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A vivência demonstrou a importância do trabalho com os pacientes oncológicos, principalmente visando a qualidade de vida. Palavras-chave: Psicologia Hospitalar; Psico-oncologia; Câncer; Atuação do psicólogo. Abstract The impact of cancer diagnosis and treatment trigger emotions in patients and families need to rebuild their lives from the changes imposed, so that both can fit in the best possible way the psychologist has an important role at this time. The present study aims to present an overview of psychology in the context of oncology, as well as report on the work carried out from a field of Hospital Psychology Internship, developed in a private clinic of a city of São Paulo. The activities, which were interventions with patients and families with psychological character host will be displayed. The experience demonstrated the importance of working with cancer patients, mainly aiming at quality of life. Keywords: Hospital Psychology; Psycho-oncology; Cancer; Psychologist performance. Introdução O diagnóstico de câncer traz implicações na vida do paciente e de sua família implicando uma reestruturação das expectativas e da vida diária para todas as partes envolvidas. As mudanças podem ocorrer nas mais diversas dimensões, tais como alterações físicas e nos relacionamentos interpessoais, bem como na percepção que o indivíduo tem de si mesmo. O paciente começa a vivenciar o medo da mutilação corporal, da dor, do futuro e da morte, além disso, seu equilíbrio psicológico passa a ser ameaçado por todas as vivências e mudanças na vida cotidiana que serão necessárias durante a doença e o tratamento (Gaviria, Vinaccia, Riveros & Quiceno, 2007; Ridder & Schreurs, 2001; Todd, Roberts & Black, 2002 citados por Souza & Araújo, 2010). A maior parte dos pacientes se ajustará de forma gradual a esta situação de crise, porém outros apresentarão dificuldades para se adaptar. O ajuste psicossocial ou adaptação ao câncer é um processo no qual cada paciente busca manejar seus sofrimentos, solucionar os problemas e conquistar certo controle acerca dos acontecimentos gerados pela doença. Quando os pacientes conseguem reduzir ao mínimo os transtornos de funcionamento em suas vidas, regulam o sofrimento emocional através de pensamentos e comportamentos e continuam a ter uma vida social pode-se dizer que a adaptação foi eficiente (National Cancer Institute, 2008; Souza & Araújo, 2010). A má noticia abarcada pelo diagnóstico engloba grandes mudanças na vida do paciente e faz emergir questionamentos direcionados à vida, à doença e à morte. Estes pensamentos tornam-se mais evidentes no momento do tratamento, seja este sendo a cirurgia, quimioterapia ou radioterapia. A vivência de atendimento psicológico a pacientes oncológicos durante terapêutica quimioterápica sugere que a adesão a este tratamento causa uma movimentação na dinâmica de vida do paciente, bem como de seus familiares. Essas mudanças geram modificações nos aspectos psicológicos, podendo acarretar em sofrimento adicional àqueles que já se encontram fragilizados e vulneráveis frente ao diagnóstico (David, Windlin & Gaspar, 2013). Neste sentido, é possível observar que a quimioterapia pode acarretar uma crise na vida do paciente, causando impactos de ordem psíquica. É neste contexto que o trabalho da escuta psicológica se insere e torna-se tão importante e fundamental. As funções do psicólogo devem ser favorecer a adaptação dos limites, das mudanças impostas pela doença e da adesão ao tratamento; ajudar na tomada de decisões, bem como no manejo da dor e do estresse; preparar o paciente para procedimentos invasivos e dolorosos e, enfrentamento de possíveis consequências de tais terapêuticas; promover melhoria da qualidade de vida; auxiliar a aquisição de novas habilidades ou retomadas das já existentes; bem como oferecer revisão de valores para o retorno à vida familiar, social e profissional ou para o final da vida (David, Windlin & Gaspar, 2013; Scannavino, Sorato, Lima, Franco, Martins, Júnior, Bueno, Rezende & Valério, 2013). Os salões de