Caracterização morfológica e propagação de Citrus sp e de

Propaganda
DISSERTAÇÃO
CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA
E PROPAGAÇÃO DE CITRUS SP. E DE GÊNEROS
AFINS COM POTENCIAL ORNAMENTAL
RENATA BACHIN MAZZINI
Campinas, SP
2009
INSTITUTO AGRONÔMICO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
AGRICULTURA TROPICAL E SUBTROPICAL
CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E PROPAGAÇÃO
DE CITRUS SP. E DE GÊNEROS AFINS
COM POTENCIAL ORNAMENTAL
RENATA BACHIN MAZZINI
Orientadora: Rose Mary Pio
Dissertação submetida como requisito
parcial para obtenção do grau de Mestre
em Agricultura Tropical e Subtropical,
Área de Concentração em Tecnologia da
Produção Agrícola.
Campinas, SP
Fevereiro 2009
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária do Núcleo de Informação e
Documentação do Instituto Agronômico.
M477c
Mazzini, Renata Bachin
Caracterização morfológica e propagação de Citrus sp. e de gêneros
afins com potencial ornamental / Renata Bachin Mazzini. Campinas:
Instituto Agronômico, 2009.
71 fls.
Orientadora: Rose Mary Pio
Dissertação (Mestrado em Agricultura Tropical e
Subtropical) - Instituto Agronômico
1. Citros. 2. Citros - paisagismo. 3. Citros - ornamentais. I. Pio, Rose
Mary. II. Título
CDD. 634.3
“El amor y la naranja se parecen un poquito…
Por más dulce que ésta sea, siempre tiene su agriecito.”
Canção Popular Argentina
iii
A Deus,
Por me recriar a todo momento,
E aos meus pais,
Nilton e Mariliza,
Pelo apoio incondicional de sempre,
DEDICO
Ao Osvaldo,
Muito mais que um namorado,
OFEREÇO
iv
AGRADECIMENTOS
- Ao Instituto Agronômico, pela oportunidade e infra-estrutura disponível para o
desenvolvimento deste trabalho.
- À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela
bolsa concedida, sem a qual não conseguiria concluir esta etapa.
- A minha orientadora Dra. Rose Mary Pio, pelos dois anos de ensinamento mas,
principalmente, por ter acreditado em mim desde o começo.
- Aos meus pais Nilton e Mariliza, minhas irmãs Roberta e Fernanda, meus sobrinhos
Serginho e Pedrinho, e meus cunhados Moysés e Sergio, por me darem o suporte
necessário para vencer mais este desafio.
- Ao meu amor e amigo Osvaldo Guedes Filho, por sua presença em minha vida, pelo
apoio diário, por toda ajuda e sugestões, e por seu companheirismo inimaginável.
- À Citrograf Mudas (Conchal/SP), pelo fornecimento dos porta-enxertos.
- Ao Dr. Cristiano Alberto de Andrade, do Centro de Solos e Recursos Ambientais/IAC,
por sua total disponibilidade e, principalmente, por ter me salvado das análises
estatísticas na última hora.
- Aos pesquisadores do Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC, especialmente:
Dr. Rodrigo Rocha Latado, pela confiança e amizade, pelo empréstimo da sala e pelas
discussões; Dr. Fernando Alves de Azevedo, pelas sugestões e por também ter me
resgatado das análises estatísticas na última hora; Me. Arthur Antonio Ghilardi, José
Dagoberto De Negri e Dr. José Orlando de Figueiredo, pela amizade, pelas caronas e
animadas conversas (É tão melhor ir pra Cordeiro com vocês!); Dra. Mariângela
Cristofani Yaly, pelas sugestões na pré-banca e posteriormente na banca; e Dr.
Jorgino Pompeu Júnior, pelas sugestões na revisão de literatura.
- Ao Dr. João Alexio Scarpare Filho (ESALQ/USP), por ter aceitado o convite para
fazer parte da banca examinadora, e por ter contribuído não só para a melhoria deste
trabalho, mas também para minha formação.
- Aos funcionários do Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC, especialmente:
Benedito Vanderlei da Cunha, pela ajuda na organização dos experimentos; Valéria
Xavier Paula Garcia, por abrir as portas do Laboratório de Análise de Qualidade de
v
Fruta; Genésio Silvério da Silva, pela ajuda na coleta das estacas e por seu bomhumor diário; Ewerton Tinelli, pela presteza; e Vandeclei Rodrigues, pelas
informações atualizadas sobre o BAG.
- Ao Dr. Renato Ferraz de Arruda Veiga, diretor do Jardim Botânico/IAC, por
disponibilizar a estrutura do Quarentenário para o experimento de estaquia, e a sua
equipe, especialmente: Míriam Aparecida Bonatto, pelo suporte na utilização do
material de laboratório; Sebastião Lopes e Maria Oliveira de Barros, pela ajuda na
manutenção de rotina das estacas.
- Ao Dr. Wilson Barbosa, diretor do Centro Experimental Central/IAC, pelas sugestões
na instalação do experimento de estaquia.
- Ao Me. Juliano Quarteroli Silva, pelo interesse e sugestões nas análises estatísticas.
- Ao Dr. Marcelo Bento Paes de Camargo, do Centro de Ecofisiologia e Biofísica/IAC,
por oferecer a estrutura do prédio da Climatologia quando meu computador foi pro
conserto a pouco mais de um mês da entrega da dissertação.
- Ao Dr. Rafael Vasconcelos Ribeiro, do Centro de Ecofisiologia e Biofísica/IAC, por
suas idéias e sugestões mirabolantes, e por seu cativante entusiasmo.
- À Dra. Ana Odete Santos Vieira (Universidade Estadual de Londrina/PR), pela
oportunidade de apresentar este trabalho, o que gerou valiosas sugestões e melhorias.
- Ao Dr. Alessandro Rapini (Universidade Estadual de Feira de Santana/BA), amigo de
outros ares, pela ajuda na definição e tradução dos termos botânicos.
- À Dra. Mariana Esteves Mansanares (Universidade Estadual de Londrina/PR), pela
cópia do dicionário ilustrado de botânica, usado neste trabalho.
- Às meninas da Pós-Graduação/IAC, Adilza Costa, Elizabeth Rigitano e Célia Terra,
pela amizade e presteza ao longo do curso.
- To my American friend Crystal Reece, who helped me with the evaluation of the
cuttings while on holiday in Brazil.
- A minha amiga Larissa Canhadas Bertan, por ter me hospedado em sua casa e me
dado aquela força até eu encontrar minha morada definitiva em Campinas.
- A minha prima Eliana Bachin, por ter me recebido em sua casa nas minhas vindas a
Campinas antes de começar o mestrado (Te admiro muito, prima!).
vi
- A minha amiga Larissa Abgariani Colombo e seu esposo Fernando (e agora também o
bebê Artur), pelas dicas e apoio no início do mestrado.
- A minha amiga chiquérrima Scheila Bitencourt Silveira, por nossa amizade que é
firme e forte, e por sempre acreditar em mim.
