a comunicação de adversidades e suporte emocional aos pacientes, gerando desgastes para todos envolvidos. O projeto está estruturado como uma experiência de capacitação e pesquisa para os profissionais da área de oncologia, com a duração de oito meses de trabalho, para o desenvolvimento de habilidades na comunicação de más notícias no tratamento – e manejo possível das dores e delícias experimentadas no cotidiano de trabalho. Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein Justificativa: demanda • Grande número de casos que chegam aos hospitais em estádios de doença avançada; • Falta de formação dos profissionais de saúde para a comunicação com pacientes e familiares • Falta de espaços institucionais para a discussão profissional sobre a comunicação em situações difíceis do tratamento • Grande incidência de adoecimento físico e psíquico por stress profissional na atenção oncológica Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein Objetivos • Qualificação de profissionais de saúde, especialmente médicos para a melhoria do acolhimento, da comunicação e do vínculo terapêutico com pacientes oncológicos na rede hospitalar pública da cidade do Rio de Janeiro. • Fortalecimento de vínculos profissionais e redes colaborativas entre serviços de oncologia dos hospitais federais do Rio de Janeiro • Construção de experiência com potencial inovador para a transformação do modelo de atenção do SUS, especialmente oncologia. Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein Público-alvo • 120 profissionais de saúde do INCA e serviços de oncologia de outros 10 hospitais federais e universitários do Rio de Janeiro INCA: HC 1 – ONCOPEDIATRIA HC 2 – GINECOLOGIA; HC III- MASTOLOGIA HCIV – CUIDADOS PALIATIVOS Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein Público-alvo (cont) • • • • • • • • • • DGHRJ-SAS-MS- Departamento De Gestão Hospitalar: Hospital Geral do Andaraí Hospital Geral de Bonsucesso Hospital Geral de Ipanema Hospital Geral de Jacarepaguá Hospital Geral da Lagoa Hospital dos Servidores do Estado Hospitais e Institutos de Ensino e Pesquisa: H.U. Clementino Fraga Filho – UFRJ Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – UFRJ Instituto Fernandes Figueira – FIOCRUZ H.U. Pedro Ernesto Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein Métodos Tem por base uma versão adaptada da metodologia praticada pelos Grupos Balint associada ao uso do protocolo S.P.I.K.E.S. (desenvolvido pelo MD Anderson Cancer Center, Texas, EUA e Sunnybrook Regional Cancer Center, Toronto, Canadá) e adaptado no INCA para o desenvolvimento de habilidades na comunicação de más notícias no tratamento. • A metodologia compreende: Oficina de sensibilização, no Centro de Simulação Realística do Hospital Israelita Albert Einstein; Grupos Balint baseados em depoimentos, análise e construção de propostas registradas em diário de bordo; Fóruns de discussão pela plataforma EAD-INCA e um encontro final de avaliação de resultados. Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein Oficina de sensibilização • 4 cenários de simulação realística: situações de comunicação de más notícias na oncopediatria; ginecologia; mastologia e cuidados paliativos; • Análise com base em competências do Protocolo SPIKES ( cada maiúscula sugere uma etapa de aproximação com o paciente). • 2 painéis sobre “Gestão compartilhada da clínica ampliada” e “ Comunicação com pacientes em situações difíceis” (manhã e tarde) • Os participantes se dividem entre os cenários e os painéis), revezando de manhã e à tarde Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein Grupos Balint Coordenação por profissionais especializados • Apresentação de depoimentos dos participantes sobre situações difíceis enfrentadas em casos atuais (2 casos por encontro); • Análise pelo grupo dos casos apresentados; • Registro da experiência em diário de bordo; • Apoio plataforma de EAD: Bibliografia, fóruns de discussão . Grupos BALINT-PAIDÉIA: procura adaptar os grupos BALINT para a realidade atual do SUS em síntese com o Método Paidéia de co-gestão de coletivos e como instrumento complementar de apoio e formação em serviço, privilegiando a clínica ampliada • .Os Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein Atividades • Oficina inicial de sensibilização: Centro de Simulação