CASO CLÍNICO; Taquiarritmias Apresentação:Otávia Daniele S. Araújo Coordenação: Sueli R. Falcão Internato em Pediatria-HRAS Medicina – ESCS www.paulomargotto.com.br Brasília, 7/4/2011 CASO CLÍNICO Identificação: WBSJ, 1 mês e 24 dias, sexo masculino, natural e procedente de Brazlândia-DF. Registro: 030211-1. Informante: KSB (mãe). Queixa Principal: “Veio transferida do Hospital Regional de Brazlândia para internação da criança na UTI Pediátrica do HRAS”. CASO CLÍNICO História da Doença Atual: Mãe refere que com 38 semanas de gestação passou a apresentar dor em cólica intensa em todo o abdome com irradiação para períneo. Nega sangramentos ou perda de líquido transvaginal associado. Procurou HRBrazlândia, sendo prescrito Buscopam e recebeu alta. De acordo com informações colhidas, encontravase com 1 cm de dilatação, com perda de pequena quantidade de secreção mucóide e sem alterações no exame fetal. Com 39 semanas, retornou ao mesmo hospital devido a dor localizada apenas na região perineal. Foi feita CTB, que não apontou movimentos fetais, sendo indicada cesárea de urgência. CASO CLÍNICO Mãe relata que a criança não chorou quando nasceu, apresentando líquido amniótico espesso (4+). Permaneceu no berçário em uso de CPAP por 24h. No terceiro dia de vida, quando foi transferido para o ALCON, apresentou episódio de dispnéia, retornando para ao berçário. Nesse mesmo dia, a criança foi avaliada por cardiopediatra, sendo constatada taquicardia que foi revertida apenas após abordagem medicamentosa. Permaneceu em ECG contínuo. Foi solicitada vaga em UTI no mesmo dia. Com sete dias de vida, voltou a apresentar novo episódio de taquicardia, sendo revertido da mesma forma. CASO CLÍNICO Enquanto aguardava transferência para UTI, foi decidido por tratamento medicamentoso contínuo conforme orientação da cardiopediatra. Voltou a apresentar novos episódios de taquicardia no 10º, 14º, 15º, 17º, 18º, 19º, 24º, 26º e 27º dias de vida, sendo revertidos com droga de uso contínuo. CASO CLÍNICO Após 1 mês aguardando, a criança foi transferida para a UTI Pediátrica do HRAS. Mesmo em uso de medicação contínua, foi necessário usar várias vezes a droga de ataque. Devido ao difícil controle dos episódios de taquicardia, a dose da medicação contínua foi otimizada, sendo associado outro medicamento de uso contínuo. Houve melhora do quadro, sendo último episódio de taquicardia com 1 mês de vida. CASO CLÍNICO Antecedentes Familiares: Mãe, 21 anos, recepcionista, cursando 3º ano do EM. Nega tabagismo e etilismo. Pai, 24 anos, pintor. EF incompleto, tabagista, etilista social. Irmão, 3 anos, saudável. Doenças na família: avó materna, CA de mama. Tio materno, bronquite. CASO CLÍNICO História Obstétrica Materna: G02-P02-A0. Tipo sanguíneo da mãe: A+. Sorologias negativas. Fez três consultas no prénatal, de início no 1º trimestre. Mãe refere gestação tranqüila, nega infecções e uso de antibiótico. Refere uso de paracetamol e buscopam para tratamento de dor. CASO CLÍNICO RN: Mãe refere que a criança não chorou ao nascer. Peso ao nascimento: 4075Kg, comprimento: 54cm, perímetro cefálico: 37,5cm. Apgar: 4-7. IG: 38 + 6 dias. Tipo sanguíneo do RN: O+. Fez teste do pezinho em Brazlândia. Nega alergias, trauma, cirurgias, transfusões. Mantém-se internado desde o nascimento. CASO CLÍNICO Hábitos: Seio materno exclusivo livre demanda. Acorda 34 vezes durante a noite para amamentar. Mãe relata que a criança sente mais cólicas