atividades - FTD Educação

Propaganda
4º./5º.
ano
Volume
único
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria.
Doutora em Educação pela Universidade de Mississípi (EUA).
Ex-professora do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
Professora dos cursos de graduação e pós-graduação da UFMS.
Luiza Mello Vasconcelos
Mestre em Linguística pela PUC-PR.
Ex-professora do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
Professora dos cursos de graduação e pós-graduação da UEMS e da UFMS.
Zelia Peres de Souza Kruger
Licenciada em História pela UFMS.
Mestre em Desenvolvimento Sustentável pelo CDS/UnB.
Consultora para assuntos ambientais da UNESCO (2003).
História do
mato
grosso
DO S L
Nova
edição
1ª. edição – São Paulo – 2011
MANUAL DO PROFESSOR
HISTÓRIA Lori Alice Gressler
Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01318-970
Internet: http://www.ftd.com.br
E-mail: [email protected]
História do Mato Grosso do Sul
Copyright © Lori Alice Gressler, Luiza Mello Vasconcelos, Zelia Peres de Souza Kruger, 2011.
Todos os direitos reservados à
EDITORA FTD S.A.
Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP
CEP 01326-010 Tel. (0-XX-11) 3598-6000
Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970
Internet: <www.ftd.com.br>
E-mail: [email protected]
Diretora editorial
Silmara Sapiense Vespasiano
Editor
Débora Lima
Editor assistente
Wellington W. Santos
Assistentes de produção
Ana Paula Iazzetto e Lilia Pires
Assistente Editorial
Cláudia Casseb Sandoval
Preparadores
Geuid Dib Jardim
José Alessandre S. Neto
Lucila Vrublevicius Segóvia
Edição de texto do Manual do Professor
José Alessandre S. Neto
Revisora
Vivian K. Ehara
Coordenador de produção editorial
Caio Leandro Rios
Editor de arte e projeto gráfico
Roque Michel Jr.
Ilustrações
Ivan Coutinho
Cartografia
Sonia Vaz
Capa
Cláudio Cuellar
Foto de capa
Mauricio Simonetti/Pulsar
Iconografia
Pesquisa
Daniel Cymbalista
Assistência
Cristina Mota
Editoração eletrônica
Diagramação
Wilde Velasques Kern
Tratamento de imagens
Alceu Medeiros
Ana Isabela Pithan Maraschin
Gerente de produção gráfica
Reginaldo Soares Damasceno
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Gressler, Lori Alice
História do Mato Grosso do Sul, 4º/5º ano :
volume único / Lori Alice Gressler, Luiza Mello
Vasconcelos, Zelia Peres de Souza Kruger. -1. ed. -- São Paulo : FTD, 2011.
Nova edição.
ISBN 978-85-322-7708-4 (aluno)
ISBN 978-85-322-7709-1 (professor)
1. Mato Grosso do Sul - História (Ensino fundamental)
I. Vasconcelos, Luiza Mello. II. Kruger, Zelia Peres de Souza.
III. Título.
11-02917
CDD-372.898171
Índices para catálogo sistemático:
1. Mato Grosso do Sul : História : Ensino
fundamental
372.898171
Apresentação
Ivan Coutinho
Este livro foi preparado para você. Para que você conheça mais sobre a
história do nosso estado e continue a construí-la.
A história de um povo é uma obra coletiva, da qual todos nós tomamos
parte, ainda que, na maioria das vezes, de maneira anônima. O que os
historiadores estudam são as permanências e as transformações que ocorrem
no tempo.
Você sabe que o atual estado de Mato Grosso do Sul faz parte do país
em que vivemos, o Brasil. Sabe também que o Brasil faz parte de um espaço
muito maior, formado por continentes e oceanos, conhecido pelo nome de
planeta Terra.
O estado de Mato Grosso foi
dividido em 1977, criando-se então
um novo estado, Mato Grosso
do Sul. Neste livro, trataremos
apenas da história de Mato Grosso
do Sul, o nosso estado. Porém,
como os dois estados estão unidos
pela mesma história, muitas vezes
faremos referência a fatos que
ocorreram na região do antigo
Mato Grosso mas que, de alguma
forma, relacionam-se ao passado do
atual Mato Grosso do Sul.
Você verá que é fascinante
viajar pelo tempo através dos livros
e compreender melhor o mundo
que nos rodeia.
Nosso propósito é compartilhar com você esta viagem fantástica no tempo.
Com este objetivo, reunimos informações que estão distribuídas nos textos que
compõem este livro.
Bom trabalho!
As Autoras
3
Sumário
Capítulo 4 – A colonização da América ...........31
Os espanhóis na América .............................32
Os portugueses no Brasil .............................35
As primeiras expedições .........................35
Capítulo 1 – O estudo da História ......................7
As capitanias hereditárias .......................37
Por que estudar o passado? ...........................8
Os governos-gerais .................................38
A história é dinâmica .....................................8
A economia colonial .....................................39
Fontes de pesquisa em História ...................10
O pau-brasil ............................................39
Atividades ....................................................11
A cana-de-açúcar ...................................40
Atividades ....................................................42
Capítulo 2 – Os primeiros ocupantes
Capítulo 5 – A ocupação de Mato Grosso
da terra ............................................................12
do Sul: o domínio espanhol ..............................44
O povoamento da América ...........................13
Os primeiros ocupantes de Mato Grosso
Uma breve história da evolução
do Sul ..........................................................14
administrativa de nosso estado ....................45
Os indígenas do território sul-mato-
O início do povoamento................................46
-grossense ..................................................15
A penetração dos bandeirantes ....................47
Situação no passado ...............................15
As bandeiras para captura de
Situação no presente ..............................17
indígenas ................................................47
As expedições de busca de
Atividades ....................................................22
metais preciosos.....................................49
As monções em busca do ouro ...............50
Capítulo 3 – O sonho das descobertas ............23
As Grandes Navegações ..............................24
Primeiros núcleos de
O caminho para as Índias.............................26
povoamento ............................................52
A divisão das novas terras ...........................28
Atividades ....................................................53
Atividades ....................................................29
Capítulo 6 – A ocupação de Mato Grosso
Ivan Coutinho
do Sul: o domínio português .............................55
O Tratado de Madri ......................................56
A criação da Capitania de
Mato Grosso ................................................56
4
A formação de núcleos de povoamento
A ocupação paraguaia de
de Mato Grosso do Sul .................................57
Mato Grosso ................................................79
Coimbra ..................................................58
A Retirada da Laguna...................................79
Miranda ..................................................58
Consequências da guerra.............................84
Corumbá .................................................59
Atividades ....................................................85
Atividades ....................................................61
Capítulo 9 – Os movimentos pela
Capítulo 7 – Origem e evolução dos municípios
emancipação do sul do estado de
de Mato Grosso do Sul: séculos XIX e XX ..........62
Mato Grosso ....................................................87
A independência do Brasil ............................63
A luta pela autonomia ..................................88
A expansão do povoamento na Província de
A República Velha (1889-1930) ....................88
Mato Grosso ................................................64
Nioaque – O berço da divisão.......................90
A criação de colônias militares e o
O governo Vargas (1930-1945) ....................93
surgimento de cidades ............................64
A formação do estado de
A pecuária e o aparecimento de
Maracaju (1932) ..........................................94
cidades ...................................................65
O território federal de Ponta Porã
Atividades ....................................................69
(1943-1946) ................................................96
A criação do estado de Mato Grosso
Capítulo 8 – A região do atual estado
do Sul ..........................................................97
do Mato Grosso do Sul e a Guerra do
Atividades ....................................................98
Paraguai............................................................73
O Brasil daquela época ................................74
Capítulo 10 – A história do cultivo da
A Guerra do Paraguai ...................................74
erva-mate em Mato Grosso do Sul ...................99
O desenvolvimento do Paraguai ..............75
O início da exploração ................................100
O início do conflito ..................................76
O preparo da erva-mate.............................102
Os principais acontecimentos da
A Companhia Mate Laranjeira ....................103
Guerra do Paraguai .................................77
Ivan Coutinho
O crescimento econômico da
Mate Laranjeira.....................................103
Acusações e denúncias contra a
Mate Laranjeira.....................................105
Atividades ..................................................106
5
Capítulo 11 – O desenvolvimento da pecuária
Capítulo 14 – Nossa gente, nossa
em Mato Grosso do Sul ..................................108
cultura ...........................................................132
A terra como fator de produção
O que é cultura ..........................................133
de riqueza..................................................109
Influências culturais – Usos e costumes.....134
A expansão da criação de gado..................109
O índio ..................................................134
O transporte do gado .................................111
O branco ...............................................135
A organização da comitiva ....................112
O negro.................................................136
Atividades ..................................................114
A contribuição dos migrantes e dos
imigrantes .................................................137
Capítulo 12 – A agricultura e a indústria
Os migrantes ........................................137
em Mato Grosso do Sul ..................................115
Os imigrantes .......................................138
A agricultura de subsistência e a criação
Algumas manifestações artísticas de
das colônias agrícolas................................116
Mato Grosso do Sul ....................................142
As colônias agrícolas públicas...............117
A artista plástica Lydia Baís...................142
As colônias agrícolas privadas ..............120
O poeta Manoel de Barros .....................143
O crescimento da agroindústria e da
O compositor Zacarias Mourão .............146
indústria ....................................................121
Atividades ..................................................147
A abertura para o turismo
ecológico ...................................................124
Capítulo 15 – Memórias da educação em
Atividades ..................................................125
Mato Grosso do Sul ........................................148
Os primeiros professores ...........................149
Capítulo 13 – Transportes e comunicações
Surgem as primeiras escolas .....................149
em Mato Grosso do Sul ..................................126
As escolas públicas ...................................152
As condições de trabalho dos
A evolução dos transportes ........................127
A Estrada de Ferro Noroeste
professores ................................................153
do Brasil ...............................................127
Atividades ..................................................155
Outros meios de transporte ...................129
Sugestões de atividades para
O desenvolvimento das
encerrar o ano letivo ...................................156
comunicações ...........................................129
Sugestões de leitura ....................................157
O telégrafo ............................................129
Referências bibliográficas ..........................158
Atividades ..................................................131
Bibliografia ..................................................159
6
Capítulo 1
Ivan Coutinho
O estudo da História
7
Por que estudar o passado?
