Problemas Fitossanitários Associados aos Incêndios Florestais

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Outubro 2016
PROBLEMAS FITOSSANITÁRIOS ASSOCIADOS AOS INCÊNDIOS FLORESTAIS
OCORRÊNCIA DE PRAGAS ASSOCIADAS AOS INCÊNDIOS FLORESTAIS
Introdução
Os incêndios florestais, além dos efeitos diretos que provocam nos ecossistemas florestais, são também um importante agente
causador de desequilíbrios nas árvores, exercendo grande influência sobre o aparecimento de pragas.
As árvores, total ou parcialmente queimadas, bem como as árvores afogueadas, são muito atra vas para os insetos e, em parcular, para aqueles pertencentes à família dos escoli#deos, considerados como sendo dos principais agentes causadores de
problemas fitossanitários nas espécies florestais resinosas. Estes insetos podem atacar árvores vivas e árvores com qualquer
po de stress, bem como árvores recentemente cortadas e toros armazenados em estaleiro. Para além dos estragos diretos
que podem causar às arvores, são ainda vetores de fungos, muitos dos quais responsáveis pelo agravamento do estado fitossanitário dos sistemas florestais.
A coexistência de áreas ardidas e de madeira cortada com casca numa determinada zona, potencia não só o aumento das populações de insetos nocivos, como também a sua disseminação para outras áreas não atacadas, com par cular impacte nega vo para aqueles ocupados por resinosas. A madeira ardida acaba por favorecer a instalação de pragas, não só pelo efeito atravo gerado pela emissão de compostos químicos como também pelo enfraquecimento produzido nas árvores, debilitando-as
e tornando-as menos resistentes ao ataque de insetos subcor cais, que acabam por colonizar os troncos com alguma facilidade, aumentando rapidamente as suas populações.
A ação do fogo
A ocorrência de incêndios durante o período de a vidade vegeta va das árvores, pode contribuir significa vamente para o seu
enfraquecimento. O fogo provoca alterações fisiológicas e químicas no arvoredo a ngido. No caso das resinosas, as temperaturas elevadas provocam a libertação de compostos voláteis (monoterpenos e etanol) extremamente atra vos para os escoli#deos. Deste modo, os incêndios florestais tornam-se responsáveis pelo aumento populacional destes insetos porque criam
condições ó mas para o seu desenvolvimento. As árvores queimadas ou afogueadas perdem grande parte da sua capacidade
para suportar o ataque de pragas, ficando estas mais susce#veis ao ataque dos insetos em geral e dos escoli#deos em par cular. A reação das árvores à ação dos agentes bió cos nocivos assenta num processo que exige um elevado dispêndio de energia, o qual se pode tornar insuficiente se a quan dade e os ataques dos escoli#deos aumentarem durante as fases de maior
stress a que as árvores fiquem sujeitas.
Os escolitídeos
Os escoli#deos afetam essencialmente plantas lenhosas, sendo considerados um dos poucos grupos de insetos verdadeiramente florestais. Estes insetos são um dos principais
agentes causadores de problemas fitossanitários, uma vez que cons tuem um dos grupos
mais nocivos para as espécies florestais, podendo atacar tanto resinosas como folhosas,
pese embora os seus efeitos nega vos se façam par cularmente sen r em povoamentos
de resinosas.
Em Portugal existem várias espécies de escoli#deos, sendo os mais comuns:
•
Ips sexdentatus (Bóstrico-grande)
•
Orthotomicus erosus (Bóstrico-pequeno)
•
Tomicus piniperda (Hilésina-do-pinheiro)
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Tomicus destruens (Hilésina-do-pinheiro)
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Ips sexdentatus
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Embora existam diferentes espécies com comportamentos diferenciados, de um modo geral todas são consideradas potencialmente perigosas para as espécies florestais hospedeiras, devido à sua capacidade de reconhecer situações de stress dos hospedeiros (pós incêndio, por exemplo) colonizando sobretudo as árvores enfraquecidas.
A mortalidade dos povoamentos florestais que resulta da ação dos escoli#deos deve-se a um conjunto de fatores ambientais
(quer bió cos quer abió cos), a que acresce não raras vezes as prá cas de gestão que, influenciando a disponibilidade de
água, luz e nutrientes disponíveis para cada árvore, acabam por conduzir ao seu enfraquecimento e logo a maior susce bilidade daquelas que não dispõem destes recursos em quan dade suficiente.
Os escolíi#deos desenvolveram mecanismos para detetar os compostos voláteis e u lizá-los para iden ficar as árvores hospedeiras mais adequadas, recorrendo a estratégias de ataque que potenciam o seu ataque, bem como de outros insetos, entre
os quais o vetor do Nemátodo-da-madeira-do-pinheiro, que u liza as árvores com declínio para a sua oviposição.
1— A colonização inicia-se normalmente com a construção de galerias, onde ocorre o acasalamento e posteriormente a postura dos ovos pelas fêmeas. Quando
os ovos eclodem, as larvas expandem o sistema de
galerias evoluindo nas suas diferentes fases até emergência do inseto adulto.
