A Era dos Pais Apostólicos Wanderley Pereira da Rosa Comunidades gentílico-cristãs, posteriores a Paulo Fontes: três grupos – escritos neotestamentários posteriores a Paulo; – os pais apostólicos; – evangelhos e atos dos apóstolos apócrifos. Os Pais Apostólicos Primeira Carta de Clemente (95/96 d.C.) – Escrita pelo presbítero Clemente de Roma (ca. 50-110) à Igreja de Corínto.Tema: exortação à submissão. Na Igreja Antiga, era tida por canônica. Primeira Carta de Clemente O ciúme é a principal causa dos desentendimentos que ocorrem na igreja. A rivalidade e a inveja levam ao fratricídio, como no caso de Caim. Os cristãos serão bons uns para com os outros se tiverem a mente e o coração voltados para Cristo. Primeira Carta de Clemente O caminho para a paz interna da igreja é a plena obediência de todos às autoridades estabelecidas. Cristo é o Senhor único da igreja. Ele a governa primeiramente por meio dos apóstolos, e subseqüentemente pelos seus sucessores diretos, bem como por meio dos bispos apontados por eles. Primeira Carta de Clemente Clemente dá início à diferenciação entre Clero e leigos. Daí surge a igreja clerical O impacto da carta de Clemente implicou no surgimento de uma vasta literatura chamada de “Clementina” São textos pseudepígrafos escritos nos séculos segundo e terceiro Os Pais Apostólicos Cartas de Inácio de Antioquia (110 a 117 d.C.) – escritas pelo Bispo Inácio são sete escritos: Éfeso, Magnésia, Trales, Roma, Filadélfia, Esmirna e Policarpo. Tema: episcopado monárquico. Apresenta a mais antiga designação da igreja como “katholiké ekklesia” (Esmirna 8:2) Cartas de Inácio de Antioquia As igrejas devem reconhecer a autoridade dos apóstolos e daqueles que foram apontados por eles como seus sucessores. A unidade e a paz da igreja depende da obediência aos bispos, presbíteros e diáconos. Cartas de Inácio de Antioquia A autoridade da igreja está diretamente conectada à autoridade dos seus bispos. Quem não obedece aos bispos é rebelde contra a Igreja de Cristo. Os bispos são os responsáveis pelo serviço da Eucaristia. A igreja é o “local do sacrifício” (thysiasterion). Cartas de Inácio de Antioquia “Evitem as divisões como o princípio do mal. Sigam seu Bispo, como Jesus Cristo seguiu ao Pai; e aos presbíteros, como aos apóstolos. Respeitai aos diáconos. Ninguém faça coisa alguma em relação à igreja à parte de seu bispo. Uma eucaristia válida é estar sob o bispo ou a alguém a quem ele incumbiu. Onde quer que o bispo estiver, que o povo também esteja, assim como onde Jesus estiver, ali está a igreja universal (católica)”. Cartas de Inácio de Antioquia Através da Eucaristia fica manifesta a comunhão dos cristãos entre si e da igreja com Cristo. A Eucaristia é remédio para a alma: “Partindo o mesmo pão, o qual é medicamento de imortalidade, antídoto para não morrer, mas, antes, para viver em Jesus Cristo para sempre”. Cartas de Inácio de Antioquia Onde está Cristo e o seu sacrifício, ali está a verdadeira igreja cristã. O cristão vive, na imitação de Cristo, uma vida de amor e piedade por causa da esperança que o move. O martírio é a prova maior e final de um verdadeiro discípulo de Cristo. Cartas de Inácio de Antioquia A fé, a esperança e o amor são as marcas distintivas do cristão. A esperança cristã consiste na vida eterna e imortal. Ela se fundamenta necessariamente na vida terrena de Jesus, o Cristo, na sua morte e sua ressurreição corpórea. Os Pais Apostólicos Carta de Policarpo (ca. 135 d.C.). Escrita pelo Bispo Policarpo de Esmirna (69 a 155) aos Filipenses. Carta de Policarpo A pureza e o amor são o fruto da fé. A vida de Jesus é o exemplo de pureza e de amor que deve ser seguido por todos os cristãos. Todo O cristão é um imitador de Cristo. martírio é a prova de uma fé verdadeira. Carta de Policarpo O cristão deve adorar