Mauricio Simonetti/Pulsar
Todas as pessoas têm um passado. Você, mesmo criança, já tem sua história.
Nossos pais, nossos avós, nossa rua, nossas árvores, nossa casa, nossa escola, tudo
tem uma história.
A história de uma cidade, por exemplo, inicia-se com seus primeiros ocupantes
e depois vai sendo, no cotidiano, construída coletivamente pelos que nela moram.
Rua com casas antigas em Corumbá. Esta foto, apesar de recente (2008), retrata
construções da época em que Corumbá era o centro comercial mais importante
do estado.
O estudo do passado possibilita a compreensão da realidade de hoje. Isto é a
história. A história é como nossa memória. Sem memória, não temos identidade.
Não sabemos quem somos, quem são nossos pais, onde moramos.
Um povo que não preserva a sua história é como uma árvore sem raízes: qualquer vento a tomba. É através das raízes que a árvore obtém seu alimento. Assim,
também, a compreensão dos fatos e acontecimentos atuais depende do conhecimento do passado.
A história é dinâmica
A história preocupa-se com o estudo das transformações vivenciadas por
um grupo social. Ela é, portanto, dinâmica. Ao longo do tempo, o ser humano foi
mudando sua forma de pensar e agir. Até o significado das palavras está sujeito a
8
modificações. Milhares de pessoas viveram antes de nós, de maneiras diferentes e
em épocas diferentes.
Compare fotos antigas e recentes de seus avós, de sua cidade, de sua escola.
Você vai perceber nelas as transformações que sofreram, mas também observará
a permanência de determinados elementos. Com isso, podemos dizer que o ritmo
das mudanças varia, sendo que, enquanto algumas ocorrem de maneira mais lenta,
outras acontecem mais rapidamente.
Não podemos modificar o passado. É o conhecimento deste passado que muda.
Mudam, portanto, as interpretações e a compreensão dos fatos.
Por exemplo, nas primeiras décadas do século XX, alguns municípios do estado
se desenvolveram mais que os outros. Por que hoje esses municípios não são os mais
desenvolvidos? Isso pode ser respondido pela história. Estudamos a história para
compreender o presente. O que esses acontecimentos têm a ver com a realidade
do estado hoje? Como eles ajudam a explicar o que está acontecendo agora?
Para estudar as transformações, precisamos nos orientar no tempo, isto é, conhecer o que existiu antes e o que existiu depois. É na linha do tempo que situamos
os acontecimentos em seu tempo histórico.
Assim como você, a sua cidade, o nosso estado e o Brasil, país em que vivemos,
também tem uma história. Ao longo deste livro, por várias vezes, faremos referência
aos períodos em que essa história está dividida. Conheça abaixo a linha de tempo
do Brasil.
Linha de tempo do Brasil
Logo após o 7 de setembro, foi composto o Hino
da Independência, com letra de Evaristo da Veiga
e música de D. Pedro I, como retrata o quadro de
Augusto Bracet (1881-1960).
Desembarque de Pedro Álvares Cabral onde hoje é
Porto Seguro, na Bahia. Quadro de Oscar Pereira
da Silva (1867-1939).
9
Ivan Coutinho
Oscar Pereira da Silva. 1922.
MP/USP, SP
Augusto Bracet – Primeiros Sons do
Hino da Independência. 1922. MHN, RJ
4O mil anos
Como você vê, a história desta terra que foi chamada de Brasil começa por
volta de 40 mil anos atrás, quando, provavelmente, chegaram por aqui os primeiros
grupos humanos. Em 1500, inicia-se o período do Brasil Colônia, com a descoberta
e a posse das terras brasileiras pela Coroa portuguesa. No ano de 1822, quando
o Brasil torna-se independente de Portugal, abre-se o período do Brasil Império.
Finalmente, de 1889 até hoje, tem lugar o período do Brasil República.
Fontes de pesquisa em História
1500. Arquivo Naciona
oa
l da Torre do Tombo, Lisb
Para encontrar respostas no passado, utilizamos todos os tipos de documentos
que possam revelar e esclarecer os fatos. Esses documentos são chamados de fontes
históricas e podem ser: livros, jornais, fotografias, pinturas, entrevistas, músicas,
roupas, restos de construções antigas etc.
Os documentos escritos têm si do,
tradicionalmente, os mais uti lizados na
pesquisa histórica. Nem tudo, porém, que
está escrito é verdadeiro.
Por exemplo, como saber sobre a
vida dos escravos, se não temos a opinião
deles em jornais ou livros? Por isso temos
de comparar e confrontar documentos e
questionar suas afirmações.
A carta de Caminha é um
importantíssimo documento
da História do Brasil. Nela
Pero Vaz de Caminha
conta ao rei de Portugal
suas impressões sobre a
terra a que os portugueses
chegaram em abril de 1500.
Hoje em dia, no entanto, os historiadores vêm ampliando muito o uso de suas
fontes de pesquisa. A observação atenta de pinturas e fotografias, por exemplo,
pode nos revelar muitos aspectos sobre o passado, como o tipo de roupas que as
pessoas usavam, suas formas de moradia e mesmo as diferenças sociais existentes.
Também a história oral tem sido bastante valorizada como forma de se obterem
informações sobre o passado. Assim, por meio dos depoimentos das pessoas que
vivenciaram os acontecimentos, busca-se reconstituí-los.
10
Debret – Uma senhora brasileira em seu lar.
Séc. XIX. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, SP. Foto: Nelson Toledo
Esta gravura foi feita pelo pintor
francês Debret por volta de 1830,
quando ele vivia no Brasil. Por ela
podemos ter uma ideia do modo
de vida naquela época. Observe o
que estão fazendo e como estão
vestidas as personagens: a dona
de casa, a menina branca, as
escravas e o escravo, as crianças.
Veja os móveis e objetos.
Por exemplo: é possível conhecer a história de sua escola fazendo-se a coleta
de informações contidas em documentos escritos, em fotos, vídeos e também com
base em registros obtidos por meio da história oral.
