PROGRAMANDO A ALTA: TIPOS, CRITÉRIOS E ENCAMINHAMENTO Jorge Luiz de Oliveira e-mail:[email protected] Alta Médica Hospitalar A alta médica hospitalar, como o próprio termo diz, é prerrogativa do médico. Em se tratando de psiquiatria a participação dos demais profissionais que fazem parte da equipe multidisciplinar é tão importante quanto à do Médico. É verdade que o Médico tem a ultima palavra, mas não tem todas. A alta é um procedimento de responsabilidade do Médico, mas fazê-la, deliberada, inadvertida e onipotentemente é uma atitude desnecessária, uma vez que ignora a participação e a importância da opinião dos parceiro de equipe na tomada de decisão, a respeito de um quadro clinico “rico” de nuances farmacoterápico e alternâncias reativas por parte do paciente? No processo terapêutico a alta é tão importante quanta as demais etapas que envolvem a internação. Certamente é o que todos afirmariam. Olhada por um outro prisma no entanto, ela assume uma outra conotação, se não vejamos: Internação – É revestida de incertezas, dor, às vezes, medo, expectativas e insegurança. Prescrição – Mistério, ignorância, medo, dor, experiências, perda de autoridade, incógnita... Investigações – fezes, sangue, urina, escarros, invasão, inserção, indignação, humilhação (passeios nos corredores, exposição, nudez...). Tratamento – Na ótica do médico é o meio. Caminhos a percorrer. O elo entre o começo e o resultado final. Alta – Na ótica do paciente é o apogeu. A liberdade. O fim apoteótico é o que todos esperam, em todos os sentidos. Estes pressupostos não se constituem em paradigmas terapêuticos. Mas não deixam de ser pressupostos presentes e importantes quando o paciente tem sua opinião e suas manifestações sejam elas religiosas, sociais, culturais, políticas e éticas respeitadas. A opinião médica é decisiva, mas não significa uma verdade absoluta. Por isso se diz que embora a alta seja uma prerrogativa do Médico ele deve sempre , na duvida, consultar colegas, parceiros e até mesmo o paciente, razão maior do seu trabalho. É importante salientar que, quando hospitalizado, o paciente tem o direito de ter um médico como responsável direto pela sua internação, assistência e acompanhamento até a alta, sendo dever do Diretor-Clínico do estabelecimento de saúde as providências cabíveis para que isso ocorra. Modalidades de Altas Hospitalares A alta hospitalar pode ocorrer de maneiras diferenciadas. Não vamos falar de todas, mas mencionaremos em que situação elas poderão ocorrer. Alta compartilhada – Decisão que ocorre entre médico e paciente embora prevaleça a do médico. Alta alternativa – Decisão que uma só das partes deseja por razões pessoais, logística ou por intercorrência clinica. Alta a Pedido Existem situações nas quais a alta hospitalar pode ser solicitada pelo paciente ou por seus responsáveis, denominada alta a pedido. Para a solução deste problema, é fundamental distinguir a alta a pedido que não envolve iminente risco à vida, daquela em sentido contrário; somente através de avaliação e parecer técnico poderá haver tal distinção. No caso da alta a pedido, sem colocar em risco a vida do paciente, nem o médico responsável nem o hospital podem ferir o princípio da autonomia do mesmo, cerceando seu direito de "ir e vir". A instituição hospitalar e o médico devem, de maneira clara, documentar fartamente a decisão do paciente, quanto a sair do hospital. Entretanto, em caso de iminente perigo à vida do paciente, o médico pode se recusar a conceder a alta a pedido. Essa é uma exceção prevista no Código de Ética Médica (Art. 56) para que o médico possa intervir contrariamente à vontade do paciente, em situações de "iminente risco à vida". Portanto, é a gravidade ou a iminência de perigo à vida que deve condicionar a aceitação ou recusa da alta a pedido. Vale a pena ressaltar que, se a saúde do paciente agravar-se em conseqüência da alta a pedido, o profissional que a autorizou poderá ser responsabilizado pela prática de seu ato, assim como o hospital, pois "é presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto", no caso por omissão de socorro, imprudência ou negligência. Existe também a responsabilidade penal, na modalidade culposa para os crimes de homicídio e lesões corporais, quando praticado através de imprudência, negligência ou imperícia. Em caso de alta a pedido de crianças e adolescentes, o "Termo de Responsabilidade" deverá ser assinado pelos