Realística do Hospital A. Einstein: dias 16 e 23 de maio de 2009 • Grupos Balint – 8 grupos com 15 participantes - 8 encontros semanais de 3h coordenados por 2 consultores – 25 de maio à 24 de julho de 2009 • Encontro final de intercâmbio e avaliação de resultados: 12 setembro de 2009 • Publicação de livro sobre a comunicação de notícias difíceis para a rede hospitalar SUS – novembro 2009 Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein Resultados Esperados e Conclusão • Aumento do grau de sensibilização e o desenvolvimento de habilidades para a comunicação com pacientes e familiares em situações difíceis do tratamento; • Fortalecimento de redes colaborativas entre profissionais que atuam na atenção hospitalar em oncologia; • Produção de conhecimentos e desenvolvimento de tecnologias relacionais para o aprimoramento da prática clínica do SUS, consubstanciados na publicação de uma coletânea de ensaios e artigos de análise e divulgação da experiência. Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein Consultores Coordenadores dos Grupos Balint: Álcio Braz Aline de Leo Malaquias Dos Santos Ana Perez Ayres de Mello Pacheco Jane Gonçalves Pessanha Nogueira Ricardo Duarte Vaz Rita de Cássia Ferreira Silvério Selma Eschenazi do Rosario Suely Oliveira Marinho Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein A dor e a delícia de ser um profissional de saúde: 2º.Seminário Nacional da PNH como dispositivo de ampliação da discussão deste tema. – Diante da estreita relação estabelecida entre qualidade do vínculo cuidador aquele que é cuidado, e seu potencial para produção de saúde decidiu-se incorporar à Pesquisa uma proposta metodológica qualitativa complementar: a criação de um questionário abordando a temática. O que pensam, sentem, experimentam, propõem, estes nossos profissionais? METODOLOGIA • As questões foram dirigidas aos consultores(8), apoiadores(2),observador(1) e coordenadores da Pesquisa(3), formalizando a sua condição de pesquisadores-pesquisados, implicados na condução desta pesquisa-intervenção. Indicou-se a possibilidade de apresentarem seus registros das comunicações dos 120 profissionais sob sua coordenação que mais lhes houvesse tocado, seguindo a orientação de seis “ núcleos temáticos”: Os seis núcleos temáticos • 1 – A dor de ser um profissional de Saúde • 2- O sofrimento por ser um profissional de saúde • 3- As delícias experimentadas pelo profissional de saúde • 4- O compartilhamento destas vivências entre profissionais • 5- Características do Vínculo profissional – paciente e associações às vivências relatadas • 6- Estratégias e Dispositivos para potencialização da implantação ou implementação das políticas setoriais focadas no vinculo profissional-paciente e nos cuidados com o cuidador. O QUESTIONÁRIO • • • • • • • 1) QUESTÕES RELACIONADAS À “DOR DE SER UM PROFISSIONAL DE SAÚDE” FORAM TRATADAS NOS GRUPOS BALINT? 2) CASO TENHAM OCORRIDO, FALOU-SE DE DOR OU DE SOFRIMENTO? 3) FORAM COMENTADAS "AS DELÍCIAS" QUE UM PROFISSIONAL DE SAÚDE PODE (PODERIA) SABOREAR ? 4) CASO TENHAM COMENTADO( AS DELÍCIAS), QUAIS SERIAM? 5) FOI POSSÍVEL OBSERVAR - DIANTE DAS EXPERIÊNCIAS NOS GRUPOS - SE O PRAZER VINCULADO AO EXERCÍCIO PROFISSIONAL PÔDE SER ALI COMPARTILHADO ? 6) NA SUA AVALIAÇÃO, FORAM ESTABELECIDAS CONEXÕES ENTRE AS CARACTERÍSTICAS DO VÍNCULO CONSTRUIDO ENTRE PROFISSIONAL E PACIENTE E O RELATO DE VIVÊNCIAS DE DOR/SOFRIMENTO/PRAZER? 7) COM BASE EM TODAS ESTAS CONSIDERAÇÕES, EM SUA OPINIÃO, QUAIS SERIAM AS MEDIDAS IMPRESCINDÍVEIS PARA POTENCIALIZAR O ENFOQUE DO CUIDADO COM O CUIDADOR NA CONSTRUÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO (TERRITÓRIO DAS PRÁTICAS) DAS POLÍTICAS DE SAÚDE NA ÁREA ONCOLÓGICA? METODOLOGIA(CONT) • As respostas de 13 respondentes, foram agrupadas, conforme os eixos anteriormente definidos, segundo indicação de cada um, às questões formuladas, agregando as experiências e vivências do dia-a-dia de trabalho. Tentou-se a articulação das mesmas buscando a preservação das formas de expressão, sugestões de inclusão, compartilhamento e protagonismo dos diversos atores; também os participantes que optaram por enviar relatório estão contemplados nestas construções coletivas. A dor/o sofrimento de ser um profissional de saúde • • • • • As dores da condição humana. A dor da fragilidade