SUMÁRIO: A FUNÇÃO DOS FILÓSOFOS; CONCEITO; O FILOSOFAR SOBRE A CIÊNCIA; CRITÉRIOS DE DEMARCAÇÃO; E O QUE A CIÊNCIA NÃO PODE SER. UTILIZE O “RATINHO” Os filósofos, com sua atividade mental voltada para ampliar incessantemente a compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na sua totalidade, funcionam como provocadores, catalisadores e iniciadores de fases do processo evolutivo. No processo evolutivo, os filósofos constroem novos modelos em relação aos vivenciados, num determinado momento da história da humanidade. Não foi diferente com a Ciência e o Método Cientifico. Certamente, as teorias sobre origem do Universo e sobre a estrutura da matéria devem ter iniciado com indagações de algum filósofo: de onde vieram as estrelas? Qual a origem das coisas? De que são feitas as coisas? Porque as coisas permanecem unidas? E, a partir dessas indagações, ele mesmo e outros refletiram e elaboraram teorias para respondê-las. Assim, a Ciência, como conjunto de conhecimentos acumulados historicamente, teve início e continua graças à vontade dos homens de entenderem a realidade e a preocupação de estruturar e sistematizar esse conhecimento. A ciência é uma forma de conhecer o mundo, de desvendar os mistérios da natureza, de sabermos mais sobre a origem e natureza do homem . É importante salientar que a finalidade primordial da ciência não é formular hipóteses, e sim, sistematizar teorias; e que teoria não é pura e simplesmente uma coletânea de hipóteses. Teoria é um conjunto de hipóteses coerentemente interligadas, tendo por finalidade explicar, elucidar, interpretar ou unificar um dado domínio do conhecimento. Cremos que a melhor maneira de caracterizarmos a Ciência, é a abordagem sobre como são realizados seus estudos, em vez de sobre quais são os objetos estudados. Cremos que a melhor forma de entender a evolução da Ciência, seria entendendo a evolução: do pensamento sobre a ciência; e dos métodos científicos. A ciência pode estudar desde a estrutura do átomo até o processo de aprendizado de uma língua. Portanto, não é o objeto de estudo que é importante, mas a forma: o método pelo qual se estuda este objeto. Todas as ciências se utilizam da metodologia científica. Assim, não há ciência sem o emprego de métodos científicos. As conclusões da ciência são produto de um método científico. Sobre o Método Científico nos ocuparemos em outro artigo.. 500 a.C., aproximadamente, surgiu o pensamento científico com os chamados Filósofos da Natureza. Nesse período a sociedade ocidental abandonou o pensamento dogmático, que colocava as idéias como sendo superiores às observações, e abraçou o pensamento cético, que coloca as observações superiores às idéias. Na época de Sócrates e seus contemporâneos, o pensamento científico se consolidou, principalmente com o surgimento do conceito de prova científica, ou repetição do fato observado na natureza. Dentro dessa nova forma de pensar o cientista destruiria, ou modificaria uma teoria, desde que fossem observados fatos que a refutasse. De 476 a 1453, Idade Média, os filósofos escolásticos criaram uma visão dogmática de ciência, não admitiam o uso da matemática, aceitavam somente como formas de análise científica a dialética e a lógica aristotélica, ou seja: o método dedutivo a partir do geral para o particular. O resultado disso é que nada de científico foi produzido durante a Idade Média. Na primeira metade do século XVII, os filósofos ingleses Francis Bacon (15611626) e John Locke ( 1632 -1704) lançaram as bases do Empirismo, corrente filosófica que afirmava: “todo conhecimento provém das experiências sensoriais”. Francis Bacon John Locke Enquanto isso, Galileo Galilei (1564 -1642), físico, matemático e astrônomo italiano tornava-se o precursor teórico do método experimental com sua afirmativa: “o conhecimento íntimo das coisas deveria ser substituído pelo conhecimento de leis gerais, que condicionam as ocorrências”. Galileo Galilei No final do século XIX, o filosofo inglês Bertrand Russel (1872 1970) sugeriu que a partir de nossas sensações ou experiências mais elementares - poderíamos com o auxilio da lógica, construir o conhecimento cientifico. A