Distúrbios do Metabolismo Ácido-Base • ANGELO MASULLO • BERNARDO CAMPOS • BRUNA SUZARTE • CAROLINA MARQUES • DANIEL BARROCAS • D AV I D B R A H E • FILIPE TEIXEIRA • GABRIEL CONDEIXA • SABRINA KARLA • VITOR GUERHARDT Introdução ao Tema - pH arterial sistêmico (normal): 7.35 a 7.45 - Mecanismos fisiológicos de controle da concentração de H+ - Sistema Tampão – imediato - Regulação pulmonar - Regulação renal Longo prazo Sistema Tampão Sistema que minimiza alterações na concentrações de H+ Vários componentes: Bicarbonato Hemoglobina Proteínas Plasmáticas Amônia Fosfato Tampão Bicarbonato Principal tampão plasmático Controle imediato das concentrações de H+ pelo seguinte processo: CO2 + H2O ↔ H2CO3 ↔ H+ + HCO3 Tamponamento limitado, em vista da depleção rápida do bicarbonato no plasma Controle renal – regeneração de bicarbonato e eliminação de H+ Controle pulmonar – eliminação de CO2 Tampão Hemoglobina CO2 + H2O ↔ H2CO3 ↔ H+ + HCO3 Diferentes tecidos – CO2 se difunde para dentro da hemácia, elevando a formação de H2CO3, e assim de H+ e HCO3- . O H+ se liga à hemoglobina Nos pulmões – mínima concentração de CO2 desloca reação para formação de gás, forçando a liberação de H+ Tampão Proteínas Plasmáticas Sais ácidos ou alcalinos – fixam ou liberam H+ Em geral têm cargas negativas – atuam recebendo H+ Albumina é o principal tampão de proteína plasmático Regulação Respiratória Controle em termos de minutos a horas Regula eliminação de CO2 através da freqüência respiratória Regulação neural pela concentração de H+ Elevação da [H+] – ↑ freqüência respiratória, ↑ eliminação de CO2 Diminuição da [H+] - ↓ freqüência respiratória, ↓ eliminação de CO2 Controle Renal Controle em termos de horas a dias; duradouro Principais componentes: Reabsorção indireta de bicarbonato (via difusão de CO2) Excreção de H+ Excreção de amônia Regeneração de Bicarbonato Indiretamente – difusão de CO2 Praticamente 100% do filtrado é reabsorvido Principalmente (70-85%) ao nível do túbulo proximal 10-20% na alça de Henle Excreção de H+ Principalmente pela secreção tubular Bombas de troca com Na+, H+ ATPase e H+/K+ ATPase Influência da aldosterona: Retém água e sódio (aumenta o VEC) Aumenta a excreção de H+ Aumento do VEC – diminuição da reabsorção de HCO3 Sem modificação ácido-básica por si só Mecanismo de acidez titulável – excreta ácidos fixos sem perda de HCO3- Acidose pH abaixo de 7.35 Origens: Metabólica Respiratória Acidose Metabólica Diminuição primária nas concentrações de bicarbonato Desequilíbrio entre produção de excreção de ácido Resposta compensatória - ↑ ventilação eliminando CO2 Causas: Acidose urêmica Aumento da produção de ácidos endógenos (lactatos e cetoácidos, por diabetes, ingestão de álcool ou inanição) Acúmulo de ácidos endógenos (insuficiência renal) Drogas (AAS, metanol) Perda de bicarbonato (pelo pâncreas/árvore biliar, diarréias) Acidose hiperclorêmica (hipo ou hipercalemia renal ou orgânica) Acidose Respiratória Elevação na pCO2 Redução no pH arterial e variável elevação na [HCO3-] Causas: Doença pulmonar grave/crônica Fadiga dos músculos respiratórios Obstrução das vias aéreas (corpo estranho, edema, broncoespasmo) Anormalidade no controle neural da ventilação (síndrome de Guillain-Barré, miastenia gravis) Alcalose pH arterial acima de 7.45 Origens: Metabólica Respiratória Alcalose Metabólica Elevação de bicarbonato no plasma Resposta compensatória – a ventilação alveolar é diminuída para aumentar a pCO2 Causas: Depleção de volume / aumento de volume Aumento da freqüência respiratória (dor, ansiedade, uso de salicilatos, hipermetabolismo, insuficiência hepática) Hipertensão Deficiência de K+ Hiperaldosteronismo Hipereninemia Síndrome de Bartter e de Gitelman Alcalose Respiratória Diminuição da pCO2, aumento do pH e variável, diminuição da concentração plasmática de bicarbonato Resposta compensatória - hiperventilação alveolar Causas: Estimulação primária do quimiorreceptor central (hiperventilação cortical, endotoxemia, gravidez) Hipóxia secundária à doença pulmonar ou anemia e ventilação mecânica Distúrbios Ácido-Base Mistos Mais de um