o brasil no contexto das mudanças climáticas

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O BRASIL NO CONTEXTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
TEXTO 01
Carlos Nobre - Meteorologista do Inpe expõe as causas e os efeitos das mudanças climáticas
Fabrício Marques
Edição Impressa - Revolução Genômica - Julho 2008
Pesquisa FAPESP
Carlos Nobre (à dir.)
O Brasil leva uma vantagem em meio ao esforço internacional para atenuar os efeitos do aquecimento global. Acontece que a
metade das emissões brasileiras provém do desmatamento, sobretudo na Amazônia, uma atividade econômica predatória
que não responde por mais de 1% do PIB. “O Brasil é o país com a maior quantidade potencial de fontes de energia
renovável e onde grande parte das emissões vêm de um setor que não está gerando nem distribuindo riqueza. Já para países
como a China e a Índia, que não têm tantas fontes de energia e nos quais as emissões de CO2 estão ligadas principalmente à
queima de combustíveis fósseis, a redução impõe severas restrições ao modelo de desenvolvimento econômico”, disse o
pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em palestra realizada em São Paulo no dia 14
de junho sobre a “Ciência do sistema terrestre e a sustentabilidade da vida no planeta”. Um dos mais renomados
meteorologistas do país, Carlos Nobre é coordenador do recém-criado Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do
Inpe. Também integra o grupo de pesquisadores brasileiros que participa dos trabalhos do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas que ganhou o Nobel da Paz de 2007 ao lado do ex-vice-presidente dos
Estados Unidos Al Gore. A palestra de Nobre, que foi apresentado ao público por Marcos Buckeridge, professor da USP, fez
parte da programação cultural da exposição científica Revolução genômica.
O desafio brasileiro, disse o pesquisador, consiste em encontrar uma solução para a questão da Amazônia que fuja
do modelo tradicional baseado na exploração de soja, madeira e pecuária. “O novo paradigma é trazer valor à floresta em pé,
trazer valor à riqueza biológica, à riqueza da água, da biodiversidade, dos recursos naturais renováveis. E por que esse é um
desafio tão grande para o Brasil? Porque não existe o que copiar. Se o Brasil inventar esse modelo, poderá tornar-se o
primeiro país tropical desenvolvido. Essa é uma grande oportunidade e o Brasil reúne as melhores condições, tanto pela sua
potencialidade de recursos naturais como pela sociedade diversa, pela força de sua comunidade científica e tecnológica, por
sua base industrial sofisticada”, afirmou o pesquisador.
Por mais de 2 horas Nobre deu uma aula sobre as causas e os efeitos das mudanças climáticas. Começou explicando
o conceito de sistema terrestre que é, em resumo, o somatório de todos os elementos vivos e os não-vivos e a interação
entre eles. “O sistema terrestre é composto pela atmosfera, os oceanos, a vegetação, a terra sólida, o solo, a água. Tudo isso
está interligado e a ciência do sistema terrestre procura entender a complexa dinâmica de interação dos sistemas naturais e
humanos, além de compreender como essa transformação afeta as nossas ações e até a nossa vida”, disse Nobre. “O homem
tem um papel especial neste conceito, por ser o único ser com capacidade de transformar esse sistema terrestre de uma
maneira que nenhuma outra espécie viva até hoje conseguiu”, explicou o professor.
Nobre citou duas pesquisas recentes publicadas em revistas científicas para exemplificar o peso da ação humana
modificando o ambiente global. Uma delas, divulgada em maio pela revista Science, mostra que o homem aumentou a oferta
de nitrogênio nos oceanos em quase 50%. Além disso, tem influenciado gravemente os ciclos desse elemento químico na
atmosfera e no solo do planeta. O aumento tem sérias implicações para as mudanças climáticas, uma vez que o nitrogênio
em excesso aumenta a atividade biológica marinha e a absorção de dióxido de carbono, o que, por sua vez, leva à produção
de mais óxido nitroso, considerado ainda mais prejudicial ao aquecimento global do que o metano ou o próprio dióxido de
carbono. “Hoje nós jogamos no ambiente mais nitrogênio do que a fixação biológica. Isso graças ao excesso de fertilizantes e
das indústrias químicas que produzem como subproduto de algum produto químico o nitrogênio”, disse Nobre. O segundo
artigo, publicado na revista Nature, deu conta de que o homem acelerou em 10 mil vezes o processo que leva à extinção de
espécies. “As espécies surgem e desaparecem. Esse é um fenômeno natural. Às vezes tem uma grande extinção. Pode cair
um meteorito, por exemplo. Ele levanta muita poeira, a luz do sol fica obscurecida por anos, as plantas morrem, os animais
morrem e muitos são extintos. Depois a vida volta, devagarzinho. Esse processo é natural. Nós aceleramos esse processo em
10 mil vezes com a caça, a pesca predatória, a fragmentação e o desaparecimento de habitats, a contaminação e a poluição.