- E finalmente, aos amigos do mestrado que fizeram a minha vida muito mais feliz,
especialmente: Fabi, Sekita, Farinha, Matheus, Bru, Sil, Carlinha e Lud (Muito
obrigada pela ajuda, pelas conversas e pelos almoços e jantares!).
vii
SUMÁRIO
ÍNDICE DE TABELAS...........................................................................................
ÍNDICE DE FIGURAS............................................................................................
RESUMO.................................................................................................................
ABSTRACT.............................................................................................................
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................
2 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................
2.1 Potencial Ornamental dos Citros e Sua Utilização no Paisagismo....................
2.2 O Uso Ornamental de Outras Frutíferas............................................................
2.3 Caracterização Morfológica de Germoplasma...................................................
2.4 Características Morfológicas das Variedades Estudadas...................................
2.4.1 Citrus sp. ........................................................................................................
2.4.2 Fortunella sp. .................................................................................................
2.4.3 Microcitrus australasica.................................................................................
2.5 Produção de Mudas Cítricas..............................................................................
2.5.1 Enxertia e os porta-enxertos limão Cravo e trifoliata.....................................
2.5.2 Estaquia...........................................................................................................
3 MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................
3.1 Caracterização Morfológica...............................................................................
3.1.1 Banco Ativo de Germoplasma (BAG)............................................................
3.1.2 Variedades.......................................................................................................
3.1.3 Coleta de dados...............................................................................................
3.1.3.1 Árvores.........................................................................................................
3.1.3.2 Folhas...........................................................................................................
3.1.3.3 Flores............................................................................................................
3.1.3.4 Frutos...........................................................................................................
3.1.4 Análise estatística............................................................................................
3.2 Enxertia..............................................................................................................
3.2.1 Variedades.......................................................................................................
3.2.2 Localização do experimento...........................................................................
3.2.3 Porta-enxertos.................................................................................................
3.2.4 Enxertia...........................................................................................................
3.2.5 Análise estatística............................................................................................
3.3 Estaquia..............................................................................................................
3.3.1 Variedades.......................................................................................................
3.3.2 Localização do experimento...........................................................................
3.3.3 Estaquia...........................................................................................................
3.3.4 Análise estatística............................................................................................
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................
4.1 Caracterização Morfológica...............................................................................
4.1.1 Árvores............................................................................................................
4.1.2 Folhas..............................................................................................................
4.1.3 Flores...............................................................................................................
4.1.4 Frutos..............................................................................................................
4.2 Enxertia..............................................................................................................
4.3 Estaquia..............................................................................................................
5 CONCLUSÕES....................................................................................................
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................
ix
xi
xiii
xv
01
02
02
05
07
09
09
11
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21
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26
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27
28
28
28
31
37
40
51
57
63
65
viii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 -
Altura de planta e diâmetro de copa de variedades cítricas com
potencial ornamental enxertadas em tangerina Cleópatra
(Cordeirópolis/SP, 2008).................................................................... 30
Tabela 2 -
Comprimento, largura e área individual de folhas de variedades
cítricas com potencial ornamental enxertadas em tangerina
Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008)...................................................
32
Tabela 3 -
Formato de folhas de variedades cítricas com potencial ornamental
enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008)........... 34
Tabela 4 -
Tipo de pecíolo de folhas de variedades cítricas com potencial
ornamental enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP,
2008)................................................................................................... 35
Tabela 5 -
Tipo de margem de folhas de variedades cítricas com potencial
ornamental enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP,
2008)..................................................................................................
36
Tabela 6 -
Coloração de folhas adultas de variedades cítricas com potencial
ornamental enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP,
2008)................................................................................................... 37
Tabela 7 -
Diâmetro e comprimento, largura e número de pétalas de flores de
variedades cítricas com potencial ornamental enxertadas em
tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008)................................... 39
Tabela 8 -
Formato de frutos de variedades cítricas com potencial ornamental
enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008)........... 41
Tabela 9 -
Altura, diâmetro e massa de frutos de variedades cítricas com
potencial ornamental enxertadas em tangerina Cleópatra
(Cordeirópolis/SP, 2008).................................................................... 46
Tabela 10 -
Características de casca de frutos de variedades cítricas com
potencial ornamental enxertadas em tangerina Cleópatra
(Cordeirópolis/SP, 2008).................................................................... 48
Tabela 11 -
Coloração de frutos maduros de variedades cítricas com potencial
ornamental enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP,
2008)................................................................................................... 50
Tabela 12 -
Pegamento de borbulha para variedades cítricas com potencial
ornamental enxertadas em limão Cravo e trifoliata Limeira
(Cordeirópolis/SP, 2008).................................................................... 52
ix
Tabela 13 -
Pegamento total de borbulha para variedades cítricas com potencial
ornamental enxertadas em limão Cravo e trifoliata Limeira
(Cordeirópolis/SP, 2008).................................................................... 53
Tabela 14 -
Valores do χ2 calculado e limites do χ2 tabelado para análise da
existência de diferença estatística entre as porcentagens de
pegamento de borbulha para variedades cítricas com potencial
ornamental enxertadas em limão Cravo e trifoliata Limeira
(Cordeirópolis/SP, 2008).................................................................... 53
Tabela 15 -
Comprimento de broto, número de folhas adultas e massa seca do
broto de variedades copa cítricas com potencial ornamental
enxertadas em limão Cravo e trifoliata Limeira (Cordeirópolis/SP,
2008)................................................................................................... 55
Tabela 16 -
Sobrevivência, formação de calos, enraizamento e retenção foliar
de estacas semi-lenhosas de variedades cítricas com potencial
ornamental sob diferentes concentrações de AIB (Campinas/SP,
2008)..................................................................................................
58
Número de folhas novas por estaca semi-lenhosa de variedades
cítricas com potencial ornamental sob diferentes concentrações de
AIB (Campinas/SP, 2008).................................................................
61
Tabela 17 -
Tabela 18 -
Número de raízes, comprimento médio da maior raiz e massa seca
de raízes por estaca semi-lenhosa da variedade cidra Mão-de-Buda
sob diferentes concentrações de AIB (Campinas/SP, 2008).............. 62
x
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 Figura 2 Figura 3 -
Figura 4 -
Figura 5 Figura 6 Figura 7 -
Figura 8 -
Figura 9 Figura 10 -
Figura 11 Figura 12 -
Figura 13 -
Variedades cidra Mão-de-Buda (a) e laranja Cipó (b)
(Cordeirópolis/SP, 2008).................................................................
29
Ramos pendentes da variedade laranja Cipó (a) e interior da copa
da mesma variedade (b) (Cordeirópolis/SP, 2008)..........................
29
Variedades kunquat Nagami (a), laranja Imperial (b), limão
Faustrine (c) e tangerina Venezuela (d) (Cordeirópolis/SP,
2008)................................................................................................
30
Folhas das variedades cidra Mão-de-Buda (a), kunquat Nagami
(b), laranja Cipó (c), laranja Imperial (d), limão Faustrine (e) e
tangerina Venezuela (f) (Cordeirópolis/SP, 2008)..........................
32
Formatos encontrados nas folhas das variedades estudadas:
elíptico (a), oval (b), obovado (c) e ovado (d).................................