ATIVIDADES
1. Por que é importante estudarmos o nosso passado?
2. “Um povo que não preserva a sua história é como uma árvore sem raízes:
qualquer vento a tomba.” Como você explica essa comparação?
3. O que significa dizermos que a história é dinâmica? Dê um exemplo com
base na sua experiência de vida.
4. Procure em casa uma foto de seu pai ou de sua mãe quando eram
crianças. Compare-a com o aspecto físico atual deles, observando o que
mudou e o que permaneceu igual ou parecido.
5. A linha do tempo é uma representação ou desenho que nos ajuda a visualizar a passagem do tempo, localizando fatos e períodos históricos.
Faça uma linha do tempo da história de sua escola.
6. O que são fontes históricas? Por que elas são importantes? Se você fosse
estudar a história da sua família, cidade, escola, por onde começaria?
Que fontes você utilizaria?
7. A maioria das pessoas não costuma escrever suas experiências, mas elas
podem ter muito que contar sobre os acontecimentos que viveram. Faça
uma entrevista com uma pessoa idosa. Peça a ela que conte como era,
no passado, a cidade onde você mora hoje. Pergunte sobre os meios de
transporte, o comércio, as festas e o que mais você quiser saber.
8. Compare a resposta acima com a de seus colegas e anote em seu caderno
as diferenças e as semelhanças que vocês encontraram nas entrevistas
realizadas.
11
Capítulo 2
Os primeiros ocupantes da terra
Ivan Coutinho
12
Ivan Coutinho
O povoamento da América
Você sabia que a América já era habitada muito antes da chegada dos europeus,
no final do século XV? Como esses primeiros habitantes chegaram aqui? A explicação mais aceita é a de que os primeiros povoadores vieram da Ásia e atravessaram
andando o estreito de Bering, que estava congelado. É possível que, algum tempo
depois, outros grupos humanos tenham vindo para a América por mar, provenientes da Ásia e da Oceania.
Círculo Polar Ártico
60ºN
Equador
ic
nw
ren
G
e
o d
ian
rid
30ºS
h
Trópico de Capricórnio
M
e
0º
Sonia Vaz
30ºN
Trópico de Câncer
60ºS
Círculo Polar Antártico
30ºO
0º
30ºL
60ºL
90ºL
120ºL
150ºL
180º
150ºO
120ºO
90ºO
60ºO
30ºO
Fonte: Atlas da história do mundo. 1995.
Os seres humanos chegaram à América em várias correntes. A mais importante, mas não a
única, é a que foi da Ásia para a América do Norte através do estreito de Bering.
Não se sabe exatamente a data do início do povoamento da América. Acredita-se que isso teria ocorrido entre 70 mil e 20 mil anos atrás, mas novas pesquisas
estão sendo feitas e podem nos trazer dados mais precisos no futuro.
13
70°O
60°O
50°O
Sonia Vaz
Em diferentes regiões do Brasil, existem sinais de grupos humanos datados de
aproximadamente 10 mil a 40 mil anos. Portanto, em 1500, os portugueses apenas
tomaram conhecimento da existência do Brasil, que já era habitado havia muito
e muito tempo, sendo que, à época da chegada de Cabral, havia aqui cerca de
5 milhões de indígenas.
40°O
0°
10°S
20°S
30°O
30°S
Os primeiros ocupantes de Mato Grosso do Sul
Os primeiros seres humanos a percorrerem o atual território sul-mato-grossense devem ter chegado aqui há cerca de 15 mil anos. Vinham de outras regiões,
seguindo o curso dos rios. Existem vestígios dessa presença em vários municípios de
nosso estado, que conta com cerca de 120 sítios arqueológicos. Os mais antigos
datam de 11 mil anos, na região do rio Sucuriú, no município de Paranaíba.
Sítio arqueológico:
Local onde se encontram vestígios muito antigos de ocupação humana.
14
Haroldo Palo Jr./Kino
Como os povos pré-históricos
não tinham escrita, um dos meios de
conhecermos seu modo de vida são
os desenhos e pinturas que deixaram
nas paredes das cavernas. Em nosso
estado, foram encontrados desenhos
feitos na rocha há mais de 2 000 anos
em sítios arqueológicos localizados nos
municípios de Antônio João e Corumbá, entre outros.
Outra maneira de sabermos algo
sobre esses povos são as fontes materiais, como, por exemplo, ossadas de
seres humanos ou de animais e restos
de utensílios domésticos. No município Inscrições encontradas na Lagoa Gaiva, na Serra
do Amolar (2008).
de Ladário foi encontrado um esqueleto humano muito antigo, datando de
cerca de 8 400 anos.
Sabe-se que esses grupos humanos sobreviviam da caça, da pesca e da coleta
do que poderia lhes servir como alimento. Lascavam e poliam a pedra para produzir utensílios e instrumentos de trabalho, como armas, facas, machados, moedores,
pontas de flecha e lanças.
Coleta:
Atividade característica dos povos que não conhecem a agricultura
e vivem de colher frutos e raízes oferecidos pela natureza.
Os indígenas do território sul-mato-grossense
Situação no passado
Há pelo menos 5 mil anos que a aprendizagem do cultivo de plantas, a domesticação de animais e as condições de solo e clima favoreceram o desenvolvimento
de diversos grupos étnicos que ocuparam o território do atual estado de Mato
Grosso do Sul.
Grupo étnico:
Grupo de pessoas que compartilha a mesma cultura,
especialmente a língua, os comportamentos sociais e as crenças.
15
Juca Varella/ Folha Imagem
Entre os nativos do território sul-mato-grossense, os mais numerosos, no século
XVI, eram os Guarani. Excelentes agricultores, plantavam principalmente o milho
e a mandioca, base de sua alimentação.
Eles conheciam também o cultivo e a tecelagem do algodão, para a confecção
de redes e vestimentas. Produziam potes de cerâmica para o armazenamento de
alimentos e os utilizavam, inclusive, para o sepultamento de seus mortos. Atualmente, os Guarani são representados pelos Kaiowá e pelos Ñandeva.
A partir do século XVII, os colonizadores portugueses e espanhóis intensificaram seus ataques às aldeias dos Guarani. Eles exploraram a mão de obra indígena,
tanto no trabalho agrícola como na mineração.
Indígenas do povo Kaiowá participam de uma refeição comunitária
na aldeia Bororó, em Dourados (2003).
Com o enfraquecimento dos Guarani, outros povos, como os Aruak e os
Guaicuru, penetraram na região sul do Pantanal. Os Aruak são hoje representados
pelos Terena, enquanto a nação Guaicuru está reduzida atualmente a menos de
mil índios Guaná ou Kadiwéu. Também estão presentes em Mato Grosso do Sul
os Ofayé-Xavante e os Guató, entre outros (consulte neste capítulo, às páginas 19
e 20, o quadro “Localização das terras indígenas”).
16
Francis Castelnau – Indien Guaycuru. Séc. XIX. IEB/USP, SP. Foto: Nelson Toledo
Caçadores e coletores extremamente guerreiros,
os Guaicuru dominavam as demais tribos, favorecidos
pela domesticação do cavalo, introduzido na região pelos
colonos espanhóis. Excelentes montadores, até hoje são
conhecidos como “índios cavaleiros”. Possuem também
uma arte refinada, que se revela nos belos motivos coloridos usados na decoração de seus objetos de cerâmica e
nas tatuagens realizadas em seus corpos.
Debret – Carga de cavalaria Guaicuru. Séc. XIX. Biblioteca Municipal
Mário de Andrade, SP. Foto: Nelson Toledo
Mulher Guaicuru com pintura facial e corporal.
O retrato foi feito por volta de 1845 por
Francis Castelnau, que dirigiu uma expedição
francesa que percorreu a América do Sul.
Esta gravura de Debret mostra indígenas do povo Guaicuru. Os Guaicuru
são conhecidos como “índios cavaleiros”.
Situação no presente
Os indígenas resistiram como puderam à ocupação europeia, mas o resultado
foi o quase extermínio da população nativa. A miscigenação, de certa forma, também contribuiu para isso. Muitos brasileiros são descendentes dos indígenas que se
uniram a pessoas de outras etnias através do casamento e não se consideram índios.
