Gravidez na Adolescência Laura Martins Diniz Baptista Coordenadora do Programa Estadual Materno-Infantil Vitória - 2007 A palavra adolescer vem do latim adolescere, que significa “ fazer-se homem/mulher” ou “crescer na maturidade”. Fonte: Muuss, 1982. E na maioria das culturas a chegada à vida adulta, à essa maturidade, é marcada por um rito de passagem. Fonte: Muuss,1996 Você, botão de rosa, Amanhã a flor mulher, Jóia preciosa Cada um deseja e quer, De manhã banhada ao sol, Vem o mar beijar, Lua enciumada, Noite alta vai olhar. Você, menina-moça, Mais menina que mulher Confissões não ouça, Menina Moça Abra os olhos, se puder, Luiz Antonio Tudo tem seu tempo certo, Tempo para amar, Coração aberto, Faz chorar. Vejam o refrão do forró Menina Moça, do grupo Herança: Menina moça Eu quero você agora Vem e me ama E vamos fazer amor na madrugada No muro, na calçada Ou outro qualquer lugar Eu quero você Sem mais e nem porque Hoje a Adolescência é uma fase entre a infância e a idade adulta, em que há transformações tanto físicas, quanto psicológicas, possibilitando comportamentos irreverentes e desafiantes com os outros, e o questionamento de padrões e comportamentos infantis, o que é necessário ao crescimento. Fonte: Gláucia Bueno, 2004 Acompanhando as transformações hormonais, o comportamento sexual do adolescente é um produto de fatores culturais presentes no ambiente, que cada vez mais erotiza as relações sociais. Fonte: Silvares, 1999. A sexualidade do adolescente pode se expressar através de relação heterossexual e/ou homossexual, da masturbação e de fantasias, e esse comportamento durante a adolescência deve–se às expectativas sociais e à modelação a partir da televisão, filmes e músicas que influenciam o espectador desde a mais tenra idade. . Fonte: Muss, 1996. Aqui no Brasil, a adolescência possui diferentes configurações, pois depende da classe social em que o adolescente está inserido. Fonte: Pereira, 1996. Adolescentes brasileiros A faixa etária de 10 a 19 anos tem: 50,4% do sexo masculino e 49,5% do sexo feminino. Fonte: IBGE, 2000. Adolescentes brasileiros, em 2002: 63% pertenciam à classe C; 18,5% pertenciam à classe B; 16% pertenciam à classe D; 2,5% pertenciam à classe A Fonte: Unicef. Adolescentes brasileiros(as) O núcleo familiar é composto por: Mãe em 87% dos lares; Irmãos e irmãs em 69% dos lares; Pais em 66% dos lares; Avôs e avós em 14% dos lares; Tios e tias em 13% dos lares. Fonte: Unicef, 2002. Adolescentes brasileiros(as) Quanto à cor, se consideram: 50% brancos(as); 43% pardos(as); 6% pretos(as); 0,4% indígenas; 0,3% amarelos(as). Fonte: IBGE, 2000. Adolescentes brasileiros(as) Referem como fontes confiáveis para obter informações sobre sexualidade: Família; Escola; Livros e revistas; Serviços de saúde. Fonte: Unicef, 2002. CONHECIMENTO SOBRE AIDS E PREVENÇÃO Percentual da população jovem, segundo a origem das informações recebidas para se proteger da Aids, por faixa etária e sexo, Brasil, 2005 Faixa Etária (em anos) 16 – 19 20 – 24 Homens Mulheres Homens Mulheres Da Família 83,8 64,3 54,7 38,0 Amigos(as) 18,6 17,2 22,3 13,2 Da Escola 51,8 50,8 44,5 42,7 TV 45,3 52,5 53,2 57,0 Rádio 15,3 14,6 20,4 17,3 Internet 8,8 3,5 4,9 7,1 Livros, Revistas, Jornais 17,1 21,9 15,1 23,4 Serviços de Saúde 11,5 16,2 12,1 23,6 Local de Trabalho 1,6 1,6 5,8 1,9 Fonte: Pesquisa sobre Comportamento Sexual e Percepções da População Brasileira sobre HIV/AIDS, 2005 – Ministério da Saúde – PNDST/AIDS Respostas múltiplas O acesso dos adolescentes aos serviços de saúde não é fácil, pois não há muitas unidades de atenção primária em saúde e hospitais preparados para atender a essa faixa etária e às necessidades próprias dessa idade. Comportamento Sexual: Em 2001/2002, 32,8% dos adolescentes, entre 12 e 17 anos, já haviam tido relações sexuais; Sendo que 61% eram do sexo masculino e 39% do sexo feminino. Fonte: Unicef, 2002. Comportamento Sexual : 70% dos (as) jovens referem ter contato sexual com parceiro único por 12 meses; A maioria recusa a perspectiva de amor sem fidelidade; Mais de um terço dos(as) jovens acredita ser o único parceiro para as namoradas(os). Fonte: Unesco, 2004. Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos São também direitos humanos; São garantidos na Constituição Federal (Artigos 6º, 196 e 227), na Lei Nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996 e no ECA; Envolvem os jovens no planejamento, implementação e avaliação das atividades que a eles(as) se destinam Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos “Adolescentes e jovens não são reconhecidas(os) socialmente como pessoas sexuadas, livres e autônomas, o que tem submetido estes sujeitos a situações de vulnerabilidade, no plano pessoal, social e institucional e a diversas interdições pessoais.