OSTEODISTROFIA RENAL Guaraciaba Oliveira Ferrari Osteodistrofia Renal A osteodistrofia renal(OR) é o termo usado para descrever as alterações ósseas decorrentes dos distúrbios do metabolismo mineral nos pacientes com Doença Renal Crônica (DRC). A biópsia óssea é considerada o exame padrão ouro para o diagnóstico da OR e, baseado na taxa de formação óssea (índice obtido da análise histológica), dividimos as alterações em: doenças de alta e baixa remodelação óssea. A alta remodelação é representada pela osteíte fibrosa (manifestação óssea do hiperpatireoidismo secundário) e pela doença mista (sinais de osteíte fibrosa associados a defeito na mineralização óssea). A baixa remodelação compreende a osteomalácia e a doença adinâmica . Osteodistrofia Renal A OR favorece o aparecimento de complicações que aumentam as morbidades desses pacientes entre elas maior número de fraturas, calcificações vasculares, além aumentar a mortalidade desses pacientes. Independente da etiologia, do tempo de doença renal, da modalidade dialítica, os pacientes com DRC sempre apresentam algum grau de alteração óssea. Recentemente, um estudo de corte com 101 pacientes em hemodiálise, a maioria deles assintomáticos submetidos a biopsia óssea, mostrou que somente 2 deles apresentavam tecido ósseo normal. Osteodistrofia Renal O Paratormônio(PTH) tem sido usado como um marcador bioquímico da remodelação óssea. Ou seja, valores reduzidos (<100 pg/ml) ou elevados (>400pg/ml) são sugestivos de baixa e de alta remodelação respectivamente. Aceita-se, atualmente, que os pacientes em diálise com PTH entre 150-300 pg/ml apresentam uma remodelação próxima do normal As principais indicações de biópsia óssea na DRC são: inconsistência entre manifestações clínicas e exames laboratoriais; dor óssea inexplicável; fraturas patológicas; calcificação vascular progressiva; suspeita de intoxicação por alumínio Osteodistrofia Renal Outros fatores não relacionados à DRC que afetam a remodelação óssea são: Idade avançada Menopausa Raça Deficiência de vitamina D Medicações que interferem no metabolismo da vitamina D –como por ex: anticonvulsivantes Neoplasia maligna com ou sem metástase Imobilização prolongada Uso de Glicocorticóides Mecanismo de Ação dos Glicocorticóides no Tecido Ósseo Os glicocorticóides estão associados à perda e mudança da microarquitetura ósseas quando usados por longo período de tempo. São a causa mais comum de osteoporose secundária Aumentam o risco de fraturas principalmente onde há predomínio de osso trabecular como coluna vertebral. Glicorticóides – Efeitos na Remodelação Óssea Formação óssea: efeito direto nos osteoblastos: Suprime expressão do gene do colágeno tipo 1; afeta síntese e secreção do IGF (insulin growth factor),que estimula síntese de colágeno tipo 1; promove apoptose de osteoblastos e osteócitos Reabsorção óssea: aumenta nos primeiros 6 a 12 meses de uso(efeito provavelmente temporário); diminui a expressão de OPG(osteoprotegerina) e aumenta a de RANKL(ligante do receptor ativador do NFkB) nos osteoblastos diminuindo a apoptose dos osteoclastos Glicocorticóides – Efeitos na Remodelação Óssea PTH, Vitamina D, absorção de cálcio: diminui a absorção intestinal e aumenta a excreção urinária de cálcio levando a hiperparatireoidismo secundário nos indivíduos com função renal normal.No metabolismo da vitamina D são efeitos são controversos. Hormônios gonadais: diminui níveis de estradiol, dehidroepiandrosterona e progesterona nas mulheres; e de testosterona nos homens,indiretamente causando alterações na formação óssea Glicocorticóides – outros efeitos Microarquitetura - afilamento trabecular, perfuração e desconecção das trabéculas Osteonecrose – necrose avascular. Geralmente acomete fêmur proximal e distal, úmero. A etiologia parece estar relacionada à embolia gordurosa, lesão oxidativa e apoptose de osteócitos Músculos – perda de massa e força musculares. Biópsia muscular mostra atrofia de fibras tipo 2 e diminuição do número de fibras tipo 1 Mecanismo de Perda Óssea Glicorticóides Patogênese da OP-CE FORMAÇÃO ÓSSEA DIMINUÍDA PROD DE HORM IND POR FSH GLICOCORTICÓIDES HORMÔNIOS SEXUAIS LH ¯ ABSORÇÃO INTESTINAL DE CÁLCIO ­ EXCREÇÃO URINÁRIA DE CÁLCIO OSTEOPOROSE ¯ CÁLCIO ­ PTH REABSORÇÃO ÓSSEA AUMENTADA ADACHI, JD Semin. Arth.Rheum. 22: 377,1993 Mecanismo de Perda Óssea Mecanismo de Perda Óssea do CE Glicorticóides • Perda óssea rápida de 5 a 15% dentro dos primeiros 6 a 12 m • O osso trabecular é preferencialmente afetado • A perda óssea é potencialmente reversível com a diminuição ou interrupção do CE Trabécula normal PM-OP rutura trabecular CE-OP Adelgaçamento trabecular generalizado Osteoporose Patologia que se caracteriza por perda de massa mineral decorrente de alteração na remodelação óssea. Como a insuficiência renal, por si, já favorece alterações na remodelação óssea, esses pacientes apresentam maior risco de desenvolver osteoporose. FC Barreto et al mostrou uma prevalência de 46% de osteoporose diagnosticada por biópsia em pacientes renais crônicos dialíticos. Não houve relação específica com o tipo de osteodistrofia renal. No entanto a prevalência da osteoporose nos doentes com doença óssea secundária ao hiperparatireoidismo foi baixa (figura 1). Kidney Inter.2006;69(10):1852 Calcificações Calcificações extra-ósseas podem ocorrer na DRC afetando o sistema cardiovascular, articulações, pele e subcutâneo. A fisiopatologia é multifatorial e podem ocorrer nas doenças de alta e de baixa remodelação óssea, sendo mais comuns nas doenças de baixo remodelação. A seguir descreveremos os principais fatores envolvidos na fisiopatologia das calcificações.Aproveitamos para mostrar a evolução das calcificações articulares de um paciente em hemodiálise com resolução completa das calcificações após o tratamento com hemodiálise diária. Causas de Calcificação Vascular na DRC Stress oxidativo Remodelação óssea alterada Idade Fósforo Hiperhomocisteinemia História familiar de doença cardiovascular Dislipidemia Inflamação Déficit de inibidores da calcificação: fetuína A, MGP(matrix GLA protin) Outras doenças associadas: lupus Medicações: calcitriol, quelantes de fósforo à base de cálcio Calcificações Articulares em Paciente com DRC em Hemodiálise Diminuição das calcificações após 6 meses de hemodiálise diária com concentração de cálcio no dialisato de 2,5 mEq/l