34
Variegação nas folhas da variedade laranja Imperial
(Cordeirópolis/SP, 2008).................................................................
37
Flores que nascem isoladamente das variedades kunquat Nagami
(a), laranja Imperial (b) e limão Faustrine (c), e inflorescências da
cidra Mão-de-Buda (d), laranja Cipó (e) e tangerina Venezuela (f)
(Cordeirópolis/SP, 2008).................................................................
38
Flores das variedades cidra Mão-de-Buda (a), kunquat Nagami
(b), laranja Cipó (c), laranja Imperial (d), limão Faustrine (e) e
tangerina Venezuela (f) (Cordeirópolis/SP, 2008)..........................
40
Botões florais e flores da variedade tangerina Venezuela
(Cordeirópolis/SP, 2008).................................................................
40
Frutos das variedades cidra Mão-de-Buda (a), kunquat Nagami
(b), laranja Cipó (c), laranja Imperial (d), limão Faustrine (e) e
tangerina Venezuela (f) (Cordeirópolis/SP, 2008)...........................
42
Frutos da variedade cidra Mão-de-Buda (Cordeirópolis/SP,
2008).................................................................................................
43
Frutos das variedades Meiwa (a1) e Nagami (a2) descritos na
bibliografia, e do kunquat Meiwa (b) e kunquat Nagami (c)
cultivados no Banco Ativo de Germoplasma do Centro APTA
Citros Sylvio Moreira/IAC (Cordeirópolis/SP, 2008)......................
45
Frutos das variedades cidra Mão-de-Buda (a), kunquat Nagami
(b), laranja Cipó (c), laranja Imperial (d), limão Faustrine (e) e
tangerina Venezuela (f) (Cordeirópolis/SP, 2008)..........................
46
xi
Figura 14 Figura 15 -
Figura 16 Figura 17 -
Figura 18 -
Tamanhos e formatos diferentes de frutos maduros da variedade
cidra Mão-de-Buda (Cordeirópolis/SP, 2008).................................
47
Frutos da variedade laranja Imperial mostrando a região de
variegação, mais escura e proeminente na casca
(Cordeirópolis/SP, 2008).................................................................
49
Glândulas de óleo acentuadas na casca dos frutos da variedade
laranja Imperial (Cordeirópolis/SP, 2008).....................................
50
Mudas das variedades cidra Mão-de-Buda (a), kunquat Nagami
(b), laranja Cipó (c), laranja Imperial (d) e tangerina Venezuela
(e), enxertadas em trifoliata Limeira (Cordeirópolis/SP, 2008)......
57
Mudas das variedades cidra Mão-de-Buda (a), kunquat Nagami
(b), laranja Cipó (c), laranja Imperial (d) e tangerina Venezuela
(e), enxertadas em limão Cravo (Cordeirópolis/SP, 2008)..............
57
xii
MAZZINI, Renata Bachin. Caracterização morfológica e propagação de Citrus sp. e
de gêneros afins com potencial ornamental. 2009. 71f. Dissertação (Mestrado em
Agricultura Tropical e Subtropical) – Pós-Graduação – IAC.
RESUMO
Embora o Brasil seja o maior produtor mundial de citros, a produção de mudas cítricas
para fins ornamentais é pequena e a pesquisa nessa área é escassa. Os citros são
atrativos para o paisagismo principalmente por seus frutos, que são de tamanhos,
formatos e cores variados, e que, dependendo da variedade, são produzidos durante
quase o ano todo. O objetivo deste trabalho foi caracterizar, para fins paisagísticos, seis
variedades cítricas com potencial ornamental, a saber: cidra Mão-de-Buda, kunquat
Nagami, laranja Cipó, laranja Imperial, limão Faustrine e tangerina Venezuela. Elas são
mantidas no Banco Ativo de Germoplasma do Centro Avançado de Pesquisa
Tecnológica do Agronegócio de Citros Sylvio Moreira, do Instituto Agronômico,
localizado em Cordeirópolis/SP. Para cada variedade, foram coletadas 30 folhas adultas,
30 flores totalmente abertas e 30 frutos maduros para análise de seus caracteres
morfológicos. As características das árvores também foram avaliadas. O delineamento
utilizado foi o inteiramente casualizado, e a média das 30 medidas de cada variável
representou a variedade. Dois métodos de propagação foram testados para essas
variedades: a enxertia, utilizando-se os porta-enxertos limão Cravo e trifoliata Limeira,
e a estaquia. A variedade limão Faustrine não foi utilizada nos experimentos de
propagação, pois suas árvores não apresentavam material vegetativo suficiente para a
retirada de estacas e de ramos com borbulhas adequadas. O delineamento experimental
utilizado para o experimento de enxertia foi o inteiramente casualizado, em esquema
fatorial duplo (dois porta-enxertos x cinco variedades), com 12 repetições, totalizando
120 mudas. O delineamento utilizado para o experimento de estaquia também foi o
inteiramente casualizado, em esquema fatorial duplo (três concentrações de AIB x cinco
variedades), com quatro parcelas e 20 estacas por parcela por concentração de AIB,
resultando em 240 estacas por variedade e 1200 estacas no total. As médias dos dados
resultantes de ambos experimentos foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de
significância. Foram observadas diferenças morfológicas acentuadas entre as seis
variedades avaliadas, e todas elas apresentaram interesse paisagístico. A propagação por
enxertia mostrou ser mais eficiente do que a estaquia, pois as estacas da variedade cidra
Mão-de-Buda foram as únicas que enraizaram. O porta-enxerto trifoliata, por induzir
xiii
um crescimento mais lento às copas enxertadas sobre ele, pode favorecer o cultivo em
vaso das variedades avaliadas.
Palavras-Chave: paisagismo, germoplasma, enxertia, estaquia.
xiv
MAZZINI, Renata Bachin. Morphological characterization and propagation of
Citrus sp. and related genus with ornamental potential. 2009. 71p. Dissertation
(MSc in Tropical and Subtropical Agriculture) – Pós-Graduação – IAC.
ABSTRACT
Brazil is the greatest citrus producer in the world, but the cultivation of citrus plants for
ornamental use is insignificant and the research on this subject is rare. Citrus plants are
impressive for landscaping especially because of their fruits, which have different sizes,
shapes and colors, and, depending on the variety, are produced almost all over the year.