à noite, com choro. Família mora em casa de alvenaria, com seis cômodos, saneamento básico completo, 4 pessoas. Não tem animal doméstico. CASO CLÍNICO Exame físico: Paciente em bom estado geral, ativa e reativa, acianótico, anictérico, hidratado, normocorado, afebril. FC: 142 BPM FR: 40 IRPM Aparelho Respiratório: murmúrio vesicular fisiológico, sem ruídos adventícios. Aparelho Cardiovascular: ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas, sem sopros. Abdome: ligeiramente globoso, ruídos hidroaéreos fisiológicos, flácido, fígado palpável a 1 cm do rebordo costal direito, borda lisa. Extremidades: bem perfundidas e sem edemas. CASO CLÍNICO Exames Complementares?? CASO CLÍNICO Hemograma e Bioquímica: Hemoglobina : 11,5g/dl Sódio: 141mEq/l Hematócrito: 35% Potássio: 3,9mEq/l VCM: 72 Cálcio total: 6,5 mg/dl Leucócitos: 10,8 Fosfato: 2,2mg/dl Neutrófilos: 3,8 (35%) Linfócitos: 6 (56%) Monócitos: 0,7 (7%) Eosinófilos: 0,3 (3%) CASO CLÍNICO Radiografia de tórax: Sem alterações. Ecocardiograma: 5º dia de vida: normal. Sem data de realização do exame: Discreta dilatação de cavidades esquerdas. CASO CLÍNICO ECG: Pré-droga: Pós-droga: TAQUIARRITMIAS Taquicardia Supraventricular Taquicardias reentrantes que usam uma via acessória (tipo mais comum em lactentes); Taquicardias reentrantes sem uma via acessória; Taquicardias ectópicas ou automáticas (cardiomiopatia). TAQUIARRITMIAS TAQUIARRITMIAS TAQUIARRITMIAS TAQUIARRITMIAS Taquicardia Supraventricular Arritmias mais freqüentes na faixa pediátrica. Anomalia de Ebstein. No feto: hidropsia e insuficiência cardíaca grave. Fatores precipitantes: infecção, aminas simpaticomiméticas (descongestionantes). TAQUIARRITMIAS Taquicardia Supraventricular Manifestações clínicas: Início e término abruptos, segundos a horas. Usualmente a criança está em repouso. Bem tolerados ou desencadear desconforto precordial, palidez, sudorese, insuficiência cardíaca (IC). Lactentes: IC. Ataque de 6-24h: cinzento, irritado, taquipnéia e hepatomegalia, febre e leucocitose. - QRS estreito (<0,08s) TAQUIARRITMIAS Taquicardia Supraventricular Taquicardia sinusal: Onda P positiva em D1 e aVF; FC varia de acordo com alterações do tônus vagal e simpático. TAQUIARRITMIAS Taquicardia Supraventricular Taquicardia Atrial: Nó AV e Sinusal não interferem no circuito da TA. Foco arritmogênico localizado nas aurículas ou porção inferior do septo IA. Afecções orgânicas (tecido cicatricial, rabdomioma, intoxicação). Estímulo simpático. TAQUIARRITMIAS Taquicardia Supraventricular Taquicardia por Reentrada AV: Feixe oculto: não há condução anterógrada por feixe anômalo. Síndrome de Wolff-Pakinson-White: via de desvio com capacidade de condução anterógrada (ortodrômica). Morte súbita (FA FV) . Mais comum em pacientes com coração normal. TAQUIARRITMIAS Taquicardia Supraventricular Síndrome de Wolff-Pakinson-White: QRS normal durante taquicardia e anormal durante a ritmo sinusal (ascensão lenta do QRS por fusão das duas frentes de repolarização, largo). PR curto. TAQUIARRITMIAS Taquicardia Supraventricular “Flutter” atrial: Alça reentrante dentro do tecido atrial ou obstáculo anatômico. 