Haiti ontem e hoje: ditadura e soberania nacional Cronologia da História haitiana 1492 – chegada de Colombo 1538 – funda-se a 1ª universidade da América – extermínio da população indígena 1603 – Espanha ordena o despovoamento do norte da ilha para facilitar defesa contra piratas 1697 – reconhecimento de Saint Domingue francês 1777 – tratado de Aranjuez estabelece limites das duas colônias (espanhola e francesa) na ilha Haiti torna-se a colônia mais próspera da França graças à escravidão e plantaçoes de cana-de-açúcar Gráfico da população haitiana colonial fonte: Marcelo Grondin, Haiti: cultura, poder e desenvolvimento,SP: Brasiliense, 1985, p. 37. Tabela da população haitiana colonial fonte: Marcelo Grondin, Haiti: cultura, poder e desenvolvimento,SP: Brasiliense, 1985, p. 37. A “pérola” do Caribe francês Grande investimento francês na ilha: centenas de famílias de colonos e milhares de escravos População de 800.000 habitantes: Brancos – 7,2%, ou 35.000 pessoas Mulatos e negros livres- 4,3%, ou 23 mil pessoas Escravos negros - 88% da população ou 427 mil pessoas Negros e mulatos livres detinham 1/3 da riqueza da ilha e poucos direitos (o meio da pirâmide social) As rebeliões de escravos 1758 – rebeliões lideradas por Markandal 1789 – revolução francesa 1791 – rebelião escrava liderada por Vicent Oge e Jean Baptiste - Brancos recebem apoio das forças armadas francesas - Espanhois apoiam a revolta de escravos do lado francês da ilha - França dá igualdade aos mulatos livres para derrotar espanhois - Brancos franceses se aliam com invasores ingleses contra revolta dos escravos negros e mulatos 1793 – guerra entre França e Espanha - decreto de libertação dos escravos na França (visava conter possível invasão inglesa e espanhola) Toussaint liberta o Haiti 1795 a 1800 – Toussaint Louverture lidera as massas de escravos em luta contra a Inglaterra, Espanha e monarquistas franceses, libertando o Haiti * A Espanha cede sua parte da ilha para a França após troca de territórios na Europa. * Toussaint tenta preservar o domínio francês e grandes propriedades com trabalho livre mas fracassa 1801 – Toussaint ocupa o lado espanhol da ilha, que o governo francês exitara em ocupar e proclama a autonomia da ilha 1802 - Napoleão envia 50.000 soldados para esmagar as forças de Toussaint, que cai prisioneiro e morre em Paris A independência do Haiti 1804 – Jean-Jacques Dessalines retoma a luta, derrota as forças napoleônicas e proclama a independência do Haiti em 1º de janeiro. * O nome indígena original “terra montanhosa” ou Haiti é adotado pelo novo país * Dessalines tenta ocupar o leste da ilha, mas espanhois e franceses resistem. 1806 – em 17 de outubro Dessalines é assassinado. Henri Christophe proclama-se rei e assume o poder na região norte do país com um governo tirânico até 1820. 1807 – 1818 – Alexandre Petión assume um governo separado na região oeste e governa até 1818 1808 – com a invasão da Espanha por Napoleão a parte leste da ilha ocupada pelos franceses (e onde voltara a escravidão negra) é retomado pelos monarquistas espanhois com a ajuda da Inglaterra. Alexandre Petion apoiou Simon Bolívar nas lutas de libertação da América espanhola O século XIX e o isolamento 1820 – o Haiti é reunificado pelo sucessor de Petión, Jean Pierre Boyer. 1822 - Anexação de Santo Domingo espanhol por 22 anos. 1825 – A França reconhece a independência haitiana mas exige uma indenização milionária de $150 milhões de francos para pagar escravos perdidos (os EUA pagaram 80 milhões pela Lousiana francesa em 1803) 1844 – haitianos são expulsos de Santo Domingo 1862 – com a guerra de secessão nos EUA, este finalmente reconhece independência do Haiti, 58 anos depois. O sul dos EUA permanecia escravista e via o Haiti como ameaça. Classes e raças no Haiti Invasão e ocupação militar dos EUA 1908-1915 – rebeliões e grande instabilidade no país por conta de crises econômicas 1915 – fuzileiros dos EUA ocupam o país e o exército haitiano é dissolvido em 1916 1915-1919 – resistência de guerrilheiros liderados por Charlemagne Péralte contra a ocupação dos EUA Com cerca de 15.000 partidários, o objetivo dos “Cacos” era “jogar os invasores no mar” Péralte é assassinado pelas forças dos EUA em 1919. Morrem pelo menos 2.250 “cacos” e 27 marines. A rebelião continua latente. A repressão dos EUA é implacável e cria “campos de concentração da população” com critérios racistas Continua a ocupação dos EUA 1928 – EUA criam a “gerdameria do Haiti” como guarda auxiliar dos marines - Surgem movimentos de resistência como o indigenismo e a negritude, buscando novos valores de referência cultural tanto no mundo camponês como na África negra 1934 – retirada das forças de ocupação dos EUA - Contexto da política da “boa