The objective of this work was to characterize, for landscaping use, the following six
varieties of citrus with ornamental potential: Buddha’s Hand citron, Nagami kumquat,
Cipó orange, Imperial orange, Faustrine lemon and Venezuela mandarin. They are
cultivated at the germplasm collection, located at the Centro Avançado de Pesquisa
Tecnológica do Agronegócio de Citros Sylvio Moreira, of the Instituto Agronômico, in
Cordeirópolis, São Paulo State, Brazil. For each variety, 30 leaves, 30 flowers and 30
fruits, all mature, were collected for analysis of their morphological characteristics. The
characteristics of the trees were also evaluated. The experimental design was
randomized, and each variety was described by the mean value of the 30 measurements
of each variable. Two propagation methods were tested: grafting, using Rangpur lime
and Limeira trifoliate orange as rootstocks, and stem cuttings. Faustrine lemon was not
tested in the propagation experiments, as the trees did not have enough vegetative
material for the removal of cuttings and of stems with suitable buds. The experimental
design for the grafting experiment was randomized, in factorial arrangement 2 x 5 (two
rootstocks and five varieties), with 12 replications, resulting in 120 plants. The
experimental design for the stem cuttings experiment was also randomized, in factorial
arrangement 3 x 5 (three IBA concentrations and five varieties), with four plots and 20
cuttings per plot per IBA concentration, resulting in 240 cuttings per variety and 1200
cuttings in total. The mean of the resulting values from both experiments were
compared by the Tukey test at 5% level of significance. It was observed prominent
morphological differences amongst the six varieties, and all of them showed
landscaping value. The propagation by grafting was more efficient than by stem
cuttings, as the cuttings from the Buddha’s Hand citron were the only ones that rooted.
The utilization of the trifoliate orange as the rootstock may benefit the cultivation of the
studied varieties in pots, as it induces a slower growth on the scions grafted on it.
xv
Key Words: landscape design, germplasm, grafting, stem cuttings.
xvi
1 INTRODUÇÃO
A utilização dos citros, tanto do ponto de vista ornamental quanto alimentício, é
antiga, sendo que os primeiros relatos são provenientes da China. De lá, se espalharam
por todo o mundo, primeiramente na Europa e depois nas Américas, África e Austrália.
Os citros começaram a ser cultivados mundialmente para a produção de frutos somente
no século XVII. O Brasil ganhou êxito rapidamente, e no início do século XX, a
produção já estava completamente estabelecida, iniciando-se as exportações para a
Europa.
Atualmente, o Brasil está consagrado como o maior produtor de citros do
mundo. Cerca de 70% dos frutos destina-se à produção de suco concentrado congelado
de laranja para exportação, enquanto o restante é produzido para o consumo in natura.
O cultivo de variedades cítricas com potencial ornamental é ainda incipiente no
país, assim como a pesquisa nessa área. Algumas variedades entretanto, como por
exemplo os kunquats, já são cultivadas para fins paisagísticos em outros países, como
nos Estados Unidos, na Europa e no Japão.
Os citros são atrativos para o paisagismo por produzirem frutos com tamanhos,
formatos e cores variados que, com freqüência, permanecem na planta por longo tempo
depois de maduros. Alguns ainda têm uma pequena produção “fora-de-época”, fazendo
com que existam frutos quase o ano inteiro. Até mesmo as variedades com potencial
ornamental que ainda não são produzidas comercialmente podem ser consumidas in
natura, ou na forma de licores e doces em geral. Vale lembrar que as flores das
variedades cítricas, em sua maioria, possuem fragrância agradável que também pode ser
interessante sob o aspecto ornamental.
Não existe muita diversidade de variedades nos pomares comerciais. No entanto,
há centenas de citros cultivados em bancos de germoplasma que necessitam de estudos
para uma avaliação de suas características e qualidades. Desses estudos, podem surgir
variedades resistentes a doenças, novas variedades comerciais e matéria-prima para
programas de melhoramento genético. Embora trabalhos de caracterização morfológica
contribuam para esse fim, os voltados para fins ornamentais são ainda escassos.
As mudas cítricas são produzidas principalmente por sementes e enxertia, e esse
método é a base da citricultura atual, pois garante a formação de plantas sadias,
produtivas e longevas. O porta-enxerto mais utilizado no Brasil é o limão Cravo que,
1
embora seja suscetível a algumas doenças, apresenta vantagens como compatibilidade
com todas as copas, produção precoce e alto vigor. Uma outra espécie utilizada como
porta-enxerto, principalmente no Rio Grande do Sul, é o trifoliata. Apesar de ser
incompatível com, por exemplo, a laranja doce Pêra e o tangor Murcott, exerce um
efeito ananicante em suas copas, favorecendo um plantio mais adensado e uma maior
produção de frutos por metro cúbico de copa.
O objetivo deste trabalho foi caracterizar morfologicamente, para fins
paisagísticos, seis variedades cítricas com potencial ornamental, cultivadas no Banco
Ativo de Germoplasma do Centro APTA Citros Sylvio Moreira, do Instituto
Agronômico, localizado em Cordeirópolis/SP, e testar a eficácia dos métodos de
propagação por enxertia e por estaquia para essas variedades.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Potencial Ornamental dos Citros e Sua Utilização no Paisagismo
A China foi, possivelmente, a pioneira na arte do paisagismo e do cultivo
vegetal. Existem livros escritos durante a dinastia Chon, de 1027 a 256 a.C., que já
mencionam o cultivo de certas plantas, como a espécie cítrica Poncirus trifoliata (L.)
Raf., nativa do centro e do norte daquele país, e atualmente muito usada como portaenxerto (DONADIO et al., 2005). Os kunquats (Fortunella sp. Swingle), muito usados
como ornamentais nos Estados Unidos e na Europa (HODGSON, 1967; LAWRENCE,
1957) e muito cultivados no Japão e na China (HODGSON, 1967), também já eram
conhecidos e o seu consumo era feito com casca, como nos dias atuais (DONADIO et
al., 2005). Eles podem também ser consumidos na forma de geléias e doces, e são
considerados ideais para o cultivo em vasos ou como bonsai (HODGSON, 1967;
LORENZI et al., 2006).
Foi provavelmente na China também que se fez uso, pela primeira vez, de
árvores frutíferas na composição de jardins. Os traçados desses jardins, suas técnicas de
criação e as espécies utilizadas foram posteriormente adotados pelos romanos que, a
princípio, plantavam seus jardins unicamente para a produção de alimento. Supõe-se
que esses métodos foram incorporados à cultura romana através da influência grega por
volta do ano 117 d.C. (DONADIO et al., 2005).
2
Acredita-se que o responsável pela chegada dos citros na Grécia foi Alexandre,
o Grande. A espécie mais comum daquela época era a cidra (Citrus medica L.),
utilizada como ornamental e por possuir propriedades medicinais (DONADIO et al.,
2005; SPIEGEL-ROY & GOLDSCHMIDT, 1996). Atualmente, a variedade Mão-deBuda [C. medica var. sarcodactylis (Hoola van Nooten) Swingle] ainda é muito
cultivada na China e no Japão, onde também é utilizada para perfumar ambientes e
vestimentas (SAUNT, 1990; SWINGLE & REECE, 1967). Essa variedade não é
comestível in natura, mas seus frutos podem ser consumidos na forma de doces
cristalizados (LORENZI et al., 2006). Outra variedade de cidra até hoje utilizada é a
Etrog (C. medica var. ethrog Engl.), considerada um símbolo importante em cerimônias
religiosas judaicas. Seu fruto, em forma de coração, representa a benevolência de Deus
para com os homens (LASZLO, 2007). Outras plantas frutíferas utilizadas naquela
época eram a macieira, a pereira e a cerejeira. Suas plantas eram cultivadas tanto em
grupos, em fileiras, ou isoladamente, quando ganhavam uma posição de destaque
(HOADLEY, 1996).