Recentemente, também as mudanças climáticas começaram a ser responsabilizadas pelo desaparecimento de espécies. No
futuro, elas serão o principal fator de extinção de espécies, com velocidade equivalente a dessas grandes extinções.”
Para mostrar a força do homem nas mudanças globais, Carlos Nobre amparou-se numa definição do holandês Paul J.
Crutzen, ganhador do Nobel de Química de 1995, que ajudou a elucidar a química e a física do buraco na camada de ozônio.
Segundo Crutzen, a influência humana no equilíbrio do planeta nos últimos 200 anos foi tão intensa que pode ser comparada
às mudanças que ocorrem no planeta na mudança das eras geológicas – daí ele chamar o tempo que vivemos de
Antropoceno. “Tecnicamente, a definição pode não ser correta, pois o conceito de era geológica depende de fenômenos que
acontecem na escala geológica de tempo, como a órbita da Terra em volta do Sol, as pequenas variações da radiação solar
que levam às épocas glaciais a cada 20 mil, 30 mil ou 100 mil anos, ou os movimentos das placas tectônicas que geram
terremotos, ativam vulcões e formam um novo solo oceânico”, disse Nobre. “Mas o professor Crutzen mostra que somos uma
força telúrica capaz de promover transformações na mesma magnitude.”
Nobre apresentou dois conjuntos de evidências sobre o advento do Antropoceno. O primeiro é a evolução da
concentração na atmosfera ao longo dos últimos 10 mil anos de gases causadores do efeito estufa, como o gás carbônico, o
metano e o óxido nitroso. “A variação histórica desses gases é pequena, até que, nos últimos 200 anos, após a Revolução
Industrial, eles dão um salto e não param de crescer”, disse Nobre. “A população do mundo passou de 2 bilhões para 6,6
bilhões em apenas 70 anos. Levou 9 mil anos para atingir 1 milhão de habitantes e cem anos para passar a 6,6 bilhões.
Mesmo que a gente continuasse consumindo a mesma coisa de antes, já seria um fator multiplicador de seis vezes. Só que
cada um de nós hoje consome muito mais energia e retira mais recursos naturais do que nossos pais e avós. Esse fator per
capita de utilização de recursos naturais hoje é 20 a 30 vezes maior do que era da população do século XIX”, afirmou.
A segunda fotografia do Antropoceno, disse Nobre, pode ser vista na elevação contínua da temperatura média do
planeta nos últimos 50 anos. “A temperatura não parou de aumentar. Já subiu 0,8 grau. Parece pouco, mas na verdade é
muito, pois não podemos olhar esse dado como uma mera flutuação da temperatura, mas sim sob a perspectiva de como a
Terra processa as variabilidades naturais”, disse Nobre. “De uma Era Glacial até o período Interglacial, a temperatura varia 5
a 6 graus, mas isso leva 10, 12, 20 mil anos para acontecer. Nós, em cem anos, aumentamos a temperatura quase 1 grau.
Isso significa que nós aceleramos a máquina climática em 50 vezes. O que faz a diferença não é tanto o valor de
temperatura, mas o fato de estarmos acelerando a velocidade. E isso faz toda a diferença. Para se adaptar a essa velocidade,
o sistema terrestre vai perder muita coisa e a grande questão que se coloca é se, ao perder funcionalidade, ele também
perderá condição de sustentar a vida no longo prazo”, explicou. “Associado ao aumento de temperatura, há o aumento do
nível do mar. O ar mais quente derrete as geleiras, a água corre para o mar e eleva o nível dos oceanos. E a água mais
quente também ocupa um espaço maior nos oceanos, pois sua densidade fica menor.”
Nova Orleans inundada após a passagem
do furacão Katrina: eventos extremos
Adaptação às mudanças
Nobre expôs os cenários do clima no futuro traçados pelo IPCC. “Se nós estabilizarmos a concentração dos gases,
como o CO2, por exemplo, na faixa de 600 partes por milhão, vai aquecer 1,8 grau no século XXI e vai aquecer mais meio
grau até o século XXIII. O nível do mar vai subir até o ano 3000. Isso seria um cenário. Para estabilizar nessa concentração,
nós temos um trabalho muito grande a fazer. Mas se a gente não fizer nada, aí pode subir 3,4 graus neste século e continuar
a subir sem parar”, afirmou Nobre, lembrando que os países precisam preparar-se para tais mudanças. “Só se fala em reduzir
as emissões. Os países desenvolvidos querem envolver todos na redução das emissões e nós, de certa forma, copiamos essa
agenda. Eles estão preocupados com a adaptação, mas não com a nossa adaptação.
A irreversibilidade das mudanças climáticas traz a responsabilidade de se adaptar”, afirmou ele, que mostrou
exemplos de países que já se preparam. “A Holanda já gasta milhões de euros por ano na pré-preparação para o aumento do
nível do mar. Os Estados Unidos gastam uma quantidade que ninguém nem fica sabendo em preparação. Só a baía de São
Francisco tem um plano enorme para se adaptar ao aumento do nível do mar, que vai modificar muita coisa naquela baía,
região extremamente importante dos Estados Unidos. Eles calculam que os custos de adaptação da baía nos próximos 50
anos passem de US$ 1 trilhão. A gente quase não ouve falar de adaptação no Brasil”, disse.
