Revisando os pressupostos básicos da Psicologia Social Comunitária • Surgiu em meados da década de 60 como espaço teórico e prático que desenvolve métodos e teorias para trabalhar com a comunidade de baixa renda, visando, por um lado, desilitizar a profissão, e, de outro, buscar a melhoria das condições de vida da população trabalhadora. • De acordo com Freitas (1999), a psicologia social comunitária utiliza-se do enquadre teórico da psicologia social, privilegiando o trabalho com grupos, colaborando para a formação da consciência crítica e para a construção de uma identidade social e individual orientadas por preceitos eticamente humanos. • Utilizando métodos e processos de conscientização, procura-se trabalhar com os grupos populares, para que eles assumam progressivamente seu papel de sujeitos de sua própria história. A definição de psicologia social comunitária é de Góis, citado por Campos (1999), (...) uma área da psicologia que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade; estuda o sistema de relações e representações, identidade, níveis de consciência, identificação e pertinência dos indivíduos ao lugar/comunidade e aos grupos comunitários, através de um esforço interdisciplinar que perpassa o desenvolvimento dos grupos e da comunidade. (...) Seu problema central é a transformação do indivíduo em sujeito. (p. 11) • Segundo Lane (1994), duas tendências sempre delinearam o entendimento do ser humano na psicologia: o determinismo biológico (o indivíduo era causa e efeito de si mesmo) e o determinismo social (o indivíduo era produto do meio). Superando esses determinismos, a psicologia social, de base sócio-histórica, afirma que a construção do psiquismo se dá na intersecção da história pessoal com a história da sociedade. Nas palavras de Lane, fica clara a importância do trabalho do psicólogo na tomada de consciência da reprodução ideológica, para: (...) superar suas individualidades e se conscientizarem das condições históricas comuns aos membros do grupo, levando-os a um processo de identificação e de atividades conjuntas que caracterizam o grupo como unidade. Este processo pode ocorrer individualmente e constataríamos o desenvolvimento de uma consciência de si idêntica à consciência social. Na medida em que o processo é grupal, ou seja ocorre com todos os membros, ele tende a caracterizar o desenvolvimento de uma consciência de classe, quando o grupo se percebe inserido no processo de produção material de sua vida e percebe as contradições geradas historicamente, levando-os a atividades que visam à superação das contradições presentes no seu cotidiano, torna-se um grupo-sujeito da transformação histórico social. (Lane, 1994, p.17) Revisando... O que é Psicologia Social Comunitária? • Uma das ramificações da Psicologia Social a Psicologia Comunitária é a práxis da psicologia na comunidade, entendendo a comunidade como o lugar os indivíduos interagem, por um espaço de tempo definido pela sua duração e num espaço geográfico comum. Características Centrais da Psicologia • Aplicação prática dos achados da psicologia a situações sociais concretas; • Ênfase psicológica voltada para a melhoria da qualidade de vida das comunidades como objeto de saber do psicólogo; • Prima por questões interpessoais, ou seja, pelo processo de comunicação entre os indivíduos e a dinâmica das relações interpessoais. A Psicologia Comunitária enfatiza o estudo dos grupos nas comunidades e instituições sociais. A Perspectiva da Psicologia Comunitária enfatiza: Teoria O conhecimento se produz na Interação entre Profissional e o Sujeitos da interação Metodologia Pesquisa Participante Valores Enfatiza sobretudo a ética da Solidariedade, os Direitos humanos Fundamentais e a Busca da melhoria da Qualidade de vida na população Concepção de Homem Compreende o homem como sendo sócio-históricamente construído e ao mesmo tempo construindo as concepções a respeito de si mesmo, dos outros homens e do contexto social. Métodos e Intervenções em Psicologia Social Comunitária Método da Psicologia Social Comunitária: • Privilegia uma metodologia que se baseia nos princípios da pesquisa-ação. Pesquisa-ação Se define essencialmente pelo elo do SABER e o FAZER. Ela parte de uma perspectiva epistemológica INTERDISCIPLINAR e que inclui diferentes saberes acadêmicos além da relação entre SABER CIENTÍFICO e SABER POPULAR. PESQUISA-AÇÃO Busca de Conhecimento Transformação Ação Pesquisa Reflexão Teórica juntamente com os atores sociais envolvidos Rompimento de formas cristalizadas de funcionamento e instituição de mobilidade e transformação da realidade social PESQUISA-AÇÃO Não há neutralidade científica, pois o pesquisador analisa resultados a partir de uma posição social que lhe assegura o poder de um saber, implicado existencialmente enquanto ser histórico, sujeito de uma ideologia Não há delimitação definitiva de técnicas e instrumentos, Posto que as situações reais é que serão determinantes dessas escolhas: entrevistas, questionários,observações, dinâmicas de grupo, análise de conteúdo, análise de documentos... Conceitos importantes da Psicologia Social Comunitária • • • • • • • Processo Grupal Representação Social Ideologia Identidade Subjetividade Linguagem Comunicação Processo Grupal • Os primeiros trabalhos surgiram na década de 30 e 40 com o psicodrama de Moreno e com Kurt Lewin. • Lewin (1972, p.54)) afirma que “ a essência de um grupo não reside na similitude ou dissimilitude de seus membros, senão