A partir da ocupação árabe da Espanha e da Itália por volta dos séculos XI e XII,
outras espécies cítricas foram introduzidas nesses países, além de outras plantas que
faziam parte da cultura árabe, como o figo, o damasco, o algodão e a cana-de-açúcar.
Essas plantas, devidamente irrigadas, compunham os jardins dos palácios árabes e das
mesquitas construídos nessa época. Também existem registros de plantio de outros
citros ornamentais, porém sem menção a uma variedade específica (CALABRESE,
1990 citado por DONADIO et al., 2005; LASZLO, 2007; SPIEGEL-ROY &
GOLDSCHMIDT, 1996; WEBBER et al., 1967).
Com o advento das cruzadas, entre os séculos XI e XIV, os citros se espalharam
pela Europa (DONADIO et al., 2005; WEBBER et al., 1967). Por volta do século XV, o
uso dos citros como plantas ornamentais já estava estabelecido principalmente na Itália.
A coleção mais famosa daquela época, mantida pelos Médici, localiza-se em Florença,
nos jardins de Villa Medicea di Castello e de Boboli (OSCAR TINTORI, 2008). Era a
coleção de germoplasma mais diversificada daquele tempo, constituída por variedades
de laranja doce, laranja azeda, limões, limas e cidras (CONTINELLA et al., 1992).
Foi nessa época também, acredita-se que criadas pelos italianos, que surgiram as
“orangeries”. Eram edificações construídas unicamente para o cultivo protegido de
variedades cítricas (SPIEGEL-ROY & GOLDSCHMIDT, 1996). Primeiramente, eram
construídos abrigos únicos de madeira ao redor das árvores, passando depois a
3
estruturas mais permanentes. Possivelmente, a primeira “orangery” foi construída na
metade do século XV, e está localizada no jardim Villa Palmieri, na Toscana. No
entanto, a mais famosa delas atualmente foi edificada em 1685 no Palácio de Versalhes,
localizado nos arredores de Paris. À frente da “orangery” de Versalhes, existe um pátio
com uma fonte circular no meio, rodeada por citros crescendo em grandes caixas de
madeira. Essas plantas são mantidas no interior da edificação nos meses de inverno até
os dias de hoje (LASZLO, 2007).
Provavelmente foram as “orangeries” que deram origem às estufas e casas de
vegetação do modo como são utilizadas atualmente (WEBBER et al., 1967). Porém, a
maioria dessas construções, espalhadas por toda a Europa, abriga agora outros usos.
Como eram mais uma demonstração de poder e riqueza, esses grandes espaços
perderam suas funções por volta do século XX. Por exemplo, na “orangery” do Royal
Botanic Gardens, Kew, nos arredores de Londres, funciona atualmente um restaurante,
enquanto a do Palácio de Schönbruun, em Viena, é usada para eventos (LASZLO,
2007).
Os citros foram introduzidos nas Américas durante a colonização portuguesa e
espanhola. No Brasil, existem relatos da presença de plantas cítricas a partir de 1530.
Na África, foram introduzidos pela Índia a partir do mesmo século. E na Austrália, só
ocorreu no século XVIII, com variedades provenientes do Brasil (DONADIO et al.,
2005; SPIEGEL-ROY & GOLDSCHMIDT, 1996; WEBBER et al., 1967).
Por volta de 1600, as plantas cítricas já estavam bem adaptadas ao clima
brasileiro e eram abundantes em quintais domésticos, conventos, fazendas e fortalezas
(HASSE, 1987). Mas foi já nesse século que se deu início à produção mundial
comercial dos citros, que passaram a ser cultivados principalmente nos estados da
Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo (DONADIO et al., 2005).
Aos poucos, os citros desapareceram dos quintais e jardins domésticos, para aparecerem
em grandes pomares comerciais.
Atualmente, o cultivo de plantas cítricas destina-se, principalmente, à produção
de frutas para a indústria (BOTEON & NEVES, 2005). No Brasil, o cultivo de
variedades com potencial ornamental é pequeno, e a pesquisa nessa área ainda é
escassa. No entanto, existem viveiros que se interessam cada vez mais pelo cultivo e
desenvolvimento de novas variedades para a utilização ornamental, como por exemplo o
viveiro de mudas cítricas Citrolima, localizado em Casa Branca/SP. Esse viveiro cultiva
a variedade de laranja doce Cipó [Citrus sinensis (L.) Osbeck], que produz ramos
4
pendentes e é ideal para ser conduzida sobre pérgulas. Além disso, também produz, em
vasos, outras variedades de laranja doce enxertadas em trifoliata Flying Dragon. Esse
porta-enxerto exerce um efeito ananicante sobre suas copas, criando plantas que são
comumente chamadas por funcionários do viveiro de mini-laranjeiras. O viveiro ainda
produz, para fins ornamentais, uma variedade de tangerina pendente, dois limões, sendo
um pendente e o outro de tamanho gigante, um kunquat, a laranja Imperial que é
variegada (C. sinensis), e mais duas variedades de toranja [Citrus grandis (L.) Osbeck]
(AGROCITROS, 2008).
Os citros, em sua maioria, produzem flores brancas e perfumadas, folhas verdeescuras e brilhantes, e frutos de tamanhos, formatos e cores variados. E além da
produção normal de frutos, existe uma pequena produção extemporânea, que chega a
5% do volume total produzido em um determinado ano, o que faz com que existam
frutos durante os 12 meses do ano (POZZAN & TRIBONI, 2005; QUEIROZ-VOLTAN
& BLUMER, 2005), característica muito apreciada no paisagismo. Além disso, os
frutos de muitas variedades permanecem na árvore durante meses depois de maduros
sem uma perda de qualidade muito significativa (WALHEIM, 1996).
A maioria das variedades com potencial ornamental pode ser ingerida in natura.
O kunquat por exemplo, é muito consumido nos países orientais, mas tem pouca
expressão no Brasil (MORTON, 1987; POMPEU JÚNIOR, 2001). Essa mesma espécie,
por produzir frutos pequenos, é possivelmente a mais utilizada, dentre as variedades
cítricas, para fins paisagísticos (CONTINELLA et al., 1992; LAWRENCE, 1957). Os
citros também podem ser consumidos na forma de geléias, conservas, doces
cristalizados e licores (LAWRENCE, 1957; POMPEU JÚNIOR, 2001).
2.2 O Uso Ornamental de Outras Frutíferas
As plantas frutíferas podem ser utilizadas, além do consumo de seus frutos in
natura, para vários outros fins. Seus frutos podem ser consumidos na forma de sucos,
sorvetes, compotas, geléias, doces cristalizados e licores. Muitas ainda podem ser
testadas por fontes de vitaminas ou substâncias medicinais. E também podem ser
cultivadas como ornamentais em vasos ou em jardins, e como bonsai (LORENZI et al.,
2006).
