DIVERSIDADE DA ARBORIZAÇÃO NAS VIAS PÚBLICAS DO BAIRRO ÓRFÃS EM PONTA GROSSA-PR Selene de Miranda Leal (PIBIC/CNPq/UEPG), Emilio Trevisan (DEFITO), Silvia Méri Carvalho (Orientadora), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Ponta Grossa/Departamento DEGEO/SEXATAS. Geografia, sub-área: Geografia Urbana. Palavras-chave: Arborização urbana; Inventário arbóreo; Espécies Nativas; Espécies Exóticas. Resumo: A arborização urbana engloba questões ambientais no planejamento geral ressaltando a preservação do meio ambiente e melhoria na qualidade de vida da população. Esse trabalho teve como objetivo principal avaliar a diversidade da arborização nas vias públicas de Ponta Grossa, no bairro Órfãs, relacionando espécies nativas e exóticas, caracterizando-as e realizando registro fotográfico das espécies presentes na arborização urbana viária. Foram percorridas um total de 74 vias com 1289 indivíduos detectados. A maioria das espécies encontradas é exótica (61,7%), sendo Ficus benjamina (Ficus) a principal espécie com 22,62%. A espécie nativa predominante foi Schinus molle (Aroeira), com 10%. Também foi identificada a necessidade de poda de condução e correção, em um total de aproximadamente 750 indivíduos arbóreos. As vias têm carência de um planejamento adequado, tanto na disposição quanto na escolha das árvores, uma vez que as espécies exóticas superaram as espécies nativas. Introdução A arborização urbana é definida como o conjunto de árvores que se desenvolvem em áreas públicas e privadas em uma cidade, visando o bem estar socioambiental fisiológico e econômico da sociedade local (GREY & DENEKE, 1978 citado por TOSCAN et al, 2010). Também é entendida como conjunto de vegetação arbórea natural ou cultivada que uma cidade apresenta em áreas particulares, a exemplo de ruas internas de condomínios residenciais, área de estacionamentos comerciais, universidades, grandes empresas, e áreas públicas, como praças, parques e vias públicas (LIMA NETO e SOUZA, 2009). A arborização de vias públicas está incluída dentro do contexto de arborização urbana como sendo aquela que acompanha as vias, estando em calçadas, canteiros centrais, rotatórias e trevos de conversão (CAVALHEIRO e DEL PICCHIA, 1992). O planejamento da arborização urbana passa inicialmente por um processo de avaliação geralmente realizado por meio de inventários, que tem como objetivo conhecer o patrimônio arbustivo e arbóreo de uma localidade, ao relacionar as espécies nativas e exóticas presentes na arborização das vias públicas e a abundância e diversidade arbórea.Os resultados desses estudos podem subsidiar o planejamento e o manejo da arborização bem como delinear prioridades de intervenções silviculturais. O planejamento da arborização urbana deve considerar as espécies adequadas, sobretudo as espécies nativas, a disponibilidade de espaço, as condições climáticas e as condições de manutenção. Contudo, selecionar uma espécie só pela sua aparência não garante o sucesso de sua implantação uma vez que as características do ambiente urbano são geralmente contrárias aquelas do ambiente natural, diferenciando-se quanto aos aspectos microclimáticos, pedológicos, topográficos, para citar os mais relevantes. No caso de Ponta Grossa, estudos preliminares conduzidos de forma pontual (QUADROS, 2005; SILVA, 2006; VILELA, 2007; MIRANDA, 2008; LUZ, 2009 e MEISTER, 2009,) têm mostrado um rol considerável de problemas relacionados à arborização de vias públicas. Materiais e métodos Para a pesquisa foram realizados levantamentos bibliográficos sobre a temática arborização urbana além de trabalho de campo. O recorte espacial adotado para a pesquisa foi o bairro Órfãs na porção norte da área urbana de Ponta Grossa. Os levantamentos em campo foram realizados entre os meses de setembro de 2015 até agosto de 2016 através de caminhadas pelas ruas e avenidas, previamente identificadas no bairro, utilizando-se uma planilha de campo online por meio do aplicativo ODK collect. Foram coletados dados referentes ao nome