da vida, da impotência de querer curar o incurável, da finitude, da separação, dores vividas tanto projetivamente quanto introjetivamente. Quando se está diante da realidade inexorável da dor, do envelhecimento, da doença e da morte, a pergunta sobre o sentido da vida se torna avassaladoramente inevitável e inelutável. Viver é sofrer? A reação dos profissionais de saúde pode ser: - de aceitação da dor, da falta, da potência sempre relativa, possibilitando o amadurecimento e o desfrutar das delícias da condição de ser gente e profissional de saúde; ou - de descarga catártica e reclamação, queixume sofredor com mitologização de um “pathos” heróico, com conseqüente idealização do sofrimento e do seu papel profissional, na busca constante de um reconhecimento que justifique sua existência e escolha profissional, acarretando com freqüência a construção de um tipo de profissional arrogantemente humilde; ou - de recusa e endurecimento; quando essa recusa se torna um padrão de comportamento e passa a caracterizar o modo do profissional estar no mundo, estar na vida, com aquilo que em psicanálise poderíamos chamar de isolamento dos afetos e adoção de uma postura fria e distanciada diante dos pacientes e da vida em geral. Essas reações não são necessariamente excludentes nem exclusivas de e em cada profissional, podendo existir em vários momentos em cada um de nós. A dor/o sofrimento de ser um profissional de saúde • • • • • • • • As dores da vida institucional. Essas foram apontadas por todos os participantes como fontes do adoecimento do cuidador. O aceitar atender sem condições dignas – aí compreendidos: - disponibilidade de medicamentos necessários para o tratamento eficaz do câncer no tempo adequado para cada paciente; - disponibilidade de número e tipos de profissionais que permitam o atendimento dos pacientes em tempo útil, possibilitando a cura dos casos em que isso seria possível e a redução dos danos nos demais casos, em uma estrutura realmente de equipe multidisciplinar; - disponibilidade de tempo adequado para uma escuta respeitosa, para que seja possível o “encontro alegre” proposto por Spinoza. - condições físicas mínimas de privacidade e manutenção da dignidade humana; - remuneração adequada que permita a dedicação integral dos profissionais e respeite sua dignidade; - condições de trabalho adequadas, inclusive férias distribuídas no ano e em quantidade suficiente para prevenir o adoecimento; - presença de estrutura de saúde do trabalhador que permita a promoção da saúde ao invés do mero reconhecimento da doença instalada . A delícia de ser um profissional de saúde • • • • • “Delícias não”. Falou-se mais de “reconhecimento”, de gratificação e de alegria diante da cura e do bom prognóstico. Um sentimento de satisfação e sinceridade nas relações proporcionando aos profissionais ,um experimento de prazer em poder diminuir a dor e/ou o sofrimento de alguém. Falaram em “ganhos” pelo aprendizado que as situações proporcionam: “hoje você é o profissional, amanhã você pode ser o paciente. Então o ganho é para nós mesmos, que podemos estar do outro lado”. A percepção é que quem trabalha nessa rede (oncológica) atribui grande importância ao seu trabalho: o que aparece mais está relacionado à representação profissional que fazem das suas funções. Fica implícita certa “nobreza de sentimentos” que pode aparecer como doação ou altruísmo. Como é, então, que aparece o prazer? Talvez pela via da satisfação e pelo reconhecimento que vem dos próprios pacientes e de seus familiares, pelos seus pares e pelo social. A delícia de ser um profissional de saúde • • Diz o coordenador: “como psicanalista, não acredito em ações altruístas. Acho que todo gesto altruísta traz em si mesmo a sua partida egoísta, conforme nos ensinou Freud com o conceito de narcisismo. Nós fazemos o bem, mesmo quando é feito anonimamente, para satisfazer o nosso narcisismo, porque é bom saber que fizemos algo que ajudou ou agradou alguém e isso nos deixa feliz. Esse, para mim é o perfil do profissional de saúde que é vocacionado como cuidador, ou seja, aquele que se reconhece como tal : O problema no caso de muitos desses trabalhadores é que a dedicação ultrapassa o limite de certa reserva que ele deveria ter”. O viés winnicottiano nos conduz à criatividade primária e ao