Pergunta: Por que praticar, dentre todos os ensinos budistas, logo o Sutra de Lótus????? Diálogo entre um sábio e um homem ignorante Uma vez vivo, será impossível escapar da morte. Embora todos, desde o mais nobre, o imperador, até o cidadão mais comum, reconheçam esse fato, nem uma única pessoa entre mil oi dez mil pondera seriamente sobre essa questão ou sofre com isso. Quando subitamente somos confrontados com a impermanência da vida, podemos ficar aterrorizados ao perceber que ficamos tão distantes do budismo e lamentar termos ficados tão absortos com questões seculares. É desta forma que se inicia o Gosho, escrito por Nitiren Daishonin em 1265. Ele comenta sobre um ignorante que busca resposta para suas angustías no Budismo. O ignorante recebe a visita de praticantes de 4 escolas budistas e busca praticar todas. Até que ele encontra um sábio que prega o veiculo único do Sutra de lótus da Lei Maravilhosa (Daishonin) que convence o ignorante a praticar o Nam-myoho-rengue-kyo, com suas afirmações e comparações com as outras escolas e sutras. A seguir segue um resumo desta obra (Escritos de Nitiren Daishonin, volume 2), que servirá para explicar a escolha do sutra de Lótus e o daimoku. OBS: Todas as referências citadas no texto são desta escritura. 1. A escola dos Preceitos (do reverendo Ryokan, do templo Gokuraku-ji) Fundamentos Está baseado em observar os cinco e os 250 preceitos e fazer atos de bondade (por exemplo, construir barreiras, coletar arroz, entre outros). Os 5 preceitos são: não matar, não roubar, não mentir, não manter relações sexuais ilícitas e não ingerir bebidas alcoólicas. Os 250 preceitos são muitos e não entraremos em detalhes no momento. Problemas Esta doutrina é considerada como um ensino Hinayana. “O Buda explicou que, por exemplo, o ensino Hinayana é como a luz de um vaga-lume comparada ao irradiante brilho do sol, ou como um cristal comparado à esmeralda” (p. 55). O Hinayana significa literalmente “pequeno veículo”, que era um termo pejorativo empregado pelos budistas do Mahayana, os quais consideravam os praticantes dessa doutrina pessoas interessadas somente na própria emancipação e indiferentes à salvação dos outros. Os ensinos Hinayana são representados pelas doutrinas das quatro nobres verdades e das doze correntes unidas da causalidade. Os devotos desse ensino consideram os desejos mundanos como a causa dos sofrimentos e acreditam que os sofrimentos só podem ser eliminados pela erradicação dos desejos mundanos. Já o Mahayana é o Ensino do grande veículo, ou o ensino que expõe sobre a iluminação de todas as pessoas e objetiva a salvação de todos os seres vivos. Esse ensino expõe a prática de bodhisattva como um meio para atingir tanto a própria iluminação quanto a das outras pessoas, em contraste com o Hinayana, cujo ensino objetiva somente a salvação do devoto, ou a aspiração ao estado de arhat. O budismo Nitiren que praticamos é um ensino Mahayana. Ademais, uma doutrina não é merecedora de louvor apenas porque seus praticantes são respeitados. É por isso que o Buda ensinou a “seguir a Lei e não as pessoas” (p. 56). 2. Escola da Terra Pura – Nembutsu (reverendo Honen) Fundamentos Baseia-se na aspiração à Terra Pura, onde “Os ensinos e práticas que conduzem ao renascimento na Terra Pura são os olhos e os pés para todos os que vivem nesta nossa era maléfica” (p. 58). Para os praticantes os juramentos originais do Buda Amida, em particular, superam os juramentos de todos os outros budas em valor e importância, e são amplamente aceitos. Por isso, prega a repetição do Nembutsu (significa “Reverência ao Buda Amida”). O Amida é “O Buda da Luz Infinita”, o Buda Supremo, um dos 7 dhyani budas do Budismo Mahayana e atualmente um dos deuses mais venerados da Ásia. Segundo a tradição, Amithaba foi um bikkhu chamado Dharmakhara que por sua santidade se fez digno do estado de Buda. Fez então o voto de não entrar no