História da Música II DM - 970 Aula 4 A transição da Ars Nova para o Renascimento Prof. Diósnio Machado Neto Contexto histórico na virada do século XIV • Uma Europa em guerra – A aristocracia disputa o poder em diversas regiões. • Itália e Alemanha, por não terem um poder imperial respeitável, fragmentaram-se em cidades estados • A Inglaterra possuía uma estabilidade maior, porém enfrentou revoltas no Norte • A França, ao lado da Inglaterra, possuía uma monarquia estabelecida, porém enfrentou várias revoltas e guerras que a tornaram um território instável. A principal foi a Guerra dos Cem Anos, travada com a Inglaterra • O despojo dessa guerra, entre outros, foi armar a população e criar companhias de mercenários. – Mobilização militar de antigos feudos. – Na França, o ducado da Borgonha, um feudo principesco, se tornou uma importante força dentro dos domínios franceses. – Na década de 1420, a França teve sua unidade política tripartida: os Lancastre (herdeiros da coroa inglesa), o delfim Carlos do reino de Burgues e o Estado borguinhão (Borgonha) A fragmentação da Europa • • • Na Itália, cinco estados predominavam: Florença, Veneza, Estados Pontifícios, Nápoles e Milão. Na Alemanha, surgem fortes disputas pela coroa que acabam por fortalecer ligas e confederações , como a da Suíça. Conseqüências das guerras: – Industria têxtil e comércio marítimo declinaram – Falências bancárias – Enfraquecimento das potências beneficiaram o surgimento dos armadores ibéricos – Transformação do sistema de trabalho: os antigos servos tornaram-se proprietários – Organização de grêmios de ofícios. O patronato secular • O desenvolvimento das cortes e da própria burguesia influenciou na evolução da música. – Apesar das guerras, cortes como a do rei da França e a do ducado da Borgonha mantinham um importante aparato artístico. • A Borgonha, por sofrer menos com as guerras, teve condições mais favoráveis para o florescimento das artes. A riqueza de Flandres e Brabante permitiam a ostentação da corte, fixada em Dijon. • Organização das capelas cortesãs. – A organização da música, antes relegada as “scholas”, passavam agora a dividir o espaço dentro dos castelos e igrejas com os mestres de música mensurada. – A capela de música era um cartão de apresentação dos potentados. – Através das capelas circularam músicos e obras pelos caminhos entre as cortes. – Felipe o Bom foi quem desenvolveu a música na corte de Dijon. Dunstable, Dufay e Binchois foram seus empregados. Seu filho Carlos, empregou Bisnois. • A virada do século XIV marca definitivamente a postura do hedonismo sonoro, ou seja, a burguesia passa a não só ser consumidora mas praticante da arte da música. Grupos urbanos • Entre 1350 e 1380 surgem pequenos ensambles de música pública – Primeiro surge o gosto em cortes pelos instrumentos agudos de palheta: haut na França, laut na região germânica, alta nas cidades estados italianas – Grupos de instrumentos de palhetas duplas – Grupos de instrumentos da família das trompas • Ao redor de 1400, surgem as bandas de Pifferi. • Agrupações para cerimônias imponentes – Em Veneza, estes grupos acompanhavam os deslocamentos dos Doges • Trombe, Trombe d'argento, Trombe squarciate, Tromboni, e Pifferi Bandas Venezianas A influência francesa no Trecento italiano e a criação de um estilo internacional • No final do século XIV começa um movimento onde compositores italianos absorvem em suas canções textos e formas francesas. • Apesar da hegemonia, a música francesa também absorve elementos alienígenas. – As formes fixes francesas passam a ser utilizadas na Itália. Na contramão, na música francesa aparecem inflexões melódicas (como os melismas) de cunho italiano. – O princípio canônico da Caccia expande-se para outras formas, como o motete de Cicconia. – Alteração das estruturas estróficas das formas fixas decorrentes das diversas influências. Gêneros da música veneta • Compositores como Landini e Cicconia se dedicam a pequenas peças vocais: – Canções/danças (estampida) • Estruturas fechadas como Balatta, Caccia e Madrigal – Motetes • Sobressai o estilo da polifonia rítmica – Hinos • Caracterizadas pela forte ornamentação das linhas vocais e sofisticado trabalho de mudanças de pés métricos Entre ca. 1370, quando a música francesa se reconhece na grande obra de Machaut, e 1450, quando se reconhece uma “escola” flamenga, se consolida a técnida da polifonia complexa: trabalho sobre as possibilidades do sistema proporcional; desenvolvimento do conceito de estruturas formais reiteradas (da Talea ao Cantus Firmus); 3. princípios gerais do contraponto e o desenvolvimento das técnicas de variação (retrógrado, imitativo, etc) Características básicas do “proto-renascimento” (1377 – ca.1425) • Pleno estabelecimento da pan-isorritmia. • Complexidade rítmica levada ao extremo – Sistema de Vitry possibilitava o entrelaçamento de pés métricos diferentes. • O contraponto rítmico, nesse momento, era mais importante do que o melódico, porém inicia-se um processo lento de simplificação. – Isso acarretava uma difusão do poder expressivo da dissonância devido a sua falta de controle – O Renascimento romperá com esse estilo privilegiando o contraponto melódico, simplificando a verticalidade rítmica e assim controlando melhor a dissonância. • O Renascimento desenvolveu o potencial das terceiras e sextas • A formação de frases definidas vai ser a principal característica do início do século XV • A malha polifônica se estabelece sobre o tenor, porém o contratenor se desenvolve. – Evolução das partes instrumentais (característica italiana) • A música religiosa sofre mudanças – Após Machaut até Dufay, a música para o ordinário da missa sofreu um desprestígio. – Motete passou a designar gêneros diversos com textos religiosos, como o Rondellus de Worcester – Cicconia usa pequenas imitações em seus motetes. • Os tenores passam a ser compostos A influência inglesa • O caminho dessa influência inicia-se em plena guerra dos Cem Anos, na dominação inglesa da Borgonha. • Características da música inglesa: – homofonia, o movimento de vozes na forma de acordes ao invés do tratamento independente da polifonia francesa do século XIV – modo maior – valorização do semitom cadencial e terceira maior. – Paralelismo de terceiras e sextas - discante inglês • Conductus inglês • Rondellus – troca de vozes – Desinteresse pela polifonia francesa (até como aspecto sóciopolítico) – Gymel: 2 pt. Contraponto em terças e sextas Rondellus Fauxbourdon (“falso” bordão) • Técnica polifônica (2 vozes) onde uma melodia é cantada na voz superior (treble) acompanhada de paralelismos de sexta no tenor • Uma terceira voz era agregada (contratenor), formando com o tiple um paralelismo de quarta . • Esta técnica criou um novo som, com uma característica homofônica e homo-rítmica, abrindo assim o caminho para o tratamento harmônico coral da música. • A diferença com o discante é que o Fauxbourdon permitia o maior uso de paralelismos de 5ª e 8ª. Outra diferença é que no Discante a voz principal não era a mais aguda, como no Fauxbourdon. • Técnica aplicada principalmente nos hinos, antífonas, Magnificat e Te Deum • Esta forma de composição afetou profundamente a música continental entre 1420 e 1450. – A intrínseca relação entre a voz superior e o tenor foi determinante para o desenvolvimento de uma escrita coral mais vertical, privilegiando a melodia e equalizando o ritmo entre as vozes. John Dunstable • Viveu na França, na época da ocupação inglesa • Escreveu motetes diferenciados do estilo francês do século XIV – Textura musical do conductus – Não usa cantus firmus e nem prende-se à isorritmia. • Escrita “harmônica” – paralelismo de terceiras e sextas • Ainda usa isorritmia • É o primeiro compositor a utilizar o cantus firmus como princípio unificador da missa polifônica. • Dunstable finca-se na utilização dos modos maior e menor. Este estilo irá contaminar os músicos da Borgonha, como Dufay e Binchois