responsáveis. A aceitação ou não do pedido de alta, pelo médico, também fica condicionado à gravidade ou à iminência de perigo à vida da criança ou adolescente. Diante do impasse entre a solicitação de alta pelos responsáveis e a recusa do profissional em aceitá-la, com o atual Estatuto da Criança e do Adolescente, a Vara da Infância e da Juventude deverá ser acionada para a resolução do conflito. O paciente que, devidamente esclarecido e sem iminente risco à vida, assume o não cumprimento da determinação médica de permanecer sob tratamento intra-hospitalar, desobriga o profissional de dar continuidade ao tratamento, bem como de emitir receita. Tal fato deve ficar expressamente documentado no prontuário médico. Se, após o médico informar de maneira ampla, completa, acessível e de forma isenta ao próprio paciente e/ou aos seus responsáveis, sobre as vantagens e desvantagens da alta solicitada, esses insistirem no pedido de alta e o médico aceitá-lo, deve-se redigir o "Termo de Responsabilidade" assinado pelo paciente ou por seus responsáveis. A assinatura apenas explicita o direito do paciente quanto à decisão sobre sua saúde e bem estar. O "Termo de Responsabilidade" tem a finalidade de documentar que os riscos, vantagens e desvantagens foram devidamente explicados ao próprio paciente e/ou aos seus responsáveis. Outra informação importante é que, mesmo tendo solicitado e recebido alta a pedido, o paciente ou seus familiares poderão solicitar nova internação, sendo este seu direito, devendo o hospital atender a esta solicitação. TERMO DE ALTA A PEDIDO DO PACIENTE Considerando - ser direito de recusar o atendimento ou procedimentos propostos para meu tratamento de deixar as dependências do hospital, mesmo sabendo das possíveis conseqüências e riscos de tal atitude. Considerando - que alta a pedido não constitui ato que tenha sido indicado ou praticado pela equipe médica, mas sim um ato livre e soberano da autonomia do paciente, atendido o disposto no Termo de Responsabilidade. Considerando – Que o exercício, por parte do paciente, deste seu direito, a partir do momento em que deixar o hospital, isenta o médico e a Instituição da responsabilidade por quaisquer conseqüências adversas à saúde diretamente relacionadas a esta alta. Considerando – Que mesmo tendo o médico, com o apoio da equipe multiprofissional, explicado em linguagem acessível ao doente, o diagnóstico, suas condições clínicas, possibilidades terapêuticas e as conseqüências da interrupção da assistência médica, especificando possíveis riscos e danos. Considerando – Que a alta a pedido desobriga o Médico de dar continuidade ao tratamento, bem como de emitir receita, solicitação de exames e encaminhamento para outro estabelecimento. Ainda assim solicito a interrupção do meu tratamento sendo essa atitude uma livre expressão de minha vontade PARECER MÉDICO: _________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ___________________________________________________ Assinatura e carimbo médico DECLARAÇÃO DO PACIENTE: Declaro que fui devidamente informado e esclarecido quanto à situação de minha saúde, conforme acima registrado e decido deixar de ser assistido neste hospital, em razão de: _________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ___________________________________________________ Assinatura do paciente e/ou responsável Alta por Fuga Em caso de fuga do paciente nos deparamos com duas situações diferentes. Uma delas se refere a pacientes com incapacidade de discernimento e aos adolescentes. Nesses casos a responsabilidade em relação ao paciente será transferido à pessoa ou ao estabelecimento a quem o mesmo foi confiado. Logo, caracterizada a fuga do paciente, é cristalina a culpa in vigilando da instituição (culpa existente em função do cuidado que deveria ter sido dedicado àquele que lá estava internado). Em decorrência, nasce o dever de indenizar em função dos danos causados, a não ser que seja comprovado que não houve negligência. Nos outros casos, onde a capacidade de entendimento da situação (internação hospitalar) está preservada, a evasão do paciente deve ser explicitada no prontuário médico e pode ser feito boletim de ocorrência para preservação de direito do médico e da instituição. Alta Hospitalar com Garantia de Leito É outra forma de alta médica hospitalar que tem sido utilizada como procedimento em alguns hospitais, ressaltando-se, porém, a responsabilidade