EFEITO DA ADIÇÃO INTERMITENTE DE NITRATO NA BIOGÊNESE DE H2S 1 1 2 3 2 3 Ricardo Vieira Gonçalves, Sandra Mara Santana Rocha, Vicelma Luiz Cardoso Bolsista de iniciação Científica PIBIC/CNPQ/UFU, discente do curso de Engenharia Química da UFU/MG Aluna de Doutorado da Faculdade de Engenharia Química da UFU/MG Professora da Faculdade de Engenharia Química da UFU/MG 1,2,3 Faculdade de Engenharia Química da Universidade Federal de Uberlândia. Av João Naves de Ávila, 2121, Bloco 1K, Campus Santa Mônica, Uberlândia - MG, CEP 38400-902. e-mail: [email protected] RESUMO - A principio todos os efluentes podem ser tratados por via anaeróbia, porém efluentes contendo altas concentrações de sulfato apresenta problemas relacionados principalmente à produção de sulfeto (H2S), que é a forma de enxofre energeticamente mais estável e que sob condições anaeróbias, é altamente reativo. Uma alternativa para a redução da produção de H2S tem sido a adição de nitrato ao efluente. A aplicação de nitrato favorece a atividade das bactérias redutoras de nitrato (BRN), e consequentemente inibe o metabolismo das bactérias redutoras de sulfato (BRS) que são as responsáveis pela produção de H2S em sistemas de digestão anaeróbia. Este trabalho avaliou a redução da produção de sulfeto por BRS mediante adição intermitente de nitrato, empregando um efluente sintético rico em sulfato e uma cultura mista isolada da água de produção de petróleo da cidade de Carmópolis – SE, enriquecida com BRS. Os resultados mostraram que houve inibição das BRS quando em concentrações de nitrato e nitrito foram superiores a 40 e 100 mg/L, respectivamente. O consumo de nitrato nas etapas em que o mesmo foi adicionado mostrou que as BRN mantiveram-se ativas durante toda a operação. Palavras-chave: tratamento de efluentes, bactérias redutoras de sulfato (BRS), bactérias redutoras de nitrato (BRN) INTRODUÇÃO O tratamento anaeróbio de efluentes contendo altas concentrações de sulfato apresenta problemas relacionados principalmente à geração de sulfeto. O sulfeto é a forma de enxofre energeticamente mais estável e, sob condições anaeróbias, é altamente reativo, corrosivo e tóxico. Por conseguinte, durante o tratamento anaeróbio pode ocasionar diversos problemas físicoquímicos (corrosão, odores, aumento na concentração da demanda química de oxigênio (DQO) no efluente) e/ou biológicos (toxicidade, inibição do metabolismo microbiano), devido à produção de sulfeto de hidrogênio. Efluentes deste tipo são gerados em vários processos industriais, como por exemplo, na exploração e produção de petróleo, e naqueles que fazem uso de ácido sulfúrico ou de matériasprimas ricas em sulfato (indústrias de fermentação e pesqueira), ou ainda naqueles que empregam compostos reduzidos de enxofre, tais como sulfeto (curtume, polpeamento Kraft), sulfito (indústria de papel sulfite) e tiossulfato (branqueamento de papel) (Lens et al.,1995). Segundo Lima et al. (2001), quanto maior a disponibilidade de matéria orgânica para metabolização microbiana, maior a produção de sulfeto para um mesmo tempo de retenção hidráulica. Nestes casos o sulfato atua como aceptor final de elétrons para um grupo de bactérias que pode associar a oxidação de compostos orgânicos e a redução de sulfato à produção de sulfeto de hidrogênio (H2S), o qual é excretado como produto final do metabolismo das bactérias redutoras de sulfato (BRS). Segundo Lima et al. (2001), quanto maior a disponibilidade de matéria orgânica a ser metabolizada em uma solução, maior a produção de sulfeto para um mesmo tempo de retenção hidráulica. Uma