2:1-4:1. Coração normal (lactentes). Não-controlado IC. Crônico tromboembolismo. TAQUIARRITMIAS Taquicardia Supraventricular “Flutter” atrial: Tipo I: 240-350 BPM. Ondas F negativas em D2, D3 e aVF e positivas em V1, mantêm ritmo regular. Aspecto denteado. Tipo II: 340-430 BPM. Transição para FA. TAQUIARRITMIAS Taquicardia Supraventricular Fibrilação Atrial: Rara em crianças, excepcional no coração normal. Pulso rápido e irregular. Acentuar ICC. Tromboembolismo. Múltiplos circuitos de reentrada, contração atrial anárquica. TAQUIARRITMIAS Taquicardia Supraventricular Fibrilação Atrial: ECG: ondas F. QRS: arritmia irregular, freqüência ventricular aumentada ou diminuída. TAQUIARRITMIAS Taquicardia Supraventricular Terapêutica: Interrupção dos episódios Manobra vagal (depressão da condução pelo nó AV): gelo, massagem do seio carotídeo, reflexo nauseoso. Farmacológica Drogas que atuam no Nó AV: Adenosina – deprime automatismo e condução das células nodais. Efeito dura 15”. IV: 50300μg/Kg. Começar com 50-100 μg/Kg/dose. Push IV rápido. Dose máx.: 12mg. TAQUIARRITMIAS Verapamil: bloqueia canais de cálcio, aumentando a refretariedade do nó AV. Não administrar em < 1 ano. Digoxina: bem tolerada, efeito se inicia 4590min após. Propranolol: contra-indicado na hipotensão, ICC, DPO. Drogas que atuam no tecido atrial ou vias acessórias: Amiodarona: nó AV, átrio e vias acessórias. Prolonga repolarização. Refratariedade impregnação. TAQUIARRITMIAS Procainamida: atua prolongando a período refratário do tecido atrial e vias acessórias por bloqueio dos canais rápidos de Na+. Efeito vagolítico (acelera a condução pelo nó AV). Propafenona: inibe canais de Na+, provocando depressão miocárdica discreta e diminuição da velocidade de condução intra-ventricular. Quinidina: bloqueia dos canais rápidos de Na+. TAQUIARRITMIAS Cardioversão elétrica: Despolarizar totalmente o coração, interrompendo circuito de reentrada. Taquicardias supraventriculares mal-toleradas ou refratárias a drogas (circuito intra-atrial). 0,25 joules/kg. TSV: 1-2. FV: 5. TAQUIARRITMIAS Estimulação cardíaca transesofáfica: Eletrodo colocado no esôfago, próximo a átrio E. Registro ampliado da onda P. Estímulos em caso de bradicardia. Profilaxia das recorrências: Sem onda delta: Propranolol, digoxina ou amiodarona. Com WPW: amiodarona, propafenona ou disopiramida. TAQUIARRITMIAS No Caso: Manobras vagais sem sucesso. Adenosina 0,1mg/Kg/dose (crises). Amiodarona 10 mg/Kg/dia + Xarope digitálico. Amiodarona EV contínuo (novas crises). UTI: push de Adenosina + Amiodarona 15mg/Kg/dia 40mg/kg/dia + Propranolol 2mg/Kg/dia. Estabilização: Amiodarona VO 10mg/Kg/dia (alta). TAQUIARRITMIAS Taquicardia ventricular: Batimentos ectópicos de origem ventricular (100250BPM). Menos comum que a TSV. Automatismo, reentrada, Abrupta, degeneração para FV. TAQUIARRITMIAS Taquicardia ventricular ECG: P de difícil reconhecimento,dissociado do QRS. QRS alterado. Batimentos de fusão ou captura. Eixo elétrico no QSD. TAQUIARRITMIAS Taquicardia ventricular Amiodarona. Lidocaína e procainamida. Marcapasso ventricular. TAQUIARRITMIAS FV: -Extra-sistolia + taquicardia ventricular. -Massagem + ventilação + desfibrilação. -Ineficaz ou recidiva: Lidocaína ou Amiodarona. -ECG: impossível definir ondas. Bibliografia Behman, Richard E.; Kliegman, Robert; Tratado de Pediatria, 18 º Edição, Ed. Elsevier, 2009. Marcondes, Eduardo; Ramos, José Lauro Araújo; Costa Vaz, Flávio; Pediatria Especializada – Tomo III, Ed. Elsevier. Deccache, Waldemar; ECG para o Clínico – laudo e orientação terapêutica. Ed. Revinter. Nota do Editor do site www.paulomargotto.com.br Dr. Paulo R. Margotto Consultem também: Distúrbios cardiológicos Autor(es): Elysio Moraes Garcia Clicar aqui!