Quando os portugueses aqui chegaram, existiam cerca de 1 300 línguas indígenas. Desse total, restam hoje em dia apenas cerca de 170 línguas. Isso dá ideia
da grande redução que a população indígena sofreu no Brasil.
17
Hoje, a maior concentração de população indígena do Brasil encontra-se na
região amazônica, onde vivem cerca de 250 mil indivíduos (segundo dados da
Fundação Nacional de Saúde (FUNASA, 2010). No Mato Grosso do Sul, ainda
segundo a FUNASA, vivem cerca de 60 mil indígenas, em aldeias ou fora delas.
A maioria deles vive em reservas. Alguns se misturam aos marginalizados das
grandes cidades, na condição de índios desaldeados. Outros indígenas estudam
nas universidades, ocupam cargos públicos e trabalham na cidade ou em propriedades rurais.
Os únicos indígenas que têm título de posse de suas terras são os Kadiwéu, da
Reserva da Bodoquena, área de 373 024 hectares localizada no antigo município
de Corumbá. Essa área foi doada pelo imperador Dom Pedro II como recompensa pela participação do grupo na Guerra do Paraguai. Atualmente, segundo o
Relatório do Senado Federal sobre Demarcação de Terras Indígenas (2004), essa
área foi ampliada para 538 535 hectares, sendo habitada também por outras etnias,
localizando-se nos atuais municípios de Porto Murtinho e Corumbá.
Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Desaldeados:
Indígenas que vivem fora de aldeias.
Memorial da Cultura Indígena, em Campo Grande (2000). O Memorial é formado
pela oca central, feita de bambu, e pelo Conjunto Habitacional Marçal de Souza – a
primeira aldeia urbana brasileira. A aldeia é habitada por famílias que deixaram a
mata, pertencentes a diversos povos – Kadiwéu, Kaiowá, Terena, Ofayé-Xavante.
18
O Brasil [...] ainda desconhece a imensa sociodiversidade indígena que existe
em seu território. [...]
A imagem do índio conhecida pela população é a do índio romântico, a do
índio selvagem [...]. E existem várias razões para isto.
A primeira é que existem poucos espaços para a expressão dos índios no cenário
cultural e político do país. Vivendo a maioria deles em locais de difícil acesso, com
condições quase que exclusivamente orais de comunicação e falando geralmente apenas sua língua, com domínio relativo do português, as diferentes etnias encontram
dificuldades para se expressar no mundo dos não índios. Sua cultura e pontos de
vista são tomados geralmente fora dos contextos onde vivem [...]. Basta mencionar,
por exemplo, que das 206 etnias conhecidas [...], no máximo a metade, talvez, foi
objeto de pesquisa [...] e a maior parte dos resultados [...] não está publicada nem
é acessível ou o é apenas em línguas estrangeiras.
Rita Amaral. Caçando e pescando, guerreando feliz: representações sobre índios feitas por crianças de uma escola pública de
primeiro grau, na cidade de São Paulo (SP). Os Urbanitas, Revista Digital de Antropologia Urbana. Ano 1, v. 1. n. 2, out. 2003./
Extraído do site: <www.aguaforte.com/antropologia/osurbanitas/revista/povosindigenas.html>. Acesso em: 10 jan. 2011.
O estado de Mato Grosso do Sul conta com uma área total de 35 054 800 hectares, enquanto a área de reservas efetivamente ocupada soma 50 506 hectares, o
que corresponde a cerca de 0,2% das terras do estado. Existem outras áreas indígenas além das reservas. A demarcação das terras indígenas é uma constante fonte
de conflitos entre os índios e os fazendeiros. Veja, no quadro a seguir, a localização
atual das terras indígenas de nosso estado.
Localização das terras indígenas
Município
Nome da terra
Grupo indígena
Amambaí
Aldeia Limão Verde
Amambaí
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá,
Guarani-Ñandeva
Guarani-Kaiowá,
Guarani-Ñandeva
Terena
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá
Terena
Terena
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá
Ofayé-Xavante
Guarani-Kaiowá,
Guarani-Ñandeva
Guarani-Kaiowá
Jaguari
Anastácio
Antônio João
Aquidauana
Aral Moreira
Bela Vista
Brasilândia
Caarapó
Aldeinha
Aldeia Campestre
Cerro Marangatu
Limão Verde
Taunay/Ipegue
Guasuti
Pirakua
Ofayé-Xavante
Caarapó
Guiraroka
19
Município
Nome da terra
Grupo indígena
Coronel Sapucaia
Sete Cerros
Guarani-Kaiowá,
Guarani-Ñandeva
Guarani-Kaiowá
Guató
Kamba
Terena
Corumbá
Dois Irmãos do Buriti
e Sidrolândia
Douradina
Dourados
Taquaperi
Guató
Camba
Buriti
Panambi
Dourados
Eldorado
Panambizinho
Cerrito
Juti
Jarara
Laguna Carapã
Maracaju
Miranda
Mundo Novo
Nioaque
Paranhos
Ponta Porã
Porto Murtinho
Rochedo
Sete Quedas
Sidrolândia
Tacuru
Taquara
km 20/Barrero Guasu
Urucuty
Sucuriy
Cachoeirinha
Lalima
Nossa Senhora de Fátima
Pilade Rebuá
Porto Lindo
Nioaque
Arroio Corá
Potrero Guaçu
Takuaraty/Yvykuarusu
Guaimbé
Gua-y-viri
Kokue-í
Lima Campo
Rancho Jacaré
Kadiwéu
Água Limpa
Pirajuí
Sombrerito
Buritizinho
Jaguapiré
Sassoró
Guarani-Kaiowá
Terena, Guarani-Kaiowá,
Guarani-Ñandeva
Guarani-Kaiowá
Guarani-Ñandeva,
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá,
Guarani-Ñandeva
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá
Terena
Terena e Kinikinau
Terena
Terena
Guarani-Ñandeva
Terena
Guarani-Kaiowá
Guarani-Ñandeva
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá
Kadiwéu, Kinikinau, Terena
Terena
Guarani-Ñandeva
Guarani-Ñandeva
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá
Guarani-Kaiowá
Fonte: Instituto Socioambiental, 2011.
20
FIQUE SABENDO
Por meio de seus mitos, os indígenas procuram explicar a
criação do mundo e de tudo que nele existe. A mandioca é um
alimento fundamental na dieta alimentar indígena. Leia, a seguir,
um mito tupi da origem da mandioca.
Mito:
A palavra mandioca significa “casa de Mani”. Segundo uma
lenda tupi, a filha de um chefe indígena engravidou. Nasceu uma
menina chamada Mani, que morreu com 1 ano de idade. De seu
túmulo, brotou um arbusto desconhecido. A terra então se abriu,
deixando à mostra as raízes da planta, que passou a ser conhecida
como “mandioca”, que significa “a casa de Mani”.
A mandioca é uma planta típica de regiões quentes,
e sua raiz é muito nutritiva. Existem diversas
variedades de mandioca, entre elas a
mandioca-brava, que é venenosa.
A farinha seca é um dos principais
produtos provenientes da mandioca
e é obtida ralando-se a mandioca
descascada. Depois de ralada, a
mandioca é espremida para que
seja retirada a água. Até hoje
os indígenas usam grandes
vasilhas rasas e redondas
para assar a massa seca.
A tapioca e o polvilho são
outros produtos obtidos a
partir da mandioca.
21
Ivan Coutinho
A mandioca
Relato da tradição oral que busca explicar
um fenômeno natural ou narrar um
acontecimento histórico.
ATIVIDADES
1. Observe o mapa da página 13 que mostra a entrada dos primeiros grupos
humanos na América. Segundo a teoria mais aceita, como isso aconteceu?
2. O Brasil foi descoberto pelos portugueses em 1500, porém ele já era
habitado muito antes disso. Procure no texto elementos que comprovem
essa afirmativa.
3. Onde foram encontrados os sinais mais antigos da presença humana em
território sul-mato-grossense? Quanto tempo eles têm?
4. Veja a foto que mostra incrições pré-históricas feitas na rocha na Serra do
Amolar (página 15). Por que é importante o estudo desses registros?
5. Faça uma história em quadrinhos mostrando algum aspecto do modo de
vida dos primeiros habitantes de Mato Grosso do Sul.