das ruas, largura da calçada e da rua, lado (direito/esquerdo/centro), sentido (bairro centro ou centro-bairro), confluência com outras vias, além da data da coleta. Foram coletadas também informações relativas a cada indivíduo arbóreo, como nome científico, nome vulgar, família, altura, (utilizando-se prancheta dendrométrica conforme descrição abaixo) perímetro na altura do peito-PAP (realizado a 1,30 m do solo com trena comum), se havia presença de pragas/doenças e lesões; se haviam sido podadas e se havia necessidade de realização de poda, tipo de tronco, de folhas e frutos, características das flores, época de floração, se possuía presença de epífitas, se existia algum conflito com calçadas/muros/fiação elétrica, e sua área livre ao entorno. Com o intuito de medir a altura das árvores foi confeccionada uma prancheta dendométrica a partir de uma tábua graduada de comprimento de 30 cm e altura de 10 cm (CTFI,1986). Quando se tinha troncos múltiplos, ou seja, mais de um valor para o mesmo indivíduo arbóreo, foram utilizados os valores médios do perímetro, devido à formatação do aplicativo. Foram realizados registros fotográficos de cada espécie para inserção no banco de dados. A identificação dos exemplares arbóreos foi feita por meio de sua morfologia vegetativa (tronco e folha) e quando possível, frutos e flores. A identificação taxonômica, em campo, utilizou os guias ilustrados de LORENZI (1998, 2003) e BIONDI e ALTHAUS (2005). Resultados e Discussão Foram percorridas um total de 74 vias, com 1289 indivíduos arbóreos, entre estes, 3,87% estavam mortos e 3,89% não puderam ser identificados. Foram identificadas 24 espécies inseridas em 19 famílias, sendo a família Moraceae a mais frequente. Houve predominância de espécies exóticas (61,7%) sendo as espécies mais abundantes Ficus benjamina, Ligustrum lucidum e Lagerstroemia indica (extremosa). As espécies nativas representam 30,53%, sendo predominante Schinus molle (Aroeira salsa), com 10,0%. O predomínio de espécies exóticas foi observado igualmente em outros bairros de Ponta Grossa, a exemplo da área central (QUADROS, 2005), do bairro Estrela (VILELA, 2007), do bairro Ronda (MIRANDA, 2008) e bairro Nova Russia (MESITER, 2009), onde o Ligustro e a extremosa também estão entre as espécies mais frequentes. Foram vistos no Bairro Órfãs problemas como a baixa variabilidade de espécies, com predomínio de espécies exóticas, uma vez que as três espécies exóticas com mais frequência são responsáveis por mais da metade das árvores (51,7%) presentes no bairro; além disso inadequação de espécies plantadas em áreas que não condizem com o porte e diâmetro da copa; incompatibilidade do sistema radicular com as infraestruturas subterrâneas e ausência de área permeável no entorno das árvores. Em relação a altura, predominam os indivíduos arbóreos de porte médio, aqueles entre 3 a 6 metros. As epífitas estão presentes em 10% das espécies, sobretudo nos Ipês amarelos. Em relação às lesões e pragas foi constatada a presença em 15 % das árvores, sendo a lesão mais frequente arames, lixo pendurado e cortes na casca das árvores com nomes e desenhos. Já com relação às pragas, foram detectados casulos, com maior frequência nas Extremosas (Lagerstroemia indica) e nas Cerejeiras (Prunus sp), seguidas de cochonilhas com maior frequência nos Ligustros (Ligustrum lucidum). Quase metade do total dos indivíduos arbóreos apresentou pelo menos poda leve, realizada em galhos com diâmetro menor que 5 cm e 58,18% indivíduos necessitam de poda de condução e correção para liberar a passagem para pedestres e aumentar a visualização das placas de sinalização. Para um bom crescimento, a planta necessita de espaço para desenvolvimento, sendo observado que no bairro, aproximadamente 73% dos indivíduos possuíam área livre menor que 1 m². Esse fato pode gerar conflitos com calçadas, pois as raízes crescem bastante, acabando por danificar as mesmas. A grande maioria dos conflitos observados (60%) foi com fiação elétrica, isso ocorre pelo