vizinhança” dos EUA - Guerrilhas de Sandino na Nicarágua - Nova tática dos EUA: criar “polícias políticas locais” para fazer o papel dos marines - Os EUA mantém o controle administrativo e financeiro do país até 1941. A ditadura militar de Duvalier 1946 – revolução popular obriga convocação de eleições e mandato popular 1947 – o exército é recriado a partir da guarda nacional 1950-1957 – diversos levantes populares e golpes militares 1957 – Jean François Duvalier é eleito presidente, vence o candidato mulato Louis Dejoie apoiado pelos EUA e o dirigente operário negro Fignolé - aliança com os houngans, sacerdotes da religião Vodu, antes perseguidos - utiliza a ideologia da “negritude” para ganhar popularidade - passa a ser chamado pelas massas populares de Papai Doutor (Papa Doc) 1958 – o “Papa Doc” cria os temidos “Totons-macoutes” (bichos-papões) milícia paramilitar para perseguir e exterminar adversários do regime. Prisão, torturas e assassinatos de opositores criam a “paz dos cemitérios” e o terror 1964 – François Duvalier proclama-se presidente vitalício. Proibição de qualquer tipo de movimento político ou social Duvalier, o papa doc O governo ditatorial Os pilares da política autoritária de Jean François Duvalier: – Manipulação e uso de uma ideologia supostamente em defesa dos valores da maioria negra do país – Valorização da língua créole – Fim das perseguições à religião vodu – Controle total dos aparatos militares e criação de uma milícia popular alinhada com o regime – Alinhamento incondicional com os EUA para combater a influência da revolução cubana (1959) na região – Instalação de um regime de terror no país Totons-macoutes, terror permanente Baby doc e o fim da ditadura 1971 – Morte de François Duvalier: assume o poder seu filho Jean-Claude, o Baby Doc e com apenas 19 anos e sem nenhuma experiência politica 1986 – fim da ditadura provocada pela divisão das forças militares e a morte da mãe de Baby Doc (a mama Simone) - Duvalier foge do país e assume o poder o general Hanry Namphy O período de Baby doc * Jean-Claude Duvalier assume a presidência dando continuidade ao autoritarismo e corrupção do governo anterior * Abertura de “zonas francas” para instalação de indústrias livres de impostos, tendo a disposição mão-de-obra baratíssima dos haitianos * O país mantém-se entre os 25 países mais pobres do mundo Fim da ditadura e instabilidade 1988 – Eleições: o profº Leslie Mancat é escolhido mas não chega a assumir a presidência. Golpe do gal. Prosper Avril 1990 – Jean-Bertrand Aristide, um ex-padre ligado à Teologia da Libertação, é eleito presidente com 67% dos votos. 1991 – Golpe contra Aristide apoiado por EUA. Sangrenta repressão do gal. Raoul Cédras 1994 – Em outubro Aristide retorna ao governo com apoio dos EUA (Bill Clinton) a assume uma política anti-popular 1995 – René Preval é eleito presidente 1996 – Aristide rompe com seu antigo partido,o Lavalas (Avalanche) Do sequestro do presidente à ocupação da ONU 2000 – novo mandato de Aristide e muitas denúncias de fraudes 2004 - Golpe articulado pelos EUA derruba o presidente - Aristide é sequestrado pelos EUA e enviado para a África - Presidente da Suprema Corte busca legalizar o golpe pedindo ajuda da ONU (resolução 1529 de 29/02/2004) 1º de junho de 2004 - Forças de Paz da ONU são enviadas para o Haiti A MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a estabilização do Haiti) é a 8ª missão da ONU no Haiti desde 1993. 2010 – Criada a Comissão para a Reconstrução do Haiti (CRH), que se sobrepõe ao estado haitiano através do representante especial Bill Clinton, quer segunda uma autora argentina (Monica Hirst) é uma “soberania encapsulada”... Composição inicial da Minustah Bibliografia Deive, C. D. Los guerilleros negros: escravos fugitivos y cimarrones em Santo Domingo, Santo Domingo: funda. Cultural dominicana, 1989. Delince, Kean. Armeé et politique em Haiti, Paris, 1979. Geggus, D. P. Slavery war and revolution: the british occupation of Saint Domingue 1793-1798, Oxford: Claredon Press, 1982. Grondin, Marcelo. Haiti: cultura, poder e desenvolvimento. São Paulo: Brasiliense, 1985 James, Cyril R. L. Os jacobinos negros, São Paulo: Boitempo, Labelle, Micheline. Ideologie de couleur et classes sociales em Haiti, Montreal, 1958. Pierre-Charles, Gérard. Haiti: radiografia de una dictadura, Mexico: Nuestro Tiempo, 1969. Pons, Franck Moya. Casos de continuidad y ruptura: la revolution haitinana em Santo Domingo (1789-1809), in: Historia general de America Latina, tomo 5, pp. 133-157. Moral, Paul. Le paysan haitien, Paris: ed. Maissoneure, 1961. Ott, T. The haitian revolution, 1789-1798, Knoxville: University of Tenesse press, 1973. Revista PUC Viva, número especial Haiti, janeiro a abril de 2010, ano 11, nº 37.