Slide 1 - História das Relações Internacionais

Propaganda
•6. Os nacionalismos
europeus e
a Era dos Impérios
Gilberto Maringoni – UFABC - 2014
História das relações internacionais
Antonio Carlos Lessa
• As décadas de 1850 e 1860 foram o período de
expressão bem sucedida das nacionalidades.
• O século que se iniciou sob os escombros da Revolução
Francesa viu despontar o nacionalismo e o liberalismo
como idéias de forças que foram impulsionadas em
movimentos revolucionários, contidas em
contrarrevoluções e consolidadas na unificação.
• Novas tensões surgiram dessa longa evolução, novos
fatos mudaram a feição da política internacional e das
relações intraeuropeias. O principal deles foi o
surgimento de um poderoso Estado na Europa Central,
com a unificação da Alemanha
• A Era dos Impérios
• Eric Hobsbawm
• O período entre 1875 e 1914 pode ser chamado
de Era dos Impérios não por ter criado um novo
tipo de imperialismo, mas também por um
motivo muito mais antiquado. Foi provavelmente
o período da história mundial moderna em que
chegou ao máximo o número de governantes
que se autodenominavam imperadores ou que
eram considerados pelos diplomatas ocidentais
como merecedores desse título.
• Na Europa, os governantes da
Alemanha, Áustria, Rússia, Turquia e
(em sua qualidade de dirigentes da
índia) Grã-Bretanha reivindicavam
esse título de imperador. Dois deles
(Alemanha e Grã-Betanha/Índia)
eram inovadores dos anos 1870. Eles
mais que compensaram o
desaparecimento do Segundo
Império de Napoleão Bonaparte III,
da França.
• Foi um período de ausência de conflitos entre
as potências européias, o que não significa
ausência de tensões. Nesse período, o mundo
do Congresso de Viena foi reestruturado
completamente. A principal marca do período foi
a universalização da hegemonia européia por
todo o planeta.
• No continente, os principais eventos são o
surgimento da Alemanha, a nova potência, e a
Itália como países unificados, em 1870. Fora da
Europa, o fator a contar foi a ascensão dos
Estados Unidos no centro da cena mundial.
• A base teórica do nacionalismo
econômico
• Georg Friedrich List (1789-1846)
• Foi um dos mais importantes economistas da
primeira metade do século XIX. Investindo
contra as postulações do livre mercado e
elegendo as idéias de Adam Smith como seu
alvo principal,
• List construiu uma pequena, mas contundente
obra, composta especialmente por seu Sistema
nacional de economia política e por centenas de
artigos publicados esparsamente.
• O centro de suas formulações era a idéia
de nação como lócus central da atividade
econômica. Defensor da industrialização e
entusiasta das estradas de ferro na
disseminação do progresso, List batia-se
pelo protecionismo estatal para a indústria
infante, expressão que cunhou
:
• “A característica básica deste meu
sistema reside na NACIONALIDADE (sic).
Toda minha estrutura está baseada na
natureza da nacionalidade, a qual é o
interesse intermediário entre o indivíduo e
a humanidade inteira”.
• Ao se voltar para o passado, o economista dizia:
• “Se pesquisarmos a história de Veneza, sem
preconceitos, verificamos que, em seu caso,
como no de grandes reinos em períodos
posteriores, tanto a liberdade de comércio
internacional, como as restrições impostas a tal
comércio, foram benéficas ou prejudiciais para o
poder e para a prosperidade do país, em
épocas diferentes (...)
• Assim, a História demonstra que as restrições à
liberdade de comércio não são tanto invenções
de mentes meramente especulativas, mas antes
conseqüências naturais da diversidade de
interesses e dos anseios das nações por
independência ou ascendência de poder”.
• List percebeu o que mais tarde viria a ser
conhecido como relações desiguais de troca
entre nações, ao avaliar a disparidade de
valores entre a produção industrial e a agrícola.
Os trechos seguintes indicam o caminho de
suas idéias:
• “Uma nação que só possui agricultura é um
indivíduo que em sua produção material
trabalha com um braço só. (...) Uma nação que
troca produtos agrícolas por produtos
manufaturados estrangeiros é um indivíduo com
um braço só, sustentado por um braço
estrangeiro”.
• Um Estado puramente agrícola é uma
instituição infinitamente menos perfeita
que um Estado agromanufatureiro. Um
Estado meramente agrícola será, do ponto
de vista econômico e político, sempre
dependente dos países estrangeiros, que
recebem seus produtos agrícolas em troca
de bens manufaturados.
• Tal nação não conseguirá determinar
quanto deve produzir, devendo sempre
esperar e verificar quanto os outros
desejarão comprar.
• “Uma nação manufatureira tem centenas de
oportunidades a mais de aplicar a força da
maquinaria do que uma nação agrícola. Um
aleijado, dirigindo um motor a vapor, pode
produzir centenas de vezes mais do que um
homem mais forte pode com sua força manual”.
• Para sanar tais discrepâncias, List propõe uma
política francamente intervencionista:
• “O Estado não somente tem o direito, mas
também o dever de impor certas normas e
restrições ao comércio (o qual é, em si mesmo,
inofensivo), na salvaguarda dos interesses
superiores na nação”.
• “O poder político não apenas
assegura à nação o aumento de
sua prosperidade por meio do
comércio exterior e das colônias
estrangeiras, mas também lhe
garante desfrutar de prosperidade
interna, e a própria existência, o
que é muito mais importante do
que a riqueza material”.
• O que se pode extrair da formulação de um
conceito liberal de nação em List é que,
independente da necessidade de grandes
extensões e populações para o
desenvolvimento da economia nacional, a
ligação entre Estado e nação se fortalece por
somar-se à economia.
• Mas, se as dimensões físicas do território são
relevantes, a nação depende de um contínuo
estado de expansão que realizar-se-ia pela
união ou conquista de populações que, por si
só, seriam incapazes de atingir uma extensão
territorial que favorecesse o desenvolvimento de
sua economia.
• Hobsbawm
• Não se pode negar então que, a concepção
liberal de nação “realizável” era uma expressão
da idéia de progresso humano defendida pelo
século XIX, integrando a nação moderna ao
ideário do liberalismo.