Em outros países, a utilização dos citros e de outras árvores frutíferas em
projetos paisagísticos é comum, e vem ganhando cada vez mais popularidade por serem
plantas atrativas, do ponto de vista ornamental, e ao mesmo tempo comestíveis
5
(WALHEIM, 1996). No Brasil porém, esse uso ainda é raro, com exceção de coqueiros,
jabuticabeiras e algumas espécies de maracujá (LORENZI et al., 2006). No entanto,
parece existir atualmente uma proliferação de jardins em pequenos espaços, como por
exemplo em varandas de apartamentos (VARELLA, 2008), o que coincide com uma
crescente utilização de árvores e arbustos frutíferos cultivados em vasos
(CONTINELLA et al., 1992; LORENZI et al., 2006). As espécies preferidas são as que
produzem folhas e frutos pequenos, e troncos retorcidos, como a romãzeira, a aceroleira,
a pitangueira e a jabuticabeira (LORENZI et al., 2006).
Além dessas espécies, já comumente conhecidas e comercializadas, existem
ainda outras frutíferas nativas com muitos atributos ornamentais, como a grumixama, o
caimito e o bacupari (LORENZI et al., 2006). Existem também outras espécies, não
arbóreas, que podem ser utilizadas, como o kiwi e a uva, que tem hábito de trepadeiras,
e o abacaxi e o morango, plantas herbáceas que podem ser cultivadas em vasos
(BORGES, 2008). O abacaxi já vem se destacando entre as plantas ornamentais
cultivadas em vasos, ganhando lugar no mercado e na preferência do consumidor. As
bananeiras também têm sido usadas na composição de jardins e também para o cultivo
em vasos (SOUZA et al., 2005).
Jardins que contêm plantas frutíferas em sua composição, são jardins que
exploram os sentidos humanos, como o paladar e o olfato. Fruteiras, quando em plena
frutificação, exalam perfumes anteriormente incomuns em jardins (VARELLA, 2008).
Esses jardins que exploram os sentidos humanos são chamados de sensoriais, e vêm
ganhando fama. Por exemplo, o Secluded Garden do Royal Botanic Gardens, Kew, nos
arredores de Londres, foi construído para que se assemelhasse a um jardim doméstico, e
de modo que todos os sentidos do ser humano fossem explorados. Para a exploração do
paladar por exemplo, foram plantados um marmeleiro, uma macieira e uma pereira, que
despertam interesse desde o florescimento (ROYAL BOTANIC GARDENS, KEW,
2008).
Apesar de pesquisas sobre a utilização de frutíferas ornamentais estarem ainda
no início, o interesse nessa área vem crescendo. Com um banco de germoplasma
numeroso e variado, pesquisadores da EMBRAPA Mandioca e Fruticultura Tropical,
localizada em Cruz das Almas/BA, já vêm trabalhando em um programa de
melhoramento genético de variedades com potencial ornamental, entre eles o
abacaxizeiro. Com plantas de diferentes tamanhos de fruto, cores e formas, eles
começaram um trabalho de identificação e seleção dessas variedades com potencial
6
ornamental, considerando, principalmente, a coloração e o formato do fruto, a
arquitetura da planta e a presença de espinhos, caso seja interessante para o cultivo em
vasos. Algumas variedades encontram-se em estudo para uma avaliação da resistência a
doenças e de indução ao florescimento. Variedades de bananeiras também vêm sendo
estudadas, e algumas plantas já foram identificadas por apresentarem porte baixo,
folhagem exuberante, inflorescências de coloração variada e frutos de tamanho
reduzido. Estudos de resistência a doenças também estão sendo realizados (SOUZA et
al., 2005).
Outra frutífera em estudo na instituição é a aceroleira. Algumas variedades já
foram selecionadas, como a CMF030, que apresenta a copa com formato esférico e
folhagem verde-escura e densa, e que também pode ser usada em topiaria. Existe
também a CMF031, que produz folhas variegadas, e a Rubra, que apresenta um porte
ereto e que pode ser usada como cerca-viva (RITZINGER & RITZINGER, 2006). A
aceroleira, inclusive, já vem sendo utilizada por alguns viveiristas para fins ornamentais,
e pode ser cultivada em jardins, diretamente nos canteiros ou em vasos. Variedades de
maracujazeiro serão as próximas a serem estudadas, considerando-se a intensidade de
floração e a resistência a doenças. Porém, no caso dessa frutífera, existem limitações a
seu uso como ornamental, como por exemplo a breve duração de suas flores depois de
abertas (SOUZA et al., 2005).
2.3 Caracterização Morfológica de Germoplasma
Existe uma grande diversidade de citros cultivados em bancos de germoplasma,
mas poucas variedades são conhecidas (MACHADO et al., 2005). Pomares comerciais
são geralmente constituídos de poucas cultivares, ou de somente uma cultivar, tornandoos vulneráveis (MOREIRA & PIO, 1991) pela ausência de variabilidade genética.
O Banco Ativo de Germoplasma (BAG) do Centro Avançado de Pesquisa
Tecnológica do Agronegócio de Citros Sylvio Moreira (Centro APTA Citros Sylvio
Moreira), do Instituto Agronômico (IAC), localizado em Cordeirópolis/SP, é um dos
maiores do mundo, com cerca de 2.000 acessos. É constituído por diferentes espécies e
variedades cítricas, como laranjas, tangerinas, limões, limas, cidras, pomelos, toranjas e
híbridos, entre outros. Desde o estabelecimento desse banco, a diversidade genética nele
contida vem servindo como sustentáculo para o desenvolvimento da citricultura paulista
e brasileira. As pesquisas têm como objetivo encontrar variedades resistentes a doenças
e novos recursos genéticos para a solução de problemas de fitossanidade, além de novas
7
variedades comerciais (CCSM/IAC, 2000). No entanto, centenas de variedades ainda
necessitam de estudos para uma melhor análise de suas qualidades (MOREIRA & PIO,
1991).
Estudos de caracterização morfológica são necessários para um melhor
conhecimento das variedades existentes, visando à diversificação das variedades
disponíveis para o cultivo. Cada aspecto deve ser avaliado, resultando na definição da
melhor cultivar para uma determinada região (MOREIRA & PIO, 1991). Além disso,
novas variedades descritas podem também ser usadas em programas de melhoramento
genético (KOEHLER-SANTOS et al., 2003), de conservação de germoplasma e de
certificação (RADMANN & OLIVEIRA, 2003). Podem ainda ser exploradas
comercialmente, tanto para o consumo in natura como para a indústria, ou ser utilizadas
como porta-enxertos (DOMINGUES et al., 1999).
A maioria dos trabalhos de caracterização morfológica de citros objetivam
descrever características físicas e organolépticas de frutos, sempre utilizando variedades
adequadas ao consumo, tanto in natura como para a indústria. Os mais comuns tratam
das tangerinas (DOMINGUES et al., 1999; PIO, 1992; PIO, 1997; RADMANN &
OLIVEIRA, 2003), e têm por objetivo encontrar novas cultivares adequadas ao
consumo in natura. Trabalhos de caracterização com outras frutíferas também são
poucos, mas todos têm como objetivo encontrar novas variedades com características
adequadas para o mercado consumidor (JESUS et al., 2004). Pesquisas que objetivam
encontrar variedades cítricas para fins paisagísticos são escassas. No entanto, já existem,
ainda que no começo, trabalhos com outras frutíferas para o mesmo fim, como por
exemplo, com abacaxizeiros e bananeiras (SANTOS-SEREJO et al., 2007; SOUZA et
al., 2007).