alternativa para o controle da atividade de BRS e consequentemente na remoção de H2S tem sido a adição de nitrato ao efluente, chamada de tecnologia da exclusão biocompetitiva, pois a utilização do nitrato permite estimular seletivamente a microbiota presente no sistema (Hitzman et al., 1998). VIII Congresso Brasileiro de Engenharia Química em Iniciação Científica 27 a 30 de julho de 2009 Uberlândia, Minas Gerais, Brasil Neste contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar o comportamento da cultura mista rica em BRS frente a adição intermitente de nitrato, conduzidos em sistemas anaeróbios constituídos de cultura mista enriquecida com Bactérias Redutoras de Sulfato. MATERIAIS E MÉTODOS Microorganismos Foi utilizada uma cultura mista de bactérias anaeróbias enriquecida com BRS, proveniente da água de produção de petróleo proveniente da cidade de Carmópolis, SE. Efluente Sintético O efluente foi desenvolvido a partir da modificação da composição do meio Postgate E (Postgate, 1984) pela substituição da fonte de carbono (lactato de sódio) por ácidos orgânicos (valérico, butírico, propiônico e acético) e supressão do agar-agar. Neste meio foi adicionado sulfato e nitrato de sódio conforme em concentrações otimizadas em estudo anterior (Rocha et.al., 2006). Aclimatação da Cultura A aclimatação foi realizada através de subcultivos da cultura microbiana em meio Postgate E (Postgate, 1984), contendo concentrações crescentes de carbono orgânico (0,1-5,0 g/L), através da adição da mistura dos ácidos valérico, butírico, propiônico e acético. Os testes de aclimatação foram conduzidos em frascos do tipo penicilina com 50 mL de capacidade, contendo 40 mL de meio reacional. A condição de anaerobiose foi assegurada com fluxo de N2 durante seu preparo e distribuição nos frascos, e pela vedação dos frascos através de tampas de borracha e selos de alumínio. Como inóculo foram utilizados 4 mL da cultura estoque. Tão logo, era evidenciado o crescimento das BRS, 4 mL do cultivo eram novamente transferidos para outro frasco contendo o meio com a subseqüente concentração de carbono (mistura de ácidos). Primeira etapa - Duração de 10 dias. Do dia de partida até o 10º foram adicionados 500 mg/L de NO3- (nitrato de sódio) em todos os frascos em dias alternados. Nesta fase, foram sacrificados 10 frascos, 2 a cada 2 dias, antes da adição de nitrato, para a realização das análises químicas e microbiológicas. Segunda etapa - Duração de 40 dias. Teve início no 10º dia de operação (fim da primeira etapa) com a adição da mistura de ácidos orgânicos, na concentração de 1000 mg/L de carbono, nos frascos remanescentes da etapa anterior, de tal modo a restabelecer a condição inicial em termos de conteúdo de carbono. Nesta fase, dois frascos eram sacrificados em dias prédeterminados, finalizando este teste 40 dias após o início do processo. Terceira etapa – Duração de 30 dias. Teve início no décimo dia da segunda etapa, 20 dias a partir do início do processo. Esta etapa consistiu em adicionar nutrientes em alguns frascos provenientes da segunda etapa (parte dos frascos continuou o estudo até o final dos 50 dias de processo), através da retirada de parte do seu conteúdo (50% v/v) e injeção de igual volume do meio Postgate, a fim de favorecer a atividade da cultura microbiana. No primeiro dia foi sacrificado um frasco, logo após a adição dos nutrientes, para avaliar a nova condição reacional, as concentrações iniciais de nitrato, nitrito, sulfato, sulfeto e de microrganismos, considerando a diluição do meio e a entrada de impurezas advindas