• O princípio de nacionalidade submetido às
categorias criadas pelo liberalismo para definir a
nação não permitia sua aplicação a todos os
projetos políticos nacionais, eliminando qualquer
caracterização desse princípio como universal.
A nação ainda continuava sendo definida em
sua íntima relação com o território através de
um processo político expansionista dos Estados.
• Hobsbawm
• “Assim, na perspectiva da ideologia
liberal, a nação (isto é, a grande nação
viável) representava o estágio de
evolução alcançado na metade do século
XIX. Como vimos, a outra face da moeda
‘nação como progresso’ foi portanto, e
logicamente, a assimilação de
comunidades e povos menores aos
maiores”.
• “No entanto, desde que o número de Estadosnações era pequeno no início do século XIX, a
questão óbvia para as mentes inquiridoras era
quais das numerosas populações européias
classificáveis como uma ‘nacionalidade’, com
alguma base, poderiam tornar-se um Estado (ou
alguma forma menor com reconhecimento
administrativo e político distinto) e quais dos
numerosos Estados existentes estariam
imbuídos do caráter de ‘nação’. A construção de
listas com critérios de existência de nação
potenciais ou reais servia a esse objetivo”.
• A unificação da Alemanha 1871
• A construção do império alemão se
constituiu numa das principais inflexões
da historia das relações internacionais do
último quartel do século XIX. O país
dominaria as relações intereuropeias.
• Fruto da engenharia política do chanceler
prussiano Otto Von Bismarck, o império
alemão ocupou o centro da cena política
européia.
• Em 1870, sua população já era maior que a da
França, com o diferencial de que tinha um nível
educacional mais elevado e uma boa estrutura
universitária e científica.A Alemanha unificada
surgira repentinamente como a maior potência
da Europa continental, com um grande e bem
treinado exército, forças navais em expansão e,
especialmente, dotada de excelente estrutura
de transportes e comunicação, além de um
parque industrial moderno e em expansão.
• Com isso, o equilíbrio do sistema construído no
Congresso de Viena, em 1815, estava
comprometido.
• A partir de 1871, a Alemanha comandada por
Bismarck tinha duas ambições principais.
• Internamente o centro de sua ação passou a ser
o crescimento econômico e o reforço à coesão
do novo país, eliminando as resistências das
minorias absorvidas. No processo de unificação
das províncias francesas da Alsáscia e da
Lorena, mas também de minorias polonesas e
dinamarquesas incorporadas na guerra contra a
Áustria.
• No plano externo, a ação era para garantir a
integridade do Império.
• Guerra franco-prussiana
• A Guerra franco-prussiana o (19 de julho de
1870 - 10 de maio de 1871) foi um conflito
ocorrido entre França e o Reino da Prússia no
final do século XIX. Foi essencial no processo
de unificação alemão.
• Durante o conflito, a Prússia recebeu apoio da
Confederação da Alemanha do Norte, da qual
fazia parte, e dos estados do Baden,
Württemberg e Baviera. A vitória incontestável
dos alemães marcou o último capítulo da
unificação alemã sob o comando de Guilherme I
da Prússia.
• Também marcou a queda de Napoleão III e do
sistema monárquico na França, com o fim do
Segundo Império e sua substituição pela
Terceira República Francesa. Também como
resultado da guerra ocorreu a anexação da
maior parte do território da Alsácia-Lorena pela
Prússia, território que ficou em união com o
Império Alemão até o fim da Primeira Guerra
Mundial.
• As causas da Guerra estão profundamente
enraizadas nos eventos que cercam o equilíbrio
de poder entre grandes potências após as
Guerras Napoleônicas. França e Prússia eram
inimigos durante essas guerras, com a França
do lado derrotado e Napoleão I exilado para
Elba.
• Após a ascensão de Napoleão III e com o final
da Guerra da Criméia, cria-se uma condição
favorável para a unificação Alemã que, em
pouco tempo, os trouxe para a guerra após a
Guerra dos Ducados (1864), contra a
Dinamarca e a Guerra Austro-Prussiana (1866).
• O chanceler prussiano Otto Von Bismarck e
seus generais estavam interessados em uma
guerra contra a França, pois esse país punha
empecilhos à integração dos Estados do sul da
Alemanha na formação de um novo país
dominado pelo Reino da Prússia - o Império
Alemão.
• Por outro lado, os conselheiros de Napoleão III
asseguraram-lhe que o exército francês era
capaz de derrotar os prussianos, o que
restauraria a declinante popularidade do
imperador, perdida em consequência das
inúmeras derrotas diplomáticas sofridas.
• A derrota da França deu-se por ser o exército
prussiano maior e estar mais bem organizado
para a guerra.
• A França apresentou sua rendição, em Metz, no
dia 27 de outubro de 1870. A capitulação oficial
de Paris ocorreu em 28 de janeiro de 1871.
• A população de Paris, entretanto, recusou-se a
depor as armas e, em março de 1871, revoltouse, estabelecendo um breve governo
revolucionário, a Comuna de Paris.
• A Comuna de Paris, que se manteve por 40
dias, foi o primeiro governo operário da história,
fundado em 1871 na capital francesa por
ocasião da resistência popular ante à invasão
alemã , durante a guerra franco-prussiana, foi
considerada a primeira República Proletária da
história. Mas a repressão do governo burguês
foi implacável: 13 mil revolucionários foram
fuzilados e quase 50 mil deportados.
• O maior triunfo de Bismarck ocorreu em
18 de janeiro de 1871, quando Guilherme
I da Prússia foi proclamado imperador da
Alemanha em Versalhes, o antigo palácio
dos reis da França.
• A onerosa obrigação francesa só foi
cumprida em setembro de 1873. Naquele
mesmo mês, as tropas alemãs
abandonaram a França, depois de quase
três anos de ocupação.
• Um reino unido da Itália surgiu nos anos 185870, uma Alemanha unida em 1862-71,
incidentalmente levando ao colapso o Segundo
Império de Napoleão na França e a Comuna de
Paris (1870-71), além de que a Áustria tinha
sido excluída da Alemanha e profundamente
reestruturada.