O climatologista enumerou efeitos já visíveis do aquecimento. “O planeta mais quente tem mais energia na
atmosfera. Os ventos e as chuvas são mais fortes. O mundo está ficando tropicalizado. Com isso, eventos extremos que eram
raros começaram a aparecer com certa freqüência nos últimos 3 anos. Aumentaram o número e a intensidade de furacões
registrados no Caribe. Houve enchentes na Venezuela e na Argentina que nunca tinham acontecido. Houve uma seca sem
precedentes no oeste da Amazônia. O primeiro furacão observado no Atlântico Sul atingiu o Brasil em 2004. Houve
tempestades de granizo em Buenos Aires e em La Paz que nunca tinham sido registradas. São exemplos do que já está
acontecendo e vai se intensificar”, disse.
Embora a China tenha ultrapassado em 2006 os Estados Unidos e alcançado a liderança das emissões de gás
carbônico, Nobre lembrou que é injusto atribuir o papel de vilão ao gigante asiático. “Não vamos culpar a China, porque a
maneira talvez mais justa de olhar essa questão é analisar a emissão per capita, emissão por habitante. Quando a gente olha
a emissão per capita, vemos que os Estados Unidos emitem 5,5 toneladas de carbono por habitante por ano. Os países
europeus, que têm um nível de vida normalmente melhor que o dos Estados Unidos, emitem 3 toneladas/ano por habitante.
Eles mostram que você não precisa gastar tanta energia e emitir tanto para viver bem. Os Estados Unidos têm muita
gordura, têm muito desperdício, é um país perdulário na energia. Os veículos americanos são ineficientes até hoje. Se os
Estados Unidos fizessem uma frota tão eficiente quanto a da China, que não é a mais eficiente do mundo, eles já diminuiriam
em 10% a emissão de CO2. Mas as instituições e as pessoas não querem mudar o seu padrão de vida muito consumista. É
assim no mundo todo, e nos Estados Unidos em particular”, disse Nobre.
Reconhecimento
Ainda que o modelo norte-americano inspire muitos países, Nobre observou que há fissuras no pensamento hegemônico.
Citou um recente discurso de George W. Bush sobre o aquecimento global em que o presidente, embora tenha se oposto à
adesão dos Estados Unidos ao Protocolo de Kyoto ao longo de todo o seu mandato, engrossou o coro em favor da redução de
emissões de gases causadores de efeito estufa e disse acreditar que os avanços da tecnologia ajudarão a proteger o
ambiente. “Já é o primeiro reconhecimento, mas ainda num caminho ilusoriamente fácil. Ele insiste que é possível reduzir os
gases do efeito estufa, mas sem diminuir o crescimento econômico ou restringir a prosperidade. A palavra prosperidade tem
vários sentidos. No século XX, prosperidade e consumismo são termos que não se dissociam, ainda que a etimologia da
palavra prosperidade não seja necessariamente negativa”, afirmou o pesquisador. Para ele, mais significativo do que o
discurso de Bush foi a inclusão do urso-polar na lista dos animais ameaçados de extinção pelo serviço de proteção à vida
selvagem do governo americano. “Simbolicamente isso reflete que os Estados Unidos finalmente se dobraram às evidências
da ciência. Colocar o urso-polar na lista de animais seriamente ameaçados de extinção é admitir que não vai mais ter gelo em
cima do oceano Ártico daqui a 30, 40 ou 50 anos ao final da estação do verão. Isso significa de fato o fim do urso-polar no
seu habitat natural. Ele não é um peixe. Ele vive em cima dos icebergs. Mergulha, caça e volta. O urso-polar vai existir nos
zoológicos, mas não mais na natureza. Quando forem escritos livros sobre a nossa época, tenho certeza de que esse fato vai
ser mais lembrado do que a frase do presidente Bush.”
O grande dilema, lembra Nobre, é reduzir o exagerado padrão de consumo sem mergulhar o mundo numa grande
depressão econômica. Citando a máxima de Mahatma Gandhi, segundo a qual a Terra tem os recursos para manter bilhões
de pessoas em plena satisfação e felicidade, mas não tem os recursos que mantenham a ganância, o climatologista disse: “Eu
traduzo a ganância para uma palavra mais moderna chamada consumismo. Na geração dos meus pais, ter o segundo carro
na garagem era uma prova inconteste do progresso. Precisava do segundo carro na garagem? Não, mas aquilo era um valor
cultural e a nossa geração cresceu com esse valor. O consumismo é consumir mais do que nós necessitamos para a plena
realização humana. E nós consumimos muito mais. Se hoje todos nós decidíssemos parar o consumismo amanhã, haveria
uma crise econômica maior do que a de 1929”. Nobre alertou que, no longo prazo, não existe saída além de mudar o padrão
de consumo. “É impossível mudar essas coisas de um dia para o outro, mas isso tem que ser mudado. O planeta não tem
recursos naturais para manter o consumo de energia, o consumo de alimento, o consumo de proteína animal que a classe
média brasileira ou que os Estados Unidos ou a Europa Ocidental têm. Se os chineses pobres, se os indianos e se todos os
pobres do mundo quiserem chegar até a metade desse nível, então teremos que mudar profundamente nossas expectativas
sobre o futuro da humanidade”, afirmou.