da adição do meio Postgate. Os demais frascos eram sacrificados quando necessário realizar as análises. Quarta etapa - Duração de 10 dias. Teve início no 24º dia do início do processo, aproximadamente metade do total de dias do processo. Foram utilizados 10 frascos nas condições da etapa anterior, onde foi feita nova adição de 500 mg/L NO3 a cada dois dias, de modo a estabelecer procedimento idêntico ao efetuado na primeira etapa. Analogamente, os frascos foram sacrificados dois a dois, para o estudo do comportamento da cultura microbiana, que foi feito através da análise das mesmas determinações quantitativas realizadas nas etapas anteriores. Metodologia Analítica Adição Intermitente de Nitrato Para este teste foram utilizados frascos de 50 mL de capacidade, contendo 40 mL do efluente sintético. Os experimentos foram divididos em três etapas, num tempo total de 50 dias. Periodicamente, amostras dos cultivos eram analisadas química e microbiologicamente, para quantificação de nitrato, nitrito, sulfato, sulfeto, BRS, BHA e BRN. A descrição detalhada de cada etapa é apresentada a seguir: A concentração de sulfetos totais foi determinada através da adaptação do método colorimétrico para dosagem de gás sulfídrico (Jacobs et al., 1957; APHA, 1992). A determinação do sulfato, feita utilizando-se o kit de dosagem Sulfaver da marca HACH, conforme sugerido por Vieira (2003). A concentração de nitrato e nitrito, determinada através da adaptação do método VIII Congresso Brasileiro de Engenharia Química em Iniciação Científica 27 a 30 de julho de 2009 Uberlândia, Minas Gerais, Brasil colorimétrico descrito nas normas do Instituto Adolfo Lutz (1985). A quantificação das bactérias redutoras de sulfato, feita pela técnica do número mais provável (NMP) (Harrison Jr., 1982) utilizando meio Postgate. A quantificação das bactérias heterotróficas anaeróbias (BHA), pela técnica do número mais provável (NMP) (Harrison Jr., 1982) utilizando meio fluido ao tioglicolato (MERK), após diluições decimais sucessivas em solução redutora. A quantificação das bactérias redutoras de nitrato, pela técnica do número mais provável (NMP) (Harrison Jr., 1982) utilizando meio mineral (Davidova et. al., 2001). RESULTADOS E DISCUSSÕES A Tabela 1 mostra os resultados obtidos para concentração residual de nitrato durante a primeira etapa do teste, com duração de 10 dias. O consumo de nitrato foi total nos primeiros dois dias, seguido de um gradual decréscimo que refletiu em acúmulo de nitrato nos reatores, ao longo do tempo de operação. Este comportamento pode estar relacionado à formação de algum intermediário metabólico capaz de inibir a atividade das BRN. Não houve equivalência entre as concentrações de nitrato consumido e de nitrito formado. A menor quantidade de nitrito residual pode ser atribuída à sua posterior redução com formação de amônia, ou ainda à conversão do nitrato em gás nitrogênio ou em óxido nitroso, por atividade das bactérias desnitrificantes (Energy Institute, 2003). Não foi detectada a presença de BRS ao final da primeira etapa, apesar da concentração 6 inicial de 1,8 x 10 NMP/mL. Estes resultados, aliados à ausência de consumo de sulfato e produção de H2S, demonstram a inibição das BRS pela aplicação de 500 mg/L de nitrato, em pulsos. Por outro lado, a concentração de bactérias heterotróficas anaeróbias, inicialmente de 9,5 x 105 NMP/mL, atingiu 2,7 x 1011 NMP/mL. Provavelmente, o aumento do número de BHA foi decorrente do desenvolvimento das BRN. O crescimento das BHA em detrimento das BRS denota a competição das duas populações