• Em resumo, com a exceção da Inglaterra, todas
as “potências” européias foram
substancialmente – em muitos casos até
territorialmente – modificadas entre 1856 e
1871, e um novo grande estado, como cedo
viria a ser reconhecido, tinha sido fundado: a
Itália.
Antonio Gramsci
A questão meridional
• A unificação italiana, sonhada já de maneira
embrionária por Maquiavel (1469-1527) – sua
obra O Príncipe é de 1513 -, ocorre tardiamente
com a criação do Reino da Itália, em 1861, sob
a liderança da Casa de Savóia, a monarquia
piemontesa, no bojo de largo e secular
movimento histórico conhecido como o
Ressurgimento.
• O Piemonte, no norte da península, região na
qual o capitalismo mais se desenvolve,
desempenha o papel central na unificação, feita
às expensas do sul, agrário, onde a burguesia
prima pela ausência.
• Gramsci
• “O Sul da Itália pode ser definido como
uma grande desagregação social. Os
camponeses, que constituem a grande
maioria da sua população, não têm
nenhuma coesão entre si. (É evidente que
ocorrem exceções: as Pulhas, a
Sardenha, a Sicília, onde existem
características especiais no grande
quadro da estrutura meridional.)”
Na Itália, enfim unificada, embora
de maneira precária, dada a
fragmentação nacional anterior,
se consolida e cristaliza “a
questão meridional”: perpetua-se
o atraso do sul para subsidiar a
acumulação capitalista no norte.
Continuam e, de certo modo, se
agudizam tensões contra a
unidade italiana.
• Os Estados Unidos
• Na segunda metade do século XIX, os Estados
Unidos aceleram sua expansão econômica,
após a Guerra Civil (1861-75).
• A guerra foi o instrumento decisivo na
construção do Estado nacional nos EUA. As
estimativas apontam para um número de 970
mil mortes, sendo que um terço era composto
por civis. A população total somava 31 milhões
de habitantes (22,1 milhões na Confederação –
norte – e 9,1 milhões na União, sul).
• Em 1861, ano do início da guerra, o país
consistia em 19 estados livres, onde a
escravidão era proibida, e 15 estados onde a
escravidão era permitida.
• Após a independência dos Estados Unidos, e
até a década de 1850, as diferenças entre o
Norte (cada vez mais industrializado) e o Sul
agropecuário aumentavam gradativamente. Na
década de 1850, os Estados Unidos já haviam
se expandido até seus atuais limites territoriais
na América do Norte (posteriormente, adquiriria
o Alasca da Rússia, Havaí e outros territórios
ultramarítimos). O país entrara em uma fase de
rápida industrialização. Porém, o rápido
crescimento econômico do país esteve
concentrado primariamente nos Estados do
Norte.
• Este desenvolvimento causou o
rápido crescimento populacional
das cidades da região, gerando
grandes avanços na área de
transportes e comunicações.
Apesar do Sul também ter
passado por este processo, o
progresso ocorreu muito mais
lentamente do que no Norte.
• Pouco antes das eleições presidenciais de
1860, líderes sulistas começaram a pedir
pela secessão do Sul da União, caso
Lincoln vencesse as eleições. Muitos
sulistas aprovavam a secessão, através
da ideia de que os Estados possuem
direitos e poderes que o governo federal
não poderia proibir através de métodos
legais.
• Os sulistas alegaram que os Estados
Unidos por si mesmo eram uma liga de
estados independentes, e que qualquer
destes estados possuía o direito de tornarse independente.
• A tendência mais impressionante era o
movimento em direção à total liberdade de
comércio. Abertamente apenas a Inglaterra
havia abandonado o protecionismo de forma
total, mas mesmo a Rússia (1863) e a Espanha
(1868) ligaram-se de certa forma ao movimento.
Apenas os Estados Unidos, cuja indústria
apoiava-se grandemente num mercado interno
protegido e era pobre em exportações,
permaneceu um bastião do protecionismo, mas
mesmo assim mostrou alguma modificação no
começo da década de 1870.
• A economia do sul estava baseada no
latifúndio e na mão de obra escrava.
Desde 1820, a escravidão ficou confinada
ao sul.
• O país se inserira na expansão britânica
desde o início do século XIX como
principal fornecedores de matérias primas,
como algodão e recebia – especialmente
no norte – investimentos ingleses para a
modernização da estrutura produtiva.
• Por volta de 1860, a produção industrial dos
EUA já era maior que a da Alemanha e da
Rússia. Nessa época, o país já possuía 50
mil quilômetros de ferrovias, três vezes maior
que a malha ferroviária inglesa. Isso
consolida a ocupação do território e a
expansão interna.
• Vale destacar que o EUA estava em
crescente expansão territorial. Grande parte
do sudoeste do continente (Califórnia,
Arizona, Utah e partes do Colorado e Novo
México) foi tomado do México em 1848-53,
depois de uma guerra desastrosa. A Rússia
vendeu o Alasca em 1867.
• A maior parte do mundo, e especialmente a
Europa, estava atenta aos Estados Unidos
porque nesse período (1848-75) vários
milhões de europeus haviam emigrado para
lá e porque sua grande extensão territorial e
seu extraordinário progresso fizeram-no
rapidamente o milagre técnico do planeta.
• O maior trunfo deste programa se deu em
1862 com o Homestead Act que oferecia a
qualquer filho de família americana, maior de
21 anos, 160 acres gratuitos depois de cinco
anos de residência contínua ou compra por
US$ 1,25 por acre depois de seis meses, que
por obvio fracassou. Nas últimas décadas do
século pouco se ouvia falar do bucólico
sonho de liberdade da terra.
• A transformação dos EUA, portanto, aconteceu
no período de 1848-75, devido a dois temas
mais profundos e duradouros da história
americana localizados na cultura popular: a
Guerra Civil e o Oeste. Sendo que ambos estão
intimamente interligados, já que foi a busca pelo
Oeste que gerou a faísca para a guerra.
• A referida expansão para o Oeste não era coisa
nova, mas foi acelerado de forma drástica
devida o surgimento das estradas de ferro. As
primeiras linhas transcontinentais foram
construídas simultaneamente para o Leste, a
partir do Pacifico, e para o Oeste a partir do
Mississippi, encontrando-se em certo ponto do
Utah.