Nirvana até que lhe fosse permitido transmitir aos demais uma parte dos méritos que havia acumulado. Todos os seres que o invocam com um coração puro teriam a segurança de obter a libertação. OBS: em anexo o sutra curto e longo de Amitabha (é uma viagem transcedental, com todo o respeito, é claro!!!). Não é da nossa organização. Problemas Despreza o Buda Sakyamuni. Possui muitos rituais de práticas austeras (difíceis), como por exemplo, “com relação aos intoxicantes, à carne, e aos alimentos de cinco sabões picantes, a pessoa jamais deve tocálos nem experimentá-los sob o juramento de que se eu contrariar essas palavras, que feridas se abram em minha boca e em meu corpo” (p. 84), assim, o praticante não poderia comer nenhum condimento (sal, alho). 3. Verdadeira Palavra (Mahavairochana) Fundamentos A doutrina é praticada com o ensino Rei da iluminação, o sutra Mahavairochana, que são ensinos esotéricos, onde o Buda pregou tendo como ouvinte Vajrasattva, e recitou alguns mantras secretos. A prática baseia-se na recitação dos mantras pregados neste sutra. Problemas “Em nenhuma passagem dos sutras e teses encontramos a menor evidencia que apóie essa afirmação de que o sutra de Lótus é inferior ao sutra Mahavairochana” (p. 90). 4. Budismo Zen Fundamentos O Zen prega a transmissão oral dos ensinos que foram ouvidos pelos seguidos de Sakyamuni e o desapego dos desejos mundanos. “Os ensinos dos sutras são como um polegar apontado para a Lua. Suas linhas doutrinais são tão sem sentido que foram capturadas em palavras. Entretanto, existe um ensino que lhe permitirá encontrar a paz na natureza essencial de sua própria mente – esse é o ensino Zen” (p. 62). Como ele é praticado? Resposta: “Se o senhor deseja sinceramente saber sobre esse ensino, deve então se sentar em meditação Zen olhando na direção da parede e, clarear a lua de sua mente original” (p. 63). OBS: em anexo uma matéria retirada da net, onde um reverendo Zen comenta sobre o ensino que compara o Zen a Lua, e os sutras a um simples reflexo da lua num lago ou um polegar apontado para o satélite. Não é da nossa organização. Problemas “o Grande mestre Tient’ai afirma: o que está de acordo com os sutras dever ser escrito e colocado à disposição a todas as pessoas. Porém, não depositem sua fá em palavras ou significados inexistentes nos sutras” (p. 78). A escolha do Sutra de Lótus “Sakyamuni atingiu a iluminação aos trinta anos e, naquele instante, desfez as três categorias de ilusão e findou a longa noite da ignorância. Pode parecer que naquela época ele havia pregado o veículo único do Sutra de Lótus afim de cumprir seu juramento original. Entretanto, ele sabia que as pessoas diferiam muito em sua capacidade de compreensão e que não estavam prontas para compreender o veículo do Buda. Portanto, Sakyamuni devotou os quarenta anos seguintes de sua pregação para desenvolver a capacidade inerente das pessoas. Então, nos últimos oito anos de sua vida, Sakyamuni cumpriu o propósito de seu advento neste mundo pregando o Sutra de Lótus” (p. 70). No capítulo “Meios” (Hoben) do sutra de Lótus, o Buda afirma: “descarto completamente os meios, eu pregarei unicamente o caminho insuperável” (p. 72). “Não há nem uma única palavra falsa contida nesse sutra”. Sakyamuni declara no quarto volume do sutra de Lótus “rei dos remédios, declaro neste momento que preguei vários sutras e, entre todos eles, o sutra de Lótus é o primeiro” (p. 93). No capítulo Rei dos Remédios (sétimo volume do sutra de Lótus) há dez analogias que em louvor aos ensinos desse sutra. A primeira é a da água que diz que seus riachos e rios correspondem aos vários sutras ao passo que o grande oceano corresponde ao sutra de Lótus (p. 94). O sutra de Lótus expõe as doutrinas da possessão mútua dos Dez estados de vida, os três mil mundos existentes num único momento da vida. As pessoas dos dois veículos (Absorção e erudição), as mulheres e até as