microbianas pelo substrato, conforme referido por alguns autores (Garbossa, 2003). Neste caso, as bactérias continuam ativas apesar de haver a prevenção da produção de H2S. A taxa de consumo de nitrato sofreu gradativamente pequenos decréscimos durante os dez dias de operação, conforme mostra a Tabela 1. A taxa média de consumo de nitrato nos dez dias de operação foi de 216 mg/L.dia. A etapa seguinte (segunda etapa) teve como finalidade avaliar se o consumo de nitrato, ou seja, o crescimento das BRN foi limitado pela eventual depleção da fonte de carbono. Assim, após o décimo dia de operação, teve início a segunda etapa com a adição 1000 mg/L de carbono aos sistemas, voltando desta maneira o meio reacional à condição inicial em termos de concentração de carbono. A Tabela 2 mostra os resultados obtidos após a correção da concentração de carbono. Observa-se que decorridos 5 dias da adição de carbono, o consumo de nitrato se manteve inalterado. Porém, ocorreu uma brusca redução no número de bactérias heterotróficas anaeróbias de 11 8 2,7 x 10 para 2,1 x 10 NMP/mL. Este comportamento pode estar relacionado à readaptação dos microrganismos às novas condições de cultivo visto que, logo a seguir, houve um aumento gradual do consumo de nitrato. A redução da concentração de nitrito entre o décimo e o décimo sétimo dia, sem consumo de nitrato, provavelmente está relacionada à redução parcial do nitrito a NH3 ou sua desnitrificação, com geração de N2, que continua ocorrendo devido a instabilidade do mesmo. Nesta etapa também não houve consumo de sulfato e produção de sulfeto até o quadragésimo dia de processo. Estes resultados em associação à ausência de crescimento de BRS até 40 dias de processo confirmam a intoxicação o destas bactérias pelo nitrito. No 50 dia de processo verificou-se a volta do consumo de sulfato e a produção de sulfeto. Este fato confirma a possibilidade das BRS em sobreviver mesmo em ambientes com aplicação do nitrato, já que algumas apresentam a capacidade de realizar a respiração do nitrato (Dunsmore et al., 2004). Os resultados mostraram que a concentração de BRS ao final de cinqüenta dias de processo foi de 1,8 ± 1,2 x 104 NMP/mL. Considerando que o baixo consumo de nitrato e aumento da concentração de nitrito até o vigésimo dia poderia estar relacionado à limitação de nutrientes e não da fonte de carbono. No vigésimo dia de operação, ainda na segunda etapa, foi feita a substituição em alguns dos reatores de 50% do volume do meio reacional por igual volume do meio Postgate, a fim de promover o enriquecimento do cultivo, iniciando assim a terceira etapa para esses reatores. A Tabela 3 mostra os resultados após adição de nutrientes. VIII Congresso Brasileiro de Engenharia Química em Iniciação Científica 27 a 30 de julho de 2009 Uberlândia, Minas Gerais, Brasil Tabela 1 - Resultados obtidos na primeira etapa após cinco adições de 500 mg/L de nitrato. = Tempo NO3 residual NO3 consumido NO2 SO4 residual H2S Taxa de consumo de * (dias) (mg/L) (mg/L) (mg/L) NO3- (mg/L.dia) (mg/L) (mg/L) --0 0 0 ---0 1600 ± 20 500 0 250 2 0±0 90 ± 10 1590 ± 23 450 0 238 4 50 ± 2 86 ± 8 1585 ± 25 410 0 227 6 140 ± 3 100 ± 10 1603 ± 10 370 0 216 8 270 ± 5 88 ± 15 1593 ± 15 290 0 202 10 480 ± 15 95 ± 7 1607 ± 5 * A determinação da concentração de nitrato residual foi feita antes da adição de nova carga. Tabela 2 - Resultados obtidos na segunda etapa após adição de nitrato. = Tempo NO3 residual NO3 consumido NO2 SO4 residual H2S * (dias) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) 10 ---0 480*± 15 95*±7 1607*±5 15 0 