• As sociedades escravistas, incluindo as
do sul, estavam com os dias contados, já
que elas estavam isoladas fisicamente,
devido a abolição do tráfico negreiro, que
era muito eficiente na década de 1850, e
também isoladas moralmente, devido ao
consenso geral do liberalismo burguês,
que as olhava como contrarias à marcha
da história, moralmente indesejáveis e
economicamente ineficientes.
• Mas o que levou o sul a uma situação de
crise na década de 1850 foi um problema
especifico: a dificuldade de coexistência
com o capitalismo dinâmico no Norte e um
dilúvio de migração para o Oeste.
• Em termos puramente econômicos, o
norte não estava muito preocupado
com o sul, uma região agrária
praticamente não envolvida na
industrialização. Os principais
empecilhos eram políticos, já que a
industria dos Norte estava
certamente mais preocupada com
uma nação, do ponto de vista do
comércio, metade livre e metade
protecionista, do que metade escrava
e metade livre.
• Em resumo, o Norte estava numa
posição de unificar o continente
que o Sul não tinha, por isso se
fez necessária a Guerra Civil que
por quatro anos devastou o país.
• O triunfo do Norte também era o
triunfo do capitalismo americano
e dos Estados Unidos modernos
e de fato o Sul permaneceu
agrário, pobre, atrasado e
ressentido.
O Japão
• De todos os países não -europeus, apenas um
conseguiu encontrar e derrotar o Ocidente no
terreno inimigo, esse país foi o Japão, para a
surpresa dos contemporâneos
• Aos olhos do Ocidente, em meados do séc. XIX,
o Japão não parecia diferente de qualquer outro
país oriental, ou pelo menos afigurava-se
igualmente destinado ao atraso econômico e à
inferioridade militar para tornar-se vítima do
capitalismo.
• O Japão, embora com sua tradição
cultural, era surpreendentemente análogo
ao Ocidente na estrutura social.
• O país possuía algo muito próximo de
uma ordem feudal da Europa medieval,
uma nobreza agrária hereditária,
camponeses semi-servis e um corpo de
mercadores-empresários e financistas
cercados por um corpo incomumente ativo
de artífices, todos assentados em uma
crescente urbanização.
• Os japoneses estavam mais dispostos a
imitar os ocidentais do que muitos outros
grupos não-europeus e eram também os
mais capazes de fazê-lo. Como por
exemplo a China que tinha capacidade,
mas não queria imitar o Ocidente e os
homens cultos do México que queriam
imitar o capitalismo liberal tal como os
EUA, caso em que a vontade era maior do
que a capacidade.
• Mas o Japão possuía ambas, era mais
uma “nação” potencial do que um império
ecumênico, possuíam a capacidade
técnica e outras, além do pessoal
necessário para uma economia do século
XIX.
• A elite japonesa possuía um aparato de
Estado e uma estrutura social capazes de
controlar o movimento de uma sociedade
inteira.
• Em 1853, os Estados Unidos da América
invadiram a baía de Uraga e forçaram o Japão a
abrir-se ao comércio internacional. A partir de
então iniciou-se um período de turbulência que
perdurou até à chamada Restauração Meiji.
• A restauração Meiji (ou revolução de cima), foi
uma sucessão de eventos que conduziu a uma
profunda mudança nas estruturas política,
econômica e social do Japão, que teve lugar em
1868, terminou com o sistema feudal de
duzentos e cinquenta e seis anos dos
xogunatos Tokugawa.
• A unidade política do país permitiu a
centralização da administração pública, e
a intervenção do Estado na economia.
Isso, por sua vez, possibilitou reformas
econômicas que consistiram na
eliminação de entraves e resquícios do
modo de produção feudal, na liberação da
mão-de-obra, e na assimilação da
tecnologia ocidental, preparando o Japão
para o capitalismo.
• Os antigos feudos foram
extintos e os privilégios
pessoais foram eliminados
através de uma reforma
agrária e da reformulação
da legislação do imposto
territorial rural.
• A Rússia
• Ao final do século XIX, o Império Russo
apresentava um extraordinário atraso em
relação às demais potências européias:
• 1. Atraso econômico, a economia ainda era
basicamente agrária, praticada em latifúndios
explorados de forma antiquada, através do
trabalho de milhões de camponeses miseráveis.
A industrialização russa foi tardia, dependente
de capitais estrangeiros e se restringia a
algumas grandes cidades, deste modo a
burguesia russa era extremamente fraca.
• 2. Atraso político o Império Russo era
oficialmente uma autocracia com todos os
poderes centralizados nas mãos do czar. Não
havia partidos políticos legalizados, embora as
agremiações clandestinas fossem bastante
atuantes.
• 3. Em 1861 aboliu-se a servidão e se deu ao
camponês a propriedade da terra em que
construíra sua casa. A reforma acentuou a crise
social, uma vez que a organização social
baseada no mir foi rompida, sendo transformado
numa célula administrativa, pois a comunidade
era coletivamente responsável pelo pagamento
da dívida ao Estado: este assumira o
pagamento das indenizações aos senhores da
nobreza.
• Impérios coloniais
• Num sentido menos superficial, o período que
nos ocupa é obviamente a era de um novo tipo
de Império, o colonial.
• A supremacia econômica e militar dos países
capitalistas há muito não era seriamente
ameaçada, mas não houvera nenhuma tentativa
sistemática de traduzi-la em conquista formal,
anexação e administração entre o final do
século XVIII e o último quartel do século XIX
(período este que predomina a colonização
imperialista da Europa sobre países asiáticos,
africanos e latino americano).
• O mundo definitivamente se
encontrara divido, seja
administrativamente econômica,
política ou social. Essa repartição
do mundo foi à expressão mais
espetacular da crescente divisão
do planeta em fortes e fracos, em
avançados e atrasados.
• Os imperadores e os impérios
eram antigos, mas o
imperialismo era novíssimo. A
palavra foi introduzida na
política Grã-Betanha nos anos
1870, e ainda era considerado
neologismo no fim da década.