6. Com base nas informações do texto, faça um desenho de um índio Guaicuru, ressaltando nele suas maiores habilidades.
7. Abaixo você encontrará um importante tema para discussão em grupo.
Cada grupo deve anotar suas conclusões para depois apresentá-las para
a classe.
Tema: Como explicar que havia 5 milhões de indígenas no Brasil quando
os portugueses aqui chegaram e hoje restam apenas cerca de 700 mil?
8. Observe o quadro “Localização das terras indígenas” e responda às perguntas a seguir:
• Existem aldeias e grupos indígenas situados em seu município ou em
municípios vizinhos ao seu? Quais são eles? Como vivem?
9. Em diferentes épocas, as tatuagens têm significados diversos, podendo
até despertar preconceitos e discriminação. Relacione os desenhos corporais dos indígenas com as tatuagens modernas.
10. Observando a foto da página 16, identifique as mudanças ocorridas no
modo de viver dos indígenas.
Você sabe dizer quais são elas? Anote-as e compare com as respostas
dos seus colegas.
11. Lendo o texto complementar de Rita Amaral, você pode conhecer a
imagem que o Brasil faz do índio, segundo a autora. Qual a imagem que
você tem do índio de Mato Grosso do Sul?
12. Você encontrará neste livro algumas palavras de origem indígena.
Faça uma pesquisa em dupla sobre outras palavras da mesma origem.
Anote-as em seu caderno e coloque ao lado o significado de cada uma
delas. Veja alguns exemplos:
Catapora – fogo que salta.
Itaporã – pedra bonita.
Jacá – cesto feito de taquara ou de cipó.
22
Mandioca – casa de Mani.
Tereré – mate preparado
com água fria.
Capítulo 3
Ivan Coutinho
O sonho das descobertas
23
As Grandes Navegações
Pierre Desceliers. 1550. Museu Britânico, Londres
Você já teve o sonho de conhecer outros lugares? Pois nunca houve sonho
que tanto seduzisse os homens como o de superar os limites do mundo conhecido
e fazer novas descobertas.
Neste mapa da América do Sul, desenhado em 1550, o artista representou, com
imaginação e fantasia, a chegada dos europeus e a resistência dos indígenas.
Navegar, no século XV, significava lançar-se à aventura e correr todos os riscos.
Nessa época, os dois países com maiores conhecimentos de navegação e com mais
condições econômicas para financiar expedições marítimas eram Espanha e Portugal.
O objetivo principal dos espanhóis e portugueses era chegar até as Índias,
lugar de onde provinham mercadorias muito consumidas pelos europeus, como
tecidos, joias e perfumes.
Sobretudo, era das Índias que vinham as especiarias. Por não haver geladeiras,
como existem hoje, naquela época usavam-se especiarias para temperar e conservar
alimentos, principalmente carnes. As mais cobiçadas eram a pimenta-do-reino, a
canela, o cravo-da-índia, o gengibre, o anis e a noz-moscada.
Cobiçada:
Desejada.
24
Sérgio Dotta Jr/The Next
Seu comércio era tão lucrativo que motivou as chamadas
Grandes Navegações dos séculos
XV e XVI. Assim ficou conhecido
esse período histórico, marcado
por muitas descobertas e con- Especiarias: noz-moscada, sementes de
mostarda, cravo, canela e pimenta-do-reino.
quistas de novas terras.
Os portugueses reuniram em Sagres, no sul do país, estudiosos dedicados ao
desenvolvimento da navegação, inclusive pesquisadores vindos das cidades italianas
de Veneza e Gênova. Lá eles conseguiram aperfeiçoar uma embarcação apropriada
para as viagens em alto-mar: a caravela.
Os homens que viajavam em uma caravela precisavam de coragem para atravessar o Atlântico, como hoje os astronautas precisam dessa coragem para lançar-se ao espaço. As viagens eram longas e perigosas, sendo que mais da metade dos
que embarcavam não retornava. Havia muitos naufrágios, e era comum a morte
por doenças, como o escorbuto e a cólera.
Hans Dürer (atribuído). Séc. XVI
Escorbuto:
Doença causada pela carência de
vitamina C, que provoca hemorragias.
Cólera:
Doença infecciosa aguda, contagiosa,
caracterizada por diarreia abundante,
grande fraqueza e cãibras.
Em navios a vela parecidos com
este os navegadores portugueses
atravessaram o Atlântico e o
Índico, alcançando terras da
América, da África e da Ásia nos
séculos XV e XVI.
Como a água do mar não serve para beber por ser muito salgada, o navio
transportava grande quantidade de barris e pipas com água doce. A distribuição
da água e da comida para os marinheiros e oficiais tinha de ser racionada, pois os
mantimentos precisavam durar até o final da viagem.
Água doce:
Água que não contém grandes quantidades de cloreto de sódio e outros sais; água das chuvas, das nascentes e dos rios.
Racionada:
Distribuída com critério, de acordo com regras.
25
O caminho para as Índias
120ºO
90ºO
60ºO
30ºO
0º
30ºL
60ºL
30ºN
0º
30ºS
Meridiano
Sonia Vaz
Para chegar às Índias, os portugueses e os espanhóis fizeram caminhos diferentes.
Os espanhóis optaram por seguir na direção Oeste. Os soberanos espanhóis
Fernando e Isabel financiaram a viagem de Colombo, um hábil navegador genovês.
Ele assegurava que a melhor maneira para se chegar às Índias era navegar para o
Ocidente, e não para o Oriente, como pensavam os portugueses.
A expedição de Colombo era pequena e contava com três caravelas. No dia
12 de outubro de 1492, ele chegou a um lugar que imaginou ser as Índias e, por
isso, chamou os habitantes que lá encontrou de índios. Na verdade, Colombo havia
chegado à América.
Já os navegadores portugueses esperavam atingir as Índias indo na direção Leste e
viajando pelo oceano Atlântico e pelo Índico. E assim fizeram. Em 1488, conseguiram
contornar o extremo sul do continente africano e, finalmente, em 1498, o navegador
português Vasco da Gama conseguiu chegar à cidade de Calicute, nas Índias.
Essa descoberta do caminho marítimo para as Índias entusiasmou os comerciantes e o rei de Portugal, pois abriu-lhes a possibilidade de conseguir grandes
lucros com o comércio das especiarias e demais mercadorias orientais.
Assim, em 8 de março de 1 500, partia do Tejo, em Portugal, Pedro Álvares
Cabral com treze naus e 1 500 homens. Essa era a maior esquadra até então enviada
pelos portugueses ao Oriente. Entretanto, embora a frota devesse navegar para o
Leste, ela rumou para o Oeste e, em 22 de abril do mesmo ano, os marinheiros
avistaram as costas das terras que mais tarde seriam chamadas de Brasil. Ao desembarcar em Porto Seguro, no litoral do atual estado da Bahia, Cabral tomou posse
daquele território em nome de Portugal.
26
90ºL
120ºL
150ºL
FIQUE SABENDO
Na esquadra comandada por Cabral estava também o
escrivão Pero Vaz de Caminha, que relatou tudo o que viu
durante a viagem e depois enviou a carta ao rei de Portugal. Veja
sua impressão sobre os indígenas brasileiros quando os viu pela
primeira vez:
Dali avistamos uns homens que andavam pela praia. Eram
uns sete ou oito [...]. A pele deles é parda, meio avermelhada.
Eles têm bons rostos e narizes; e são benfeitos. Andam nus, sem
nada que cubra seus corpos [...]; e são tão inocentes nisso como ao
mostrar o rosto. Ambos tinham os lábios de baixo furados e metido
neles um osso branco verdadeiro [...]. Eles os colocam pela parte
de dentro do lábio, e a parte que fica entre o lábio e os dentes é
feita como uma torre do jogo de xadrez e é encaixada de maneira
que não os machuque nem os atrapalhe ao falar, comer ou beber.
Os cabelos deles são lisos e raspados até para cima das orelhas [...].
Osmar Alve
s do
s Santos
Marc Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles
Poliana Asturiano e Rodval Matias. A carta de Pero Vaz de
Caminha: versão ilustrada em linguagem atual.
São Paulo: FTD, 1999. p. 25-29.
