Uma escola Inclusiva

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CENTRO DE EDUCAÇÃO/UFES
Fundamentos históricofilosóficos da Educação
Especial na perspectiva
da Inclusão Escolar
INCLUSÃO
UM MOVIMENTO SOCIAL
Igual-Desigual
Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todas as experiências de sexo
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são
iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem,
bicho ou
coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.
(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)
O tratamento dado à pessoa com deficiência no transcorrer da
história
Segregação e Exclusão:
A exclusão é um fenômeno cultural, social e civilizacional. É um
processo histórico por meio do qual uma cultura, pela via de um
discurso de verdade, cria o interdito e, logo em seguida, o rejeita.
Tudo o que foge à regra é lançado em um espaço onde só há
transgressão.
Quem são os interditados ou transgressores? A heterotopia, todos
os grupos que são atingidos pelo interdito social, a delinquência, a
orientação sexual, a loucura, o crime ou a deficiência.
O tratamento dado à pessoa com deficiência no transcorrer da
história
Segregação e Exclusão:
“[...] A desqualificação como inferior, louco, criminoso ou
pervertido consolida a exclusão e é a perigosidade pessoal que
justifica a exclusão” (SANTOS, 2006, p. 281).
Nos povos primitivos: por necessidade de sobrevivência e
superstição, algumas tribos ignoravam, assassinavam ou
abandonavam as crianças, adultos e velhos com deficiências e
doenças. A vida nômade lhes obrigava essa atitude. Outras tribos
acreditavam em feitiçaria, maus e bons espíritos e, por respeito
e/ou medo, não atentavam contra seus diferentes.
Em outros tempos históricos, a deficiência, também, foi
conjugada à ideia de pecado ou castigo divino. Essas pessoas
eram abandonadas, encarceradas ou eliminadas para expurgo do
mal que traziam para o seio social.
Mediante o fortalecimento do Cristianismo, as práticas de
extermínio começaram a ser questionadas.
Os médicos – começam a se preocupar com o tratamento desses
sujeitos, trabalhando com esses sujeitos em asilos, casas de
expostos, hospitais psiquiátricos, Casas de Misericórdia, dentre
outros.
Foco: O tratamento da deficiência.
Os médicos – começam a se preocupar com o tratamento desses
sujeitos, trabalhando com esses sujeitos em asilos, casas de
expostos, hospitais psiquiátricos, Casas de Misericórdia, dentre
outros.
Foco: O tratamento da deficiência.
Instituições são criadas para atendimento aos alunos:
INES - Instituto Nacional de Surdos
Instituto Benjamim Constant
Sociedade Pestalozzi
APAE
Integração Escolar:
O objetivo das instituições escolares é desenvolver no aluno
habilidades e competências para conviver em sociedade.
Prevalece:
Ideias da Normalidade
Escola e Sociedade como Estáticas
Negação das diferenças humanas
Possibilidade de ajustar as pessoas à sociedade
[...] o simples acesso à escola é condição necessária, mas não
suficiente para tirar das sombras do esquecimento social milhões
de pessoas cuja existência só é reconhecida nos quadros
estatísticos e que o processo de exclusão educacional não se dá
mais principalmente na questão do acesso à escola, mas sim
dentro dela (SADER, 2005, p. 16).
No sistema de desigualdade, a pertença dá-se pela integração
subordinada enquanto que no sistema de exclusão a pertença dá-se
pela exclusão. A desigualdade implica um sistema hierárquico de
integração social. Quem está em baixo está dentro e sua presença é
indispensável. Ao contrário, a exclusão assenta num sistema
igualmente hierárquico, mas dominado pelo princípio da
segregação: pertence-se pela forma como se é excluído. Quem está
em baixo, está fora [...]. Se a desigualdade é um fenômeno sócioeconômico, a exclusão é, sobretudo um fenômeno cultural e social,
um fenômeno de civilização. Trata-se de um processo histórico
através do qual uma cultura, por via de um discurso de verdade, cria
o interdito e o rejeita [...]. A desqualificação como inferior, louco,
criminoso ou pervertido consolida a exclusão e é a perigosidade
pessoal que justifica a exclusão (SANTOS, 2006, p. 280-281).