pessoas que cometeram falhas graves podem atingir o estado de Buda. Para explicar a superioridade do Nam-myoho-rengue-kyo do sutra de Lótus, Nitiren Daishonin usa a seguinte metáfora: Embora a semente da árvore nyagrodha tenha um terço do tamanho da semente de mostarda, ela é capaz de esconder quinhentas carroças dentro de seu próprio espaço. Isso não explica como o pequeno pode conter o grande? A pedra preciosa que concede desejos, apesar de ser apenas uma, é capaz de fazer chover dez mil tesouros sem faltar um único componente. Isso não explica a questão de que poucos podem incluir muitos? Diz um provérbio popular que ‘uma única mulher é capaz de trazer à luz dez mil pessoas’. O senhor não é capaz de compreender o princípio que existe por trás desses pontos? Um ponto importante a considerar é se uma doutrina corresponde ou não ao verdadeiro aspecto de todas as coisas. Não fique cegamente preso à questão de muitos ou poucos! Na obra Grande Perfeição da Sabedoria consta que a árvore nyagrodha, ou figueira-de-bengala, é suficientemente larga para proporcionar sombra para quinhentas carroças, apesar de o tamanho de sua semente corresponder a apenas um terço da semente de mostarda. Citando este e outros exemplos, o “sábio” explica ao “homem ignorante” que ao se recitar somente o Nam-myohorengue-kyo, todas as suas calúnias e ofensas podem ser erradicadas. Em dois trechos imediatamente anteriores desse escrito, Daishonin escreve: “A totalidade dos oitenta mil ensinos e as milhares de palavras e frases dos oito volumes do Sutra de Lótus foram todas expostas unicamente com o propósito de revelar esses cinco caracteres.” e “Se recitar apenas o Nam-myoho-rengue-kyo, que ofensa não seria erradicada? Que benefício não receberia? Essa é a profunda verdade. O senhor deveria acreditar nela e aceitá-la”. (As Escrituras de Nitiren Daishonin [END], vol. 2, pág.140.) Assim, o sábio revela que a essência do Sutra de Lótus encontra-se nos cinco caracteres do Myoho- rengue-kyo, que é próprio o título deste sutra. Em outras palavras, o Myoho-rengue-kyo representa a natureza de Buda inerente em todos os seres. Portanto, quando recitamos o Nam-myoho-renguekyo, a natureza de Buda inerente em todas as coisas se manifesta e nossa própria natureza de Buda emerge simultaneamente. Mesmo sem ter uma profunda compreensão dos ensinos budistas, por meio dessa prática podemos atingir o estado de Buda em nossa presente forma. Com certeza, essa pequena frase dos escritos de Nitiren Daishonin nos elucida claramente a importância de basearmos nossa vida em uma doutrina que corresponda ao verdadeiro aspecto de todas as coisas, e não apenas pela sua forma ou a sua extensão. No que se refere à aceitação e à crença de uma doutrina, comumente as pessoas são induzidas ao erro em função dos seus aspectos meramente formais e superficiais, tais como a beleza de suas palavras, a extensão dos seus textos, apelos emocionais etc. O Nam-myoho-rengue-kyo representa o verdadeiro aspecto de todas as coisas, isto é, a essência de tudo o que existe no Universo e ao mesmo tempo a natureza do Buda inerente em nossa vida. Por essa razão, a recitação do Daimoku proporciona os verdadeiros benefícios da transformação da vida. Por outro lado, a grandiosidade do Nam-myoho-rengue-kyo manifesta-se também na vida das pessoas que o recitam como praticantes do Budismo de Nitiren Daishonin na forma de um inquestionável desenvolvimento como ser humano que se dedica verdadeiramente à felicidade de outras. O presidente Ikeda conceitua este desenvolvimento como “revolução humana”, descrevendo-o com estas palavras em sua obra do mesmo nome: “A grandiosa revolução humana de uma única pessoa irá um dia impulsionar a mudança total do destino de um país e, além disso, será capaz de transformar o destino de toda a humanidade”. (Revolução Humana, vol. 1, pág. 9.). (Brasil Seikyo, edição nº 1925, 26/01/2008, página B1).