• II Revolução Industrial
• No plano econômico e científico, o
período foi marcado pela Segunda
Revolução Industrial e por uma
aguda crise econômico-financeira
entre 1873 e 1896. Mesmo com a
depressão e a queda da atividade
econômica, a produtividade
aumentou em quase todo o mundo
industrializado.
• A Segunda Revolução Industrial
diferenciava-se da primeira
especialmente porque as
transformações nos processos
produtivos não eram resultado de
experimentos ocasionais de
homens práticos, ou seja, do
empirismo tecnológico, mas
decorria de investimentos
planejados de grandes empresas.
• Foram desenvolvidos novos métodos para
a produção de aço e produtos químicos
em grande escala, graças à utilização
sistemática de novas fontes de energia
em substituição ao carvão, como a
eletricidade e o petróleo.
• O desenvolvimento de técnicas como a
refrigeração, a pasteurização e a
esterilização permitiram a conservação e
o transporte de alimentos em grandes
quantidades, facilitando o comércio entre
regiões afastadas.
• O aumento da expectativa de vida do homem
comum foi um dos resultados mais
impressionantes desse estado de
desenvolvimento. Ela passou de 35 anos na
média global em 1800 para 40 anos em 1850 e
para 48 em 1900.
• As relações econômicas internacionais
atingiram um novo patamar de complexidade,
com o crescimento exponencial dos fluxos de
investimentos externos diretos em ferrovias,
portos, serviços de comunicação e serviços
públicos (iluminação, pavimentação etc.), por
parte das maiores economias industriais (GrãBretanha, Alemanha, França e EUA).
• A expansão industrial britânica – com a
acumulação de capitais proporcionada
pela industrialização, transformaram
Londres na capital financeira do mundo.
• O século XIX foi marcado pela
necessidade de transformações de tal
forma, que o índice de progresso de uma
nação podia ser mesurado por sua
capacidade de produção material, bem
como do desenvolvimento de seus meios
de comunicações.
• A tecnologia moderna começou a ser
“visível”, apresentando-se ao povo,
através das locomotivas, dos telégrafos e
dos navios a vapor.
• Além disso, outros avanços tecnológicos
permitiram a invenção das turbinas, dos
motores de combustão interna, do
telefone, do gramofone, da lâmpada
elétrica, do automóvel, do cinematografo ,
da aeronáutica e da radiotelegrafia.
• Vantagem comparativa
• O custo de se fazer vinhos na ilha era
maior que no país ibérico.
• A situação se invertia no caso dos tecidos.
Assim, era vantajoso para ambos usarem
o excedente de suas produções de vinhos
e tecidos para comercializarem entre si.
• Portugal apresentava uma vantagem
comparativa em relação á Inglaterra na
produção de vinhos e esta apresentava a
mesma característica no caso dos tecidos.
Ambos teriam ganhos comerciais entre si.
• A industrialização registra o resto mundo em
semi-colônias, ou seja, presos na gaiola da
especialização. A função dessas colônias ou
semi-colônias é não fazer concorrência com as
grandes potencias mundiais.
• As grandes potencias eram Estados que
adquiriam colônias, as pequenas nações não
tinham, por assim dizer, nenhum direito, pois,
padeciam da perda de terras em guerras e
apropriações indevidas. As principais regiões
onde havia competição pela retenção de terras
ficavam na África e na Oceania.
• A depressão econômica,
por sua vez, acarretou
queda nos salários e o
acirramento dos conflitos
sociais na Europa. Um novo
fenômeno de massas
ocorre a partir de 1870, a
emigração.
• Migração ultramarina
• A metade do século XIX marca também o
começo da maior migração de povos na
História. Seus detalhes não são exatos e não
capturam todos os movimentos de homens e
mulheres dentro e fora dos países.
• Contudo, estimativas apontam que entre 1846 e
1875 um número superior a 9 milhões de
pessoas deixaram a Europa indo, em sua
grande maioria, para o EUA. Trata-se de um
número 4 vezes maior que a população de
Londres em 1851. No meio século precedente,
tal movimentação não superou o valor de 1,5
milhão de pessoas.
• Por que as pessoas emigravam? Sobretudo
por razões econômicas. As perseguições
políticas formavam depois de 1848 apenas
uma pequena fração. A fuga de seitas
religiosas era menos significativa que no
século precedente. As pessoas emigravam
para escapar às más condições em casa ou
para procurar melhores no exterior?
• Os pobres apresentam tendência de emigrar
mais que os ricos... Na primeira grande onda
de imigração de nosso período (1845-54) foi
essencialmente uma fuga de fome, sendo
composta majoritariamente por Irlandeses e
alemães.
• Entre o final dessa década e o início
dos anos 1890 o mundo assiste à
retomada do protecionismo e à
reversão do livre cambismo no plano
internacional.
• Os EUA estabelecem tarifas
protecionistas em 1861 e as
aprofunda em 1890. A Rússia o fez a
partir de 1877, seguida da Itália e da
Áustria, assim como a Alemanha, em
1879, e a França entre 1872 e 1889.
• Eric Hobsbawm
• A Revolução centenária
• Em 1880, no centenário da Revolução
Francesa, o mundo já era praticamente todo
conhecido e mapeado. Tornava-se pouco a
pouco global.
• A sociedade burguesa européia ditava os
costumes e era a responsável pelas
transformações intelectuais. A cultura da elite,
representada pela biblioteca e pelo museu, foi
estendido a toda a população, como uma
exigência do liberalismo, mas estava articulada
com os interesses das classes dominantes.
• Crise
• A depressão econômica que marcou o
período, juntamente com a rapidez e a
intensidade da industrialização e a
repercussão das idéias nacionalistas
amplificaram as pressões sobre a ação
internacional dos Estados do núcleo do
sistema, incentivando políticas
imperialistas e o desenvolvimento de
novas formas de dominação sobre regiões
menos desenvolvidas.
• A ferrovia e a navegação a vapor haviam
reduzido as viagens intercontinentais ou
transcontinentais a uma questão de semanas,
em vez de meses. Com o telégrafo elétrico, a
transmissão de informação ao redor do mundo
era agora uma questão de horas.