MOVIMENTOS SOCIAIS
QUE ESPAÇOS/LUGARES SÃO ESSES?
Espaços de esperança aparecem de fato [...]
qualquer que seja a razão de sua existência, tais
espaços devem ser aproveitados estrategicamente.
Eles oferecem encorajamento às forças da justiça,
mas não são suficientes por si sós [...] devem ser
tornados públicos. É preciso expandi-los [...] É
necessários
transformá-los
em
identidades
coletivas (McLAREN, 2000, p. 12, grifo nosso).
O MOVIMENTO DE
INCLUSÃO SOCIAL
O MOVIMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL
Como pressuposto, visa a adaptar as estruturas sociais
para que todos os indivíduos possam ser incluídos.
O movimento pela inclusão social está atrelado à
construção de uma sociedade democrática, na qual todos
conquistam sua cidadania e na qual a diversidade é
respeitada e há aceitação e reconhecimento político das
diferenças (MENDES, 2002).
A idéia de inclusão se fundamenta em uma filosofia
que reconhece e aceita a diversidade na vida em
sociedade. Isto significa garantia de acesso de todos
a todas oportunidades, independentemente das
peculiaridades de cada indivíduo ou grupo social
(ARANHA, 2001, apud MENDES, 2002, p. 61).
A EDUCAÇÃO INCLUSIVA TEM POR PRINCÍPIO
• Reduzir todas as pressões e desvalorizações existentes na
sociedade em favor da inclusão de todos indivíduos, seja por
deficiências, rendimento escolar, religião, etnia, gênero, classe,
estrutura familiar, estilo de vida ou sociedade
• Uma proposta de educação inclusiva implica um processo, de
conscientização política de que todos, partindo de um sistema
redutor da exclusão que atenda, sobretudo, ás adversidades
sociais (Brandão, 2002).
• É propiciar uma intervenção estratégica na educação,
assumindo o ato educativo enquanto ato político de
transformação social.
O papel da educação como primordial
neste momento do movimento inclusivo,
pois “[...] a inclusão social participativa,
responsável e comprometida é, sem
dúvida, decorrente da função maior da
educação bem desempenhada [...] É
condição para adequada inclusão de
novos membros à sociedade” (SOUZA,
2002, p. 11).
E nós, profissionais da educação?
A história nos demonstra que o professor tem um papel
político a desempenhar, pois, tendo consciência crítica da
escola e de suas atribuições, estabelece relações entre a
escola e a sociedade, a realidade transforma-se diante do
processo de interações inovadoras.
É pelo engajamento aos movimentos sociais que os
professores, na luta pela escola pública de qualidade para
todos, reconstroem a sua prática pedagógica na busca por
sua identidade profissional e intelectual abocanhada pelo
sistema neoliberal.
DIVERSIDADE E DIFERENÇA
Desvendar o mundo dos significados da diversidade
ou da diferença e ver o que se quis fazer com elas é
um caminho para descobrir práticas, afinar objetivos,
tomar consciência e pode administrar os processos
de mudança de maneira um pouco mais flexível,
principalmente agora que as reformas educacionais
levantam, entre outras, a bandeira da diversificação
[...] (SACRISTÁN, 2002, p. 14)
DIVERSIDADE: pressupõe diferenças culturais, sociais,
étnicas entre os seres humanos ou entre seus grupos.
DIFERENÇA: pressupõe a singularidade individual
entre os sujeitos.
A filosofia de valorização do indivíduo, sua
liberdade e autonomia, fica encoberta nas
práticas educativas, pela pretensão da
homogeneidade,
inibida
pelo
currículo
classificatório e graduado do tempo, o qual
exige respostas únicas e uniformes em
momentos
precisos
da
escolaridade
(SACRISTÁN, 2002).
POR QUE ENTÃO A DIVERSIDADE
TRANSFORMA-SE EM DESIGUALDADE?
Diversidade pressupõe a diferença entre os
sujeitos, e tal diferença pode transformar-se em
desigualdade, na medida em que as
singularidades dos sujeitos ou dos grupos,
dentro e fora da escola, alcancem objetivos de
maneira desigual.
