Hereditariedade ligada aos CROMOSSOMAS SEXUAIS Thomas H. Morgan – embriologista, desenvolveu trabalho com as moscas Drosophila Melanogaster (mosca da fruta). Razões para o uso de Drosophila Melanogaster: Apresenta um curto período de desenvolvimento e apresenta cromossomas muito grandes, que facilitam o seu estudo e observação. Aspecto da Drosophila Melanogaster Forma selvagem Corpo cinzento Olhos vermelhos Asas longas Forma mutante Corpo negro Olhos brancos Asas vestigiais Representamos a constituição genética das formas alternativas pela letra inicial da palavra inglesa que expressa a característica que elas manifestam. Exemplo: alelo para olhos brancos -> w (white). Quando é da forma selvagem é w+. Nas experiências de Mendel não era relevante que um determinado fenótipo pertencesse a uma fêmea ou a um macho – o cruzamento recíproco não interferia nos resultados. Os resultados obtidos por Morgan eram diferentes – ao cruzar uma fêmea de olhos vermelhos com um macho de olhos brancos não obtinha os mesmos resultados de quando cruzava uma fêmea de olhos brancos com um macho de olhos vermelhos. No 1º cruzamento todos os indivíduos apresentavam olhos vermelhos, sendo 50% machos e 50% fêmeas – de acordo com o previsto por Mendel. No 2º cruzamento as fêmeas têm todas olhos vermelhos e os machos olhos brancos – não se verifica a uniformidade fenotípica dos indivíduos da primeira geração. COMO EXPLICAR? Na Drosophila, como na maioria das espécies animais, existe um par de cromossomas chamado cromossomas sexuais. Indivíduos que apresentam dois HOMOGAMÉTICOS cromossomas sexuais idênticos Indivíduos que apresentam dois HETEROGAMÉTICOS cromossomas sexuais diferentes entre si Como a espécie humana, as fêmeas de Drosophila, para além dos autossomas, apresentam dois cromossomas sexuais X, enquanto que os machos apresentam, para além dos autossomas, um cromossoma sexual X e outro, mais curto e praticamente desprovido de genes, Y. O sexo heterogamético é portanto o masculino. Se considerarmos que o alelo da cor branca dos olhos de Drosophila se localiza no cromossoma X, podemos justificar o resultado dos dois cruzamentos. As características hereditárias que dependem de genes localizados no cromossoma X são características ligadas ao sexo. Nestes casos, os resultados obtidos no cruzamento directo e no seu recíproco são diferentes. Estes resultados devem-se ao facto de o cromossoma Y do macho não possuir os alelos correspondentes do cromossoma X, dado que os dois cromossomas não são totalmente homólogos. A maior parte dos genes localizados no cromossoma X não têm alelo correspondente no cromossoma Y, pelo que existe um único alelo para esse gene e esse alelo exprime-se sempre no fenótipo dos machos, que são hemizigóticos. Os genes presentes no cromossoma Y são transmitidos DE PAI PARA FILHO. Os genes presentes no cromossoma X são transmitidos de PAI PARA FILHA e de MÃE PARA FILHO OU FILHA. Transmissão de um alelo DOMINANTE ligado ao cromossoma X O carácter exprime-se sempre nos homens, de uma forma mais severa do que nas mulheres O carácter exprime-se nas mulheres homozigóticas dominantes e heterozigóticas Um homem afectado tem uma mãe afectada Uma mulher afectada tem uma mãe afectada ou um pai afectado Síndrome de Rett, hipertricose Transmissão de um alelo RECESSIVO ligado ao cromossoma X O carácter exprime-se sempre nos homens O carácter exprime-se apenas nas mulheres homozigóticas recessivas ( e nos homens?) Um homem afectado tem uma mãe afectada ou portadora Uma mulher afectada tem obrigatoriamente um pai afectado e uma mãe afectada ou portadora Daltonismo, hemofilia, diabetes insípidos Os trabalhos de Morgan são excepções às Leis de Mendel – contudo, apoiaram a teoria cromossómica da hereditariedade. Ligação factorial Descrição Exemplos de situações em que se verifica Os genes localizados no mesmo cromossoma, não