• Ao mesmo tempo, o mundo era muito mais
densamente povoado. As cifras demográficas
são tão especulativas, sobretudo no que tange
ao final do século XVIII, que a precisão
numérica é inútil e perigosa; mas não deve ser
muito equivocado supor que os
aproximadamente 1,5 bilhões de seres
humanos vivos nos anos 1880 representavam o
dobro da população mundial dos anos 1780.
• A tecnologia era uma das principais causas dessa
defasagem, acentuando-a não só econômica como
politicamente. Um século após a Revolução
Francesa, tornava-se cada vez mais evidente que
os países mais pobres e atrasados podiam ser
facilmente vencidos e (salvo se fossem muito
grandes) conquistados, devido à inferioridade
técnica de seus armamentos.
• Em termos de política internacional (isto é, na
avaliação dos governos e ministérios das relações
exteriores da Europa), o número de entidades
tratadas como Estado soberanos no mundo inteiro
era bastante modesto para nossos padrões.
• Fora das Américas, que continham o
maior conjunto de repúblicas do globo,
praticamente todos esses Estados eram
monarquias – na Europa as únicas
exceções eram a Suíça e (a partir de
1870) a França – embora os países
desenvolvidos fossem, em sua maioria,
monarquias constitucionais ou que, ao
menos, acenavam com iniciativas oficiais
favoráveis a algum tipo de representação
eleitoral.
• O investimento estrangeiro na América
Latina atingiu níveis assombrosos nos
anos 1880, quando a extensão da rede
ferroviária argentina foi quintuplicada, e
tanto a Argentina como o Brasil atraíram
até 200 mil imigrantes por ano.
• Será que um período com um aumento
tão espetacular da produção podia ser
descrito como uma “Grande Depressão”?
• Como podemos sintetizar a economia
mundial da Era do Império?
• Em primeiro lugar, como vimos, foi uma
economia cuja base geográfica era muito
mais ampla do que antes. Sua parcela
industrializada e em processo de
industrialização aumentara. O mercado
internacional dos produtos primários
cresceu enormemente.
• Por conseguinte, como já foi
observado, a economia mundial
agora era notavelmente mais
pluralista que antes. A economia
britânica deixou de ser a única
totalmente industrializada e, na
verdade, a única industrial. A era dos
Impérios, como veremos, foi
essencialmente caracterizada pela
rivalidade entre Estados.
• A Era do Império já não era
monocêntrica. Esse pluralismo
crescente da economia mundial
ficou, até certo ponto, oculto por
sua persistente e, na verdade,
crescente dependência dos
serviços financeiros, comerciais e
da frota mercante da GrãBretanha.
• A maior parte do mundo não estava numa
posição de determinar seu próprio destino. Este
mundo de vítimas consistia em quatro setores
mais importantes:
• 1) os impérios não-europeus sobreviventes ou
grandes reinos independentes do mundo
islâmico e da Ásia (o Império Otomano, Pérsia,
China, Japão e outros menores);
• 2) as antigas colônias da Espanha e Portugal
nas Américas (estados nominalmente
independentes);
• 3) a África ao sul do Saara;
• 4) as vítimas já formalmente colonizadas ou
ocupadas, sobretudo na Ásia.
• Os impérios coloniais das potências européias
consistiam em umas poucas regiões onde uma
maioria ou uma minoria de colonos brancos
coexistia com uma população indígena de
razoável importância. Colônias do “colono
branco” viriam criar o mais intratável problema
de colonialismo.
• O problema das populações nativas era o de
como resistir ao avanço dos colonos brancos. A
escassez de brancos fez com que fosse
essencial usar nativos em grande número para
esta administração, pelo menos ao nível local.
• Ou seja, os colonizadores precisaram
criar um corpo de nativos assimilados
para tomar o lugar do homem branco
e também de depender das
instituições tradicionais dos países.
Por outro lado, os povos indígenas
confrontavam o desafio da
ocidentalização como algo muito
mais complexo do que mera
resistência.
• A Índia, a maior colônia, ilustra as
complexidades e paradoxos desta
situação. Os ingleses esforçaram-se para
inserir um processo de ocidentalização,
sobretudo por causa das necessidades de
mesma administração e mesma
economia. Ambas destruíram a estrutura
social e econômica existentes, mesmo
quando não era a intenção.
• Portanto, após longos debates, T.B.
Macaulay (1800-59) – e sua famosa
Minuta (1835) – estabeleceu um sistema
de educação puramente inglês para os
poucos indianos nos quais o British Raj
tinha interesse oficial, ou seja, os
administradores subalternos. Os ingleses
recusaram-se ou fracassaram na tentativa
de ocidentalização porque os indianos
eram um povo dominado e por causa dos
riscos políticos da excessiva interferência
em práticas populares.
Economia
Um balanço
• A economia capitalista mudou de quatro formas
significativas ao longo do século XIX. Em
primeiro lugar, entramos agora numa nova era
tecnológica, não mais determinada pelas
invenções e métodos da primeira Revolução
Industrial.
• Agora chegava-se a um período de novas
fontes de poder (eletricidade e petróleo, turbinas
e motor a explosão), de nova maquinaria
baseada em novos materiais (ferro, ligas, metais
não-ferrosos), de indústrias baseadas em novas
ciências tais como a indústria em expansão da
química orgânica.
• Em segundo lugar, entramos também agora
cada vez mais na economia de mercado de
consumo doméstico, iniciada nos Estados
Unidos, desenvolvida (na Europa ainda
modestamente) pela crescente renda das
massas, mas sobretudo pelo substancial
aumento demográfico dos países
desenvolvidos.
• Em terceiro lugar, uma reviravolta paradoxal
teve lugar. A era do triunfo liberal tinha sido
aquela era de fato do monopólio industrial
inglês, dentro do qual (com algumas notáveis
exceções) os lucros eram assegurados sem
muita dificuldade pela competição de pequenas
e médias empresas.
• A era pós-liberal caracterizava-se por uma
competição internacional entre economias
industriais nacionais rivais – a inglesa, a
alemã, a norte-americana; uma
competição acirrada pelas dificuldades
que as firmas dentro de cada uma destas
economias enfrentavam (no período de
depressões) para fazer lucros adequados.
A competição levava, portanto, à
concentração econômica, controle de
mercado e manipulação.