somente a Cristo como Deus, mas também deve venerar os mártires, pois são os heróis exemplares da fé. Policarpo também sofreu o martírio de forma dramática, e o relato do mesmo, O Martírio de Policarpo, foi um texto muito popular nos primeiros séculos da era cristã. Carta de Policarpo Os cristãos são cidadãos de um reino celeste. Os ensinos de Cristo são a lei deste Reino, lei que deve ser obedecida. Quem não obedece a lei de Cristo não reconhece sua soberania e não pertence ao seu Reino. Carta de Policarpo O cristão deve ser um bom cidadão, obedecer às leis, viver irrepreensivelmente e obedecer às autoridades civis, mesmo quando estas odeiam e perseguem os cristãos. O Martírio de Policarpo “...Felizes e corajosos foram todos os heróis da fé... Atribuímos a Deus...os nossos progressos na piedade. Não há quem não se maravilhe ante a intrepidez, a paciência e o divino amor destes confessores. Foram dilacerados pelos flagelos até o extremo de ver-se-lhes a estrutura de suas carnes, veias e artérias profundas. Suportaram firmes, provocando a comiseração dos espectadores. Tinham alcançado tanta elevação espiritual que não soltavam lamentos nem gemiam. Presenciando seu martírio, compreendíamos que, as testemunhas de Cristo estavam fora do próprio corpo ou, antes, que o senhor as assistia com sua presença... O Martírio de Policarpo “...Possuídos pela graça de Cristo, desprezavam os tormentos; no transcurso de uma hora ganhavam a vida eterna; o mesmo fogo os refrescava, este fogo de carrascos; interiormente pensavam num outro fogo, no fogo inextinguível...Finalmente, condenados às feras, os confessores tiveram que enfrentar tormentos espantosos. Foram estirados sobre cavaletes, submetidos a todo gênero de torturas, para que a duração do suplício os constrangesse a negar sua fé... O Martírio de Policarpo “...Não faltaram maquinações dos demônios, mas graças a Deus nenhum deles foi vencido. Germânico, corajoso sem par, fortalecia a fraqueza dos outros com o exemplo de sua intrepidez; ele foi maravilhoso no combate contra as feras. O procônsul o conjurava a que se apiedasse de sua juventude, mas Germânico, desejo de sair quanto antes deste mundo, atraía sobre si a fera batendo nela. O imenso populacho, prorrompeu em gritos: “Morte aos ateus! Prenda-se a Policarpo!”... O Martírio de Policarpo “...Somente um fraquejou: Quinto, um frígio acabado de chegar de sua terra; a visão das feras infundiu-lhe o pavor. Quinto era, no entanto, quem havia estimulado os irmãos para que se denunciassem a si próprios espontaneamente e lhes tinha dado o exemplo. Quinto terminou abjurando e sacrificando. Eis por que, irmãos, não aprovamos aqueles que se entregam espontaneamente; aliás, este não é o ensino dos Evangelhos... O Martírio de Policarpo “...O mais admirável dentre todos os mártires foi Policarpo...acatando a opinião da maioria se afastou para uma pequena fazenda, aí morando com alguns companheiros. Enquanto orava, três dias antes de sua prisão, caiu num arrebatamento espiritual e viu sua almofada ardendo. “Hei de ser queimado vivo!”. Como os que o andavam procurando não deixassem de persegui-lo, mudou de esconderijo... O Martírio de Policarpo “...Tendo ouvido a voz dos policiais, desceu e entrou em conversação com eles. Sua grande idade e calma causaram admiração: não compreendiam que se fizesse tanto alarde para prender um homem tão velho. Policarpo providenciou-lhes comida e bebida, a despeito da hora avançada. Não solicitou outra recompensa, senão uma hora para orar. Durante duas horas, perseverou orando em voz alta. Todos olhavam para ele estupefatos. Muitos lamentavam por aprisionarem ancião tão divino... O Martírio de Policarpo “...Ao penetrar no recinto, uma voz celestial retumbou: “Bom ânimo, Policarpo, mostra-te viril”. Ninguém percebeu quem tinha falado, mas irmãos nossos presentes ouviram a voz. O procônsul tentou persuadi-lo: “Considera a tua idade! Jura pelo gênio de César, retrata-te, grita: abaixo os ateus!”, Policarpo, olhando para os pagão que enchiam as escadarias do estádio, e acenando para eles, exclamou: “Abaixo os ateus!”