sofrem geralmente, segregação independente na meiose – ficam juntos nos mesmos gâmetas e, por isso, os fenótipos da descendência não seguem as proporções previstas pelas Leis de Mendel. Os fenómenos de crossing-over podem separar genes ligados, o que faz com que se comportem como se estivessem localizados em cromossomas diferentes e apareçam recombinados na descendência. Quanto mais distantes estiverem dois genes no mesmo cromossoma, maior a probabilidade de serem separados por crossing-over. O gene do grupo sanguíneo Rh e o gene da eliptocitose (uma forma de anemia) estão localizados no mesmo cromossoma. Estes dois cromossomas são herdados em bloco por 96% dos indivíduos e 4% dos indivíduos são recombinantes. Explicação do manual Cada cromossoma tem de ter muitos genes. Os genes que se dispõem linearmente ao longo do mesmo cromossoma dizem-se em linkage e constituem um grupo de ligação factorial – são transmitidos em bloco. Cruzam-se indivíduos de duas linhas puras com características antagónicas. Fenotipicamente Corpo negro e x Corpo cinzento e asas asas vestigiais longas + + + + Genotipicamente bbvgvg x b b vg vg b – símbolo do alelo responsável pela cor negra (black) vg – símbolo do alelo responsável pelas asas vestigiais ( vestigials) b+ - símbolo do alelo responsável pela cor selvagem (cinzenta – DOMINANTE) vg+ - símbolo do alelo responsável pela forma selvagem das asas (longas – DOMINANTE) O cruzamento destas linhas puras resulta numa geração F1 – cujos resultados correspondem a uma situação normal de diibridismo, em que os descendentes são HETEROZIGÓTICOS e manifestam as características do ALELO DOMINANTE. Fenótipo – Corpo cinzento e asas longas Genótipo – heterozigótico b+bvg+vg para que se mantivessem as previsões mendelianas, deviam agora surgir quatro classes fenotípicas, que seriam: Fenótipo dos descendentes Corpo cinzento e asas longas Corpo negro e asas longas Corpo cinzento e asas vestigiais Corpo negro e asas vestigiais Resultados esperados em diibridismo 9/16 Resultados observados 3/16 - 3/16 - 1/16 1/4 3/4 Estes resultados são explicados pelo facto de os alelos do corpo negro e asas vestigiais estão situados no mesmo cromossoma – são transmitidos em conjunto (não há segregação independente prevista por Mendel) – correspondem a um cruzamento de Linhas puras em monibridismo. Nem sempre os genes em linkage se comportam como uma unidade inseparável – pode acontecer, que como resultado de crossing-over durante a meiose, os genes se separarem, como se estivessem em cromossomas separados. Assim, obtém-se uma descendência qualitativamente igual à prevista numa segregação independente (em que os alelos são segregados de forma aleatória). Contudo, estes genes só se transmitem deste modo quando há a sua separação em crossing-over, e isto ocorre muito menos frequentemente que a transmissão em bloco. Embora possam surgir as 4 classes fenotípicas esperadas, as suas proporções são completamente aleatórias. Organização e regulação do material genético Genoma – totalidade do material genético de um indivíduo (contém todos os genes). Gene – sequência de nucleótidos de uma molécula de DNA que origina uma molécula de RNA funcional. Organização do Material Genético Genoma dos procariontes Molécula circular de DNA associada a proteínas não histónicas, que forma o seu único cromossoma e se concentra na região do nucleóide. Algumas bactérias também possuem moléculas circulares de DNA chamadas plasmídeos. Genoma dos eucariontes Várias moléculas lineares de DNA nuclear associadas a uma grande quantidade de proteínas, especialmente histonas, formando a cromatina. Cada molécula de DNA associada a proteínas constitui um cromossoma. Também possui material genético extranuclear. As mitocôndrias e cloroplastos contêm DNA que codifica produtos essenciais à sua função biológica e que é muito semelhante ao DNA bacteriano. Um cariótipo organiza os cromossomas metafásicos aos pares com base no seu tamanho e noutras marcas físicas, como a posição do centrómero. O cariótipo humano tem 46 cromossomas, organizados em 23 pares. 