O menino indígena, fotografado por volta de 1880, e o adulto Guarani-Kaiowá
(Paulito Aquino, da aldeia Panambizinho), fotografado em 2000, usam no lábio
o tembetá, peça semelhante à que foi descrita na carta de Caminha.
27
A divisão das novas terras
Você já deve ter acompanhado, pela TV ou pelos jornais, conflitos entre países sobre a posse de territórios e tentativas fracassadas de acordos. No século XV,
Portugal e Espanha disputavam os novos territórios. Os portugueses, que já vinham
realizando expedições marítimas pelo oceano Atlântico desde o começo do século
XV, acreditavam ter direito sobre as novas terras encontradas por Colombo e apossadas pela Espanha.
Para evitar conflitos, Portugal e Espanha fizeram um acordo, dividindo entre si
as terras descobertas ou por descobrir. Em 1494, foi assinado um tratado, na cidade
espanhola de Tordesilhas, que estabelecia uma linha imaginária, o meridiano de
Tordesilhas, situada a 370 léguas (aproximadamente 2 mil quilômetros) das ilhas de
Cabo Verde. Ficaram então demarcados os territórios de Portugal e da Espanha:
as terras a Leste do meridiano pertenceriam a Portugal, e as terras a Oeste seriam
Imaginária:
da Espanha.
Criada pela imaginação.
180º
150ºO
120ºO
90ºO
60ºO
0º
30ºO
60ºN
30ºN
0º
30ºS
60ºS
28
30ºL
60ºL
90ºL
120ºL
150ºL
180º
Sonia Vaz
De acordo com o Tratado de Tordesilhas, firmado, como vimos, seis anos
antes de Cabral chegar ao Brasil, parte do atual território brasileiro já pertencia
aos portugueses, e o restante aos espanhóis. Como você poderá observar no mapa
a seguir, o atual território sul-mato-grossense situava-se em domínio pertencente
à Espanha, visto que a linha imaginária ia da atual cidade de Belém do Pará a Laguna, em Santa Catarina.
ATIVIDADES
1. Por que Portugal e Espanha foram os dois países que iniciaram as Grandes Navegações?
2. Que importância tinham as especiarias na Europa do século XV e de onde
elas eram trazidas?
3. Pergunte em sua casa como as especiarias (cravo, canela, gengibre,
pimenta-do-reino, anis, noz-moscada) são utilizadas para temperar alguns
dos alimentos que você come. Anote tudo e conte para sua classe.
4. Para encontrar um caminho marítimo para as Índias, os navegadores
portugueses e os navegadores espanhóis fizeram opções diferentes.
Explique cada uma delas.
5. Construa uma linha do tempo onde constem as seguintes datas: 1492,
1494, 1498 e 1500. Em seguida, localize nela os fatos que correspondem
a cada data.
6. Para que foi firmado o Tratado de Tordesilhas (1494) entre Portugal e
Espanha?
7. Se o Tratado de Tordesilhas tivesse sido respeitado pelos portugueses,
que língua estaríamos falando hoje em Mato Grosso do Sul? Por quê?
9. O que a viagem de Cabral mudou na vida das pessoas que viviam no
Brasil (os indígenas) e em Portugal (os europeus)?
10. Os navegadores do século XV sonhavam
com o desconhecido. Imaginavam o que
existiria do outro lado do oceano Atlântico.
Tiveram de enfrentá-lo para descobrir
que lá havia novas terras e seres humanos como eles. Escreva em seu
caderno sobre algumas grandes
aventuras que você gostaria
de realizar e explique por que
você as considera interessantes. Em seguida, apresente-as
a seus colegas para conversarem
sobre elas.
29
Ivan Coutinho
8. Sob o ponto de vista dos europeus, a América foi descoberta por eles.
Em sua opinião, qual seria o ponto de vista dos indígenas?
11. Observe o mapa e responda:
Sonia Vaz
• Qual a cor da região fornecedora de especiarias?
• Qual a cor do caminho percorrido por Vasco da Gama para chegar às
Índias?
• Em que cor está assinalada a viagem de Colombo?
• Em que cor está assinalada a viagem de Cabral?
• Qual a cor da África, continente que os portugueses tiveram de contornar para chegar às Índias?
• Qual a cor do continente americano, descoberto por Cristóvão Colombo?
• Em que cor está assinalada a linha do Tratado de Tordesilhas?
60ºN
30ºN
0º
30ºS
60ºS
180º
150ºO
120ºO
90ºO
60ºO
30ºO
0º
30
30ºL
60ºL
90ºL
120ºL
150ºL
180º
Capítulo 4
A colonização da América
Ivan Coutinho
31
Os espanhóis na América
Ainda hoje, as riquezas de um país despertam a cobiça de outros, que procuram controlá-las às vezes pela força, outras pela influência política. Isso se aplica ao
petróleo, às minas de diamantes, às reservas de minerais, como ferro e manganês,
e até a Amazônia.
Entre os séculos XVI e XVIII, acreditava-se que a riqueza de um país era
medida pela quantidade de ouro e prata que ele possuísse. Por isso, explica-se a
enorme avidez dos conquistadores europeus pela busca de metais preciosos nas
Avidez:
novas terras descobertas.
Ambição, ansiedade.
Os povos que habitavam as regiões da
cordilheira dos Andes (oeste da América
do Sul) na época da chegada dos
espanhóis tinham uma agricultura muito
desenvolvida. Eles cultivavam muitas
variedades de batata e também milho,
feijão, amendoim, mandioca, pimentão,
algodão e várias espécies de frutas,
verduras e cereais.O desenho, feito por
um escritor da época, mostra o imperador
acompanhando o início do plantio. Os
agricultores usam um pau de plantar com
apoio para o pé.
32
Guaman Poma de Ayala. Em El Primeir Nueva Corónica y Buen Governo. 1615/1616
Os espanhóis encontraram metais preciosos em abundância nas suas colônias americanas, logo que nelas chegaram em 1492. Por essa razão, a mineração
foi a atividade econômica mais importante da economia colonial espanhola até
o século XVIII.
Nas Antilhas, por meio do trabalho escravo indígena, foi extraída uma grande
quantidade de ouro, prontamente enviada à Espanha na forma de impostos para
enriquecer os cofres do rei. Porém, o grande impulso à mineração na América espanhola ocorreu quando os conquistadores espanhóis dominaram os impérios Inca
e Asteca na primeira metade do século XVI. Aí foram descobertas as riquíssimas
minas de prata nas regiões de Potosi (Bolívia) e de Zacatecas (México).
A exploração das minas era autorizada pelo rei aos colonos espanhóis na
América em troca do pagamento de taxas. Essas taxas cobradas sobre a mineração foram a principal forma de arrecadação de riquezas da Coroa espanhola até
o século XVIII.
Séc. XVII. Em Historia novi orbis
Em torno das zonas mineradoras, desenvolveram-se também a agricultura
e a criação de animais para abastecê-las. Além desse comércio interno, os colonos
tinham interesse na venda de produtos agrícolas para o mercado europeu.
Cultivavam-se as plantas nativas da América, como batata, milho, tabaco
e cacau, por exemplo, e aquelas introduzidas pelos europeus, como a cana-de-açúcar.
Os colonos exploraram o trabalho dos indígenas americanos tanto nas atividades
agrícolas como nas de mineração. Uma das formas de exploração foi a “encomienda”,
principalmente na agricultura. O rei espanhol permitia ao colono a utilização do
trabalho de indígenas em suas terras. Em contrapartida, os trabalhadores deveriam
receber instrução religiosa e comida, o que, no entanto, nem sempre era cumprido.
Nas minas, os indígenas eram obrigados ao trabalho por meio da “mita”. As
autoridades espanholas enviavam às minas de prata trabalhadores (os mitayos)
que deveriam, temporariamente, servir aos colonos em troca de um pagamento de
valor muito baixo ou mesmo como escravos.
Esta ilustração mostra a batalha entre espanhóis e incas, nos arredores de Cuzco, no Peru.
Cuzco foi o centro político e religioso do império Inca, até sofrer o domínio espanhol, em 1533.