A China, observou Nobre, ainda tem 500 milhões de pobres nas áreas rurais. A Índia tem 800 milhões de pobres, o
Brasil, 100 milhões, a África do Sul, 40 milhões, o México, 50 milhões. “Ao todo há 2,5 bilhões de pobres no planeta”, afirmou
o pesquisador. “A grande questão é como elevar o padrão de vida desses pobres sem aumentar o consumo de energia.
Ninguém sabe. Precisa aumentar o consumo de energia para os níveis dos Estados Unidos? Não. Temos que ser criativos,
mas é difícil imaginar os países pobres tirando as pessoas da pobreza e mantendo os velhos níveis de emissão. Esse é o
grande dilema. As emissões estão aumentando porque não há soluções simples”, disse Nobre. Nem a perspectiva de que o
petróleo se esgote traz um alento para reduzir a concentração de gás carbônico. “Tem carvão para elevar a concentração
acima de 1.500 até 2.000 partes por milhão. O problema não será resolvido pela exaustão dos combustíveis fósseis, mas pela
substituição dos combustíveis fósseis por formas renováveis, que hoje são muito caras para os países em desenvolvimento.
Como vai haver um grande acordo em que os países em desenvolvimento vão ser ajudados a transformar? Como convencer a
China a parar de usar o carvão que ela tem em abundância? Essas questões permanecem em aberto e a gente não está
avançando, tanto é que as emissões estão crescendo. Poderemos, se não houver ação, cruzar um desses limites críticos, o
que vai causar uma grande perturbação do sistema climático, e até mesmo da sustentabilidade futura da vida”, disse.
Respondendo a perguntas da platéia, Nobre comentou o avanço da multidisciplinaridade na ciência, com destaque
para a pesquisa na área ambiental. “Quando fiz minha tese de doutorado, fiquei 2 anos fazendo um cálculo no computador.
Isso foi de 1977 a 1982. Um aluno meu de doutorado hoje faz exatamente o mesmo cálculo, ou seja, obtém o mesmo
resultado científico em uma tarde usando um supercomputador. O cientista não precisa ficar fazendo tudo como antigamente.
Essa mudança da eficácia da geração do novo conhecimento está liberando o cientista disciplinar para se interessar em ligar
as coisas. O fato de não precisar ficar o tempo todo no laboratório liberta o cientista para aprender mais de uma disciplina. Eu
treino alunos de doutorado nas áreas que domino bastante, mas também quero que eles sejam treinados também em
biologia, em química e um pouco de ciências sociais.” Outra mudança, segundo Nobre, é que os cientistas se movem cada
vez mais em função de grandes problemas da sociedade. “Não que o cientista tenha virado um ser político, mas começa a
responder a grandes questões sociais e essas questões, por definição, são complexas e exigem a abordagem interdisciplinar e
transdisciplinar”, afirmou. O momento, ele diz, é positivo, mas requer cuidados. “Se o cientista não ficar alerta, pode acabar
se tornando um instrumento dócil, ingênuo e manipulado pela classe política. Nós temos visto o que o governador de Mato
Grosso, Blairo Maggi, tem feito com alguns cientistas. Ele os trouxe à sua esfera de influência e hoje utiliza esses cientistas
para legitimar um modelo absolutamente insustentável de desenvolvimento, de desmatamento da Amazônia. É um
aprendizado. Pode ser uma visão um pouco otimista demais, mas eu acho que, no balanço geral, a ciência está ganhando. A
ciência está conseguindo se colocar com muito mais força nas grandes decisões e o IPCC é o melhor exemplo disso.”
TEXTO 02
O Brasil e a Mudança do Clima
Giovana Girardi
Jornalista e repórter free-lancer
especializada em ciência e meio-ambiente.
Escreve na Folha de S.Paulo sobre o assunto.
O Brasil ainda carece de estudos sobre como será atingido pelas mudanças climáticas que está ajudando a provocar. O
governo vem prometendo a divulgação de um plano nacional de mudanças climáticas, que provavelmente deverá incluir
metas para a redução do desmatamento na Amazônia e incentivo ao uso de biocombustíveis, em especial o etanol. Mas ainda
faltam pesquisas detalhadas sobre o impacto que o aquecimento terá em cada região do país. As poucas projeções já
realizadas, no entanto, indicam um cenário perturbador.