“ Marco Teórico e Referencial - MS Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos .Oferta de métodos anticoncepcionais reversíveis no SUS; Elaboração de manuais técnicos e cartilhas educativas contextualizadas com a realidade de adolescentes; Capacitação dos profissionais de saúde da atenção básica para atenção integral á saúde de adolescentes e jovens; Ampliação do programa Saúde e Prevenção nas Escolas Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos Implantação e implementação de serviços para atenção às mulheres e adolescentes vítimas de violência sexual e doméstica para atenção humanizada às mulheres em situação de abortamento; . Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal (Seminários de Atenção Obstétrica e Neonatal e Gravidez na Adolescência). Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos . Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394, de 20.12.1996) - a Educação Sexual é prevista como um dos temas transversais a serem incluídos nos Parâmetros Curriculares Nacional, do ensino fundamental ao ensino médio. Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos: uma prioridade de governo - Este documento apresenta as diretrizes do governo para garantir os direitos de homens e mulheres, adultos (as) e adolescentes, em relação à saúde sexual e à saúde reprodutiva, enfocando, principalmente , o planejamento familiar. Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos Lei 6202/75, que regulamenta o Decreto 1044/1969, estabelece que a “gestante estudante” tem direito a receber o conteúdo das matérias escolares em casa a partir do oitavo mês de gestação e durante os três meses após o parto, podendo este período, de acordo com indicação médica, ser prolongado. A prestação dos exames escolares é garantida por “regime de exercícios domiciliares” e seu aproveitamento escolar poderá ser aferido através de trabalhos feitos em casa. É necessário reconhecer que, no campo da sexualidade, informações apenas não bastam para se evitar a gravidez na adolescência, as doenças sexualmente transmissíveis e a Aids. Fonte: Cavasin, 1999. Alunos Matriculados na Escola, Estado do Espírito Santo . ENSINO FUNDAMENTAL 7ª série – 22.397 alunos 8ª série – 21.638 alunos ENSINO MÉDIO 1ª série – 51.957 alunos 2ª série – 41.653 alunos 3ª série – 32.752 alunos TOTAL – EF – 44.035 alunos TOTAL – EM – 126.362 alunos Fonte: Censo Escolar 2005 SEDU/GEIA Dados da Violência Vitória é a capital brasileira onde acontecem mais mortes de jovens com idade entre 15 e 24 anos; São 197,1 homicídios para cada grupo de 100.000 habitantes; O Espírito Santo está em 3º. lugar no ranking da violência (1º. Rio de Janeiro; 2º. Pernambuco). Fonte : Unesco – novembro de 2004. Jovens Negros na Mira do Crime Têm entre 15 e 25 anos; Moram nas regiões periféricas da Grande Vitória; São os principais alvos da violência; Maioria deixou a escola antes de concluir o ensino fundamental para trabalhar; Maioria envolvida com tráfico de drogas. Fonte: “Quando a ordem é matar: análise da trajetória assumida por jovens vítimas de homicídios na Grande Vitória”; Mongim,A.B. e colaboradoras – Faculdade Salesiana de Vitória, junho de 2004. Seqüestros Relâmpago Seqüestradores : Adolescentes e jovens entre 12 e 24 anos ; Motivação : utilizar o carro em assaltos; Maioria dos seqüestradores tem envolvimento com drogas (consumo e/ou tráfico). Fonte: Policiamento Ostensivo Metropolitano Os motivos que levam à gravidez nos anos iniciais da fertilidade são inúmeros: Acaso; Ingenuidade; Submissão; Violência; Dificuldade em obter o contraceptivo; Fonte: Cavasin, 1999. Os motivos que levam à gravidez nos anos iniciais da fertilidade são inúmeros: Dificuldade em negociar o uso do condom; Forte desejo de ser mãe, com expectativas de mudança de “status” social e de obtenção de autonomia; Desejo de obter uma união estável. Fonte: Cavasin, 1999. Gravidez na Adolescência Causas tradicionais: Menarca e coitarca em idades mais tenras (meninas tem a primeira relação entre 15,6 e 16 anos, Unesco, 2004); Aumento da liberdade social e necessidade de auto-afirmação; Pressão do grupo social e pensamento mágico; Estímulo da mídia; Dificuldade de acesso aos insumos AC. Gravidez na Adolescência Causas, segundo a Unesco : Pouca ou nenhuma presença de programa de educação sexual nas escolas; Aconselhamento sexual baseado em tabus ou em preconceitos religiosos, distanciados da realidade; Resistência dos pais em dialogar sobre sexualidade: * Dialogar seria promover ? * Falta de diálogo dentro das famílias e entre alunos e professores. Gravidez na