33
Essa violenta exploração dos indígenas
pelos espanhóis na América foi denunciada
pelo padre dominicano Bartolomeu de
las Casas (1484-1566), logo no começo
da colonização. Veja o que ele diz sobre o
modo desumano como os conquistadores
espanhóis trataram os indígenas americanos:
Ivan Coutinho
FIQUE SABENDO
[...] os espanhóis, esquecendo que eles
eram homens, trataram essas inocentes
criaturas com crueldade digna de lobos, de
tigres e de leões famintos. Há quarenta e
dois anos não deixaram de os perseguir, de
os oprimir, de os destruir com todos os meios
criados pela cobiça humana e por outros
que estes tiranos chegaram a imaginar; hoje
não se conta senão duzentos indígenas na
ilha Espanhola (São Domingos) que outrora
abrigava três milhões [...].
Bartolomeu de Las Casas. História das Índias. Citado por AQUINO, Rubim S. L. e outros.
História das sociedades: das sociedades modernas às sociedades atuais.
Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico. [s.d.] p. 63.
Tirano:
Pessoa que abusa de sua autoridade.
As terras e as populações americanas dominadas pelos espanhóis foram
consideradas como pertencentes à Coroa. Assim, a administração de todo o
território colonial e a organização da exploração econômica ficaram sob sua
responsabilidade.
Para ocupar a América, o rei da Espanha, no início da colonização, passou
a conceder determinada quantidade de terras a particulares, conferindo-lhes o
título de adelantados. Eles dispunham de amplos poderes para administrá-las.
Os adelantados deveriam ter condições financeiras para implantar a extração de
metais preciosos, uma vez que os custos para isso eram muito altos.
Porém, a partir de 1540, aproximadamente, a Coroa espanhola, na tentativa
de diminuir o poder desses particulares, decidiu restringir as concessões de terras
e centralizar a administração em suas mãos. Sua intenção era controlar de uma
forma mais eficiente a arrecadação dos impostos.
34
Sonia Vaz
O imenso território colonial americano foi então dividido em quatro vice-reinos e quatro capitanias, cada qual
governado por um nobre diretamente
ligado ao rei. Observe no mapa ao lado
essa divisão política da América colonial
espanhola.
América colonial
espanhola – 1540
120 O
30 N
Trópico VICE-REINADO
DA NOVA
ESPANHA
CAPITANIA
GERAL DE CUBA
de Cân
cer
Vera Cruz
CAPITANIA GERAL DA GUATEMALA
Cartagena
Portobelo
Os portugueses no Brasil
0
Photodisc/ Getty Images/
CAPITANIA
GERAL DA
VICE- VENEZUELA
-REINADO DA
NOVA GRANADA
Equador
As primeiras expedições
As novas terras apropriadas pelos
países europeus eram denominadas colônias, e os países conquistadores eram considerados suas metrópoles. As metrópoles
tinham controle político e econômico total
sobre suas colônias. O comércio colonial
só podia ser feito com as suas respectivas
metrópoles, ainda que outros países oferecessem melhores preços.
VICE-REINADO
DO PERU
OCEANO
PAC CO
icórnio
de Capr
Trópico
30 S
CAPITANIA GERAL DO CHILE
N
L
O
0
30 O
OCEANO
ATL NT CO
S
1110
VICE-REINADO
DO RIO
DA PRATA
2220
quilômetros
120 O
90 O
60 O
Fonte: Atla hi tórico do undo Editora Konemann, 1999.
Dessa forma, o Brasil era colônia de
Portugal, que, por sua vez, era metrópole do Brasil. Na época em que as terras
da América foram apropriadas, Portugal
mantinha um comércio muito intenso com
as Índias e obtinha grandes lucros com a
venda das especiarias e outros produtos
orientais para o resto da Europa. Por isso,
de início, não mostrou muito interesse por
sua nova colônia.
Monumento aos Descobrimentos, em Lisboa,
Portugal (2005). Construída em 1960, a
obra comemora as grandes viagens que os
navegadores portugueses realizaram nos
séculos XV e XVI, chegando a terras longínquas
que os europeus nunca tinham alcançado.
35
30ºO
Benedito Calixto - Martim Afonso de Sousa no Porto de Piaçaguera.
Palácio de São Joaquim, RJ. Foto: Gilson Ribeiro
As duas expedições de reconhecimento, enviadas pelo rei português em 1501 e
1503 para percorrer as costas brasileiras, voltaram sem novidades sobre a existência
de metais preciosos, o que desapontou bastante os conquistadores portugueses.
Entretanto, as expedições comprovaram que havia por aqui uma valiosa madeira
chamada pau-brasil, de onde se extraía uma tintura vermelha muito útil para o
tingimento de tecidos.
Como os portugueses tinham grande dificuldade para fiscalizar o imenso litoral
brasileiro, os franceses, aproveitando-se disso, passaram a invadi-lo com frequência.
Seu objetivo era o contrabando do pau-brasil para revendê-lo na Europa a um alto
preço.
Os portugueses começaram então a preocupar-se com a ocupação e a colonização do Brasil. Mas isso não era nada fácil. Foi enviada uma expedição, chefiada
por Martim Afonso de Sousa, que percorreu a costa brasileira de norte a sul. Aportando no litoral do atual estado de São Paulo, em 1532, Martim Afonso fundou a
primeira vila do Brasil, São Vicente. No entanto, não era suficiente uma única vila
para defender um território tão vasto: era preciso, de fato, povoá-lo.
Este quadro de Benedito Calixto mostra Martim Afonso no
porto de Piaçaguera, no litoral paulista, em 1532.
36
As capitanias hereditárias
70°O
50°O
60°O
40°O
30°O
0°
1534-1759
10°S
20°S
Fonte: Atla hi tórico e colar. FAE, 19
.
37
Sonia Vaz
A solução encontrada pelo rei de Portugal foi dividir o Brasil em quinze faixas
horizontais de terras denominadas capitanias e entregá-las aos chamados donatários,
que deveriam, com seus próprios recursos, povoar, administrar, defender e explorar
suas terras. Essas capitanias doadas pelo rei eram hereditárias, isto é, passariam de
pai para filho.
Para diminuir suas despesas e conseguir mais lucros, Portugal decidiu
investir no cultivo da cana-de-açúcar em sua nova colônia. Esse produto era
bastante raro na Europa e, por isso, alcançava preços altíssimos. A expedição
colonizadora de Martim Afonso de Sousa trouxe para o Brasil as primeiras mudas de cana-de-açúcar no início da década de 1530. Os donos das capitanias
hereditárias deveriam, então, introduzir o plantio da cana em seus domínios.
O sistema de capitanias representou a primeira forma de divisão administrativa do Brasil colonial, implantada em 1534. Mas o legítimo dono era o governo
português, a quem os donatários prestavam contas e pagavam impostos. Como
você já viu antes, de acordo com a divisão estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, a região abrangida hoje por nosso estado não pertencia a Portugal, pois era
de domínio espanhol. Portanto, observando o mapa a seguir, você vai verificar
que, nessa época, Mato Grosso do Sul não fazia parte das capitanias hereditárias.
Entretanto, com o passar do tempo,
embora servisse para dar início à ocupação efetiva do imenso território brasileiro
por meio do plantio da cana-de-açúcar, o
sistema de divisão em capitanias não foi
bem-sucedido.
A comunicação, tanto entre as capitanias como com Portugal, era muito difícil. Apenas duas das quinze prosperaram:
a de São Vicente e a de Pernambuco. Para
melhorar a administração da colônia brasileira, o governo português, sem excluir
as capitanias hereditárias, tentou outras
soluções.
Inicialmente, o poder foi centralizado nas mãos de um único governador-geral, que deveria organizar a defesa e
também contribuir para o desenvolvimento econômico das capitanias. Entre 1549
e 1572, o Brasil teve três governadoresChegada de Tomé de Sousa à Bahia,
-gerais: Tomé de Sousa, Duarte da Costa
em 1549.
e Mem de Sá.
A capitania da Bahia foi escolhida para sede do governo-central por causa
de sua privilegiada situação geográfica, pois, além de não estar tão distante de
Portugal, ficava aproximadamente na metade do caminho entre as demais capitanias do norte e do sul.