sentimento de realização (tornar real). Segundo Winnicott, a realização do potencial inato do indivíduo se faz através de sua ação criativa no ambiente em que vive, transformando-o. O gesto transformador – marca de sua originalidadedá sentido ao viver, potencializa o sentimento de realização (ação realizadora) e de pertencimento. “Pode-se encontrar nos relatos, certos sinais destas vivências do self: o ser que se revela no gesto que ampara, que cuida, que acolhe, que compartilha sentimentos e experiências e que, ao fazê-lo, redescobre a si mesmo e ao outro”. O compartilhamento destas vivências entre profissionais • • • Do prazer de compartilhar experiências e afetos, tornando-os vivos nesse entre que caracteriza o humano; de trabalhar em equipe, de construir coletivamente, de se sentir como apoiado e apoiador; de se saber suporte individual da vida e morte, sem expectativas, sem idealizações. Uma amostra das expressões grupais, na tentativa de responder às questões e atravessamentos pessoais e institucionais evidencia-se nas seguintes formulações: “Como lidar com tudo isso e sair vivo? O que somos a partir disso tudo? E a resposta é construída pela elaboração coletiva: “apesar disso tudo, há algo que se renova! e também tem recompensa! ... falamos como se não houvesse contrapartida [para o sofrimento] e todos fossemos sadomasoquistas...Contribuímos para que essas pessoas vivam até o fim.” Mas aí voltam a dirigir a questão para si: “Como nós profissionais podemos nos manter vivos até o fim?” Uma das estratégias de suporte aos profissionais aponta de forma enfática para o emprego de equipes de referência e interdisciplinaridade como dispositivos capazes de auxiliar no manejo constante dos limites do outro e de si mesmo, tornando clara a interdependência entre pessoas e saberes. Vínculo e Saúde • Voltando à Winnicott, entende-se a formação do vínculo de confiança, estabelecido entre o bebê e sua mãe (suficientemente boa) ou figura substituta, nos primórdios do desenvolvimento emocional como o espaço potencial de qualificação da vida e produção de saúde. Esta experiência particular, singular, é evocada pelos seres humanos, quando alguma desestabilização do viver acontece. Quando a doença se instala, e a saúde se coloca em risco, esta “atualização” do vínculo, agora sobre aquele construído entre o profissional e o paciente/família, parece poder facilitar ou dificultar o relacionamento entre eles, com a doença e com o tratamento, redimensionando dor, sofrimento, prazer. Daí a constatação de que o vínculo de confiança protege o profissional e o paciente/família de certas fantasias primitivas que podem emergir em situações de ameaça física e psíquica, causando sofrimento extra para as pessoas envolvidas. Estratégias e Dispositivos para potencialização da implantação ou implementação das políticas setoriais focadas no vinculo profissional-paciente e nos cuidados com o cuidador. • “ Afinal, o que permite / possibilita que juntando a farinha com a manteiga dê bolo???”... • Talvez “...espaços onde os afetos e singularidades dos profissionais possam se fazer valer, espaços de troca, onde os profissionais podem se ver no contexto dos atendimentos que realizam e da assistência prestada. Espaços vivos, permanentes, de continência, suporte e direcionamento de afetos para os Trabalhadores de Saúde”. Estratégias e Dispositivos para potencialização da implantação ou implementação das políticas setoriais focadas no vinculo profissional-paciente e nos cuidados com o cuidador. • • A experiência compartilhada é o caminho adequado para que possam fortalecer as suas defesas, aprender a se preservar, a resistir aos pedidos institucionais abusivos (caso ocorram), a reivindicar melhores condições para o exercício das suas funções para que experimentem não só as dores, mas também as delícias de serem profissionais de saúde. A continuidade de trabalhos coletivos como o desenvolvido nos grupos Balint-Paidea mostrou-se da maior relevância. Falou-se repetidamente da função de acolhimento que a grupalidade solidária oferece àquele que cuida mas que, nem por isso, prescinde de cuidado. Além disso, a troca de experiências, conhecimentos e vivências pessoais gera potência e criatividade para a elaboração de diferentes estratégias de ação. As trocas identificatórias criam