A maioria dos trabalhos realizados até o momento estima, com o auxílio de programas de computador – os
chamados modelos climáticos -, quanto deve ser o aumento de temperatura e como deve ser alterado o regime de
precipitação no país. Com base nesses dados, os cientistas conseguem projetar quais serão as implicações desse
aquecimento em biomas (domínios de vegetação) como a Floresta Amazônica, o Cerrado e a Caatinga.
Em fevereiro de 2007, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apresentaram o Atlas de
Cenários Climáticos Futuros para o Brasil com os primeiros dados nacionais a esse respeito. A equipe, liderada por José
Marengo, apontou que até o final do século o país pode ficar, em média, até 4ºC mais quente. No pior cenário, as
temperaturas podem subir até 6ºC.
De acordo com esse levantamento, áreas semi-áridas, como o Nordeste, podem se tornar áridas. No Sudeste, a
expectativa é que a temperatura suba entre 4ºC e 6ºC, o que deve provocar aumento nas chuvas e maior ocorrência de
desastres naturais. Cidades costeiras como Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro, e os mangues estão em risco com o aumento
do nível do mar.
As projeções futuras do Inpe indicam que a situação mais crítica deve ser observada na Amazônia, onde o
aquecimento pode ser de até 8ºC. Isso deve causar uma transformação na mata, com a floresta densa e alta abrindo espaço
para uma vegetação rala, semelhante ao cerrado. Carlos Nobre, climatologista do Inpe, chama o fenômeno de “savanização
da Amazônia”. Com o aumento da temperatura, crescem a evaporação da água retida no solo e a transpiração das plantas,
fatores que devem provocar o ressecamento do solo, em especial na porção leste da Amazônia.
A equipe de Nobre vem alertando para este risco desde 2000. Em 2003, com os primeiros modelos climáticos, os
cientistas aperfeiçoaram seus prognósticos e enviaram o estudo para revista Geophysical Research Letters, onde foi
publicado. No começo de 2007, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) apresentou seu último relatório e
avaliação do problema e de seu veredicto, reconhecendo que a savanização da Amazônia será mesmo uma provável
conseqüência do aquecimento global (Nobre e Marengo fizeram parte dos grupos de trabalho do IPCC). Uma conseqüência
direta dessa mudança deve ser a perda de biodiversidade, tanto da flora quanto da fauna. Animais que vivem em equilíbrio
com a floresta tendem a desaparecer junto com ela.
O painel constatou esse perigo para a Amazônia, mas não chegou a fazer outras projeções para o Brasil. Entretanto,
deu subsídio para que os cientistas brasileiros fizessem novos cálculos. Após a divulgação do relatório do IPCC, pesquisadores
do Inpe conseguiram quantificar o impacto. Segundo trabalho de Luís Salazar, Carlos Nobre e Marcos Oyama, 18% da
floresta amazônica deve virar cerrado entre 2090 e 2099. Porém, o cálculo foi feito sem considerar as ações antrópicas (do
ser humano), como o desmatamento. Com menos árvores, a tendência, imaginavam os cientistas, é que a região ficaria
ainda mais quente e seca.
Um grupo de pesquisadores do Inpe, liderado por Gilvan Sampaio, e da Universidade Federal de minas Gerais,
coordenado por Britaldo Soares Filho, usou os índices atuais de desmatamento para fazer projeções futuras e conclui que se a
derrubada da mata ultrapassar os 40%, a temperatura na região vai subir 4ºC, as chuvas vão diminuir 24% na estação seca
e a savanização já será sentida na Amazônia oriental.
Segundo o mais recente levantamento do governo federal, divulgado em agosto, o desmatamento já chega a quase
20% nesta região, que inclui os estados do Pará, Amapá, Roraima, Maranhão, Tocantins e uma parte do Amazonas, por causa
da expansão da pecuária e das plantações de soja.
Outros trabalhadores sugerem ainda que a perda da floresta pode causar impactos no país inteiro, uma vez que o
clima na Amazônia influencia a circulação de ar sobre os oceanos Atlântico e Pacífico. Quem explica isso é o pesquisador do
Inpe, Paulo Nobre. Trabalhando com um modelo meteorológico que simula a influência da floresta na atmosfera e nos
oceanos, Paulo deduziu que a falta da mata talvez provoque um aumento do fenômeno El Niño – o aquecimento das águas do
Pacífico, pois a diminuição da mata pode provocar a redução das chuvas na região. O problema pode ocorrer por causa da
relação entre as precipitações na Amazônia e os ventos no Pacífico. Quanto mais chove, mais intensos ficam os ventos que,
ao soprarem, deixam as águas do oceano no litoral mais frias. Se o vento diminui, o oceano se aquece. Segundo as
estimativas de Paulo Nobre, a savanização pode aumentar a ocorrência do fenômeno El Niño em até 50%.
