Jornal A Tarde, sexta-feira, 26/09/1980 Assunto: PERSONALIDADES TEODORO SAMPAIO, ARQUEÓLOGO E ANTROPÓLOGO Teodoro Sampaio é um caso típico daqueles brasileiros que, preparados para uma carreira técnica, alcançam prestígio na mesma, ao tempo em que, interessando-se por matérias situadas em outros campos, impõe-se mestres nessas áreas, devido à sua incomum capacidade de produzirem obra intelectual de alto valor. Esse conjunto de aptidões nele pronuncia-se muito cedo. Concluídos os estudos profissionais superiores, logo se destaca como engenheiro civil, num meio já altamente competitivo como São Paulo de fins do século XIX, participando de trabalhos relativos a projetos e construções de portos, de instalações hidráulicas e esgotos, de urbanismo, de arquitetura. A par dessa atividade, que lhe grangeia autoridade no Sul do país e, mais tarde, na Bahia, não tarda em salientar-se com ensaios sobre a formação histórica e o desenvolvimento da Cidade de São Paulo nos séculos XVI e XIX, com o relato sobre sua viagem - como assistente de Orville Derby - pelo Rio São Francisco e a Chapada Diamantina e outros que revelam sua acuidade para os problemas históricos, para a geografia e para a organização social e econômica. Não cessa, a partir desses estudos, de publicar trabalhos nos domínios da geografia física, humana e histórica, da arqueologia e da etnografia indígena, que são acolhidos em periódicos especializados, nas revistas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e dos congêneres paulista, baianos e outros. Esses artigos e ensaios acreditam-no entre os precursores da pesquisa e do ensino superior, universitário, das correspondentes disciplinas no Brasil. Na Bahia, sua terra de nascimento e de atuação nos últimos decênios de existência, empreende parte considerável de suas indagações em tais domínios, ocupando-se dos sismos ocorrentes nas falhas geológicas do Recôncavo, da arqueologia histórica em referência a antigas canalizações e duetos subterrâneos e outros vestígios do povoamento, a respeito da toponímia, das inscrições lapidares coloniais e pré cabralinas, dos testemunhos líticos e cerâmicos dos primitivos habitantes do país. É também pioneiro, nesse particular, da mesma maneira que confirma sua vocação de historiador com os estudos sobre a fundação da Cidade do Salvador, cuja publicação se faz postumamente, e sobre o Estado da Bahia que lega, em inéditos preciosos ao Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, e que se completam com numerosos discursos comemorativos, escorços biográficos e notas sobre monumentos históricos, publicados na revista desse instituto. De toda a produção intelectual de Teodoro Sampaio, a que mais contribui desde cedo para consagrá-lo uma autoridade respeitada e freqüentemente consultada são as originais investigações no terreno da lingüística Tupi, que coroam a sua obra nos amplos domínios da antropologia brasileira. Assim, com O Tupi na Geografia Nacional, que Frederico Edelweiss, anotando sua 4ª edição (1955), considera uma obra inspiradora do melhor que desde seu aparecimento se fez no Brasil: esse livro teve uma influência indubitável no desenvolvimento dos estudos indianistas, cujos progressos ulteriores não lhe negam o extraordinário prestígio. O fundo, a base de sua obra de arqueólogo e de antropólogo, são realmente, para o grande mestre baiano, as investigações em torno do Tupi, do Guarani, do Neengatu. A releitura do mais significativo das análises e interpretações de Teodoro sobre as nossas populações aborígines, seus idiomas, sua tecnologia e cultura, há de contribuir para, o esclarecimento de muitos problemas e para a avaliação dos méritos desse desbravador intelectual.