uma rede de sustentação para o self individual, encorajando-o ao movimento criativo, dando-lhe mais protagonismo. A dinâmica do trabalho interdisciplinar presente no modelo da clínica ampliada oferece provisão ambiental (recursos físicos, psíquicos e sociais) para o profissional de saúde, que se estende ao pacientes e familiares, resgatando-lhes o sentimento de continuidade do cuidado e do tratamento; ou seja, da vida possível. Para finalizar, reafirmar que o trabalho em saúde • Ocorre num espaço relacional (inter pessoal) e pluridimensional. • Pode ser tanto produtor de saúde como de mal-estar e adoecimento, para si e para os outros, e depende da qualidade do vínculo estabelecido. • A passagem da dor ao prazer transita num plano em que a criação é experiência coletiva porque implica o encontro consigo e com o outro • Para que possa ser produtor de saúde deve-se tomá-lo como atividade humana que, sobretudo, se faz num processo contínuo de re-normatização de novos problemas e criação de novas estratégias. • O sofrimento psíquico, inerente à atividade dos profissionais de saúde, pode ser transformado em desenvolvimento pessoal e construção de conhecimentos, se for cotidianamente compreendido e elaborado pelos seus protagonistas Para finalizar: evocando a potência dos coletivos • É imprescindível que as sugestões e reivindicações dos participantes, constantes dos relatórios finais, diante desta proposta inovadora de articulação do Ministério da Saúde/INCA/Hospital Albert Einstein ganhem potência,corpo e operacionalização articulando modelos de co-gestão e atenção humanizada na área oncológico. • Que o tempo de amadurecimento de implementação das propostas não ultrapasse o tempo de colheita, pois seu descarte seria mais um fator de adoecimento para os que participaram do projeto e de desestímulo para os demais. • A necessidade de ampliação desta experiência, mantém a oferta de participação deste coletivo enviando contribuições para a finalização desta pesquisa. Apoio Técnico e Colaboradores • METODOLOGIA GRUPOS BALINT-PAIDÉIA: Gustavo Tenório Cunha – • • • • UNICAMP AVALIAÇÃO DE PROCESSOS E RESULTADOS: Serafim Santos – consultor da PNH TECNOLOGIAS INTERATIVAS EAD/INCA: Antônio Tadeu. Márcia Skaba e Chester R. Pereira Martins CONSULTORES DA PNH – Rio de Janeiro: Luciana Pitombo e Regina Neri OBSERVADOR-COLABORADOR DA FORMAÇÃO FREUDIANA: Carlos Lugarinho Endereços para contato: [email protected] [email protected] Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein Referências Bibliográficas • • • • • • • • • • • • BEALE, Estela A., KUDELKA, Andrzej P. , “SPIKES – a six-step protocol of delivering bad news,: application to the patient with cancer” BAILE, Walter F., M.D., KUDELKA, Andrzej P., M.D., BEALE, Estela A., M.D., GLOBER, Gary A., M.D., MYERS,Eric G., M.A., GREISINGER, Anthony J.,M.D., BAST JR., Robert C., M.D., GOLDSTEIN, Michael G., M.D., NOVACK, Dennis, M.D. e LENZI, Renato, M.D. “ Communication Skills Training in Oncology – description and preliminary outcomes of workshops on breaking bad news and managing patients reactions to illness” BALINT, Michael. O médico o paciente e sua doença, BALINT, Michael, A falha básica, BALINT, Enid e NORELL, J.S., Seis minutos para o paciente, BARRETO, J. e MAGALHÃES,P., Do tratamento curativo aos cuidados paliativos: questões entre a vida e a morte, BARRETO, J. e MAGALHÃES,P., Elaboração de dispositivos de trabalho e avaliação da recepção integrada do INCA. CUNHA, Gustavo Tenório, Grupos Balint Paidéia: uma contribuição para a co-gestão e a clínica ampliada na Atenção Básica, MENDES PENELLO, L. Inovação Tecnológica e Humanização no Processo de Produção de Saúde: um diálogo possível e necessário - um estudo realizado no Hospital do Câncer II / INCA / MS” MENDES PENELLO, L. I Encontro Multiprofissional sobre Notícias Difíceis no Tratamento: o uso do protocolo S.P.I.K.E.S., MINISTERIO DA SAUDE, HUMANIZASUS – documento base para gestores e trabalhadores do SUS , 4ª edição, 2008 e Cartilhas Humaniza SUS: “Acolhimento nas Práticas de Produção de Saúde”, 2ª edição, 2008; “Clínica Ampliada, Equipe de Referencia e Projeto Terapêutico Singular”, MISSENARD, A.; BALINT,M., GELLY,R. et allii, A experiência Balint – historia e atualidade, Sociedade Beneficente Israelita Brasileira H. Albert Einstein