Lógicas Não - Clássicas Andressa Caroline da Cunha, Melina Deraldo dos Santos, Thays Boiko Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, PR - Brasil. Abstract. The objective of this text is to inform the most important topics about the non-classical logic, getting into deepon on the paraconsistent logic C1. The text also aims to present the concepts for its understanding, as well as the main differences between this and classical logic and show in sequence the implementation some systems in deductive logic. Resumo. O presente trabalho tem por objetivo informar os mais importantes tópicos sobre a lógica não-clássica, aprofundando-se nas lógicas paraconsistentes C1. Apresentar os principais conceitos para a sua compreensão, mostrar as principais diferenças entre esta e a lógica clássica e em seqüência exibir a aplicação de alguns sistemas dedutivos nesta lógica. 1.INTRODUÇÃO Quando é feita uma referência à lógica, logo é lembrado o conceito da lógica clássica a qual valora as suas fórmulas, sendo estes valores verdadeiro (1) ou falso (0), e apresenta dois teoremas contraditórios e por isso torna-se um sistema trivial. No entanto é válido lembrar da lógica não-clássica que traz como principais características aceitar a contradição, entretanto não admitindo a trivialidade. Dentro da lógica não-clássica podemos observar as lógicas paraconsistentes que merecem atenção, porque auxiliam na discussão de sistemas contraditórios sem abandonar a racionalidade. Embora seja relativamente jovem, o tema é promissor e deve atingir grande destaque no meio cientifico - por poder ser utilizado em várias áreas como, por exemplo, o direito - de acordo com o aparecimento de estudos mais aprofundados sobre o assunto e que explorem mais a sua utilidade. Logo, é fundamental salientar que este trabalho é restrito as lógicas paraconsistentesC1, e todas as aplicações de Sistemas dedutivos, neste apresentado, são para o complemento somente a dela. 2. A LÓGICA NÃO CLÁSSICA 2.1 Histórico A lógica surgiu na antiguidade no século IV a.C. (384-322 a.C.) com Aristóteles. Ele criou a teoria do silogismo, um dos primeiros sistemas dedutivos já propostos e também um dos primeiros sistemas axiomatizados construídos. Esta teoria lida com proposições, que podem ser particulares ou universais, negativas ou positivas, e propõe a dedução de uma conclusão a partir de duas premissas. Durante os cinco séculos que se seguiram ao fim da Antigüidade, pouco ou nada se fez no campo da lógica. A lógica moderna teve início no século XVII, com Leibniz, porém suas contribuições não foram publicadas durante a sua vida, tornando-se conhecidas apenas no princípio do século XX. Apesar do trabalho precursor de Leibniz e de outros trabalhos a partir do final do século XIX, o verdadeiro fundador da lógica moderna foi Gottlöb Frege. Ele reformulou a velha silogística aristotélica e transformou-a em lógica clássica, adquirindo forma quase definitiva, extensa e consistente e baseada em quatro princípios fundamentais: Princípio da bivalência: cada fórmula recebe apenas um de dois valores distintos absolutos, verdadeiro ou falso; Princípio da identidade: se uma fórmula é verdadeira, então esta fórmula é verdadeira; Princípio da não-contradição: dadas uma fórmula e sua negação, uma delas é falsa; Princípio do terceiro excluído: dadas uma fórmula e sua negação, uma delas é verdadeira. O século XIX foi um dos períodos mais significativos na matemática, tendo como marco fundamental o surgimento das geometrias não-euclidianas – geometrias distintas da geometria clássica, usada até então. Tais geometrias foram, e são até hoje, motivações heurísticas (método analítico usado na resolução de problemas) ou analógicas (relação de semelhança) para a construção das lógicas não-clássicas. Já no final do século XIX, alguns trabalhos pioneiros, buscando soluções nãoaristotélicas para algumas questões lógicas, foram precursores das lógicas não-clássicas em