quimioterapia servem como “setting” para o trabalho do psicólogo, porém o mesmo não deve esquecer que este lugar tem sua dinâmica própria, diferente da do consultório. Neste local, o paciente está rodeado de profissionais de saúde e muitas vezes de outros pacientes, além disso, conectado a um medicamento. Dentre os indivíduos ali presentes faz marca no discurso do paciente estes demais indivíduos que são semelhantes em situação de doença, de tratamento, entretanto são tão diferentes e podem estar em condições clínicas piores ou melhores que o próprio paciente. Além disso, a experiência do outro também irá influenciar na própria vivência e nos estado psicológico, podendo servir como esperança, consolo e até mesmo com mais sofrimento, desespero e frustação. A presença do outro e também do próprio medicamento é um lembrete de que o próprio corpo não está no seu estado mais saudável, ou seja, no salão de quimioterapia o paciente concretiza seu adoecimento, e por vezes, só naquele momento consegue entrar em contato com está realidade, pois ali a doença se apresenta como fato real. (David, Windlin & Gaspar, 2013). O momento da infusão pode ser um momento muito angustiante, mas também pode ser visto e experienciado com tranquilidade, como período de reclusão e de descanso. Angustiante devido o fato de para muitos pacientes significar uma prisão, ou impedimento de realizar as tarefas, assim considerado uma paralisação do curso “normal” da vida. Também é recorrente o discurso de tédio pela falta do que fazer ou mesmo o silêncio assume o papel de estar em uma longa, inerte e repetitiva espera (David, Windlin & Gaspar, 2013). Dentro deste contexto o papel do psicólogo é muito importante para que estes pacientes tenham melhor adaptação à doença e consequentemente qualidade de vida. Objetivo O objetivo do presente trabalho é relatar a experiência de um estágio da Psicologia Hospitalar desenvolvido em uma clínica particular de Oncologia, buscando apresentar as intervenções realizadas, bem como identificar os aspectos emocionais vivenciados pelos pacientes em tratamento quimioterápico. Metodologia Público Foram atendidos 10 pacientes e seus familiares. Local Clínica de Oncologia em um município do interior de São Paulo. Procedimentos Foram realizados 32 acolhimentos psicológicos durante a infusão da quimioterapia. Período de intervenção O estágio foi realizado durante os meses de Setembro à Novembro, com duração total de 24 Horas. Resultados e Discussão Assim como o câncer seu tratamento também é carregado de estigma, pois não é só a doença que está no imaginário dos pacientes como sinônimo de morte, mas passa-se a acreditar que a quimioterapia causa algum mal, como exemplo os pacientes trouxeram a queda de cabelo como uma preocupação maior que a própria doença, as dores nas costas ao ficar muito tempo sentado na sessão e outros efeitos colaterais, como ânsia, diarreia e cansaço. O tempo que os pacientes ficam ali é o momento para refletir sobre o processo, pois eles não têm mais nada para fazer e a doença está presente. Alguns pacientes talvez não estejam preparados psicologicamente para enfrentar tudo isso, principalmente no caso de pacientes considerados “fortes”, como exemplo: pai de família, mulher que criou os filhos sozinha. Na maioria das vezes os pacientes concretizam o seu adoecimento no ato e momento da infusão e não necessariamente ao receber o diagnóstico. É importante que o paciente fale sobre sua experiência que vivencia cada vez que vai a clínica ou às consultas, pois ao falar sobre esses momentos possibilita o trabalho das questões psicológicas emergentes e o psicólogo pode atuar como um catalisador do processo de construção e elaboração de toda esta vivência (David, Windlin & Gaspar, 2013). Em alguns momentos o paciente vai rejeitar o atendimento psicológico, por isso se faz necessário compreender e aceitar esta atitude, como forma de respeito ao sofrimento do paciente, mas também estar ali a disposição para quando o paciente quiser conversar. Ainda neste contexto vários pacientes relataram que imaginavam que após a cirurgia