Existem vários conjuntos de descritores que servem como guia para trabalhos de
caracterização morfológica. No caso dos citros, o manual de descritores “Descriptors for
Citrus” (IBPGR, 1999) é o mais utilizado atualmente e representa uma ferramenta de
padronização internacional para todas as espécies cítricas. Esse sistema consiste na
descrição de caracteres botânicos facilmente visíveis e mensuráveis, e ainda fornece
base para uma descrição completa das plantas. Sua adoção produz um meio rápido e
eficiente de armazenamento e recuperação de dados para a utilização em bancos de
germoplasma (IBPGR, 1999).
8
2.4 Características Morfológicas das Variedades Estudadas
Os citros pertencem à família Rutaceae, e são nativos do sudeste da Ásia, mais
especificamente das regiões da Índia e do sul da China. Apesar de existirem atualmente
muitas espécies e variedades, estudos genéticos apontam apenas três espécies como a
base de origem de todas as outras exploradas comercialmente: C. medica, o grupo das
cidras; C. grandis, o grupo das toranjas; e Citrus reticulata Blanco, o grupo das
tangerinas (ARAÚJO & ROQUE, 2005; DONADIO et al., 2005).
As espécies e variedades estudadas neste trabalho: Citrus sp. L., Fortunella sp. e
Microcitrus australasica Swingle, pertencem ao grupo dos citros verdadeiros, conforme
denominado por SWINGLE & REECE (1967), que incluem ainda outros três gêneros:
Clymenia Swingle, Eremocitrus Swingle e Poncirus Raf. (SWINGLE & REECE,
1967).
2.4.1 Citrus sp.
Nativas do sudeste da Ásia, são árvores pequenas (SWINGLE & REECE, 1967)
que podem atingir de 4,5 a 12,0 m de altura quando adultas (REUTHER, 1973). Elas
produzem folhas simples (SWINGLE & REECE, 1967), brevipecioladas, de formato
oval e coloração verde-escura (SCHNEIDER, 1968). Suas flores nascem isoladamente,
e geralmente apresentam cinco pétalas, mas esse número varia de quatro a oito.
Produzem frutos saborosos, aromáticos, e de coloração amarela a alaranjada quando
maduros (SWINGLE & REECE, 1967).
Citrus aurantifolia (Christm.) Swingle, as limas, são nativas do sudeste da Ásia
(SAUNT, 1990). São árvores de pequeno porte (SWINGLE & REECE, 1967), que
atingem de 2,0 a 4,0 m de altura (LORENZI et al., 2006). Essa espécie foi utilizada no
cruzamento Fortunella sp. x M. australasica x C. aurantifolia, que originou a variedade
limão Faustrine. Produz espinhos vigorosos, e folhas aromáticas (LORENZI et al.,
2006), simples, pequenas, de 5,0 a 7,5 cm de comprimento, brevipecioladas, de formato
elíptico, margem crenulada (SWINGLE & REECE, 1967) e coloração verde-clara
(SAUNT, 1990; SWINGLE & REECE, 1967). Suas flores, aromáticas, produzem de
quatro a oito pétalas (LORENZI et al., 2006) que medem de 8,0 a 12,0 mm de
comprimento e de 2,4 a 4,0 mm de largura, e nascem em inflorescências (raramente
isoladas) (SWINGLE & REECE, 1967). Seus frutos são pequenos (SAUNT, 1990;
SWINGLE & REECE, 1967), de formato oval (SWINGLE & REECE, 1967) ou
9
esférico, superfície lisa (SAUNT, 1990), de coloração verde-amarelada quando maduros
(SAUNT, 1990; SWINGLE & REECE, 1967), e sabor muito ácido (SAUNT, 1990).
C. medica, as cidras, são nativas da China e da Índia (SWINGLE & REECE,
1967). São plantas arbustivas ou pequenas árvores (HODGSON, 1967; SWINGLE &
REECE, 1967), que atingem de 2,0 a 4,0 m de altura (LORENZI et al., 2006), e são
pouco resistentes ao frio ou ao calor intensos. Produzem folhas grandes (HODGSON,
1967), de 7,0 a 18,0 cm de comprimento (LORENZI et al., 2006), brevipecioladas, de
formato elíptico e margem serrilhada (HODGSON, 1967; SAUNT, 1990; SWINGLE &
REECE, 1967), e espinhos com cerca de 3,0 cm de comprimento (LORENZI et al.,
2006). Suas flores, grandes (HODGSON, 1967), perfumadas (LORENZI et al., 2006) e
de coloração rosada na parte abaxial das pétalas, nascem em inflorescências e produzem
cinco pétalas (SWINGLE & REECE, 1967). Seus frutos são grandes (HODGSON,
1967; SWINGLE & REECE, 1967), de formato variado (HODGSON, 1967; SAUNT,
1990), com superfície irregular lisa ou áspera, aromáticos e de coloração amarela
quando maduros (HODGSON, 1967; SAUNT, 1990; SWINGLE & REECE, 1967). São
de sabor doce ou ácido (HODGSON, 1967; SWINGLE & REECE, 1967). A variedade
estudada neste trabalho, C. medica var. sarcodactylis, a cidra Mão-de-Buda, se
diferencia da espécie verdadeira por seus frutos, que apresentam regiões com sulcos
pronunciados em sua superfície, e se assemelham a uma mão (SWINGLE & REECE,
1967), o que explica seu nome popular. São arbustos com cerca de 2,5 m de altura, e
que produzem espinhos de 2,0 a 3,0 cm de comprimento. Suas folhas são
brevipecioladas, e medem de 7,0 a 17,0 cm de comprimento. Suas flores são brancas e
perfumadas (LORENZI et al., 2006).
C. reticulata, as tangerinas, são nativas do sudeste da Ásia (SWINGLE &
REECE, 1967). Dentre as espécies cítricas, elas estão entre as mais resistentes a baixas
temperaturas (WALHEIM, 1996). São árvores de pequeno porte (SWINGLE &
REECE, 1967), que atingem de 3,0 a 5,0 m de altura, e produzem folhas pequenas de
3,0 a 7,0 cm de comprimento (LORENZI et al., 2006), simples, brevipecioladas e de
formato alongado (SWINGLE & REECE, 1967). Suas flores, perfumadas (LORENZI et
al., 2006), nascem isoladamente ou em inflorescências. Seus frutos são de forma oblata
e coloração laranja ou laranja-avermelhada quando maduros (SWINGLE & REECE,
1967). São conhecidos pela facilidade com que sua casca é retirada e com que seus
gomos se separam (LORENZI et al., 2006). A variedade de C. reticulata estudada neste
trabalho é a Venezuela, considerada uma microtangerina. Segundo ARAUJO &
10
SALIBE (2002), o termo microtangerina refere-se às espécies que produzem folhas,
flores e, principalmente, frutos de tamanho reduzido. A tangerina Venezuela se destaca
por produzir em sua casca, dentre os componentes majoritários do óleo essencial, 15,4%
de citronelal, componente que ainda não foi encontrado em outras tangerinas já
estudadas. Esse mesmo componente é constituinte majoritário do óleo essencial
encontrado em Eucalyptus citriodora Hook., o que justifica o odor diferenciado
encontrado nesta tangerina, que de fato se assemelha àquele encontrado em espécies de
eucaliptos (PIO et al., 2005).