geral. Nas primeiras décadas do século XX, vários filósofos e matemáticos, motivados por questões e objetivos algumas vezes distintos, criaram novos sistemas lógicos, diferentes da lógica aristotélica. Independentemente, em 1910, J. Łukasiewicz e N. Vasiliev, dois lógicos, acusaram que alguns princípios da lógica aristotélica deveriam ser revisados, essencialmente o da contradição. Motivado por diversos problemas relativos a contradições, foi Jaśkowski, um dos discípulos de Lukasiewicz, quem construiu o primeiro sistema de lógica que poderia ser aplicado a sistemas envolvendo contradições. Jaśkowski salientou claramente a diferença entre sistemas contraditórios, que incluem duas teses tais que uma contradiz a outra, e sistemas supercompletos, nos quais todas as fórmulas são teses, e considerou que a lógica clássica não é adequada para o estudo de sistemas contraditórios, porém não super-completos. Contudo o seu sistema fica limitado a cálculos proposicionais 2.2 Exemplos de lógicas não-clássicas As lógicas não-clássicas são divididas em duas categorias principais as complementares e as alternativas. As complementares são as que não infringem os princípios básicos da lógica clássica e não questionam sua validade universal, apenas ampliam e complementam o seu escopo enriquecendo-a com a introdução de novos operadores. São exemplos de lógicas complementares: lógicas modais, lógicas deônticas, lógicas do tempo, lógicas epistêmicas, lógicas imperativas, etc. As lógicas heterodoxas (alternativas, desviantes), rivais da lógica clássica, foram concebidas como novas lógicas, destinadas a substituir a lógica clássica em alguns domínios do saber. Elas anulam alguns princípios básicos da lógica clássica. Como exemplos têm as lógicas não-reflexivas, lógicas paracompletas, lógicas polivalentes, lógicas relevantes, lógicas paraconsistentes. 3. NEWTON CARNEIRO AFFONSO DA COSTA E A LÓGICA C Apesar de Jaśkowski ter construído um cálculo proposicional paraconsistente, podemos dizer que o brasileiro Newton Carneiro Affonso da Costa é o verdadeiro fundador da lógica paraconsistente, porque seus sistemas vão além do calculo proposicional. Nos anos 50, sem conhecer os trabalhos de Jaśkowski, da Costa começou a desenvolver suas idéias sobre a importância do estudo das teorias contraditórias. Em 1958 e 1959, da Costa publicou, em português, seus primeiros trabalhos ‘Uma nota sobre o conceito de contradição’ e ‘Observação sobre o conceito de existência em matemática’. Da Costa 1958, propõe o seguinte princípio de tolerância em matemática: “do ponto de vista sintático e semântico, toda teoria é aceitável, desde que não seja trivial”. Uma visão geral dos resultados publicados anos mais tarde, entre 1963 e 1974, está em Da Costa 1974. Da Costa construiu inicialmente uma lógica C, a qual é uma hierarquia de cálculos proposicionais Cn, 1 = n = ω, satisfazendo as seguintes condições: O princípio da contradição, na forma ¬(A^¬A), não deveria ser válido em geral; De duas premissas contraditórias A e ¬A, não deveríamos deduzir qualquer fórmula B; Eles deveriam conter os mais importantes esquemas e regras da lógica clássica compatíveis com as duas primeiras condições. Com colaboradores poloneses, discípulos de Jaśkowski, da Costa axiomatizou e desenvolveu resultados relativos ao sistema de Jaśkowski e outras lógicas discussivas. O primeiro livro enciclopédico sobre lógica paraconsistente é Priest, Routley & Norman 1989. 4. A LÓGICA C1 Uma lógica é dita paraconsistente se pode ser usada como a lógica subjacente para teorias inconsistentes e não triviais que são chamadas teorias paraconsistentes. A grande relevância das teorias paraconsistentes, no que diz respeito aos paradoxos, é que eles podem ser naturalmente absorvidos pela teoria, sem quebra da força lógica, ou seja, sem trivialização. Nas lógicas paraconsistentes, o escopo do princípio da não-contradição é, num certo sentido, restringido. Enquanto na lógica clássica, A Λ ¬A |- B, para quaisquer fórmulas A e B, na lógica paraconsistente, de uma fórmula A e sua negação ¬A, não é possível, em geral, deduzir qualquer fórmula B. Em C1, o operador consistente ( ) é introduzido. Ou seja, se uma fórmula A é consistente, podemos defini-la como ¬(A Λ ¬A): A = ¬(A Λ ¬A). 