Santo Afonso Maria de Ligório, bispo, escritor, poeta, musicista, Doutor da Igreja, foi fundador de uma das mais ativas e numerosas congregações religiosas: os Padres Redentoristas. Nasceu perto de Nápoles, Itália, em 1696, filho de uma das mais antigas e nobres famílias de Nápoles. Do pai herdara uma vontade férrea, inteligência viva e perspicaz, enquanto que a mãe plasmou seu coração para a fé a bondade. Ainda pequeno, recebeu do santo São Francisco de Jerônimo da Companhia de Jesus, a seguinte profecia: "Esta criança, não morrerá antes dos 90 anos; será bispo e realizará maravilhas na Igreja de Deus". Seu pai destinou-o aos estudos das artes liberais, das ciências exatas, das disciplinas jurídicas, conseguindo Afonso rápidos e surpreendentes progressos. Aos dezesseis anos doutorou-se em direito civil e eclesiástico e começou a colher louros e triunfos no foro. Seu pai sentia-se orgulhoso do brilhante futuro que se abria ao filho e já tinha preparado uma noiva, rica e nobre, mas no coração de Afonso, já havia a graça divina aberto profundos sulcos, e inspirado outras rotas de grandeza. Como advogado, já de renome, recebeu uma causa de grande importância do Duque Orsini contra outro príncipe, o grão-duque de Toscana. Meticulosamente nosso advogado estudou o processo, reviu os autos, conferiu documentos. Fez uma brilhante defesa no foro. A vitória parecia mais que garantida quando o contra-atacante lhe chamou a atenção para uma pequena falha que lhe passara despercebida. Afonso reconheceu que se enganara e exclamou: "Ó mundo falaz, agora eu te conheço! Adeus tribunais!". Este acontecimento determinou a reviravolta mais profunda de sua vida. O jovem e brilhante advogado abandonou definitivamente a advocacia para dedicar-se às causas mais nobres na seara evangélica. Completou os estudos de teologia e foi ordenado sacerdote aos trinta anos. Esta mudança custou-lhe renhidas lutas com o pai, que não podia conformar-se com a escolha feita pelo filho, renunciando aos títulos de nobreza e à rica herança da família. Mais tarde, ainda com pavor Afonso recordava dessas horas de combate. Desde então Afonso colocou suas altas qualidades de ciência e de oratória a serviço de Cristo, dedicou-se sobretudo à pregação, com o lema: "Deus me enviou a evangelizar os pobres". Procurava de preferência os pobres Lazaroni e a meninada abandonada pelas ruas de Nápoles. Muito se mortificava Dom José, vendo seu filho metido no meio do povinho, desprezível a seus olhos de fidalgo. Nosso santo não se deixava esmorecer. Passou a morar no Hospício dos Padres Chineses e pensou seriamente em ir para as missões pagãs. Entretanto, os planos de Deus terminaram por conduzi-lo a um convento de irmãs em Scala, perto de Amalfi, para onde foi por ter adoecido, e necessitar de repouso. Nesse convento havia a Irmã Maria Celeste Crostarosa que se destacava por sua virtude. A 3 de outubro de 1731 revelou-lhe a Irmã a visão que tivera: Afonso estava designado por Deus para fundar uma Congregação. Começou então o duelo entre Deus e a humildade do Santo. A luta foi um verdadeiro martírio para Afonso. A santa Irmã chegou mesmo a intimálo: "D. Afonso, Deus não o quer em Nápoles; chama-o para fundar um novo Instituto". Resolvido a isso, depois de ter sido orientado pelo seu confessor Facoia, mais tarde bispo, teve o Santo de enfrentar tremenda oposição do pai. Este recriminava ao filho dureza de coração por querer abandoná-lo para meter-se na aventura de fundar um novo Instituto. Mas a graça venceu, e a 9 de novembro de 1732 fundou Afonso, em Scala, a Congregação dos Padres Redentoristas, que no começo tinha o nome de Instituto do SS. Salvador. Os primeiros companheiros de Afonso eram todos sacerdotes, e logo começaram a dedicar-se à pregação. Não tardou aparecer desunião nas idéias. Queriam uns que o Instituto, além da pregação, se dedicasse também ao ensino. Afonso insistiu na exclusividade da pregação aos pobres, às regiões de gente abandonada, na forma de missões e retiros. Venceu seu ponto de vista. Em 1749 o Papa Bento XIV aprovou as Regras do Instituto, que tinha por fim a imitação de Jesus Cristo e a pregação de missões e retiros de preferência à classe mais abandonada. À frente de seus súditos percorreu cidades e vilas do Sul da Itália, convertendo pecadores, reformando costumes, santificando as famílias. Era um facho ardente que deixava em chamas de amor divino os lugares por onde passava. Mais do que sua palavra, pregava o seu exemplo de virtude, de penitência, de caridade e de santa inocência. As cidades disputavam Afonso como pregador. Um dia chegou ao seu conhecimento, que o queriam nomear arcebispo de Palermo. Pediu orações para que se evitasse "o grande escândalo" desta nomeação. Mas em 1762 o Papa Clemente XIII impunha-lhe a mitra de Santa Águeda dos Godos. "Vontade do Papa é a vontade de Deus", disse o santo, e curvou a fronte. Durante 13 anos pastoreou sua diocese, reformou-lhe o clero, os costumes, as Igrejas. Outra tornou-se a vida religiosa nos mosteiros e conventos. Os diocesanos passaram mas viram que tinham um santo por bispo, quando vendeu até as alfaias, os móveis de seu pobre palácio, seu anel de bispo, para acudir aos necessitados. Em 1775, a seu pedido, livrou-o do bispado o Papa Pio VI. O santo patriarca voltou pobre para o seu convento, e ali a mão de Deus o experimentou e lhe burilou lindas facetas de virtude. Afonso, acabrunhado por sofrimentos físicos, teve o desgosto de ver a cisão no seu Instituto e, por malentendidos, foi até excluído na Congregação que fundara. Os últimos anos do Santo são síntese, tudo adversidades inimagináveis. Das profundezas da sua alma dorida clamava a Deus misericórdia e auxílio. Em tudo reconhecia a adorável vontade de Deus. Após longo martírio no corpo e na alma, morreu calmamente no Senhor a 1º de agosto de 1787 na idade de 91 anos. Em 1816 foi declarado beato. Foi canonizado em 1839 por Gregório XVI. Santo Afonso foi um prodigioso escritor. Nos seus últimos doze anos de vida, para não faltar ao programa que se propusera quando jovem, de não perder mais tempos tempo jamais, dedicou-se à redação de livros, enriquecendo a coleção de obras ascéticas e teológicas. Deixou para os sacerdotes a sua célebre Teologia Moral; para os religiosos a Verdadeira Esposa de Cristo; para o povo cristão, livros cheios de verdadeira e ungida piedade, tais como as Meditações se abrem à Paixão do Salvador, Glórias de Maria, Visitas ao SS. Sacramento, Tratado sobre a oração. Foi historiador, apologeta, pregador, poeta e exímio musicista. A devoção popular muito deve às suas canções por ele escritas e musicadas. Até hoje no tempo de Natal, é comum escutar o seu "Tu Scendi dalle Stelle" - Tu desces das estrelas. A Igreja deu-lhe o título de Doutor zelosíssimo. As obras de Santo Afonso têm a perenidade das fontes seculares. Imitemos Santo Afonso, empregando o nosso tempo em trabalhos e orações fugindo assim do pecado e do mal emprego do nosso tempo. Só com a oração e num trabalho com o Cristo encontraremos a força e a graça para salvar nossa alma e nos santificarmos. 17/03/2010