44 são autossomas e são idênticos nos dois sexos (possuem os mesmos genes, na mesma sequencia) e 2 são heterossomas (ou cromossomas sexuais). A análise do cariótipo é útil para confirmar diagnósticos clínicos de certas doenças de transmissão hereditária – a comparação de cariótipos de diferentes espécies permite encontrar relações evolutivas. Regulação do material genético Temos muitos genes no nosso corpo, mas só apenas alguns se manifestam. Tem de haver portanto uma regulação dos genes. Este processo foi estudado pelos franceses François Jacob e Jacques Monod. Os organismos unicelulares reagem às variações do meio ambiente, variando a expressão dos genes e ajustando o seu metabolismo – desenvolveram mecanismos de resposta RÁPIDOS face às alterações das condições do meio, das quais dependem muito. Nos eucariontes multicelulares, o controlo da expressão dos genes torna possível que as células com o mesmo DNA possam divergir (em forma e função), tornando-se especializadas. A transcrição do DNA para mRNA é um exemplo da regulação da expressão dos genes. Modelo do Operão (principal mecanismo de controlo da expressão dos genes em bactérias) Unidade funcional constituída pelos elementos descritos abaixo. Operão Conjunto de genes que codificam proteínas com funções relacionadas. Genes estruturais Ex.: enzimas de uma determinada via metabólica Sequência específica de nucleótidos do DNA à qual se liga a RNA Gene promotor polimerase e onde tem início a transcrição Sequência de DNA que controla o acesso da RNA polimerase ao Gene operador promotor e que permite activar ou desactivar a transcrição de todos os Gene regulador Repressor genes estruturais Encontra-se a uma determinada distância do operão, tem o seu próprio promotor e codifica o repressor É uma proteína alostérica com duas formas, uma activa e uma inactiva. É específico, reconhece e liga-se apenas ao operador de um determinado operão. Explicação do funcionamento do operão lac.: Funcionamento de um operação do tipo indutivo NA AUSÊNCIA DE LACTOSE O gene regulador determina a síntese de um repressor; O repressor bloqueia o promotor, ao ligar-se ao operador; A enzima RNA polimerase não se liga ao promotor; Os genes estruturais não são transcritos; Não ocorre a síntese das três enzimas. NA PRESENÇA DE LACTOSE A lactose liga-se ao repressor, inactivando-o; O operador fica desbloqueado; A enzima RNA polimerase liga-se ao promotor; Os genes estruturais são transcritos; Dá-se a síntese de enzimas. Explicação do funcionamento do operão trp.: Funcionamento de um operação do tipo repressivo NA AUSÊNCIA DE TRIPTOFANO O gene regulador produz um repressor que está inactivo; O operador está livre; A RNA polimerase pode ligar-se ao promotor; Dá-se a transcrição; NA PRESENÇA DE TRIPTOFANO O triptofano liga-se ao repressor, activando-o; O repressor liga-se ao operador; A RNA polimerase não pode ligar-se ao promotor; Não se dá a transcrição; Ocorre a síntese de enzimas. Não se sintetizam as enzimas. Muitos genes de um genoma se destinam a regular o funcionamento de outros genes. Os genes que se expressam numa determinada situação dependem das interacções que o ambiente estabelece com o DNA. Transmissão Genética de Genes Mitocôndriais O material genético contido nas mitocôndrias é transmitido pela mãe para os filhos e filhas. A razão para este facto é simples: o citoplasma (e todos os seus constituintes) que vai dar origem ao zigoto é proveniente do oócito (tem, portanto, todos os organelos celulares da mãe – incluindo a mitocôndria!); o espermatozóide, apenas contribui com o núcleo para a formação do zigoto, pelo que não são transmitidas as mitocôndrias