Danos à agricultura
Os efeitos das mudanças climáticas poderão em breve ser sentidos também na economia. Levantamento feito por
pesquisadores da Embrapa e do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura, da Unicamp, mostra
que a produção agrícola em geral para todos os grãos pode cair 25% com o aumento da temperatura. Segundo o estudo, as
culturas mais atingidas devem ser as de café e as de soja.
A elevação da temperatura mínima no estado de São Paulo nos últimos cem anos já provocou, segundo o estudo,
uma substituição de algumas áreas da cultura cafeeira pelo cultivo de seringueiras, típicas da Amazônia. Em 15 anos, de
1990 a 2005, as áreas de cultivo de seringais decuplicaram no estado, passaram de 3,7 mil ha para 37 mil ha.
Ainda de acordo com o levantamento, feito em 2005, o café pode ficar perto de desaparecer em São Paulo, Minas
Gerais e Goiás se a temperatura subir 5,8ºC. a tendência é que esta cultura migre cada vez mais para a região Sul. Ironia do
destino, a soja, hoje uma das piores inimigas da Amazônia, pode sofrer uma redução de mais de 50% se a temperatura subir
5,8ºC. Em alguns cenários, a perda pode ser de 64% da área cultivada.
Os pesquisadores estimam também que a pecuária será prejudicada, havendo queda na produção de leite e
aumento de abortos em vacas. A área, no entanto, ainda carece de mais estudos, que estão sendo elaborados pelas duas
instituições.
No final de agosto, a Organização Meteorológica Mundial, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), fez um
alerta em especial para as ameaças à agricultura no Nordeste brasileiro, por conta das previsões de desertificação e
salinização das terras. A entidade recomendou que o governo já começasse a pensar em estratégias de irrigação e gestão de
água para minimizar os problemas.
Saúde em risco
A maior freqüência de eventos climáticos extremos, como secas e inundações, deve, de acordo com o IPCC,
fragilizar ainda mais populações que já se encontram em situações vulneráveis. Há riscos de aumento de doenças
transmitidas pela água e por vetores, como insetos. Os modelos de computador feitos para estimar a ocorrência dessas
moléstias, no entanto, são generalizados. Não existem dados específicos para o Brasil.
De acordo com o médico Ulisses Confalonieri, pesquisador da Fiocruz e membro do grupo de trabalho do IPCC que
avaliou essas informações, a maior preocupação do Brasil e de outros países em desenvolvimento deve ser em relação à
escassez da água, incluindo aí a indisponibilidade de alimentos. As populações mais afetadas devem ser aquelas que vivem
da agricultura de subsistência. Se hoje as secas no Nordeste já é um problema, o aumento da aridez previsto pelo Inpe deve
provocar outra migração em massa para o litoral e para os estados do Sudeste e do Sul, acredita Confalonieri. É o que ele
chama de refugiados do clima.
Dependendo da velocidade com que isso ocorrer e se o governo não estiver preparado, diz ele, podemos esperar um
impacto enorme na saúde, na economia, na demografia e na segurança. Muitas pessoas migrando ao mesmo tempo podem
provocar uma redistribuição das doenças endêmicas, como leishmaniose e até mesmo malária, explica Confalonieri.
O pesquisador pondera, no entanto, que só pelo aumento da temperatura o mosquito que transmite a malária não
vai migrar da Amazônia para São Paulo. Lembra também que a urbanização dá conta de extinguir os criadouros. O problema
só deve existir se houver uma migração em massa de doentes. Confalonieri explica ainda que nem mesmo na Amazônia é
possível se o aquecimento trará mais malária. Se o clima esquentar demais, pode não haver um ambiente propício para o
mosquito.
Já nos estados mais frios, comenta o pesquisador, é possível que o aumento da temperatura pode torná-los mais
agradáveis para o mosquito da dengue. O aumento de chuvas e inundações, em especial no sudeste, pode trazer uma
explosão de doenças relacionadas à água, como as diarréias.
Em 2005, a pedido do Ministério da Ciência e Tecnologia, Confalonieri elaborou um mapa do índice de
Vulnerabilidade Geral. Ele fez uma média de índices epidemiológicos, socioeconômicos e climatológicos de cada estado
brasileiro e apontou qual seu nível de vulnerabilidade: Alagoas é o mais vulnerável e o Rio Grande do Sul, o menos.
Como mitigar e adaptar
O pesquisador lembra que esses dados só valem para o momento atual e não indicam quais serão as
vulnerabilidades do país daqui a algumas décadas, quando a temperatura, o nível de precipitação e as condições econômicas
serão outros por causa do aquecimento. Sem ter modelos climáticos próprios que apontem onde o país estará mais frágil não
há como se preparar para lidar com as situações que estão por vir.