não iriam precisar realizar outro tratamento durante tanto tempo, já que a cirurgia retirou todo o tumor, ou seja, estes trazem uma visão de que a cirurgia é a cura total do câncer, sem saber que a quimioterapia é um tratamento coadjuvante importante para a cura efetiva, e ainda passarão alguns anos em acompanhamento. Este fato pode ir de encontro com a vontade enorme de se ver livre desta doença que carrega tanto estigma, pois após a cirurgia o paciente não é mais considerado doente na perspectiva dele. Observou-se que a necessidade de realizarem quimioterapia por longos meses faz com que eles ainda entrem em contato com todas as emoções que vivenciaram deste o diagnóstico e se sintam doentes, precisando de cuidados, mas ao mesmo tempo é muito difícil de aceitar a rotina do tratamento sabendo que não tem mais o tumor. Foi possível observar que em grande parte dos atendimentos a religião esteve muito presente nos relatos, e sendo utilizada, principalmente, como maneira de apoio para enfrentar a doença. De acordo com Inocenti, Rodrigues e Miasso (2009) a religião traz ao paciente uma sensação de acolhimento e serve como força de inspiração para enfrentar os obstáculos. Alguns pacientes se remetiam a Deus, como forma de se apegar a algo que irá confortá-lo, que o faça aceitar a realidade, pois para muitas se Deus quis assim não há como mudar. É um apoio psicológico necessário para alguns pacientes suportarem todo o processo de câncer, que envolve tantas perdas. A família também atua como apoio para este paciente, dando-lhe conforto e atenção, ajudando em casa e com todos os procedimentos necessários. Está família também lhe oferece de volta todas as coisas boas que o paciente fez por eles durante toda a vida, como uma relação de troca, na qual o mais forte ajuda o mais fraco. De acordo com Santos e Sebastiani (2011), para a maioria das pessoas, a família representa um importante aparato para a estruturação de seus vínculos afetivos e nos referencias de segurança de apoio. Frente ao diagnóstico de câncer, uma patologia crônica, o paciente vivencia diferentes situações emocionais que o remetem a condições primitivas e à necessidade de sentimentos de amparo e de proteção. Desta forma, o paciente começa a solicitar de diversas formas essas figuras que já ocuparam este papel, ou seja, que já lhe fornecerem proteção e apoio. Dentro do contexto da família também é necessário compreender que além do apoio os familiares irão necessitar se reestruturar para conseguir enfrentar tal situação. Com o tratamento do câncer uma nova rotina será imposta tanto para o paciente como os membros da família, que muitas vezes acompanham nas consultas ou sessões de quimioterapia, também pelo fato de os efeitos colaterais fazerem os pacientes sentirem-se indispostos ou cansados e com isso não terem forças para as tarefas domésticas e com isto a família precisa se organizar para poder suprir a necessidade da casa. Com este novo contexto os familiares também necessitam se cuidar para que seja possível todo este processo, e em alguns momentos eles irão se deparar com sua própria finitude e por isso talvez exista alguma dificuldade na comunicação com o familiar doente. Em alguns atendimentos realizados com familiares dos pacientes observou-se que muitos deixaram de viver a sua vida para poder acompanhar o parente, levar nas consultas e nas sessões de quimioterapia, bem como em casa onde a maior parte dos trabalhos é responsabilidade da família, principalmente em pacientes mais idosos. Outro fator importante e muito presente nos relatos é a questão de alguns pacientes não conseguirem dizer a palavra Câncer, e sempre se referir a “doença”. Isto é comum pelo fato de que quando pronuncia a palavra os pacientes se remetem a várias coisas e condições que terá que enfrentar, pois mesmo com o avanço da medicina nesta área muitas pessoas ainda a associam o câncer a muito sofrimento, perdas e morte. Neste sentido, ao não falar talvez os pacientes acreditem que não precisam lidar com este fato, não entram tanto em contato com a sua condição de doente. Por fim, outro