do progenitor masculino. Diferenças e semelhanças entre o DNA mitocondrial e o DNA nuclear. DNA mitocondrial Não possui exões Não ocorre crossing-over Possui várias cópias de DNA em cada mitocôndria, permitindo que na mesma célula existam diferentes alelos para o mesmo gene Taxa de mutação muito elevada Não possui enzimas que reparam o DNA DNA nuclear Possui exões Ocorre crossing-over Só possui uma cadeia (com dupla hélice) de DNA no núcleo da célula Taxa de mutação pouco elevada Possui enzimas que reparam o DNA Mutações Mutação – alteração permanente no material genético que afecta a expressão de um ou mais genes. Apesar de se darem centenas de alterações do DNA por dia, as células possuem enzimas capazes de corrigir ou eliminar porções mutadas do DNA, diminuindo a hipótese de esta ser uma mutação que se manifeste fenotipicamente. Podem ser génicas ou cromossómicas. m. génicas – alteram a estrutura do DNA; m. cromossómicas – alteram a estrutura/número de cromossomas; m. silenciosas – não alteram a proteína ou a sua acção; m. letais – provocam a morte ou doenças e anomalias; m. benéficas – levam à evolução das espécies; m. prejudiciais – provocam a morte do indivíduo. Agentes mutagénicos são factores do meio que provocam mutações em genes e/ou cromossomas. As mutações podem ocorrer em células somáticas ou germinativas. Mutação somática Ocorre durante a replicação do DNA que precede uma divisão mitótica. Pode originar um conjunto ou um clone de células mutantes identicas entre si, que se distinguem das restantes células do indivíduo. A descendência do indivíduo não é afectada. Este tipo de mutação está na origem de certos cancros. Mutação nas células germinativas Ocorre durante a replicação do DNA que precede a meiose. A mutação afecta os gâmetas e todas as células que dela descendem após a fecundação. Mutações génicas Ocorrem quando se dá uma alteração pontual ao nível dos nucleótidos de um gene, constituindo-se uma nova versão do gene. Alteram a sequencia de nucleótidos do DNA, por substituição, adição (inserção) ou remoção (delecção) de bases. Estas mutações podem conduzir à modificação da molécula de mRNA que é transcrita a partir do DNA e à alterção da proteína produzida. O efeito desta alteração é imprevisível, dependendo de qual o tipo de mutação e qual a proteína que passa a ser codificada. Pode ter efeitos benéficos e levar à evolução da espécie, ou pode ser prejudicial e causar a morte do indivíduo ou um grande numero de doenças e anomalias. Pode também ter um efeito neutro, não causando quaisquer modificações. Mutações génicas Substituição Inserção Delecção Ocorre a troca de um ou mais pares de bases. Acontece quando uma ou mais bases são adicionadas ao DNA, modificando a ordem de leitura da molécula durante a replicação ou transcrição. Acontece quando uma ou mais bases são retiradas do DNA, modificando a ordem de leitura, durante a replicação ou transcrição. A adição/remoção de um numero que não seja múltiplo de três altera completamente a mensagem do gene. Mutações cromossómicas Traduzem-se numa alteração da estrutura ou do número de cromossomas. Podem afectar uma determinada região de um cromossoma, um cromossoma inteiro ou todo o complemento cromossómico de um indivíduo. Mutações cromossómicas numéricas Aneuploidia Poliploidia Tipo de mutação Definição/causas Consequências/exemplos Existe pelo menos um conjunto completo de É comum nas plantas. As plantas poloplóides podem cromossomas a mais. Entre as causas possiveis: -fecundação de um oócito por 2 espermatozóides; -fecundação de um gâmeta diplóide (triploidia); -falta de divisão do zigoto após a replicação dos cromossomas autopolinizar-se ou cruzar-se com plantas semelhantes. Nos humanos embiões poliplóides não se desenvolvem e são abortados espontaneamente. Algumas células somáticas podem ser poliplóides. Existem cromossomas