METAMORFOSE AMBULANTE
(Raul Seixas)
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
Já vou chegar a um objetivo num instante
Eu quero viver essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
Vou lhes dizer aquilo tudo que lhe disse antes
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha, velha, velha, velha opinião
formada sobre tudo
Do que ter aquela velha, velha opinião formada sobre
tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
(...)
FALANDO DE DIFERENÇAS...
DEFICIÊNCIAS
DIFERENÇA SIGNIFICATIVA/DEFICIÊNCIA
Falar simplesmente em “diferenças” não causa situações
conflituosas. Contudo quando falamos em diferenças
significativas/deficiência as interações são mais complexas.
Segundo Amaral (1998), um dos parâmetros utilizados
para definir deficiência ou diferença significativa, é o do “tipo
ideal”, construído e sedimentado pelo grupo dominante.
Utilizamos esse critério para caracterizar o outro.
ESTIGMA (sinais/marcas) – imputado àquelas pessoas que se
afastam da idealização corrente em um determinado contexto.
ESTIGMA + NOÇÃO DE DESVIO
PRÉ-CONCEITUAÇÕES DA DEFICIÊNCIA
ATITUDE
Entraves no trato com a deficiência
MITOS SOBRE A DEFICIÊNCIA
•deficiência como condição total do
indivíduo;
BARREIRAS ATITUDINAIS
(atitude e
desconhecimento)
•o que é bom para uma pessoa deficiente
é bom para todas na mesma condição;
•medo da contaminação pela convivência.
PRECONCEITO: ocorre na relação com
o estereótipo (tipo fixo e imutável que
caracteriza um objeto) e não com a
pessoa real.
É PRECISO REVER CONCEITOS!
DEFICIÊNCIA (impairment) - refere-se a uma perda ou anormalidade
de estrutura ou função: Deficiências são relativas a toda alteração do
corpo ou da aparência física, de um órgão ou de um função, qualquer
que seja a sua causa; em princípio deficiências significam
perturbações do nível de órgão.
INCAPACIDADE (disability) - refere-se à restrição de atividades em
decorrência de uma deficiência. Incapacidades refletem
as
conseqüências das deficiências em termos de desempenho e
atividade funcional do indivíduo; as incapacidades representam
perturbações ao nível da própria pessoa.
DESVANTAGEM (handicap) - refere-se à condição social de prejuízo
de deficiência e/ou incapacidade: Desvantagens dizem respeito aos
prejuízos que o indivíduo experimenta devido à sua deficiência e
incapacidade; as desvantagens refletem pois a adaptação e a
interação dele com seu meio.
É na problematização do conceito de desvantagem que
temos uma grande contribuição.
Idéia de desvantagem
Contingências sociais ( dois
parâmetros)
“tipo ideal”- carregado de
preconceito, estereótipo e
estigma
tipo “forma/função”constatação da situação e
enfrentamento do cotidiano
Para refletir....
O dono do circo, conhecedor de animais, explorará em cada
um dos animais a aptidão que renda mais, aquelas que
estiverem mais de acordo com a natureza do animal. Tirará
partido das mãos do macaco, da tromba do elefante, da
aptidão do cachorro para a corrida, etc. E não exercitará o
ganso no trapézio, nem o cavalo em saltos perigosos. Ele
sabe muito bem que, agindo assim, o fracasso será certo...
(Claparéde, 1920 apud Sacristán, 2002, p. 25)
Nós, profissionais da educação,
conhecemos nossos alunos ao ponto
de tirar proveito daquilo que melhor
podem fazer?
“A história da deficiência mental provavelmente é
tão antiga quanto a historia da humanidade. Em
todas as civilizações tem havido pessoas incapazes
de se adaptar às exigências ambientais ou sociais,
seja por deficiência física ou mental” (Maestrello,
1983).
O processo de inclusão na atualidade
Educação Inclusiva
Educação Especial
Garantia de Educação a todos,
principalmente, aos grupos
negados esse direito.
Modalidade de ensino visando
apoiar a escolarização de
alunos com deficiência,
transtornos globais do
desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação.