4.1 Valoração do C1 v(1 2 ) =1 se e somente se v(1 ) 1 e v( 2 ) 1; v(1 2 ) 1 se e somente se v(1 ) 1 ou v( 2 ) 1; v(1 2 ) 1 se e somente se v(1 ) 0 ou v( 2 ) 1; v( ) 0 implica em v( ) 1 ; v( ) 1 implica em v( ) 1 ; v ( ) 1 implica em v ( ) 0 ou v( ) 0 ; v(( )) = 0 implica em v( ) 0 ou v( ) 0 , para {,, } 4.2 Axiomas do C1 Alguns axiomas para C1: (Ax1) ( ) (Ax2) ( ) (( ( )) ( ) (Ax3) ( ( ) (Ax4) ( ) (Ax5) ( ) (Ax6) ( ) (Ax7) ( ) (Ax8) ( ) (( ) (( ) )) (Ax10) (Ax11) (bc1) ( ( ) (ca1) ( ) ( ) (ca2) ( ) ( ) (ca3) ( ) ( ) Regra de inferência: (MP) , 4.3) Sistema KE para C1 T T T ( 1 ) T F ( 2 ) F F T ( F 1 ) F F T T (F 2 ) F F ( F ) T T F T T F (T 1 ) T T (T ) T T F ( F ) F F () T (T) T T | F F ( ) T T (T) F F (T 2 ) T T F F ( ) ( F 1 ) T F (F 2 ) Sabendo que pode ser qualquer conectivo entre {→, Λ, ν}: F 1 = F ( ) , F ( ) ou F ( ) . E, como é um conectivo definido, F ( ) , F é na verdade F(( ) ( )) . Por exemplo, F 1 é: F (( ) ( )) T ( ) F ( ) ( F 1 ) 4.5) Aplicação do C1 Suponha a criação de um sistema médico, escrito em um conjunto de fórmulas finitas sobre C1, para diagnosticar doenças, sendo elas K, L e M, caracterizadas por dois diferentes sintomas: N e O. O médico especialista nestas doenças forneceu as seguintes premissas: - Uma pessoa não pode ter ambas as doenças K e L ( F1 e F2 ); - Se uma pessoa tiver a doença K, então ela tem a doença M ( F3 ); - Se um indivíduo tem o sintoma N, então ele tem a doença K ( F4 ); - Se uma pessoa tem o sintoma O então ela tem a doença L ( F5 ). Ou seja: ( F1 ) K L ( F2 ) L K ( F3 ) K M ( F4 ) N K ( F5 ) O L Caso 1: um paciente chega a um consultório, sentindo os sintomas N e O. Deseja-se saber se ele não está infectado com a doença M. Para isso, temos que verificar se: F1 , F2 , F3 , F4 , F5 , N , O | C1 M é válido. T K L T L K TK M TNK TOL T N TO F M T K T L T M T K T L Esse seqüente é válido na lógica clássica porque a contradição T K e T K , T L e T L é encontrada, porém este tablô fica aberto na lógica C1, comprovando a diferença entre as duas lógicas. Caso 2: o paciente continua com os mesmos sintomas, mas agora, precisa-se saber se ele possui a doença K e se essa conclusão é não consistente (¬ K). Para responder essa pergunta, temos que analisar se F1 , F2 , F3 , F4 , F5 , N , O | C1 K K é válido: T K L T L K T K M T NK TOL T N TO F K K T K T L T K T L T M F K T K FK X Este seqüente não poderia ser representado na lógica clássica porque o conectivo não faz parte da sua linguagem, entretanto, ele é provado em C1. 5. CONCLUSÃO Considerando-se os aspetos técnicos do trabalho, pode-se observar quão grande é a diferença entre as lógicas não-clássicas das clássicas. Especialmente pela primeira estar baseada em linguagens mais ricas em formas de expressão, e seus princípios e semânticas serem inteiramente distintos. E como é importante o fato de existir uma lógica que aborde temas como a inconsistência, entender o conhecimento incerto, e que alcança situações que apresentam limitações para a lógica clássica. Enquanto analisando de forma acadêmica, utilizamos este trabalho como meio para o aprofundamento de nossos conhecimentos em lógica, a fim de cumprir o objetivo de repassarmos o nosso conhecimento para nossos colegas de classe. 6. REFERÊNCIAS Neto, Adolfo; Kaestner, Celso A. A.; Finger Marcelo; Towards an efficient prover for the C1 paraconsistent logic. Elsevier Science B. V. 2009. WikiLivros. Lógicas não-clássicas. Disponível em: http://pt.wikibooks.org/wiki/L%C3%B3gica:_L%C3%B3gicas_N%C3%A3ol%C3%A1ssicas:_Introdu%C3%A7%C3%A3o Acessado em : 25/03/09. WikiLivros. Cálculo Proposicional Clássico. 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