a mais ou a menos Anuploidias mais comuns em em relação ao numero normal. seres humanos são as Geralmente, envolve apenas um par de cromossomas e pode ser autossómica ou nos cromossomas sexuais. Podem distinguir-se: Polissomia – um ou mais cromossomas extra; Monossomia – um cromossoma em falta; As aneuploidias são causadas pela não-disjunção dos cromossomas homólogos ou dos cromatídeos na anafase da meiose I ou II. Um gâmeta recebe 2 cromossomas do mesmo par e outro não recebe nenhum. trissomias dos cromossomas 21, 13, 18 e a monossomia do X. Aneuploidias de outros cromossomas não permitem o desenvlvimento até ao nascimento e resultam num aborto espontâneo. As aneuploidias nos cromossomas sexuais são melhor toleradas que as dos autossomas. Síndrome. Sindromes estudadas: Trissomia 21 – (47,XX) ou (47,XY) – SÍNDROME DE DOWN Cromossoma extra no ‘lote’ 21. Monossomia do X – (45,X0) – SÍNDROME DE TURNER Afecta apenas mulheres, que carecem de um dos cromossomas sexuais. (47,XXY) – SÍNDROME DE KLINEFELTER Mutações cromossómicas estruturais Tipo de mutação Definição/Causas Delecção Representa uma perda no material cromossómico. As delecções visíveis de cromossomas humanos estão sempre associadas a grandes incapacidades. Duplicação Translocação Inversão Consequências/Exemplos Caracteriza-se pela repetição de uma porção de cromossoma. As duplicações são alterações cromossómicas muito importantes sob o ponto de vistaa evolutivo, porque fornecem informação genética complementar, potencialmente capaz de assumir novas funções. Ocorre uma inversao quando um segmento cromossómico experimenta uma rotação de 180º em relação à posição normal, sem alterar a sua localização no cromossoma. A transferencia de uma porção de um cromossoma, ou mesmo de um cromossoma inteiro para outro não homólogo designa-se por translocação simples. As translocações mais comuns são as translocações recíprocas, havendo troca de segmentos entre cromossomas não homólogos. As translocações podem alterar drasticamente o tamanho dos cromossomas, assim como a posição do centrómero. Poliploidia Os inivíduos poliplóides são indivíduos em que o número de conjuntos completos de cromossomas é multiplo do numero haploide primitivo existente nos gâmetas. Apresentam cariótipos triploides (3n), tetraploides (4n) ou mesmo numeros mais elevados de cromossomas. A poliploidia surge: - acidentalmente; - a partir da não-disjunção dos cromossomas durante a meiose ou mitose. Também pode acontecer que não há citocinese na repartição dos cromossomas pelas células filhas. - cruzamento entre indivíduos de espécies diferentes (o que é muito comum entre as plantas) – os indivíduos resultantes deste processo são naturalmente estéreis, uma vez que não possuem cromossomas homologos, não podendo estes emparelhar durante a meiose. Como é que estes indivíduos se reproduzem então? Através de reprodução assexuada – no caso dos individuos que resultam do cruzamento entre espécies diferentes, estes acabam por tornar-se ferteis apos algumas gerações, devido a uma ocorrencia de uma duplicação cromossómica resultante de uma não-disjunção dos cromossomas na divisão celular. A poliploidia é muitas vezes provocada em laboratório para que se obtenham plantas mais resistentes, com grandes frutos, sem caroço ou sementesm grãos de trigo maiores, etc. As Mutações, a tecnologia e a vida Um agente mutagénico é qualquer agente responsável por uma mutação. O processo que conduz ao aparecimento de mutações pelo agente mutagénico é a mutagénese. As nossas células tem a capacidade de reparar alguns danos causados ao DNA. Há portanto, um equilíbrio entre a proliferação celular, em que as células se renovam e multiplicam e entre a morte das células. Apesar disso, este equilíbrio por vezes perde-se – umas das consequências é o aparecimento de um cancro. Um cancro (neoplasia maligna/tumor maligno) é