partir dessa idéia surgiu o movimento conhecido como positivismo lógico. No século XX, Karl Popper (1902-1994), filósofo da ciência, austríaco naturalizado inglês, concordando com as críticas de Hume ao indutismo, propõe o critério da refutação (falseonismo) : “já que não se pode confirmar uma hipótese ou uma lei geral, poderíamos tentar refutá-la pela experiência e repetição”. O que apóia uma teoria científica, sem dúvida, é a experimentação. Mas a experimentação, por si só, ou falseia ou corrobora uma teoria. Segundo Popper, uma teoria será tanto melhor quanto mais propensa for a testes de falseamento pelos quais terá que passar. Karl Popper rejeita que as teorias científicas sejam construídas por um processo indutivo, a partir de uma base empírica neutra. Propõe que elas tenham caráter completamente conjetural, ou seja fundamentada em juízos ou hipóteses sem fundamento preciso. Teorias são criações livres da mente, destinadas a ajustar-se, tão bem quanto possível, ao conjunto de fenômenos de que tratam. No século XX, contrapondo-se ao critério da refutação, ou “falseonismo” destacaram-se os filósofos Thomas Kuhn e Imre Lakatos. O físico americano Thomas Khun (1922-1996), cujo trabalho agregou-se a História da Filosofia da Ciência, propôs o conceito de Paradigma. Paradigmas são realizações científicas, que servem de modelo para toda a pesquisa, determinando: que tipos de leis e teorias são válidos; que tipos de dados são pertinentes; que problemas serão investigados; que tipo de soluções será proposto; e, até mesmo; como os fenômenos podem ser percebidos. De certa forma o paradigma, funciona como uma “visão de mundo“, influenciando e controlando toda a pesquisa científica. O filósofo, físico e matemático húngaro Imre Lakatos (1922-1974) sistematizou de maneira interessante as características da ciência, introduzindo a noção de Programa Científico de Pesquisa. Segundo Lakatos, as teorias científicas devem incorporar regras metodológicas, que disciplinem a absorção de impactos empíricos desfavoráveis e norteiem as pesquisas futuras, com vistas ao seu aperfeiçoamento. Requerem, ainda, diretrizes teóricas para orientar a busca, condução, classificação e análise dos dados empíricos. Na segunda metade do século XX, Paul Feyerabend (19241994) filósofo da ciência, austríaco, destacou-se por sua visão anarquista da Ciência. Defende a idéia de que não deve haver regras metodológicas, para sempre serem usadas pelos cientistas. Afirma que a fundamentação prescritiva do método científico limita as atividades dos cientistas e dessa maneira restringe o progresso científico. Segundo Feyerabend a ciência se beneficiaria mais com uma "dose" de anarquismo teórico. Sugere que o anarquismo teórico é desejável, por ser mais humanitário do que outros sistemas de organização, pois não impõe regras rígidas aos cientistas. Ser ou não ser ciência eis a questão... Em cada concepção sobre Ciência, os filósofos incluíram um critério de demarcação. O critério indutivista considerava cientificas somente as teorias provadas empiricamente. Segundo tal critério, não haveria nenhuma teoria genuinamente cientifica, pois todo conhecimento do mundo exterior é falível. O critério falseacionista, afirmava serem cientificas somente as teorias refutáveis. Da mesma forma como o anterior, nenhuma teoria poderia ser classificada como científica, pois nenhuma teoria pode ser rigorosamente falseada. O critério de demarcação proposto por Lakatos, de característica bastante restritiva, funda-se em duas exigências principais: uma teoria para ser cientifica deve estar imersa em um programa de pesquisa; e este programa deve ser progressivo. O critério de demarcação proposto por Roberto Martins Andrade no seu trabalho “O que é Ciência do ponto de vista da Epistemologia?” baseia-se numa concepção nãoproibitiva da Ciência, que tem como finalidade: orientar e avaliar as pesquisas. Dentro desse critério admite-se como ciência: tudo que se queira chamar de ciência; mas com a condição de que seja possível estabelecer comparações de valor científico e avaliar pesquisas. Esse critério introduz comparação entre valores científicos, ao invés de