ponto evidenciado nos atendimentos é a importância de um profissional da psicologia junto com os pacientes durante este tempo, no qual eles se referiram que passa muito mais rápido e até esquecem que estão recebendo quimioterapia. O psicólogo está ali para dar um suporte emocional ao paciente e fazer com que o paciente consiga enfrentar melhor todas as mudanças implicadas na doença. O fato de em alguns momentos eles relatarem sobre o passado, rotina ou acontecimentos do país foi compreendido como uma necessidade de cada um mostrar que não é caracterizado só pela doença que são serem humanos completos, bem como um mecanismo de defesa para não entrar em contato com os aspectos emocionais. Nestes atendimentos também ficou explícito que eles viram na estagiária alguém para conversar coisas além da rotina da doença que não ficou questionando-os sobre os fatos concretos destas mudanças, como os outros profissionais ali presentes, pois foi respeitado o limite e ouvido aquilo que o paciente estava disposto a conversar, o que deixou alguns pacientes sem entender a finalidade dos acolhimentos psicológicos, pois no início muitos relatavam os efeitos colaterais que tiveram durante a semana e quais remédios tomaram para melhorar, porém com o decorrer do estágio os mesmos já conseguirem se comunicar melhor e aproveitar este espaço. Considerações finais A psicologia no contexto da saúde vem crescendo e conseguindo mostrar a importância com o cuidado ao paciente adoecido e seus familiares. A escuta psicológica à pacientes oncológicos demonstrou que os mesmos foram forçados a mudarem, principalmente a rotina, em decorrência do diagnóstico e algumas emoções que emergem neste contexto da doença, como exemplo angustia, medo, raiva, insegurança, ansiedade, limitação das atividades e alteração da imagem corporal. Desta forma, nota-se que é importante o acompanhamento psicológico principalmente nestes momentos de crise, ou seja, de interrupção do curso normal da vida. A atenção psicológica é fundamental no caso do paciente oncológico, mais especificamente em tratamento quimioterápico, para que seja possível compreender a forma que este tratamento impacta o paciente, e o que ele pensa acerca desta situação. Além disso, o psicólogo oferece um espaço para que o paciente possa falar sobre sua experiência e com isso seja possível que o mesmo se reestruture e possa enfrentar o adoecimento da melhor maneira possível, ou seja, o psicólogo irá contribuir para que o paciente tenha uma boa adaptação à sua nova condição de vida. Referências: Angerami-Camon, V.A. A subjetivação do câncer. In Angerami-Camon, V. A. & Gaspar, K. C. (2013). Psicologia e Câncer (1ª ed., cap. 1, pp. 15-94). São Paulo: Casa do Psicólogo, 2013. David, A., Windlin, I. & Gaspar, K. C. O paciente oncológico e a terapêutica quimioterápica: uma construção da psicologia. In Angerami- Camon, V. A. & Gaspar, K. C. (2013). Psicologia e Câncer (1ª ed., cap. 12, pp. 295-314). São Paulo: Casa do Psicólogo, 2013. Inocenti A, Rodrigues IG, Miasso AI. Vivências e sentimentos do cuidador familiar do paciente oncológico em cuidados paliativos. Rev. Eletrônica Enfermagem;11(4):858-65. Available from: HYPERLINK "http://www.fen.ufg.br/revista" http://www.fen.ufg.br/revista , 2009. National Cancer Institute. PDQ supportive and palliative care editorial board. Available from: HYPERLINK "http://www.cancer.gov/cancertopics/pdq/supportivecare/adjustment/HealthP rofessional/page1" http://www.cancer.gov/cancertopics/pdq/supportivecare/adjustment/HealthP rofessional/page1 , (2008). Santos, C. T. dos & Sebastian, R. W. Acompanhamento psicológico à pessoa portadora de doenças crônicas. In Angerami, V. A. (Org). E a psicologia entrou no hospital (3ª ed., cap.3, pp. 147-176). São Paulo: Pioneira, 2011. Scannavino, C. S. S., Sorato, D. B., Lima, M. P., Franco, A. H. J., Martins, M. P., Júnior, J. C. M., Bueno, P. R. T., Rezende, F. F. & Valério, N. I. Psico-oncologia: Atuação do psicólogo no hospital de câncer de Barretos. Psicologia USP, São Paulo, 24(1), 35-53, 2013. 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