um conjunto muito heterogéneo e multifactorial de doenças que têm em comum o facto de apresentarem sempre o crescimento de um tecido neoformado. Outra definição O cancro é uma doença genética que resulta da perda de controlo do ciclo celular. A divisão da célula com mais frequência dá origem a uma população de células em proliferação descontrolada e forma um tumor. As células cancerosas: -são pouco especializadas e com forma arredondada; -dividem-se continuamente; -invadem os tecidos adjacentes; -podem instalar-se noutros lugares do organismo. O aparecimento de cancros está normalmente associado a alterações dos mecanismos que regulam a divisão celular. Necrose – as células morrem devido à acção de substâncias tóxicas ou à falta de nutrientes essenciais. Apesar de manterem o núcleo intacto, aumentam de volume, rompe-se a membrana plasmática e verte-se o conteúdo da célula no meio extracelular, causando uma pequena inflamação. Apoptose – ocorre um conjunto de fenómenos programados geneticamente e que levam à morte da célula – processo mais comum. Quando as células apresentam anomalias – sobretudo genéticas – ou já não são necessárias ao organismo, desencadeia-se um “suicídio” por parte das células. 1. A cromatina começa a condensar; 2. A célula isola-se das células vizinhas, compactando o citoplasma e a cromatina; 3. Uma enzima (endonuclease/enzima de restrição) fragmenta o DNA em pequenas unidades; 4. A célula fragmenta-se sem que ocorra ruptura nem resposta inflamatória. Quando este equilíbrio, entre a divisão celular e a apoptose é quebrado, pode surgir um cancro. As neoplasias têm origem genética, pois resultam de alterações no DNA. No caso de as alterações se darem a nível dos proto-oncogenes: Estes são genes que estimulam a divisão celular, mas que estão inactivos em células que não se dividem. Devido à acção de agentes mutagénicos podem tornar-se activos, e passam a estimular permanentemente a divisão celular, passando a oncogenes. No caso de as alterações se dares ao nível dos genes supressores tumorais: Estes genes têm a função de regulam a proliferação celular, contrabalançando a acção dos proto-oncogenes, inibindo-os. Estes genes estão normalmente activos (bloqueiam a divisão celular), mas devido à influencia de agentes mutagénicos podem desactivá-los, fazendo com que as células se continuem a dividir. As infecções por vírus contribuem para o aparecimento de cancro pela integração do material genético do vírus no DNA das células infectadas. O DNA viral pode ser inserido num local onde destrua a actividade de um gene supressor tumoral ou converta um protooncogene num oncogene. Todos os cancros são genéticos, mas quase nenhuns são hereditários. Nestes casos, a alteração genética está presente em todas as células do indivíduo, manifestando-se muito cedo. A maioria dos cancros é esporádica (95%) e surgem como resultado de mutações nas células somáticas. Estas alterações são promovidas pela interacção entre o genoma do indivíduo e o ambiente. As componentes genética e ambiental estão sempre presentes, apesar de nem sempre assumirem igual importância. Ex: melanoma – radiações solares + alteração de um gene supressor tumoral (MTS) localizado no cromossoma 9. Todos os dias surgem neoplasias no nosso corpo, que são eliminadas por apoptose. Quando isto não acontece, inicia-se um cancro, que corresponde ao momento em que estas células se proliferam e invadem tecidos vizinhos. Pode seguir-se um processo de metastização, em que as células cancerosas se podem movimentar através da corrente sanguínea ou linfática e continuar a desenvolver-se noutras partes do corpo. Fundamentos da Engenharia Genética A engenharia genética permite manipular directamente os genes de determinados organismos com objectivos práticos. Após a descoberta de que também o DNA podia ser manipulado, a primeira “ferramenta” da engenharia genética foram as enzimas de restrição (ou endonucleases). Estas enzimas cortam a hélice dupla do DNA em zonas específicas, sempre que as encontram. Funcionamento das enzimas de restrição Os vírus invadem as bactérias e afectam o seu DNA. Algumas bactérias têm um mecanismo de defesa contra os vírus, que consiste na produção de enzimas de restrição. Ou seja: 1. As enzimas cindem a cadeia de DNA do vírus quando encontram uma determinada sequência de pares de bases. 