Quando ingressei na vida pública, há cinco décadas, eu apertei o

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Reflexão de um Senador
Quando ingressei na vida
pública, há cinco décadas, eu
apertei o botão de subida do
elevador da política, no seu
sentido mais puro.
E ele subiu.
Parou em muitos andares.
Abriu e fechou.
Muitas vezes, parecia que as
portas emperravam, presas a
grades e a paus-de-arara.
Mas, mesmo assim, abriam-se,
com o esforço de todos os
passageiros.
Havia uma voz, que
anunciava cada etapa
dessa nossa subida, na
busca do destino
almejado por todos nós.
"Liberdade",
"democracia", "anistia",
"diretas-já".
Não era uma voz interna.
Ela vinha das ruas, e
ecoava de fora para
dentro.
Vi gente descer e subir, em cada um dos andares
deste edifício político.
Comigo, subiram Ulysses, Tancredo, Teotônio.
Já nos primeiros andares, vieram Covas, Darcy.
Mais um ou outro andar, Lula, Dirceu, Suplicy.
Outros mais, Marina, Heloísa.
De repente, o elevador parou entre dois andares.
Alguém mexeu, indevidamente, no painel.
Parece que alguns resolveram descer e fizeram mau
uso do botão de emergência.
O Covas, o Darcy, o Ulysses, o Tancredo, o Teotônio
já haviam chegado a seus destinos.
Sentimos, então, uma sensação de
insegurança e de falta de referências.
Apesar dos brados da Heloísa, parecia que
nada poderia impedir a nossa queda livre.
A cada andar, uma outra voz, agora de
dentro para fora, anunciava, num ritmo
rápido e seqüencial:
"PC", "Orçamento", "Banestado",
"Mensalão", "Sanguessugas", "Navalha",
"Xeque-Mate".
Alguns nomes, eu nem consegui decifrar,
tamanha a velocidade da descida.
E o elevador não parava.
Nenhuma porta se abria.
Haveria o térreo, de onde poderíamos, de novo,
ganhar as ruas.
É que imaginávamos que seria o fundo do poço
do elevador da política.
Qual o quê, não sabíamos que o nosso edifício
tinha, ainda, tantos, e tão profundos, subsolos.
Daí, a sensação, cada vez mais contundente, de
que o baque seria ainda maior.
Quantos seriam os subsolos?
Até que profundezas suportaríamos nessa queda
livre?
Mais uma vez de repente, o elevador parou,
subitamente.
Uma fresta, uma sala, uma discussão acalorada.
Troca de insultos.
Uma reunião da Comissão de Ética da Torre
Principal do Edifício.
O Síndico teria pago suas contas pessoais com o
dinheiro do Condomínio, através do funcionário do
lobby de um outro edifício.
E, por isso, teria, também, deixado de pagar pelos
serviços de manutenção do elevador.
Mais do que isso, o zelador também não havia
recebido o seu sagrado salário, para o pão, o leite, a
saúde e a educação da família.
Idem o segurança.
Mas, havia algo estranho naquela reunião:
os representantes dos condôminos, talvez por medo
de outros sustos semelhantes, em outros
solavancos do elevador, defendiam, solenemente, o
Síndico.
Ninguém estava interessado em avaliar a veracidade
das suas informações.
Nem mesmo as contas do Condomínio.
Queriam imputar culpa ao zelador e ao segurança.
Ou, quem sabe, teria o tal Síndico informações
comprometedoras, gravadas nos corredores
soturnos do edifício, a provocar tamanha ânsia
solidária?
Não se sabe, mas, tudo indica, isso jamais será
investigado, enquanto vigorar a atual Convenção de
Condomínio.
Há que se rever, portanto, essa
Convenção.
Há que se consertar esse elevador.
Há que se escolher um novo
ascensorista.
Há que se eleger um novo síndico.
Há que se alcançar o andar da ética.
A voz das ruas tem que ecoar, mais alto,
nos corredores deste edifício.
A voz de dentro, parece, insiste em
continuar violando os painéis de
controle.
Até que não haja, mais, subsolos.
E, aí, o tal baque poderá ser irreversível.
Não haverá salas de comissões de ética.
Porque não haverá, mais, ética.
Quem sabe, nem mesmo, edifício.
Senador Pedro Simon (PMDB-RS)
Música:
Yamandu Costa - Hino nacional
brasileiro
Montagem:
[email protected]
www.pranos.com.br
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