• O mundo entrou no período do
imperialismo. Além da rivalidade (que
levou as potências a dividir o globo entre
reservas formais ou informais para seus
próprios negócios) entre mercados e
exportações de capital, tal processo
também era devido à crescente nãodisponibilidade de matérias-primas na
maioria dos próprios países
desenvolvidos, por razões geológicas ou
climáticas.
• A Conferência de Berlim e a partilha da
África - Paul Kennedy
• No inverno entre 1884 e 1885, o chanceler
Bismarck convidou os principais líderes de
14 países a participarem de uma
conferência na capital do II Reich- a
Conferência de Berlim. Esta reunia chefes
de Estado de grandes potências
européias e Estados menores, e tinha
como objetivo chegar a um acordo sobre a
ocupação da África- acordos de comércio,
navegação e limites no Congo e na África
Ocidental- evitando choques imperialistas,
o que conduziria a um conflito europeu de
grande porte.
• O Japão não participou da
conferência por ser considerado
atrasado, apesar da sua
modernização, diferente dos Estados
Unidos que estavam na conferência
interessados nos assuntos sobre
comércio e navegação. A Rússia se
encontrava na conferência- mesmo
que seus interesses na África não
fossem muitos, estava por apoio à
França contra a Inglaterra.
• Na conferência acordou-se que as potências
deveriam assegurar que nos territórios
ocupados por elas deva existir uma autoridade
capaz de fazer respeitar os direitos, como a
liberdade de comércio e de trânsito.
• “As Potências (...) obrigação de assegurar, nos
territórios ocupados por elas (...) de fazer
respeitar os direitos adquiridos, a liberdade do
comércio e do trânsito nas condições em que for
estipulada”. (artigo 35).
• A Conferência de Berlim era a
manifestação mais concreta do fato de as
regiões menos desenvolvidas do mundo
estarem sendo rapidamente retalhadas.
• Um país com centenas de milhões de
camponeses pouco representaria. Por
outro lado, até mesmo um Estado
moderno seria ofuscado também se não
tivesse uma base produtiva industrial
suficientemente grande.
• “As potências bem sucedidas
serão as que tiverem maior base
industrial”, advertiu o imperialista
britânico Leo Amery. “Os povos
que tiverem o poder industrial e o
poder da inovação e da ciência
serão capazes de derrotar todos
os outros”, completava.
• O neocolonialismo europeu na África serviu ao
propósito de amenizar as tensões dentro da
Europa, ao exportar desentendimentos entre
fronteiras para outras regiões, evitando conflitos
bélicos e mantendo o equilíbrio de poder no
continente, conquistado desde 1815, com as
políticas do Congresso de Viena. Impedia, ainda,
pretensões das recentes nações naquele território.
• Novas aquisições expandiam suas áreas de
influência e, desta forma, representavam uma
vantagem estratégica. Do ponto de vista religioso,
ou mesmo a partir do debate de raças e da crença
de superioridade ariana, a colonização era uma
resposta para o sentimento de incumbência de
civilizar outras regiões, a qual justificava o processo
de colonização e exploração imperialista.
• Da formação de fronteiras artificiais, medidas e
determinadas pelos interesses dos detentores
do poder, resultou a proximidade de excolônias e metrópoles, a qual favoreceu
determinadas nações nas relações comerciais
bélicas e treinamento militar durante as guerras.
• Foi também fator gerador de instabilidade
política, resultado do ajuntamento de reinados e
sociedades distintas sob um só poder, eleitas e
administradas pelos europeus. Para conquistar
e controlar seus novos territórios, as nações
colonizadoras se valeram de políticas que
preteriam grupos sobre outros, através da
eleição de cargos públicos e de alto escalão, ou
restringindo o acesso à educação.
• Suas medidas estimularam as diferenças
sociais e incitaram sentimentos negativos
entre etnias e raças, as quais não
raramente conviviam em harmonia antes
da interferência europeia.
• A técnica conhecida como “dividir para
conquistar” foi mais um elemento que
favoreceu a instabilidade política na
região, a qual por sua vez foi responsável
por inúmeros golpes de Estado e produziu
diversos governos ditatoriais desde então.
• África minha
• Eduardo Galeano
• No final do século XIX, as potências
coloniais européias se reuniram, em
Berlim, para repartir a África.
Foi longa e dura a luta pelo botim colonial,
as selvas, os rios, as montanhas, os
solos, os subsolos, até que as novas
fronteiras fossem desenhadas e no dia de
hoje de 1885 foi assinada, "em nome de
Deus Todo-Poderoso", a Ata Geral.
• Os amos europeus tiveram o bom gosto de não
mencionar o ouro, os diamantes, o marfim, o
petróleo, a borracha, o estanho, o cacau, o café,
e óleo de palmeira, proibiram que a escravidão
fosse chamada pelo seu nome,
chamara de "sociedades filantrópicas" as
empresas que proporcionavam carne humana
ao mercado mundial.avisaram que atuavam
movidos pelo desejo de "favorecer o
desenvolvimento do comércio e da Civilização",
e, caso houvesse alguma dúvida, explicava, que
atuavam preocupados "em aumentar o bemestar moral e material das populações
indígenas".
• Assim a Europa
inventou o novo mapa
da África.
Nenhum africano
compareceu, nem
como enfeite, a essa
reunião de cúpula.
• A dominação da África
• Raízes do racismo
• A propalada superioridade da raça branca
era parte constitutiva da idéia de
“progresso”, lembra o historiador Eric
Hobsbawm.
• No século XIX, os maiores países
europeus passam a ser, com hierarquias
variadas, centros de poder imperial,
conquistando colônias na África e na Ásia.
• Havia um nó teórico a ser
desatado: como regimes
liberais, lastreados nas ideias
da Revolução Francesa
(1789), poderiam colonizar
nações inteiras, subjugando
povos e culturas a
seus desígnios?
• É nesse ponto que surgem as primeiras teorias
racialistas para justificar a superioridade
intelectual, física e moral do europeu branco. O
primeiro grande formulador foi o conde francês
Joseph-Arthur Gobineau (1816–1882).
• Diplomata, poeta, romancista e escultor,
Gobineau tornou-se conhecido após a
publicação de seu Ensaio sobre a desigualdade
das raças humanas (1855). Se os outros povos
eram inferiores, como poderiam ter os mesmos
direitos dos europeus?