500 ± 10 0 ± 10 50±10 1600 ± 20 17 0 450 ± 8 30 ± 8 53 ± 10 1590 ± 23 0 20 1585 ± 25 390 ± 8 60 ± 8 97 ± 12 0 25 1603 ± 10 302 ± 5 88 ± 5 96 ± 10 30 0 112 ± 3 101 ± 5 150 ± 5 1593 ±14 0 40 1507 ± 15 57 ± 3 55 ± 5 110 ± 5 50 17±1 40 ± 5 40 ± 3 1077 ±14 135± 10 Taxa de consumo de NO3 (mg/L.dia) ---0 3,5 8,5 13 19 5,5 3,0 *Valores referentes ao último dia da primeira etapa, e iniciais da segunda etapa. Tabela 3 - Resultados obtidos na terceira etapa após adição de nutriente. SO4= Tempo NO3- residual NO3- consumido NO2(mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (dias) * * ---20 79 ± 8 1230*± 12 294 ± 15 22 54 ± 5 240 ± 20 101 ± 10 1200 ± 10 24 40 ± 3 14 ± 5 105 ± 12 1235 ± 12 0 26 1230 ± 12 42 ± 4 102 ± 10 0 28 43 ± 4 100 ± 12 1233 ± 10 0 30 1229 ± 12 40 ± 2 100 ± 10 40 18 ± 2 22 ± 6 50 ± 10 1029 ± 12 50 7±2 11 ± 4 30 ± 10 637 ± 12 H2S (mg/L) 0 0 0 0 0 0 65 ± 5 125 ± 5 *Valores obtidos após adição do meio Postgate, estabelecendo o início da terceira etapa. Pode-se observar que, após adição de nutrientes, o consumo de nitrato aumentou sensivelmente em dois dias de operação. Concomitantemente, foi verificado o crescimento das bactérias heterotróficas anaeróbias, sua 6 concentração variou de 1,1 x 10 NMP/mL, 9 referente ao vigésimo dia, a 2,4 x 10 NMP/mL no vigésimo quarto dia. Por sua vez, as BRS não apresentaram crescimento e não houve consumo de sulfato e nem produção de sulfeto até o trigésimo dia, apesar da adição de nutrientes e da conseqüente diluição dos constituintes do meio reacional. A partir do vigésimo quarto dia não ocorreu consumo de nitrato e sua concentração final estabilizou em torno de 40 mg/L até o trigésimo dia. A concentração de nitrito se manteve também estável em torno de 100 mg/L até o trigésimo dia, e o número de BHA diminuiu para 4,7 x 108 NMP/mL. Este comportamento deve estar relacionado à formação de intermediários metabólicos de efeito tóxico para o metabolismo das bactérias redutoras de nitrato (Garbossa, 2003). A continuação dessa etapa finalizou com o retorno da BRS, do consumo de sulfato e da produção de sulfeto a partir do quadragésimo dia. Nota-se que houve a redução de nitrato e de nitrito no meio. Este comportamento mostra que houve inibição das BRS quando em concentrações de nitrato e nitrito foram superiores a 40 e 100 mg/L, respectivamente. No final do processo a concentração de BRS foi de 8,7 ± 2,4 x104 NMP/mL A quarta e última etapa deste teste foi realizada para avaliar o comportamento da cultura microbiana frente a uma nova injeção de nitrato, visto a baixa concentração deste ânion no meio reacional. Assim, a partir do vigésimo quarto dia de VIII Congresso Brasileiro de Engenharia Química em Iniciação Científica 27 a 30 de julho de 2009 Uberlândia, Minas Gerais, Brasil operação (aproximadamente metade do tempo continuaram a terceira etapa até o final (50 dias de total de operação) foi reiniciada a adição processo). A Tabela 4 apresenta os resultados intermitente de nitrato, a cada dois dias, por um desta última etapa do estudo. período de 10 dias, em alguns reatores os demais Tabela 4 - Resultados obtidos na quarta etapa após adição intermitente de nitrato = H2S Taxa de consumo de NO2 SO4 residual Tempo NO3 residual NO3 consumido * (mg/L) (mg/L) NO3 (mg/L.dia) (dias) (mg/L) (mg/L) (mg/L) 0 ---24 0 *1235 ± 12 *40 ± 5 *105 ± 5 26 0 164 212 ± 15 328 ±17 127 ±10 1220 ± 10 28 0 193 266 ± 20 446 ±25 134 ± 8 1210 ± 15 30 0 197 374 ± 25 392 ±19 140 ± 12 1200 ± 12 32 0 206 395 ± 21 479 ±27 142 ± 10 1220 ± 10 0 208 34 1200 ± 10 495 ± 38 400 ±21 153 ± 7 * Valores referentes ao