2—O ori:cio de entrada resultante da ação do inseto,
assim como a passagem do material vegetal pelo sistema diges vo do inseto originam o aparecimento de
substâncias químicas, as feromonas de agregação,
que são como que um sinal para juntar mais insetos
destas espécies em torno das árvores hospedeiras
colonizadas.
3—A emissão de compostos voláteis é um atravo
também para outros insetos, agravando o estado
fitossanitário das árvores afetadas por incêndios.
4— Com a chegada de novos insetos observa-se um
reforço da colonização das árvores já atacadas.
5—Após o processo de colonização, ocorre a emissão de novas substâncias químicas, feromonas de dispersão, que servem
para indicar a necessidade de localizar outras árvores hospedeiras.
Os escoli#deos alimentam-se sobretudo do floema, criando um efeito de estrangulamento na árvore, que conduz ao corte do
fluxo de nutrientes produzidos na parte aérea para as outras partes da árvore.
Para além dos danos provocados diretamente pelos insetos, estes funcionam também como vetores de fungos, muitos dos
quais responsáveis pelo aparecimento de doenças nas árvores, como por exemplo, o azulado da madeira, que se desenvolve
no xilema impedindo desta forma a circulação de água para a copa. Como consequência, as árvores colonizadas entram em
declínio acabando na sua generalidade por morrer.
Embora os escoli#deos sejam essencialmente pragas secundárias que se desenvolvem normalmente em árvores debilitadas,
quando o ataque é elevado, podem também estender a sua ação para áreas envolventes, atacando árvores sãs ou em stress,
bem como árvores recentemente cortadas e toros armazenados em carregadouro ou em parques de madeira. Por esta razão,
em Portugal é recomendada como prá ca comum de gestão, a remoção da madeira queimada o mais rápido possível, no
sen do de minimizar a potencial perda de valor económico da madeira e o ataque de agentes bió cos nocivos, quer nas áreas
afetadas, quer nas áreas circunvizinhas a estas.
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Sintomas e sinais
A diminuição gradual de circulação da seiva e da água, devido à ação das pragas (insetos ou fungos) origina o aparecimento de
diversos sintomas que podem ser detetados por observação visual.
Descoloração e/ou murchidão das agulhas:
A descoloração das agulhas é um dos primeiros sintomas que, ao nível da copa, são indiciadores
de colonização por escoli#deos. Observa-se uma variação gradual (ao longo de vários meses) da
coloração das agulhas, que passam de verde-escuro para verde-claro e depois para amarelo palha
até ficarem vermelho ferruginoso.
Copa total ou parcialmente seca:
Nas árvores parcialmente queimadas ou mesmo em árvores sãs, as copas ficam secas, permanecendo com as agulhas por um período longo de tempo.
Ori:cios no tronco e ramos:
Resultam da ação dos insetos para entrarem nas árvores para acasalarem e também da sua emergência, completado o seu ciclo de vida.
Corrimento de resina no
tronco:
A resina é a única forma de defesa natural que a árvore possui para combater o ataque dos escoli#deos, sendo por isso uma manifestação da sua a vidade contra a ação destes insetos.
Serrim na base do tronco:
A presença de serrim na base do tronco, resulta da ação de perfuração desenvolvida pelos insetos
e da sua ação de trituração do lenho durante a abertura das galerias. Na fase inicial da colonização
o serrim é vermelho vivo.
Galerias no tronco:
Resultam da a vidade do inseto durante o seu ciclo de vida. Para observar as galerias é necessário
re rar a casca.
Prevenção e controlo
Os ataques dos escoli#deos podem ser evitados ou minimizados através da implementação de medidas prevenvas antes e
após o fogo, recorrendo a uma monitorização do estado de vitalidade e fitossanitário das árvores no sen do de detetar precocemente os primeiros sinais associados à presença dos insetos.
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As medidas preven vas passam por ações de silvicultura preven va, de modo a manter os povoamentos saudáveis evitando
o enfraquecimento das árvores, assim como minimizando as condições que possam atrair os insetos.
Principais medidas prevenvas para minimizar o ataque de escolideos antes e após fogo
Antes do incêndio
Depois do incêndio
Eliminar as árvores com defeitos
Evitar ferir o tronco durante intervenções no povoamento
Eliminar as árvores parcialmente queimadas ou já com sinais evidentes da presença de escoli#deos no tronco
Eliminar árvores com problemas fitossanitários
Não deixar sobrantes de exploração
Monitorizar os povoamentos circundantes à área ardida com mais
regularidade
Evitar densidades elevadas
Tendo em conta a necessidade de intervenção atempada nas áreas ardidas, por forma não só a evitar a desvalorização da
madeira, como também a salvaguardar o património florestal existente, devem adotar-se algumas medidas fitossanitárias,
no sen do de prevenir o aparecimento de pragas:
Bibliografia
Pinho, J. et al (2010) - Ecologia do fogo e gestão de áreas ardidas.
Ferreira, M.C. e Ferreira G.W.S. (1990) - Pragas das resinosas. Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação.
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