INVESTIGAÇÃO DE SURTOS EM SERVIÇOS DE SAÚDE COM ENFOQUE EM HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS Geraldine Madalosso - EPISUS/CVE/SP Etapas da Investigação de Surtos Investigação preliminar • Rever informações existentes • Determinar natureza, local e gravidade do problema • Confirmar o diagnóstico • Estabelecer uma definição de caso (tempo/lugar/pessoa) • Identificar e quantificar os casos • Curva epidêmica e Listagem de casos • Análise descritiva dos casos • Estabelecer a existência de um surto • Implementar e avaliar medidas de controle emergenciais Determinar a natureza, local e gravidade • • • • • Notificação Problema Período Local Número de casos Confirmação do diagnóstico Clinico • Médicos • Pacientes • Funcionários Vigilância • Critérios Diagnósticos Laboratorial Gastroenterites: surtos hospitalares Criar a definição de caso Definição de caso • Simples e fácil de aplicar • Aplicada sem viés a todas as pessoas investigadas • Inclui critérios clínicos e/ou laboratoriais • Restrições de tempo, lugar e pessoa – quem, quando, onde? Identificar e contar casos Listagem dos Casos Diversas Fontes • Busca ativa de casos internados • Prontuários de internações pregressas • Dados da CCIH • Vigilância epidemiológica Caracterização do surto no tempo: número de casos pela data/hora do início dos sintomas • Curva Epidêmica: 1) conhecer o início dos sintomas de cada pessoa (hora, data) 2) O número de casos é colocado no eixo Y e a unidade de tempo no eixo X 3) Período de Incubação 4) Período provável de exposição Como interpretar uma Curva Epidêmica: 1) Determinar o padrão da epidemia: fonte comum ou transmissão pessoa-a-pessoa, o tempo de exposição de pessoas suscetíveis e os períodos médios mínimo e máximo de incubação para a doença 2) Fonte comum, um foco/ponto - “epidemia de ponto” onde as pessoas se expuseram por um breve período de tempo (surgimento repentino de casos = pico) 3) “epidemia de fonte comum prolongada”: a curva epidêmica terá um platô, em vez de um pico 4) A disseminação pessoa-a-pessoa - “epidemia propagada” - deve ter uma série de picos mais altos progressivamente e cada um com seu período de incubação Curva epidêmica - 2003 SRAG entre Profissionais da Saúde no Canadá Curva epidêmica CURVA EPIDÊMICA - HORA DE INÍCIO DOS SINTOMAS DOS CASOS INVESTIGADOS DO SURTO DE GASTROENTERITE, NOS DIAS 18 E 19/04. OSWEGO, NEW YORK, 1971. 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 HORAS 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Curva epidêmica Funcionários de um Hospital Geral, 2005. 7 6 5 4 3 2 1 0 11: 00 12: 00 13: 00 14: 00 15: 00 16: 00 4/06 17: 00 18: 00 19: 00 20: 00 21: 00 22: 00 23: 00 00: 00 01: 00 02: 00 03: 00 04: 00 5/06 05: 00 06: 00 07: 00 08: 00 09: 00 10: 00 11: 00 12: 00 13: 00 14: 00 08: 30 6/06 Curva epidêmica Curva epidêmica Surto de Escabiose em Hospital, Espanha, 2003. Estabelecer a existência de um surto • • • • • Incidência no período pré-epidêmico Taxa de ataque: /pacientes-dia Incidência no período epidêmico Taxa de ataque: /pacientes-dia Aumento na incidência acima do esperado no período epidêmico Implementação de medidas de controle emergenciais • Detecção e tratamento dos casos, afastar se necessário. • Vigilância ativa de casos/contatos para aumentar a detecção precoce. • Coorte dos pacientes colonizados e/ou infectados. • Reforçar