Tão logo os relatórios do IPCC foram divulgados, nos primeiros cinco meses de 2007, a (ex) ministra do Meio
Ambiente, Marina Silva, chegou a admitir que o Brasil não está preparado, mas disse também que o país “não foi pego
desprevenido”. Mas vários pesquisadores brasileiros, como Carlos Nobre, José Marengo, Ulisses Confalonieri, fizeram diversos
pronunciamentos à imprensa alertando que o país vive hoje um “vazio de monitoramento”. Segundo eles, toda a infraestrutura urbana e de saúde terão de ser repensadas levando em conta as novas variáveis. Mas só com estimativas mais
precisas, dizem, será possível pensar na chamada mitigação do problema ou na adaptação a ele.
Lembram que enquanto o governo não lança seu plano de enfrentamento às mudanças climáticas, várias obras que
estão sendo construídas poderão ser completamente inúteis. Eles citam o caso, por exemplo, de piscinões e galerias fluviais
em grandes centros como Rio de |Janeiro e São Paulo. Se a chuva e as inundações aumentarem como se imagina, eles
estarão desfalcados. Os pesquisadores alertam que, antes de mais nada, o país tem de investir nos cálculos sobre o impacto
das mudanças climáticas para poder fazer obras mais adequadas para a realidade futura.
O mesmo vale para a transposição do São Francisco, disse o trio. Ela foi pensada dentro de um clima estável e nas
condições atuais da seca. Mas as previsões são outras. Se essa variável não for incluída no projeto, ele será um dinheiro
jogado fora.
TEXTO 03
Brasil responde por 3% das emissões globais de gases-estufa
EDUARDO CUCOLO
da Folha Online, em Brasília - 08/12/2004
O Brasil é responsável por 3% das emissões globais de gases causadores do efeito estufa, de acordo com um levantamento
realizado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia em conjunto com várias instituições do país entre 1990 e 1994.Considerando
o histórico do país, a estimativa é que o Brasil tenha contribuído com 1% dos gases acumulados na atmosfera.
Em comparação, os países desenvolvidos seriam os principais responsáveis pelas emissões de gases poluentes. Só os EUA
responderiam por 42,6% das emissões, e o Reino Unido, por 10,5%.
O relatório, chamado "Inventário de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa não Controladas pelo
Protocolo de Montreal", será apresentado na próxima sexta-feira (10) na 10ª Cúpula do Clima, encontro realizado em Buenos
Aires (Argentina). Ele faz parte dos compromissos assumidos pelo país em relação ao protocolo de Kyoto. Foram
consideradas emissões de gás carbônico (CO2), gás metano (CH4) e óxido nitroso (N2O).
As mudanças no uso de terras e florestas, como queimadas e desmatamentos, foram responsáveis por 77% das emissões de
gás carbônico em 1990 e 75% em 1994. No período, as emissões subiram 5% (de 979 milhões de toneladas para 1,03
milhões de toneladas). As emissões de metano passaram de 12,3 milhões de toneladas em 1990 para 13,2 milhões de
toneladas em 1994 (7% a mais). A agricultura --em processos como a fermentação entérica de gado e resíduos, por
exemplo-- foi responsável por 77% desse volume. No caso do óxido nitroso, houve um crescimento de 12% nas emissões -de 490 mil toneladas para 550 mil toneladas. A agricultura --por exemplo, fertilizantes e animais-- foi responsável por 92%
do total de gases.
O relatório também traz as providências tomadas pelo país para reduzir a poluição, como o aumento da participação do uso
de álcool combustível e a possibilidade de aumento da capacidade hidrelétrica.
Metas
O ministro de Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, afirmou que o Brasil não pode ficar submetido a metas de controle
externo de poluentes, e que parte do esforço para resolver o problema depende dos países desenvolvidos, responsáveis pela
maior parte da poluição. "É preciso que essas responsabilidades sejam diferenciadas", disse o ministro.
Os países em desenvolvimento não têm compromissos de redução ou de limitação de suas emissões, de acordo com o
protocolo de Kyoto, por terem prioridade no atendimento às necessidades sociais e de desenvolvimento econômico. Mas o
ministro disse que o país tem condições de crescer sem que isso represente um aumento na sua responsabilidade pela
emissão de poluentes.
Na conferência de Buenos Aires também será definido quando será apresentado o próximo relatório, que deverá abranger o
período 1995-2000 e deve ser divulgado apenas em 2009.
EXERCÍCIOS
01- As afirmativas a seguir referem-se às conseqüências do aquecimento global. Verifique quais delas estão corretas e depois
responda:
I. Em muitas regiões do planeta, o aumento de energia na atmosfera em função do aquecimento global acentuará as
diferenças entre as estações chuvosas e as secas, provocando tempestades mais concentradas e catastróficas.
II. A amplitude térmica de diversas regiões do planeta - especialmente no hemisfério norte, onde os efeitos da
continentalidade são mais atuantes - deverá aumentar, à medida em que as médias térmicas globais se elevem.
III. A recente adesão da Rússia ao protocolo de Kyoto gerou um momento histórico na luta da humanidade para reverter os
problemas do aquecimento global, pois tornou possível que o protocolo entrasse em vigor em fevereiro de 2005, mesmo sem
a ratificação do maior poluidor do planeta: os EUA.