Adolescência Causas, segundo a Unesco : Falta de informações sobre planejamento sexual e reprodutivo; Pouco ou nenhum acesso aos métodos AC, incluindo a anticoncepção de emergência ; Falta de conhecimento dos jovens sobre si mesmos e sobre a realidade que os cerca; Falta de estímulos para que os jovens idealizem e mobilizem esforços em torno de um projeto de vida. Gravidez na Adolescência Causas, apontadas pelas adolescentes que desejaram ou planejaram a gravidez : Importância social: * Mudança de status social – de menina para mulher adulta; * Constituir uma família própria, por sentimento de abandono, falta de carinho e de diálogo com os seus próprios pais. Agressão aos seus pais, auto-afirmação; Testar fertilidade. Gravidez na Adolescência Pesquisa Unicef/2002 – 5280 adolescentes, divididos por região - “A Voz dos Adolescentes”, entre os que têm atividade sexual: “Já engravidou alguém ou ficou grávida?” entre os que responderam Sim : *idade entre 12 e 14 anos 21,3% *idade entre 15 e 17 anos 78,7% na classe A na classe B na classe C na classe D 13,1% 16,3% 15,6% 20,1% Há que se trabalhar as relações de gênero, considerando a necessidade urgente de se incluir o menino na prevenção de: gravidez na adolescência, Dsts e Aids. Fonte: Cavasin, 1999. Gravidez na Adolescência Censo de 1940: Idade mínima fixada em 12 anos para se mensurar a fertilidade (era natural iniciar uniões e ter filhos nesta idade, o casamento legitimava a procriação, havia o apoio do marido e dos avós da criança). Censos de 1950, 60, 70 e 80 Idade mínima de fertilidade fixada em 15 anos. Censos de 1991 e 2000 Idade mínima de fertilidade fixada em 10 anos. Gravidez na Adolescência O aumento na taxa de fecundidade na faixa etária de 15 a 19 anos foi mais expressivo entre: Jovens menos escolarizadas; Jovens mais pobres; Jovens residentes nas áreas urbanas; Aumento relativo maior entre as faixas de 15, 16 e 17 anos, que entre as de 18 e 19 anos; As solteiras eram 94% (80% em 1991). Fonte: Censo 2000 Gravidez na Adolescência Recidivas: Cerca de 25% das adolescentes que já engravidaram, voltam a fazê-lo; De cada 100 adolescentes que engravidaram novamente: • 70 engravidaram do mesmo parceiro; • 60 tinham menos de 16 anos na primeira gestação; • 95 conheciam ou já haviam utilizado algum MAC; • 70 pararam de estudar. Fonte: Universidade Federal de SP Nascidos Vivos no ES por Faixa Etária Materna Ano <14 15-19 Total 2000 2001 2002 2003 2004 2005 460 470 473 380 375 363 12.826 12.544 11.450 10.749 10.614 10.269 13.286 13.014 11.923 11.129 10.889 10.632 Gravidez na Adolescência Conseqüências, como problema médico: Risco obstétrico maior: *Por não ser planejada; *Pelo diagnóstico tardio; *Menor acompanhamento pré-natal. Aborto inseguro, elevando a mortalidade materna. Fonte: Censo 2000 Gravidez na Adolescência Conseqüências, como problema social: Piora das condições financeiras e emocionais: * Desilusão com as perspectivas de vida; * 70% ficarão desempregadas no futuro (Fiocruz); * Abandono escolar: 25% temporariamente e 17,5% definitivamente (GRAVAD, 2001/02); * Sair da casa dos pais e não constituir a própria família. Gravidez na Adolescência Opções da Adolescente Grávida: Levar a gestação ao termo; Morar com os pais; Casamento de conveniência; Parar de estudar e trabalhar para sustentar o filho; Doar o filho; Interromper a gestação. Gravidez na Adolescência e Aborto Abortamento Inseguro: As adolescentes que abortam tendem a: * ser solteiras, estudantes, com parceiros mais velhos e baixa auto-estima; * ser estimuladas a abortar pelo parceiro ou pela família; Fonte: Bruno.Z.,Bailey.P. Seminário Gravidez na Adolescência, 1998 Gravidez na Adolescência e Aborto Abortamento inseguro: Só 16% das adolescentes queriam a gravidez; 80% dos casos ocorreram após uso de medicação abortiva; Razões alegadas para o abortamento: * dificuldade de se empregar e financeiras (parto, criar o filho); * falta de coragem em enfrentar a família e assumir as responsabilidades. Gravidez na Adolescência Fatores relacionados: Sócio-econômicos: * Pobreza; * Baixa escolaridade; * Baixa auto-estima; * Família chefiada por mulher. Uso de tabaco, álcool e drogas; Violência física e sexual; Doenças sexualmente transmissíveis. Gravidez na Adolescência Terá um resultado favorável, praticamente sem riscos, se for conduzida através de um pré-natal eficiente e humanizado, voltado para as reais necessidades nutricionais, emocionais e biológicas da gestante adolescente. Gravidez na Adolescência Representa um grande desafio para a sociedade, que necessita da participação de todos: * Família * Escola * Serviços de Saúde * Instituições de Classe * Instituições Governamentais Obrigada!