fator envolvido no desequilíbrio, podendo afetar tanto mecanismos que controlam a acidose quanto a alcalose Geralmente observados nos pacientes em unidades de terapia intensiva Exemplo: Pacientes com cetoacidose diabética que desenvolvem problema respiratório independente, com conseqüente acidose ou alcalose respiratórias Dados Laboratoriais Gasometria normal: pH = 7.35 – 7.45 HCO3 = 24 pCO2 = 40 H+ = 24 x pCO2 = 40 HCO3 Ânions GAP: Cálculo dos ânions não medidos (Proteínas, PO4--, SO4--, Ácidos orgânicos) Ajuda na diferenciação da causa da acidose Caso Clínico História clínica ID: M.T., 90 anos, sexo feminino, branca. HDA: Síndrome gripal que iniciou com prostração ,evolui com febre de 38°C em dois picos. Teve pequena melhora do quadro, mas há 5 dias piorou com tosse persistente, dispnéia progressiva aos pequenos esforços, anorexia, desidratação, disfagia, xerostomia, estando poliqueixosa. Na ocasião não obteve atendimento médico e iniciou Azitromicina recomendada por telefone por seu médico (SIC), que fez uso por 3 dias até a data da internação (28/08). Não deambula há 4 dias. No momento da internação apresentava dispnéia e taquipnéia, sendo diagnosticada com síndrome gripal evoluindo a pneumonia comunitária e sepse. HPP: HAS grau 1, IRC não tratada, fibrilação atrial no ECG, artrite reumatóide não tratada. Caso Clínico Exame físico na admissão (28/08) Sinais vitais: PA: 100 x 50 mmHg ; FC: 76 bpm ; FR: 32 irpm ; Temp.: não aferida (afebril ao toque) LOTE, pouco reativa, desidratada, dispnéica, acianótica, anictérica, hipocorada, faringe hiperemiada, sem adenomegalia. AC.: RC Irregular, 3T, sem sopros ou extrassístoles, bulhas hipofonéticas. AR.: MV diminuído difusamente, estertores crepitantes em HTD. Abd.: Flácido, peristático, indolor a palpação superficial e profunda, sem massas ou visceromegalias. MMII.: Musculatura hipotônica e hipotrófica, pulsos pediosos presentes e simétricos; joelhos “inchados”. Caso Clínico Dados laboratoriais alterados (28/08) Gasometria: pH: 7,07 ; [HCO3-]: 9,6 mmol/L Glicemia capilar: 152 mg/dL Creatinina: 3,6 ng/mL Uréia: 167 mg/dL Hemograma: Htc: 28,4% Leucograma: leucócitos: 24.200 /mm³ Caso Clínico Raio X Infiltrado pulmonar difuso em HTD de grande extensão Conduta Iniciou hidratação e Ceftriaxona Melhora do quadro Manteve dispnéia Caso Clínico Evolução (29/08) #D2IH #Pneumonia comunitária #Anemia moderada (Hb: 9 g/dL) #Artrite reumatóide não tratada #IRC #Desidratação moderada #HAS grau 1 Caso Clínico Evolução (29/08) Alterações: FR: 28 irpm ; dispnéia mantida grau 3+/4+; AC: RC Irregular, 3T; presença de extrassístoles 23h: Cianose central Recusou nebulização Caso Clínico Evolução (30/08) #D3IH Alterações: Estado geral ruim, desorientada, dispnéica em ar ambiente, não tolerando retirada da macronebulização. Hipocorada (3+/4+), hipoidratada (2+/4+), cianótica (1+/4+), PCP lentificada. AC: Fibrilação atrial, RC Irregular, P2>A2. AR: MV universamente diminuído, roncos e sibilos difusos. Abd.: Distendido, não peristáltico, indolor às palpações. MMII: Pulsos pediosos não palpáveis, cianose de extremidades. Caso Clínico Colocada em ventilação não-invasiva e início de procura de vaga no CTI. Após piora do quadro, foi chamado o plantão geral, que solicitou nova gasometria. Gasometria arterial: pH: 7,145 ; pCO2: 25,2 mmHg ; pO2: 114mmHg ; [K+]: 5,2 mEq/L ; [Ca+2]: 0,97 mEq/L ; [HCO3-]: 10,3 mmol/L. Prescrita nebulização com Berotec + Atrovent, Hidrocortisona 500mg. Apresentou sibilos após a nebulização. Caso Clínico Pelo Plantão Geral (30/08): Vigil, ansiosa, roncos e sibilos em HTD, RC Irregular. CPAP por 30 min com melhora do estado geral, que voltou a piorar 1 hora após, apresentando FR: 35 irpm, com cianose periférica. Realizada intubação orotraqueal e pedidos novos exames. Leucograma: leucócitos: 29.000 /mm³ Uréia: 211 mg/dL Creatinina: sem kit Diurese em 10h < 100mL Gasometria: pH: 6,9 Gasometria (acompanhamento, às 19:35 h): pH: 7,07 ; pO2: 57,2 mmHg ; pCO2: 37 mmHg. Raio X: Derrame pleural e congestão pulmonar. Caso Clínico Evolução (31/08): #IRC IRA pré-renal (?) Alterações: Diurese de 125 