Estão corretas:
a) todas.
b) apenas I e II.
c) apenas II e III.
d) apenas I.
02 (UFU) 2005 - Considere o texto a seguir:
O conceito de desenvolvimento sustentável tem ocupado uma posição central nas discussões sobre os modelos de
desenvolvimento da sociedade mundial contemporânea, particularmente depois da publicação do relatório da Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, "Nosso Futuro Comum", em 1987 (conhecido como Relatório
"Brundtland"). As bases consensuais do desenvolvimento sustentável referem-se ao ideal de harmonizar o desenvolvimento
econômico com a proteção ambiental e considera que "O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades."
Assinale a alternativa que representa os princípios do desenvolvimento sustentável apresentados pelo Relatório Brundkand e
que podem ser adotados como estratégia pelos países do mundo, inclusive pelo Brasil.
a) Adotar tecnologias criadas em países desenvolvidos, onde a preservação ambiental e a distribuição da riqueza estão
adequadas aos padrões sustentáveis.
b) Investir no modelo de crescimento econômico quantitativo, tendo a renda como condição fundamental de
desenvolvimento.
c) Dar prioridade às políticas sociais de redução da pobreza, de aumento de oferta de empregos, de conservação da
biodiversidade e de geração de novas oportunidades e atitudes.
d) Promover maior liberalização da economia, pois o mercado é o melhor mecanismo de otimização do uso dos recursos,
particularmente os relacionados com o ambiente.
03 (UFMG/2002) O Protocolo de Kioto foi aprovado em julho de 2001, em Bonn, na Alemanha, após reuniões nas quais
compareceram representantes de cerca de 180 países. Esse Protocolo, que prevê uma redução, entre 2008 e 2012, de 5%
nos níveis de gás carbônico emitido pelos países industrializados, poderá se constituir em importante instrumento do direito
ambiental internacional no século XXI.
Considerando-se as principais conclusões do Encontro de Bonn e outros conhecimentos sobre o assunto, é INCORRETO
afirmar que
A) o Brasil, ao investir em tecnologia limpa, com a construção de várias usinas termelétricas, está colaborando para a
preservação ambiental, reduzindo a emissão de CO2 e contribuindo, assim, para amenizar o efeito estufa.
B) o Governo Bush, discordando dos termos do Protocolo, considerou excessivos, para a economia americana, os custos da
redução da poluição e da queima de derivados de petróleo .
C) os países em desenvolvimento poderão se beneficiar financeiramente e contribuir para a redução do efeito estufa, caso
adotem uma política de reflorestamento para absorver CO2.
D) os países ricos foram os principais poluidores até o momento, devendo, por isso mesmo, se obrigar, mais que os outros, a
cumprir metas de redução de níveis de emissão de poluentes.
04 (UERJ/2008) O Brasil vai se tornar a Arábia Saudita verde?
O Brasil é novamente o país do futuro. Depois de rodar pelo país e se encantar com o processo de produção do
álcool a partir da cana-de-açúcar, Thomas Friedman, colunista do New York Times e um dos maiores especialistas em Oriente
Médio, voltou para os Estados Unidos convencido de que o Brasil pode se tornar a Arábia Saudita do álcool. A comparação
com o maior exportador mundial de petróleo não é delirante. O Brasil é o país mais avançado em produção de combustíveis
de origem vegetal, também chamados biocombustíveis.
("Época", 12/02/2007)
Após vislumbrar a auto-suficiência na produção de petróleo, o Brasil desponta como possível destaque na utilização da
biomassa como fonte de energia. Cite duas características do espaço físico brasileiro que favorecem a produção de biomassa
no país. Cite também dois riscos, um socioeconômico e outro ambiental, caso se confirme o prognóstico apresentado no
texto.
GABARITO
01. A
02. C
03. A
04.
Duas das características:
- grande disponibilidade de terras para o plantio, sem necessariamente diminuir a área destinada à produção de alimentos
- temperaturas que permitem mais de uma safra de um grande número de produtos
- fotoperíodos longos durante quase todo o ano, favorecendo o crescimento dos vegetais utilizados para produção de
biocombustíveis
- pluviosidade adequada à produção agrícola na maior parte do país
- condições adequadas ao cultivo da cana-de-açúcar, cujo álcool é mais barato do que obtido a partir de plantas cultivadas
em áreas temperadas, como o milho e a beterraba
Um dos riscos socioeconômicos:
- redução da área plantada destinada a alimentos
- aprofundamento da concentração fundiária
Um dos riscos ambientais:
- ampliação do desmatamento do cerrado e da Amazônia para realizar o plantio de espécies passíveis de gerar
biocombustíveis
- possibilidade de aumentar a poluição hídrica causada por agrotóxicos em virtude da intensividade dos cultivos realizados
pela agroindústria
- expansão de monoculturas, comprometendo a biodiversidade de ecossistemas regionais
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