crescimento livre, sem a poda correta, e as instalações tardias de fiação que em tempestades com ventos, acabam representando um grande perigo pelo contato da árvore com a fiação. A largura das calçadas variou entre 1,5 metros a 4,25 metros e a largura das vias entre 3,8 metros a 13 metros. Conclusões Assim como nos demais bairros de Ponta Grossa, onde o inventário da arborização de vias já foi realizado, ocorreu o predomínio de espécies exóticas, o que não é recomendado. As árvores contam com pouco espaço para se desenvolver, sobretudo quando considerada a área livre ao redor da planta, na grande maioria menor que 1m2. Além de prejudicar a planta, isso causa conflitos com a calçada, pois as raízes buscam espaços alternativos para seu crescimento. O conflito mais frequente é com as fiações elétricas necessitando de podas de correção. As vias do bairro possuem grande possibilidade de adensamento de árvores nas áreas certas, uma vez que 16 vias apresentaram largura da rua e da calçada adequadas. Com o devido cuidado na escolha das espécies e das podas, as novas árvores podem ocupar o ambiente sem maiores prejuízos. Agradecimentos Ao CNPQ pelo apoio e bolsa de iniciação. A minha orientadora Silvia Meri Carvalho por toda assistência, paciência e pelo aprendizado durante o ano. A minha colega de projeto Carla Cristina e Maria Tereza Leal pelo auxílio no trabalho de campo. A Gabriela K. Pereira pela elaboração da base cartográfica. Aos professores Rosângela Tardivo e Emilio Trevisan pelo auxílio durante o treinamento. Aos discentes Ricardo Marins Gomes e Luiz Pedro Petroski pelo apoio na elaboração do formulário e APP respectivamente. Referências BIONDI, D.; ALTHAUS, M. Árvores de rua de Curitiba: cultivo e manejo. Curitiba: FUPEF, 2005. CTFI - COLÉGIO TÉCNICO FLORESTAL DE IRATI Manual do Técnico Florestal – 4 volumes – Colégio Técnico Florestal de Irati Fundação GTZ, 1986. CAVALHEIRO, F; DEL PICCHIA, P. C. D. Áreas Verdes: conceitos, objetivos e diretrizes para o planejamento. In: CONGRESSO BRASILEIRO SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1., 1992. VITÓRIA. Anais... 1992. p. 29-35. LIMA NETO, E. M.; SOUZA, R. M. Arborização urbana: gênese e relevância no planejamento territorial In: SOUZA, R. M. (org.) Território, Planejamento e Sustentabilidade: conceitos e práticas. São Cristóvão: Editora UFS, 2009. p. 55-68. LORENZI, H. Árvores Brasileiras. 2 ed. São Paulo. Ed. Plantarum, vol. 1 e 2. 1998. LORENZI, H. Árvores Exóticas no Brasil. São Paulo: Ed. Plantarum, 2003. LUZ, J. R. Arborização urbana viária do bairro Órfãs em Ponta Grossa-PR. Ponta Grossa. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) - Universidade Estadual de Ponta Grossa. 2009. MEISTER, I. Levantamento da arborização das vias públicas do bairro de Nova Rússia em Ponta Grossa – Paraná. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Gestão Ambiental) - Universidade Estadual de Ponta Grossa. 2009. MIRANDA, T. Arborização urbana viária no bairro da Ronda, Ponta Grossa - PR: composição e avaliação. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) Universidade Estadual de Ponta Grossa. 2008. QUADROS, G. P. Arborização Urbana na Área Central de Ponta Grossa: Implantação, Preservação e Monitoramento. Ponta Grossa. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) - Universidade Estadual de Ponta Grossa. 2005. SILVA, R. K. D. Arborização Urbana Viária no Bairro de Olarias, Ponta Grossa/PR. Ponta Grossa. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) – Universidade Estadual de Ponta Grossa. 2006. TOSCAN, M. A. G.; RICKLI, H. C.; BARTINICK, D.; SANTOS, D. S.; ROSSA, D. Inventário e análise da arborização do bairro Vila Yolanda, do município de Foz do Iguaçu – PR. REVSBAU, Piracicaba – SP, v.5, n.3, p.165-184, 2010. VILELA, J. C. Levantamento Quantitativo e Qualitativo de indivíduos arbóreos presentes nas vias do Bairro Estrela em Ponta Grossa/Pr. Ponta Grossa. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) - Universidade Estadual de Ponta Grossa. 2007.