EDUCAÇÃO ESPECIAL
• Matrícula
• Permanência
• Acesso ao currículo
Oferta de atendimento
educacional especializado:
• Em sala de aula;
• Na escola comum;
•Nas instituições especializadas
Uma escola Inclusiva:
• Dá sentido ao conhecimento nela trabalhado.
[...] resta, então, quase nenhuma alternativa para trabalhar
com currículos mais abertos [...], uma das exigências para que
as escolas possam atender aos alunos considerando suas
características próprias e uma condição indispensável para a
escolarização de alguns daqueles que apresentam
necessidades educacionais especiais (PRIETO, 2009, p. 61).
Uma escola Inclusiva:
• Define a quem pertence os rumos da Educação Especial na
escola.
[...] desenvolver ações de ensinar com uma consciência de que
[...] [essas ações] [...] permitem os docentes atuarem no universo
da escola, [bem como] atuar sobre si mesmos enquanto sujeitos
desta história, construindo novos significados sobre as práticas
educacionais com os alunos com deficiência [...], elaborando
novos modos de conhecer a singularidade de desenvolvimento
destes alunos (FERREIRA, 2007, p. 16).
Uma escola Inclusiva:
• Toma a avaliação como parte do processo e não como um
dilema a ser resolvido no final de cada bimestre/trimestre.
[...] temos na escola uma ‘epidemia’ de diagnósticos de
dificuldade de aprendizagem sempre relacionados a um quadro
patológico centrado no aluno, com encaminhamentos
questionados por pesquisadores que alertam para a necessidade
de se considerar a complexidade de fatores sociais envolvidos
na discussão sobre o desempenho escolar [...] (BUENO, 2008,
p. 11).
Uma escola Inclusiva:
• Toma o currículo e as práticas pedagógicas como movimentos a serem
constituídos cotidianamente e não elementos prontos aos quais os
alunos precisam ser encaixar.
[...] traçar diretrizes curriculares que sustentem a
inclusão do aluno com deficiência [...] nas atividades de
sala de aula, junto com o que é proposto para todos os
alunos; [...] [definindo] objetivos que contemplem o
desenvolvimento escolar real destes alunos [...]
[possibilitando] que [...] a sala de aula [seja] o lugar de
sua educação formal [...] para que os quadros de
deficiência [...] não venham a se manifestar como mais
deficiência (FERREIRA, 2007, p. 16).
Uma escola Inclusiva:
• “[...] os programas de estudos devem ser adaptados às necessidades da
criança e não o contrário (...) Assim sendo, a escola deve oferecer
programas educacionais flexíveis, contribuindo para a promoção de
desafios, de forma a superar as necessidades grupais ou individuais,
compreendendo e reorganizando ações educativas que garantam
aprendizagem de novos conhecimentos” (PADILHA, 2005).
Uma escola Inclusiva:
“Como é possível introduzir novos modos de participação
cultural na vida das crianças e jovens que têm o direito de
aprender mas apresentam peculiaridades de suas
deficiências?”
•
A Educação Especial precisa “ter o olhar radicalmente
voltado para ver o sujeito como alguém que vai se
apropriando da cultura e não somente somando hábitos”.
• “Ficam compromissos (...) Como realizar tais práticas,
registrar, (re)planejar, (re)avaliar, avançar, propor... em
constante interação com os alunos de uma sala de aula, via
de regra com muitos alunos? Como se organizar em grupos
de trabalho na escola? Como compor/ajustar currículos?
Como organizar o tempo das necessidades com o tempo
letivo? Como não substituir as classes especiais por um certo
“empurrar para frente” indiscriminado deixando que os alunos
cheguem analfabetos ao final do ensino fundamental?”
Uma escola Inclusiva:
• Uma metodologia colaborativa, deve “considerar a atividade docente
como uma unidade de análise e criar condições para que, com a
participação dos professores, sejam evidenciados seus modos de
organização e desenvolvimento da atividade pedagógica, assim como
os modos da escola funcionar enquanto instituição aprendente de tal
forma que os significados das atividades sejam negociados e a
profissionalização docente ressignificada como processo de
humanização”.
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