• Ficara para trás a era dos monopólios
coloniais assentados no trabalho escravo.
Raça tinha outra função quando o
liberalismo tornou-se hegemônico na
economia internacional, na primeira
metade do século XIX.
• A superioridade racial passara a ser uma idéia
quase que legitimadora da divisão internacional
do trabalho e da ordem imperial, na qual o
fornecimento ininterrupto e a bom preço de
matérias primas era o combustível para o
funcionamento do capitalismo.
• Existia uma caracterização da
metrópole como ambiente branco,
adiantado, culto e refinado, em
oposição às colônias do sul,
habitadas por bárbaros de pele
escura ou amarela, incultos,
primitivos e, por isso mesmo,
necessitados do impulso civilizador
externo.
• A noção de superioridade racial passara a
ser legitimadora da ordem imperial, na
qual o fornecimento ininterrupto e a bom
preço de matérias primas era o
combustível para o funcionamento da
economia internacional.
• As teorias raciais surgiram para legitimar
uma concepção de mundo que pregava
liberdade, igualdade e fraternidade entre
brancos e que justificava a
superexploração de outras etnias.
• E a ideologia do racismo
passou a existir dentro de
cada país, mesmo dos da
periferia, como explicação
determinista para a dominação
de classe, o desnível social e
a europeização de suas
camadas dominantes.
• Toda uma “ciência” floresceu nas bordas
desse racismo civilizante, a justificar
guerras e massacres de dominação por
vários continentes.
• Essas idéias caíam como uma luva para a
tarefa de encontrar explicação lógica da
exploração predatória de recursos e
populações inteiras em favor dos centros
coloniais.
• Ser europeu e cosmopolita equivalia
a ser mais branco que os demais.
• Logo, a adoção de modos de vida e
hábitos de consumo dos países
centrais eram características
distintivas de uma camada patriarcal
rural brasileira que se transformava
em burguesia.
• Um complemento
• ERIC HOBSBAWM
• Era dos Impérios – Introdução
• “No verão de 1913, uma jovem se
formou na escola secundária em
Viena, capital do Império AustroHúngaro. Ainda era uma façanha
bastante incomum entre as moças da
Europa central.
• Para comemorar o
acontecimento, seus pais
decidiram presenteá-la com uma
viagem ao exterior, e como era
impensável que uma moça de
família de dezoito anos fosse
exposta ao perigo e à tentação
sozinha, procuraram um parente
que conviesse.
• “Felizmente, entre as várias famílias interligadas
que haviam saído de várias cidades pequenas
da Polônia e da Hungria nas gerações
anteriores e avançado para o Oriente rumo à
prosperidade e à educação, havia uma que fora
mais bem-sucedida que a média.
• Tio Albert construíra uma rede de lojas no
Levante – Constantinopla, Esmirna, Alepo,
Alexandria. No início do século XX não faltavam
negócios a serem feitos no Império Otomano e
no Oriente Médio, e a Áustria há muito era a
janela comercial da Europa central para o
Oriente”.
• “O Egito era ao mesmo tempo um museu vivo, próprio
para o aprimoramento cultural, e uma comunidade
sofisticada da classe média cosmopolita européia, com
quem era fácil se comunicar por meio da língua
francesa, que a moça e suas irmãs haviam aperfeiçoado
num internato nas vizinhanças de Bruxelas.
• O país continha também, é claro, os árabes. O tio Albert
ficou feliz em acolher sua jovem parenta, que viajou
para o Egito num navio a vapor do Lloyd Triestino,
saindo de Trieste, então o principal porto do Império
Habsburgo e também, coincidentemente, o lugar onde
residia James Joyce. A moça viria a ser mãe do autor
deste livro”.
• “Alguns anos antes, um rapaz também viajou
para o Egito, mas de Londres. Os antecedentes
de sua família eram consideravelmente mais
modestos.
• Seu pai, que emigrara da Polônia russa para a
Grã-Bretanha na década de 1870, marceneiro
profissional, ganhava seu precário sustento na
zona leste da Londres e Manchester, criando, o
melhor possível, uma filha de seu primeiro
casamento e oito filhos do segundo, a maioria
deles já nascida na Inglaterra”.
• “Só um de seus filhos teve talento ou
interesse pelos negócios. Apenas um dos
mais novos teve acesso a uma
escolaridade mais prolongada, tornandose engenheiro de minas na América do
Sul, que então fazia informalmente parte
do Império Britânico.
• Todos, contudo, procuravam
apaixonadamente dominar a língua e a
cultura inglesas e se anglicizaram com
entusiasmo”.
• “Um foi ser ator, outro levou avante os
negócios da família, um se tornou
professor primário, outros dois entraram
para o funcionalismo público em
expansão, trabalhando nos Correios.
• Acontece que a Grã-Bretanha ocupara o
Egito pouco antes (1882) e, assim, um
irmão acabou representando uma
pequena parte do Império Britânico – os
Correios e Telégrafos egípcios – no delta
do Nilo”.
• “Ele sugeriu que o Egito conviria a mais um de
seus irmãos, cujas principais qualificações para
ganhar seu sustento lhe teriam sido muitíssimo
úteis se ele não se visse realmente obrigado a
ganhá-lo: era inteligente, agradável, musical e
um bom esportista versátil, além de pugilista
peso-leve de nível de campeonato.
•
• Na verdade, ele era exatamente o tipo de inglês
que conseguiria e manteria um cargo num
escritório de navegação muito mais facilmente
“nas colônias” que em qualquer outro lugar”.
• Esse rapaz viria a ser o pai do
autor, que conheceu, assim, sua
futura esposa ali onde a
economia e a política da Era dos
Impérios, sem falar de sua
história social, os reuniu –
presumivelmente no Esporte
Clube dos arredores da
Alexandria, perto de onde
instalariam sua primeira casa.
• “É extremamente improvável que um
encontro assim tivesse acontecido
num lugar assim, ou que tivesse
levado ao casamento entre duas
pessoas assim em qualquer outro
período da história anterior ao
abordado neste livro.
• Os leitores devem ser capazes de
descobrir por quê”.
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