2. Estas enzimas actuam em pontos específicos (ZONAS DE RESTRIÇÃO), catalisando o desdobramento do DNA em fragmentos menores. 3. Estes fragmentos possuem nas extremidades a sequência de nucleótidos reconhecida pela enzima de restrição – são constituídos por cadeia simples ligada a cadeia dupla e chamam-se extremidades coesivas. As extremidades coesivas podem ligar-se por complementaridade a outro DNA. Intervêm as ligases do DNA, que catalisam o processo que permite que fragmentos de DNA se voltem a ligar. Para a transferência destes genes, é também necessária a existência de um vector, que será a entidade que leva o material genético do genoma de onde foi retirado para o genoma que o vai receber. Os plasmídeos das bactérias são exemplos de vectores. Técnica do DNA recombinante A técnica do DNA recombinante permite combinar na mesma molécula de DNA genes provenientes de fontes diferentes, mas não necessariamente de espécies diferentes, obtendo uma molécula de RNA recombinante (rDNA). Nesta técnica, recorre-se a enzimas de restrição para cortar o DNA em pontos específicos e a ligases do DNA para reconstruir a molécula. Obtenção e expressão da molécula de rDNA: 1. Selecção de uma molécula de DNA (a integrar) contendo um gene com interesse, que se pretende transferir e clonar; selecção de um vector adequado (plasmídeo); 2. A molécula de DNA e o vector são tratados com a mesma enzima de restrição, que corta as duas moléculas em regiões com a mesma sequência de nucleótidos; 3. Misturam-se os fragmentos de restrição da molécula de DNA e o vector, adicionando ligases do DNA. O vector e os fragmentos de restrição emparelham pelas extremidades coesivas e a ligase estabelece a ligação entre eles; 4. O vector, contendo o DNA dador, é transferido para uma célula/organismo receptor; 5. O DNA dador é incorporado no genoma da célula/organismo receptor, que passa a possuir um DNA recombinante; Os plasmídeos possuem genes que lhes conferem resistência a um antibiótico, permitindo localizar as bactérias que têm o DNA recombinante. O cultivo de bactérias que foram misturadas com plasmídeos num meio com esse antibiótico, é possível isolar as bactérias que resistem – essas têm certamente os plasmídeos recombinantes, porque as que não têm desaparecem com a aplicação do antibiótico. Os vírus também podem ser utilizados como vectores. As células hospedeiras dos genes já não são só bactérias, mas podem ser outras células, como leveduras e mesmo células eucarióticas. São comuns as plantas e os animais em cujo genoma foram introduzidos genes que determinam características vantajosas, constituindo os OGM. A técnica do rDNA é utilizada, por exemplo, na produção de insulina humana. Técnica do DNA complementar Os procariontes são organismos muito utilizados em Engenharia Genética como receptores de DNA estranho porque: São fáceis de cultivar, Têm um crescimento rápido, Processos bioquímicos bem conhecidos. No entanto, os seres procariontes não processam o mRNA e se, em alternativa, recebem genes com intrões, não são capazes de os retirar e a proteína produzida não é funcional. Este problema é ultrapassado pela obtenção e transferência de DNA complementar ou cDNA. Para a técnica de DNA complementar são necessários: Molécula de mRNA; Transcriptase reversa (enzima que catalisa a formação da cadeia complementar do DNA – transcriptase porque é um processo de