do médico que assiste o paciente em concedê-lo ou não. Nesta situação, o paciente é liberado para o domicílio, usualmente nos finais de semana, retornando dois ou três dias após, tendo garantido o seu leito e sem prejuízo para o tratamento previsto. A responsabilidade do médico para com o paciente se limita ao período em que este estiver no ambiente hospitalar, desde a internação até a alta. Alta a Pedido de Terceiros Como dito anteriormente, a alta médica hospitalar é prerrogativa do médico, cuja decisão deve ser tomada de acordo com os ditames éticos e legais. O médico não deve aceitar o pedido de alta de paciente feito por Chefe de Serviço, Diretor Clínico ou convênios quando, de acordo com sua avaliação técnica, não existem condições para a alta. Alta Médica por Indisciplina / Administrativa Uso de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas, por vezes produzindo agressões físicas a outros pacientes e proferindo ameaças aos funcionários, obriga o hospital a proceder a alta por indisciplina. O Conselho Regional de Medicina, com as devidas ressalvas, considera lícita a conduta do estabelecimento de saúde, invocando a justa causa, com fundamento no Código de Ética Médica, ressaltando que este versa sobre o ato do médico ao deixar de atender a um paciente que está sob os seus cuidados, por motivo claro e aceitável: Seja porque não há possibilidade para o perfeito desempenho da função do médico e/ou porque o relacionamento entre paciente e médico esteja prejudicado. O parecer também faz uma abordagem técnica interessante sobre a doença. Ressalta o CRM, que qualquer atitude nesse sentido não poderá ser adotada se houver risco iminente de morte para o paciente ou de contaminação dos contatos, hipótese em que deve ser garantida a continuidade do tratamento, sem risco potencial à família e à comunidade. COMUNICAÇÃO DE ALTA ADMINISTRATIVA Paciente: Data de internação: ___/___/___ Diagnóstico: Médico: Responsável: Procedência: Data da alta: ___/___/___ Evolução do quadro do paciente: ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Motivo da alta: ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ OBS.: Quando o paciente fere os princípios que norteiam a internação psiquiátrica, rompe um ciclo da relação entre equipe técnica e paciente. Fato que impede temporária ou até mesmo definitivamente, a sequência do tratamento pela quebra de confiança e de segurança necessária. Alta Hospitalar Convencional Dentro do possível, o doente e a família serão informados da alta hospitalar com antecedência. Antes de sair do serviço ser-lhe-ão dadas todas as informações necessárias relativas a: Relatório técnico para entregar a serviço de contra referencia e/ou médico assistente; Data da próxima consulta se necessária; Receitas; Informações sobre os medicamentos, a dieta, e cuidados a ter. Resumo de Alta- Contra-referência Sr.(a) ___________________________________________________________________________; deu entrada na Ala Psiquiátrica, em ____/____/____ permaneceu pelo período de ______dia(s). Participou das atividades terapêuticas desenvolvidas pela equipe multidisciplinar. Apresentou melhora significativa ( ) Sim ( ) Não ( ) Outros Necessita continuar tratamento Psiquiátrico ( ) Sim ( ) Não ( ) Outros Necessita continuar tratamento Psicológico ( ) Sim ( ) Não ( ) Outros Paciente apresenta quadro clínico compatível com ___________________ (CID 10) e evoluiu favoravelmente em uso de: (quadro de medicações). Recebeu alta _____/_____/_____ A pedido ( ) Sim ( ) Não ( ) Outros Outras Informações Importantes: _________________________________ Dr. André Luiz Moraes Souza dos Santos Laguna/SC_____/_____/_____ Medicamento Dose (mg) Manhã Tarde Obs.: PACIENTE DEVERÁ MANTER A MEDICAÇÃO ATÉ REAVALIAÇÃO MÉDICA. Noite A Alta Hospitalar é dividida em três partes distintas: O médico assistente assina a alta clínica no prontuário do paciente, informando à equipe técnica sobre a alta e se haverá necessidade de algum procedimento ou medicação antes da saída do paciente. O responsável pelo paciente é comunicado oficialmente sobre a alta hospitalar, devendo então agilizar sua saída. Se necessário, a equipe técnica continua os procedimentos prescritos, de acordo com a recomendação do médico assistente, até que o paciente deixar o hospital. Representação de Alta a Pedido, Administrativa e Fuga Fevereiro de 2008 à Outubro de 2010 = 1097 internações Obrigado!