mL e infusão de 3870 mL (balanço hídrico: 3745 mL) PA: 166 x 85 mmHg ; FC: 101 bpm ; FR: 24 irpm Estado geral ruim, hemodinamicamente instável, com infusão de Noradrenalina 0,41µg/kg/min em 1mL/h; ventilação mecânica com TOT; sedada com Midazolan 8mg (RAMSAY VI); hipocorada (2+/4+), hipoidratada (1+/4+) AC: Extrassístoles isoladas AR: MV diminuído em base esquerda, estertores crepitantes em base direita Caso Clínico Evolução (31/08) Desenvolveu fibrilação atrial e hipotensão, sendo realizado cardioversão elétrica, primeiro de 100J monofásico, entrando em fibrilação ventricular, seguido de novo choque de 360J monofásico com volta ao ritmo sinusal Prescrito Furosemida 100mg Gasometria: pH: 7,07 ; pCO2: 30,4 mmHg ; pO2: 128 mmHg ; [K+]: 6,5 mEq/L ; [Ca+2]: 1,97 mEq/L ; [HCO3-]: 9,7 mmol/L. Caso Clínico Após Round (31/08) Levantada a hipótese de SRAG por Influenza A Colhido swab de nasofaringe Indicação de tratamento com Oseltamivir (caso grave) Hidratação excessiva + IRC Edema pulmonar Indicação de 5 ampolas de Lasix® Em caso de morte Necrópsia Caso Clínico Evolução (31/08) 20:30h Óbito por falência múltipla de órgãos Hipóteses Diagnósticas Infecção viral respiratória (com SRAG) Pneumonia com sepse Hipóteses Diagnósticas Síndrome Respiratória Aguda Grave Influenza A Epidemiologia atual Fatores de risco Evolução grave Sintomas Hipóteses Diagnósticas Critérios para suspeita de DRAG (Protocolo de H1N1/MS) “Indivíduo de qualquer idade com doença respiratória aguda caracterizada por febre superior a 38ºC, tosse E dispnéia, acompanhada ou não de dor de garganta ou manifestações gastrointestinais.” Sinais e sintomas que devem ser observados: ↑FR (> 25 irpm) Hipotensão Em crianças: batimento de asa nasal, tiragem intercostal, desidratação e inapetência Hipóteses Diagnósticas Critérios para suspeita de DRAG (Protocolo de H1N1/MS) Alterações laboratoriais Leucocitose, leucopenia ou neutrofilia Raio X de tórax Infiltrado intersticial localizado ou difuso ou presença de área de condensação Fatores de risco Idade < 2 anos ou > 60 anos Imunodepressão (câncer, HIV, imunossupressores) Condições crônicas (hemoglobinopatias, DM, cardiopatias, pneumopatias e doenças renais crônicas Hipóteses Diagnósticas Pneumonia com sepse Pneumonia (Sintomas) Febre Taquicardia secundária Calafrios Sudorese Tosse seca ou produtiva com escarro mucóide, purulento ou sanguinolento Dispnéia variável Outros: TGI, fadiga, cefaléia, mialgia, artralgia Hipóteses Diagnósticas Pneumonia com sepse Pneumonia (Exame Físico) Taquipnéia Uso de musculatura acessória FTV aumentado Submacidez ou macicez à percussão Estertores, sopros brônquicos e atrito pleural Em idosos: clínica pouco evidente; confusão com poucos sinais clínicos Estado grave: Hipotensão e falência de órgãos Hipóteses Diagnósticas Pneumonia com sepse Sepse Febre ou hipotermia Taquipnéia Taquicardia Desorientação, confusão Hipotensão com acrocianose Manifestações cutâneas Manifestações TGI Leucitose Hipóteses para acidose metabólica IRC Reabsorção de HCO3- deficiente Excreção de H+ deficiente Clínica Cansaço e dispnéia Náuseas e vômitos Vasodilatação, taquicardia, hipotensão Aumento de células brancas e hiperglicemia Hipercalemia Hiperfosfatemia Hiperuricemia Hipercalcemia Hipóteses para acidose metabólica Acidose urêmica Alteração no anion gap Menor reabsorção de bicarbonato Produção inadequada de amônia IRC→ excreção insuficiente de H+ Hipóteses para acidose metabólica HAS Ateroesclerose Isquemia nas arteríolas pré-glomerulares Hipoperfusão renal Papel do Sistema Renina IRC Hipóteses para acidose metabólica Artrite reumatóide Imunocomplexos Vasculite Deposição de amilóide Menor TFG Tratamento IRC+Acidose Metabólica Manter [HCO3-]- via oral Manter balanço de bicarbonato Furosemida pH<7.2- Bicarbonato de Sódio EV, na dose: HCO3-= 25-[HCO3-]x H2O(kg)/2 OBRIGADO! Referências Bibliográficas Livro Harrison, Medicina Interna; Livro Cecil, Medicina Interna; Protocolo para diagnóstico e manejo clínico de casos de Influenza A, Ministério da Saúde; Livro Alterações do Equilíbrio Hídroeletrolítico e Ácidobásico, Goldberger;