vigésimo quarto dia da terceira etapa, e correspondentes ao início da quarta etapa. A adição de nitrato promoveu o aumento do seu consumo, e a conseqüente elevação da concentração de nitrito, não obstante a taxa de consumo de nitrato tenha sido praticamente constante no decorrer do processo. Além disso, a concentração inicial de bactérias heterotróficas 9 anaeróbias de 2,4 x10 NMP/mL, no vigésimo quarto dia, aumentou para 2,7 x 1011 NMP/mL no trigésimo quarto dia. Logo, o aumento do número de BHA pode ser atribuído ao crescimento das BRN devido ao consumo de nitrato e a geração de nitrito, produto resultante do metabolismo de algumas espécies deste grupo microbiano. Este fato pode ser confirmado pela redução da concentração de bactérias anaeróbias observada na terceira etapa, quando os experimentos foram conduzidos em condições semelhantes exceto pela não adição de nitrato. Um comportamento distinto foi observado na primeira etapa, quando o sistema também foi conduzido com injeção intermitente de nitrato (Tabela 1). Naquela condição, o consumo de nitrato foi decrescendo ao longo do tempo. As taxas de consumo de nitrato destas etapas também foram diferenciadas, isto é, na primeira etapa a taxa diminui com o tempo e na quarta etapa se manteve praticamente constante. Este fato pode estar relacionado à adaptação das bactérias a altas concentrações de nitrato e às condições do meio reacional. Por outro lado, o valor médio das taxas de consumo de nitrato foi igualmente de 200 mg/L.dia, para as duas etapas realizadas com adição intermitente de nitrato. Vale ressaltar que o número de bactérias heterotróficas anaeróbias ao final da primeira etapa (10º dia) e da quarta etapa (34º dia) apresentaram a mesma 11 ordem de grandeza (10 NMP/mL), indicando que o crescimento celular possa ter atingido seu ponto de máximo. CONCLUSÕES A evolução da concentração de nitrato no meio reacional para as 4 etapas desenvolvidas mostra que a adição de nutrientes (terceira etapa) foi mais importante para o aumento do consumo de nitrato do que a adição de carbono (segunda etapa). O consumo de nitrato nas etapas em que o mesmo foi adicionado (primeira e quarta etapa), mostra que as BRN mantiveram-se ativas durante toda a operação. As BRS retornaram ao processo após algum tempo sem adicionar nitrato, quando as concentrações de nitrato e nitrito no meio diminuíram, mostrando que a adição de nitrato promoveu apenas a inibição de atuação dessas bactérias e não sua eliminação do processo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APHA, 1992. Standard methods for the examination of water and wastewater. Edited by A.E. Greenberg, L.S. Clesceri, and A.D. Eaton. 18th ed. American Public Health Association, American Water Works Association, Water Environment Federation, Wash. DAVIDOVA, I., HICXKS, M.S., FEDORAK, P.M., SUFLITA, J.M., 2001. The influence of nitrate on microbial process in oil industry productions waters, Journal of industrial microbiology e biotechnology, 27 (2), 80-86. DUNSMORE, B.C., WHITFIELD, T.B., LAWSON, P.A., COLLINS, M.D., 2004. Corrosion by SulfateReducing Bacteria that Utilize Nitrate Corrosion 2004, Paper 04763, NACE International. ENERGY INSTITUTE, 2003. Disponível em www.bio.ucalgary.ca acessado em 2004. 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AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a FAPEMIG, ao CNPq e a CAPES pela ajuda financeira para a realização deste projeto. VIII Congresso Brasileiro de Engenharia Química em Iniciação Científica 27 a 30 de julho de 2009 Uberlândia, Minas Gerais, Brasil