transcrição, reversa porque é inverso ao processo de transcrição da molécula de DNA em mRNA); DNA polimerase – que catalisa a formação da cadeia complementar de DNA; Nucleótidos livres. O cDNA é uma molécula de DNA sem intrões, que é directamente transcrita numa molécula de mRNA funcional. O processo de obtenção de cDNA é o seguinte: 1. Isola-se uma molécula de mRNA funcional das células; 2. Adiciona-se a trancriptase reversa e nucleótidos livres; 3. Junta-se uma enzima que degrada o mRNA que serviu de molde e DNA polimerase, que catalisa a formação da cadeia complementar do DNA. O cDNA pode ser inserido num procarionte através de um vector contendo o promotor e sequências reguladoras. Reacções de polimerização em Cadeia – PCR O PCR é uma técnica que permite amplificar qualquer porção de DNA fora das células. Esta técnica é útil para quando é necessária uma determinada quantidade de DNA que não se possui, mas que pode ser obtido através desta técnica. Esta técnica consiste nas seguintes etapas: 1. O fragmento de DNA a amplificar é aquecido de modo a separar as duas cadeias da dupla hélice, quebrando as ligações entre os aminoácidos - DESNATURAÇÃO; 2. Obtêm-se duas cadeias simples; 3. São adicionados nucleótidos livres e DNA polimerase resistente ao calor – esta DNA polimerase é obtida a partir de microrganismos termófilos, uma vez que vivem a temperaturas muito elevadas, e aguentam ser mantidos às mesmas, enquanto a DNA polimerase normalmente usada acaba por sofrer também DESNATURAÇÃO quando sujeita a temperaturas muito elevadas; 4. A DNA polimerase catalisa a formação das cadeias complementares, restituindo a dupla hélice, formando duas moléculas de DNA a partir de uma; 5. Arrefecimento das novas moléculas; 6. Repetição do processo – em cada ciclo a quantidade de DNA é duplicada. Esta técnica permite a obtenção de biliões de cópias de uma porção de DNA em poucas horas e é executada por aparelhos DNA fingerprint No genoma humano existem sequências de DNA repetitivas que são reconhecidas e cortadas por determinadas enzimas de restrição. O DNA fica então fragmentado – estes fragmentos apresentam tamanhos e composição diferentes, variando de pessoa para pessoa. Quando submetidos a técnicas como a electroforese, o resultado é um padrão de bandas que difere de indivíduo para individuo, sendo possível identificar uma pessoa através destas bandas, com quase (ou mesmo) 100% de certezas. O processo de identificação por DNA fingerprint é feito da seguinte forma: 1. Obtenção de fragmentos da molécula de DNA, colocando em recipientes amostras de DNA e enzimas de restrição, que a fragmentam nas respectivas zonas de restrição; 2. Os fragmentos obtidos são colocados num meio apropriado (por exemplo gel) e quando submetidos a um campo eléctrico, deslocam-se até à extremidade oposta de onde foram inseridos, a velocidades diferentes, consoante o tamanho e “peso” do fragmento; 3. Ao fim de algum tempo, os fragmentos localizam-se em diferentes secções do gel, permitindo identificar um indivíduo pelo padrão obtido por electroforese. Técnica Aplicações DNA Recombinante (rDNA) Investigação fundamental – torna possível isolar genes de organismos complexos e estudar as suas funções a nível molecular Obtenção de organismos geneticamente modificados (OGM) – organismos em cujo genoma foram introduzidos genes que conferem características vantajosas. São usados: -na produção de alimentos em maior quantidade e qualidade; -na produção de grandes quantidades de substancias com aplicação médica ou farmacêutica; -na com aplicação industrial; -biorremediação. DNA Complementar (cDNA) Polimerização por reacção em cadeia (PCR) DNA fingerprint Obtenção de cópias de genes que codificam produtos com interesse. Obtenção de grandes quantidades de DNA em pouco tempo. -Investigação criminal, forense e histórica; -Determinação de paternidade.