em sua interdependência. Um grupo pode ser caracterizado como um todo dinâmico; isto significa que uma mudança no estado de uma das partes modifica o estado de qualquer outra parte. O grau de interdependência das partes ou membros do grupo varia. Em todos os casos, entre uma massa sem coesão alguma e uma unidade composta”. Lewin centra a sua definição na interdependência dos membros do grupo, onde qualquer alteração individual afeta o coletivo. Demonstra uma preocupação em buscar a essência do grupo, o que traz junto uma imagem de o “ grupo como um ser” que transcende as pessoas que o compõem. • Olmsted é um outro autor que trata o tema. Define um grupo como “uma pluralidade de indivíduos que estão em contato com os outros, que se consideram mutuamente e que estão conscientes de que tem algo significativo, importante em comum” (1979, p.12). Esta definição traz consigo a idéia de consideração mútua, sem a preocupação de homogeneidade. Aponta para a diversidade dos participantes e para o sentimento de compartilhar algo significante para cada um deles. • Para Silvia Lane (1986) a função do grupo é definir papéis, o que leva a definição de identidade social dos indivíduos e a garantir a sua reprodutividade social. CONCEPÇÃO LEWINIANO: -ideal de grupo coeso e sem conflitos; - Busca-se o consenso; -As relações horizontais, equilibradas, equitativas; -Lugar onde as pessoas se respeitam, se amam e cooperam umas com as outras. CONCEPÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA: - O grupo é um lugar em que as pessoas mostram suas diferenças; - As relações de poder estão presentes e perpassam as relações;cotidianas; - O conflito é inerente ao processo das relações que se estabelecem; - Movimento de cada um e de todos procurando discutir suas - idéias com o(s) outro(s). - Os embates que ocorrem dentro do grupo revelam conteúdos conscientes (determinações de classe social, de gênero, de raça,...) como também conteúdos inconscientes que podem gerar um funcionamento de base ataque ao desconhecido ou de espera de um messias que traga a salvação do grupo • As relações que se estabelecem no grupo podem ser meramente de reprodução das relações de dominação e de alienação da sociedade capitalista que nos rodeia. Podem, em contrapartida, ser um momento em que o grupo se pense, explicite as situações que entravam o seu funcionamento, onde as pessoas pensam, elaboram, enfim, trabalham as suas relações e conseguem estabelecer uma experiência única, refletida e que faz os seus participantes se sentirem sujeitos. Grupos Operativos • Criado por Pichon-Rivière (1982) a partir de questionamentos da psiquiatria e dos grupos em hospitais psiquiátricos. Um dos conceitos fundamentais é o de ECRO – Esquema Conceitual Referencial e Operativo. Cada um de nós possui um ECRO, que é constituído pelos nossos valores, crenças, nossos medos e fantasias. Quando se está trabalhando em grupos, a realização da tarefa estabelecida pode ser dificultada pelas diferenças de ECROs que estão em jogo. O autor fala na construção de um ECRO grupal, que seria um esquema comum para as pessoas que participam de um determinado grupo – saberem o que pensam em conjunto – poderem partir para agir também coletivamente a partir do aclaramento das posições individuais e da construção coletiva que favorece a tarefa grupal Qual o papel do psicólogo que trabalha com grupos? • O trabalho do psicólogo é de auxiliar que as pessoas envolvidas na experiência pensem o processo que estão vivenciando.Oferecer uma perspectiva transformadora onde as pessoas que participam de um processo grupal sejam vistas como sujeitos que em conjunto podem decidir o seu destino tendo claras as possibilidades e os limites. Representação Social • As representações sociais são “teorias” sobre saberes populares e do senso comum, elaboradas e compartilhadas coletivamente, com a finalidade de construir e interpretar o real. Por serem dinâmicas, levam os indivíduos a produzir comportamentos e interações com o meio, ações que, sem dúvida, modificam os dois. Representação Social • Conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais (Moscovici, 1981). • Uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social (Jodelet, 1989). Para que estudar as Representações Sociais? • Estudar as representações sociais é conhecer o modo como um grupo humano constrói um conjunto de saberes que expressam a identidade de um grupo social, as representações que ele forma sobre uma diversidade de objetos, tanto próximos como remotos, e principalmente o conjunto dos códigos culturais que definem, em cada momento histórico, as regras de uma comunidade. (p. 105) Contribuições da teoria das Representações Sociais • A teoria das Representações Sociais trata do conhecimento construído e partilhado entre pessoas, saberes específicos à realidade social, que surgem na vida cotidiana no decorrer das comunicações interpessoais, buscando a compreensão de fenômenos sociais. • A teoria das Representações Sociais colocou os saberes do senso comum em uma categoria científica. Ela veio valorizar este conhecimento popular, tornando possível e relevante a sua investigação. Identidade • O conceito de identidade, em psicologia social, se refere ao conhecimento de si dado pelo reconhecimento recíproco dos indivíduos identificados através de um determinado grupo social que existe objetivamente, com sua história, suas tradições, suas normas, seus interesses etc (Lane, 1994, p. 64).