distinção absoluta entre científico e não científico, sem estabelecer uma diferença absoluta qualitativa, mas apenas quantitativa e comparativa. De acordo com essa concepção não-proibitiva, a ciência passa a ser vista como: processo pelo qual se procura obter elementos com maior valor científico. Assim, por exemplo, poderíamos agregar valores científicos à Astrologia, se fossem feitos estudos mostrando, que as pessoas nascidas sob tal signo e tal ascendente possuem em geral tais e tais características. Acrescentar-se-ia a esses estudos estatísticos, outros relacionados ao controle sobre mapas e previsões astrológicas em escala tal, para que os estudos agregassem valor científico. Nessa abordagem não-proibitiva, a contribuição relevante da Filosofia é a de indicar o que fazer , para aumentar o valor científico de um estudo. Existe por parte da ciência rejeição à Homeopatia, por não conciliar a idéia de doses muito pequenas dos remédios com os conhecimentos físicos e químicos. Acreditamos que, dentro da argumentação estritamente cientifica, esta posição poderia ser justificada, por um dos princípios de impotência estabelecido pela Filosofia, que limita o pensamento. De forma análoga à Física, a Filosofia estabeleceu alguns princípios de impotência, que limitam o pensamento humano: “o ser humano não possui a capacidade de reconhecer, intuitivamente, a verdade”. Fizemos esse registro, com o objetivo de chamar a atenção para as comunidades científicas, que são, como quaisquer outros grupamentos sociais, influenciados pelos poderes: econômico; político; e social, bem como pelos interesses do próprio grupamento. Qual de nós não tem conhecimento de alguém que só se curou com Homeopatia, ou que tenha feito cirurgia espiritual bem sucedida? Quando se quer provar (deduzir) as proposições de uma teoria, cai-se necessariamente em um dos três casos: regressão infinita; circulo vicioso; ou em proposições indemonstráveis (TRILEMA DE ARISTÓTELES) . O que o TRILEMA DE ARISTÓTELES mostra é a impossibilidade de se construir ciência fundamentada, que seja puramente dedutiva. Esse é um princípio de impotência, admitido por todos os filósofos, que já analisaram esse antigo argumento. Princípio que nunca foi abandonado. A ciência não pode ser teoria verdadeira, se provada por meio de observações e experimentos. Não podemos deixar de lembrar casos notáveis de descobertas de leis científicas, estimuladas por fatores não-empíricos. Um exemplo típico é a idéia ocorrida ao físico francês Louis de Broglie (1892 – 1907) de que a matéria dita “ponderável” (elétrons, átomos, etc.) apresentaria um comportamento ondulatório. Essa idéia não se baseava, de modo direto, em nenhuma evidência empírica disponível na época (1924) e não foi resultado nem de raciocínio dedutivo, ou indutivo, mas surgida por analogia à luz. Broglie chegou a essa idéia pela consideração estética, de simetria, de que se a luz, tida como de natureza ondulatória, apresentava, em determinadas circunstâncias, um comportamento corpuscular (fato esse, aliás, também constatado depois de haver sido previsto teoricamente por Einstein), então os corpúsculos materiais igualmente deveriam, em certas circunstâncias, comportar-se como ondas. Com essa idéia, o físico francês contribuiu decisivamente, para os desenvolvimentos que levaram ao surgimento da mecânica quântica. É plenamente aceito pelos pesquisadores que não se pode postular o conhecimento como pronto e acabado, pois isto contraria a característica básica da ciência que é a de contínuo aperfeiçoamento por meio de alterações na teoria e na área de métodos e técnicas de investigação. FONTES: TRABALHO – “O que é Ciência do ponto de vista da Epistemologia?” - Roberto Martins Andrade; e SITES cfh.ufsc.br; ecientificocultural.com; ghtc.ifi.unicamp.br; terraespiritual.locaweb.com.br; unicamp.br; e wikipedia.org. IMAGENS DOS SITES: adrianarossi.com; aratrice.it; e-ducation.net; elvics.com; karl_popper.com; toptenz.net; topciencias.blogspot.com; triplov.com; e zegeraldo.wordpress.com. MÚSICA: When a Man Loves a Woman – Richard Claydman (quando um homem ama uma mulher – o que não deixa de ser uma ciência...)