medidas de precaução e isolamento. • Reforçar lavagem de mãos. • Medidas sanitárias em relação aos alimentos, água, estabelecimentos, ambiente, etc.. • Lavanderia • Interromper a cadeia de infecção. Estudos epidemiológicos: • Epidemiologia Descritiva: • • • • possibilita a caracterização do surto no: Tempo: curso da epidemia, o tipo de curva e período de incubação Lugar: extensão geográfica do problema Pessoa: grupo de pessoas, faixa etária, exposição aos fatores de risco informam sobre a distribuição de um evento na população, em termos quantitativos: Incidência ou Prevalência Principais medidas de freqüência em Surtos • Tx de Incidência = Número de casos novos* X 1000 hab. Número de pessoas expostas ao risco* • Tx de Prevalência = Número de casos novos e antigos*X 1000 hab. Número de pessoas na população* • Tx de Ataque = número de de Doentes* X 100 número de comensais/população sob risco* Resultados Descritivos Características dos casos: “pessoa” SINAIS E SINTOMAS N % DIARRÉIA 30 83,3 COLICA 28 77,8 NAUSEA 19 52,8 CEFALEIA 12 33,3 VOMITO 10 27,8 FRAQUEZA 6 16,7 MALESTAR 6 16,7 EPIGASTRALGIA 4 11,1 Resultados Descritivos Características dos casos: “lugar” Unidade de Internação DOENTES TOTAL Tx Ataque A 4 12 33,3 B 16 18 88,9 C 2 7 28,6 D 14 22 63,6 Total 36 59 61,0 Resultados Descritivos Características dos casos: “pessoa” Resultados Descritivos Características dos casos Mediana Minimo Máximo Duração de Sintomas (dias) 01 00 06 Período de Incubação (horas) 11 01 44 Hora de Almoço (horas) 04/06/2005 12 11 13 Resultados Descritivos Características dos casos: “tempo” 7 6 5 4 3 2 1 0 11: 00 12: 00 13: 00 14: 00 15: 00 16: 00 4/06 17: 00 18: 00 19: 00 20: 00 21: 00 22: 00 23: 00 00: 00 01: 00 02: 00 03: 00 04: 00 5/06 05: 00 06: 00 07: 00 08: 00 09: 00 10: 00 11: 00 12: 00 13: 00 14: 00 08: 30 6/06 Resultados Descritivos Características dos casos 7 Período provável de exposição Pico máximo de casos 6 Período de incubação (mediana = 11horas) 5 4 3 2 1 0 11: 00 12: 00 13: 00 14: 00 15: 00 16: 00 4/06 17: 00 18: 00 19: 00 20: 00 21: 00 22: 00 23: 00 00: 00 01: 00 02: 00 03: 00 04: 00 5/06 05: 00 06: 00 07: 00 08: 00 09: 00 10: 00 11: 00 12: 00 13: 00 14: 00 08: 30 6/06 Estudos epidemiológicos • Epidemiologia Analítica: possibilita a identificação das causas/vias de transmissão do surto • • estudos comparativos - causa X efeito, exposição X doença • Principais desenhos para a investigação de surtos: • Coorte prospectiva ou retrospectiva • Caso-controle Estudo Retrospectivo de Coorte • Utilizado comumente para eventos ocorridos em espaços delimitados, populações bem definidas. • Cada participante é perguntado se foi exposto ou não e se ficou doente ou não. • Calcula-se a Taxa de Ataque (incidência da doença) e o Risco Relativo (RR) = Medida da doença entre expostos e não expostos. • Estudo aplicável, por exemplo, às creches e escolas, festas, espaços fechados, instituições. Estudo de Coorte Retrospectiva DOENTES a EXPOSTOS b NÃO-DOENTES POPULAÇÃO DOENTES c NÃO-EXPOSTOS NÃO-DOENTES d DESENVOLVENDO HIPÓTESES – EPIDEMIOLOGIA ANALÍTICA – PERGUNTAS BÁSICAS: em surtos de gastroenterite de causa alimentar – – – – (a) quem comeu/expôs-se à..... e ficou doente; (b) quem comeu/expôs-se e não ficou doente; (c) quem não comeu/não se expôs e ficou doente; (d) quem não comeu/não se expôs e não ficou