O primeiro governador-geral, Tomé de Sousa, desembarcou na Bahia em 1549
e lá fundou Salvador. Em seu governo, procurou incentivar o desenvolvimento da
produção açucareira, além de introduzir o gado no país e organizar expedições à
procura de metais preciosos.
Duarte da Costa foi o segundo governador-geral e administrou o Brasil entre
1553 e 1558. Finalmente, o terceiro governador-geral, Mem de Sá, ficou no poder entre 1558 e 1572. Em seu governo, fundou-se a cidade do Rio de Janeiro no
ano de 1565 e foram expulsos os invasores franceses que haviam tomado a baía da
Guanabara na administração anterior.
38
Biblioteca Mário de Andrade, SP
Os governos-gerais
No entanto, como ainda persistiam os problemas administrativos, Portugal fez
uma nova tentativa e separou o Brasil em dois governos no ano de 1572. A sede
do governo do Norte ficava em Salvador, e a do Sul, na cidade do Rio de Janeiro.
Como essa experiência também fracassou, em 1578 o Brasil voltou a ser governado
a partir de um único centro, situado na cidade de Salvador.
A economia colonial
O pau-brasil
Durante a primeira metade do século XVI, o pau-brasil foi o principal produto
comercial explorado pelos portugueses e vendido no mercado europeu. Os carregamentos da madeira retirados do litoral foram tão grandes que foi preciso seguir
cada vez mais para o interior. Com o tempo, isso causou um enorme desmatamento
da faixa litorânea do Brasil, ocupada pela Mata Atlântica.
Os colonos portugueses exploraram a mão de obra dos indígenas na extração do
pau-brasil. Eles os convenciam a trabalhar em troca de produtos de pequeno valor,
como espelhos, peças de roupas, canivetes e colares de contas coloridas. Eram os
nativos que derrubavam as árvores, cortavam a madeira em toras e as embarcavam
nos navios em direção à Europa.
Nativo:
Lopo Homem. c.1519. Mapoteca do Ministério das Relações Exteriores, RJ
Aquele que é nascido no lugar; natural da terra.
Mapa desenhado pelo cartógrafo português Lopo Homem, por volta de
1519. Observe as ilustrações, que mostram o trabalho dos indígenas na
coleta do pau-brasil.
39
Diante da exploração a que foram submetidos e da invasão de suas terras, os
indígenas tentaram reagir, mas seus meios de luta eram inferiores às armas de fogo
dos portugueses. Teve início assim um grande processo de extermínio das nações
indígenas em nosso país, apesar de ainda hoje a resistência de seus descendentes
estar presente nas lutas que travam, por exemplo, pela demarcação de suas terras
em vários estados brasileiros, inclusive em Mato Grosso do Sul.
A cana-de-açúcar
Porém, o grande impulso à economia colonial foi dado com o cultivo da cana-de-açúcar. Essa foi a principal riqueza do Brasil durante os séculos XVI e XVII.
As lavouras que mais se destacaram foram as do Nordeste, especialmente as de
Pernambuco.
Inicialmente, os colonos portugueses tentaram continuar utilizando o escravo
indígena nas plantações de cana. Porém, logo apareceram algumas dificuldades.
Uma delas eram as constantes fugas dos índios, pois, por serem conhecedores
do território, eles embrenhavam-se frequentemente pelo interior, o que tornava
difícil sua captura. Também havia a oposição dos padres jesuítas à escravização dos
indígenas (veja o capítulo 5). Além disso, o aumento da produção açucareira exigia
mais trabalhadores.
Houve ainda um forte motivo econômico para a substituição da mão de obra
indígena. A Coroa portuguesa incentivou o comércio de africanos para virem trabalhar como escravos no Brasil. Esse comércio humano trouxe lucros altíssimos
para os traficantes de escravos e para a Coroa.
O número de africanos escravizados logo superou o de indígenas. Calcula-se
que de 3 a 5 milhões de escravos tenham sido trazidos da África para o Brasil entre
1530 e 1850, quando o tráfico foi finalmente proibido.
Devido ao alto custo dos escravos africanos, as capitanias do Sul não conseguiram comprá-los e, assim, continuaram utilizando o trabalho forçado dos indígenas.
Porém, para capturá-los, os colonos tiveram de organizar expedições para o interior
do Brasil.
A grande propriedade açucareira chamava-se engenho. A produção de açúcar
para exportação era a principal atividade econômica dos engenhos. Ela exigia uma
grande quantidade de terras e de trabalhadores, além de equipamentos caros,
como a moenda para a moagem da cana e as fornalhas. O investimento era muito
alto e, por isso, para tornar-se um senhor de engenho, era preciso ter um grande
capital.
Capital:
Riqueza.
40
Frans Post e G. Marcgraf. c. 1647. Foto: Manoel Novaes
Detalhe de mapa
da capitania de
Pernambuco
com ilustração de
engenho de
cana-de-açúcar.
Georg Marcgraf – Engenho de açúcar. 1648.
Em Historia Naturalis Brasiliae – Amsterdã
Para a alimentação dos moradores do engenho, havia as plantações de subsistência, como as de feijão, mandioca, milho, legumes, frutas, bem como a criação
de gado e animais domésticos. Por isso, dizemos que os engenhos eram autossuficientes, isto é, produziam a maioria dos produtos que consumiam.
Embora a produção do açúcar fosse feita no Brasil e a venda na Europa pelos
portugueses, boa parte dos lucros ficava com os banqueiros holandeses. Eram eles
os principais financiadores do capital necessário para que os senhores de engenho
brasileiros expandissem seus negócios. Além disso, os holandeses lucravam também
com o refinamento (branqueamento) e mesmo com a distribuição comercial do
açúcar no mercado europeu.
Hoje sabemos que o açúcar mascavo, escuro, tem maior valor nutricional que
o açúcar refinado.
Esta gravura, de
1648, mostra negros
escravizados trabalhando
na fabricação de açúcar:
mexendo a calda que
fervia em grandes tachos
e cuidando das formas em
que eram moldados os
pães de açúcar.
41
No entanto, entre 1580 e 1640, Portugal e Espanha estiveram sob o comando
de um mesmo rei, resultando na União Ibérica. Como os holandeses eram inimigos
dos espanhóis, ficaram impedidos de participar do comércio do açúcar brasileiro.
Dispostos a não perder essa importante fonte de lucros, os holandeses invadiram
parte do Nordeste do Brasil e aqui ficaram entre 1624 e 1654. Porém, após a sua
expulsão do Brasil, partiram para suas colônias nas Antilhas e lá implantaram uma
produção açucareira que passou a concorrer com a brasileira. Como os holandeses
possuíam mais capital e técnica superior, conseguiram produzir um açúcar de melhor
qualidade, além de vendê-lo na Europa a um preço mais baixo do que o brasileiro.
Com isso, a exportação açucareira do Brasil entrou numa crise progressiva, a
partir das últimas décadas do século XVII. A decadência dos senhores de engenho,
por sua vez, prejudicou a monarquia portuguesa, pois provocou uma diminuição
significativa na arrecadação dos impostos por ela cobrados de sua colônia brasileira.
A solução encontrada por Portugal para superar essa crise econômica foi o
incentivo às expedições de busca de metais preciosos em direção ao interior do
Brasil. Como veremos, esse movimento de expansão contribuiu para o alargamento
do território sob o domínio português, acabando por incorporar a região que hoje
corresponde ao estado de Mato Grosso do Sul.
ATIVIDADES
1. Consulte o texto e responda:
a) Por que as metrópoles europeias, como Portugal e Espanha, desejavam
muito encontrar metais preciosos em suas colônias?
b) Por qual motivo, no caso das colônias americanas conquistadas pela
Espanha, a mineração foi a atividade econômica de maior importância
desde o início da colonização?
c) Onde os espanhóis encontraram ouro e prata na América?
2. Pesquise como os impostos arrecadados com a mineração eram gastos
pelo governo espanhol e compare com a utilização dos recursos arrecadados com os impostos atuais.
3. Em torno das zonas mineradoras, desenvolveram-se a agricultura e a criação
de animais para abastecê-las. Desenhe três plantas nativas da América.
4. O trabalho dos indígenas americanos foi explorado pelos colonos espanhóis de duas formas principais: a “encomienda” e a “mita”. Explique cada
uma delas.
42
Download