. O procônsul insistiu: “Jura, e te soltarei. Insulta a Cristo”. Policarpo resposndeu: “Oitenta e seis anos há que sirvo a Cristo. Cristo nunca me fez mal. Como blesfamaria contra meu Rei e Salvador?” O Martírio de Policarpo “...O procônsul disse: “Tenho feras a meu dispor; se não te retratas, entregar-te-ei a elas”. Ao que respondeu Policarpo: “Ordena. Quando nós cristãos morremos, não passamos do melhor para o pior”. Disse ainda o procônsul. Se não te retratas, mandarei que te queimem na fogueira, já que desprezas as feras”. Disse então Policarpo: “Ameaças-me com o fogo que arde uma hora e se apaga. Conheces tu o fogo da justiça vindoura? Não demores. Sentencias teu arbítrio”... O Martírio de Policarpo “...O desenlace precipitou-se. O povo amontoou lenha e ramos, distinguindo-se, como de costume, os judeus. Tanta era sua santidade que, antes de seu martírio, já era objeto de veneração... Depois de Policarpo orar, os carrascos acenderam a fogueira e a chama alçou-se alta e brilhante. Neste momento presenciamos um sinal. O fogo tomou a forma de uma abóbada ou de uma vela inchada pelo vento e rodeou o corpo do confessor. Policarpo estava de pé não como carne que queima... O Martírio de Policarpo “...mas como pão que se doura ou como ouro que se purifica. Sentíamos um perfume delicioso como de incenso ou aromas preciosos. Finalmente os criminosos, vendo que seu corpo não podia ser destruído pelo fogo, mandaram o verdugo para o matar com a espada. Da ferida saiu uma pomba e brotou uma torrente de sangue tal que extinguiu totalmente o fogo. A enorme multidão maravilhava-se da diferença entre infiéis e eleitos... Os Pais Apostólicos Carta de Barnabé (130/135 d.C.). É antijudaico, faz interpretações alegóricas do AT e descreve os dois caminhos para a salvação: o da luz e o das trevas Os Pais Apostólicos Fragmentos de Papias (120/160 d.C.). Trata-se de trechos do escrito Explicações de Palavras do Senhor. Papias, Bispo de Hierápolis (c. 130) Fragmentos de Papias “Não hesitarei em comunicar-vos, juntamente com minha interpretação, tudo quanto outrora aprendi dos mais antigos, confiando-o cuidadosamente à minha memória... Toda vez que encontrei alguém que conversou com os antigos, perguntei-lhe diligentemente acerca dos ditos destes, do que André, Pedro, Filipe, Tomé, Tiago, João, Mateus, ou qualquer outro Discípulo do Senhor, costumavam narrar. Sempre pensei que tiraria menos proveito de livros e muito mais da palavra viva dos sobreviventes” Os Pais Apostólicos Didaquê (100/150 d.C, talvez 80 d.C.). Redescoberta em 1883. Contém mandamentos éticos; prescrições para a vida de culto, batismo, jejum, oração e eucaristia; prescrições para a vida em comunidade, fala de pregadores itinerantes, profetas, mestres, eleição de epíscopos e diáconos. Didaquê “Quanto ao batismo, procedam assim: Depois de ditas todas essas coisas, batizem em água corrente, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Se você não tem água corrente, batize em outra água; se não puder batizar em água fria, faça-o em água quente. Na falta de uma e outra, derrame três vezes água sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Os Pais Apostólicos Segunda carta de Clemente (135/140 d.C.). Não foi escrita por Clemente, mas por um presbítero em Roma ou Corinto. Apresenta citações de palavras de Jesus, talvez tomadas do Evangelho Egípcio. Pastor de Hermas (140 d.C.). É um apocalipse. Está dividido em 05 visões, 12 mandamentos e 10 comparações. Contém prescrições éticas para um reavivamento da comunidade