doente. Risco Relativo (RR): RR = TA Doentes que comeram (expostos)_ TA Doentes que não comeram (não expostos) • Isto significa que as pessoas que ingeriram este alimento apresentam uma probabilidade X vezes maior de tornarem-se doentes do que os que não ingeriram. Estudo de Caso-Controle • Utilizado para populações não definidas, espalhadas. • Selecionam-se os casos (pacientes) e buscam-se controles (sadios), perguntandose sobre as várias exposições suspeitas. • Odds Ratio (OR) representa a medida entre a exposição e a doença. • Estudo aplicável ao município como um todo ou a bairros e ruas ou estudos de doenças/quadros mais raros. Estudo de Caso-Controle: EXPOSTOS a DOENTES NÃO-EXPOSTOS b POPULAÇÃO EXPOSTOS c NÃO-DOENTES NÃO-EXPOSTOS d Tabela 2x2 Exposição Doentes NãoDoentes Total Expostos A B A+B NãoExpostos Total C D C+D A+C B+D A+B+C+D • Tx de Ataque = Doentes Expostos = A/A + B • Tx de Ataque = Doentes Não-Expostos = C/C + D • RR = (A/A + B)/(C/C + D) RA = (A/A + B) - (C/C + D) • OR = AD/BC Relatório Final • • • • Sumário Conclusões Recomendações e medidas de controle Comunicação dos resultados Escabiose: surtos hospitalares • Transmissão direta pessoa-pessoa (pele-pele) ou indireta (roupas) • Período de Incubação: contato prévio – 1 a 4 dias; ausência de infestação anterior – 2 a 6 semanas; média de 2 semanas. • Diagnóstico perdido à admissão: sarna norueguesa, sarna atípica em imunodeprimidos • Atraso no diagnóstico leva à disseminação para pacientes, profissionais de saúde, familiares • Falta de proteção individual: uso de EPI • Tratamento de casos, afastamento de profissionais • Acompanhamento prolongado de contatos (período máximo de incubação de 6 semanas) e profilaxia Escabiose: surtos hospitalares Toxinfecção alimentar por Salmonella enteritidis em um Hospital Psiquiátrico em Dublin, Irlanda. • Almoço dia 27/ago: sobremesa = mousse de chocolate (OR=27,8) • 65 casos: 36 pacientes e 29 funcionários. • maior taxa de ataque entre funcionários da cozinha = 36% • Estudo de caso-controle • 40 amostras fezes coletadas/38 culturas positivas • 1 amostra de mousse positiva (ovos crus) Endereços eletrônicos • www.cve.saude.sp.gov.br <Divisão de Infecção Hospitalar> • www.anvisa.gov.br <Serviços de Saúde> <Controle de Infecção> • www.cdc.gov Investigação de Surtos em Serviços de Saúde Exercícios: • Surto de Escabiose em Hospital Psiquiátrico • Surto de Gastroenterite em Hospital Psiquiátrico Período de incubação: Mediana é uma medida de tendência central. • Assim o cálculo da mediana se expressa: Para amostras de número N ímpar a mediana será o valor da variável que ocupa o posto de ordem N +1 2 Para amostras de número N par a mediana será a média aritmética dos valores que ocupam os postos de ordem N e N +2 2 2 Período de incubação: N par: a Mediana a será a média aritmética dos valores que ocupam os postos de ordem N 2 e N +2 2 Exercício de gastroenterite: 110/2=55º e 110+2/2=56º 55+56 = 10 +11 /2 = 10,5 horas 2 PI (horas) N N acumulado 8 24 24 9 12 36 10 19 55 11 9 64 12 total 46 110 110 Período provável de infecção • Conhecendo o Período de Incubação e o pico de início dos sintomas, podemos identificar o período provável de infecção: • Ex: Entre 21:00 e 22:00 horas – 10,5 horas (mediana do PI) = Período provável de exposição foi entre 10:30 e 11:30 horas do mesmo dia – no almoço!