C. sinensis, as laranjas doces, são nativas do sudeste da Ásia, possivelmente da
China e da Índia. São árvores de porte médio, que atingem de 5,0 a 10,0 m de altura
(LORENZI et al., 2006), e produzem a copa de formato esférico. Suas folhas,
brevipecioladas (SWINGLE & REECE, 1967), medem de 7,0 a 15,0 cm de
comprimento, e são aromáticas. Suas flores, brancas e perfumadas (LORENZI et al.,
2006), nascem isoladamente ou em inflorescências, e são formadas por cinco pétalas
(LORENZI et al., 2006; SWINGLE & REECE, 1967). Essas flores apresentam
glândulas de óleo na superfície abaxial das pétalas (QUEIROZ-VOLTAN & BLUMER,
2005; SCHNEIDER, 1968). Seus frutos são de formato esférico ou oval (SWINGLE &
REECE, 1967). No Brasil, a variedade Pêra é uma das mais conhecidas e cultivadas
dentre as laranjas doces (SAUNT, 1990). Seus frutos, aromáticos (LORENZI et al.,
2006), têm formato oval ou elipsóide, superfície lisa, coloração laranja-clara quando
maduros (HODGSON, 1967; SAUNT, 1990), e pesam 190 g em média (LARANJA,
s.d.). As variedades de laranja doce estudadas neste trabalho são a Cipó e a Imperial. A
laranja Cipó tem a copa de forma oblata e tendência de crescimento esparramado em
direção ao chão (DONADIO et al., 1995) por produzir ramos pendentes. É ideal para ser
conduzida sobre pérgulas (LORENZI et al., 2006). Suas folhas são simples,
brevipecioladas, de formato elíptico e de coloração verde-escura. Seus frutos são
esferóides, de coloração laranja-clara e superfície rugosa com glândulas de óleo
acentuadas. Medem 6,8 cm de altura e 6,9 cm de diâmetro, e pesam 146 g em média
(DONADIO et al., 1995). A laranja Imperial produz folhas e frutos variegados
(LORENZI et al., 2006).
2.4.2 Fortunella sp.
Nativos do sudoeste da China (SWINGLE & REECE, 1967), os kunquats são
arbustos ou árvores pequenas, que produzem folhas pequenas (HODGSON, 1967),
11
simples e brevipecioladas (SWINGLE & REECE, 1967). Suas flores brancas nascem
isoladamente ou em inflorescências, e produzem cinco pétalas (raramente quatro ou
seis) que medem de 8,0 a 12,0 mm de comprimento. Seus frutos, aromáticos, são
produzidos em abundância. São pequenos, com cerca de 2,5 cm de diâmetro
(SWINGLE & REECE, 1967), de formato oval (HODGSON, 1967; SWINGLE &
REECE, 1967), superfície lisa (HODGSON, 1967) e coloração amarelo-ouro a laranjaavermelhada. Tem sabor adocicado (HODGSON, 1967; SWINGLE & REECE, 1967),
mas moderadamente ácido. São as espécies cítricas mais resistentes ao frio
(HODGSON, 1967).
As plantas do gênero Fortunella lembram as plantas de Citrus no que concerne
ao aspecto geral da planta, considerando-se o tronco, os ramos, as folhas e as flores. As
diferenças morfológicas mais acentuadas encontram-se no verde-claro da parte abaxial
das folhas e no tamanho reduzido dos frutos (SWINGLE & REECE, 1967).
Fortunella margarita (Lour.) Swingle, o kunquat Nagami, é a espécie estudada
neste trabalho. É a mais conhecida dentre os kunquats (UNIVERSITY OF
CALIFORNIA, 2008), e suas árvores atingem de 3,0 a 4,0 m de altura (SAUNT, 1990;
SWINGLE & REECE, 1967). Suas folhas, as maiores do gênero, medem de 3,0 a 9,0
cm de comprimento, e são simples, brevipecioladas (SWINGLE & REECE, 1967) e de
coloração verde-escura (SAUNT, 1990). Geralmente não produzem espinhos. Suas
flores são pequenas, e nascem isoladamente ou em inflorescências (LORENZI et al.,
2006). Seus frutos, que medem de 2,0 a 3,0 cm de altura e de 0,7 a 2,0 cm de diâmetro,
pesam de 5 a 20 g (SAUNT, 1990). São de formato oval (SAUNT, 1990; SWINGLE &
REECE, 1967), superfície lisa (SAUNT, 1990), coloração laranja (SWINGLE &
REECE, 1967) e sabor ácido (SAUNT, 1990; SWINGLE & REECE, 1967).
2.4.3 Microcitrus australasica
Essa espécie é encontrada na Austrália, e acredita-se que é o resultado de uma
lenta evolução. São plantas arbustivas ou árvores de pequeno porte, que podem ser
utilizadas como ornamental. Produz folhas de formato losangular que medem de 2,2 a
2,5 cm de comprimento e de 1,4 a 1,5 cm de largura, e espinhos vigorosos de 3,0 a 8,0
mm de comprimento. Suas flores nascem isoladamente, e suas pétalas medem de 7,0 a
8,0 mm de comprimento. Seus frutos, de formato alongado e cilíndrico, medem de 6,5 a
10,0 cm de altura e de 1,5 a 2,5 cm de diâmetro. São de coloração verde-amarelada
12
quando maduros, e apresentam um sabor similar ao do limão (SWINGLE & REECE,
1967).
2.5 Produção de Mudas Cítricas
A evolução dos métodos de propagação de variedades cítricas coincide com a
evolução da importância de seu cultivo. Foi vencendo ameaças de doenças, que as
instituições de pesquisa descobriram soluções e melhoraram a produção das mudas.
Foi por volta de 1660, quando os citros já estavam estabelecidos no Brasil, que
eles passaram a ser cultivados mundialmente para a produção de frutos, ganhando êxito
nos estados da Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. A
produção cresceu e, por volta dos anos de 1920, impulsionada pela crise do setor
cafeeiro, já estava completamente estabelecida no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul
e em São Paulo. Foi nessa época que começaram as exportações para a Inglaterra e
outros países da Europa, anteriormente restritas à Argentina. Houve também a criação
de várias estações brasileiras de pesquisa, como as de Limeira e de Sorocaba no estado
de São Paulo, subordinadas ao Instituto Agronômico (IAC) (BOTEON & NEVES,
2005; DONADIO et al., 2005).
No início da 2a Guerra Mundial, o tráfego marítimo foi quase totalmente
paralisado, o que afetou a exportação brasileira. Foi o fim do primeiro período áureo da
citricultura brasileira, pois o Brasil já exportava mais de 5 milhões de caixas de laranja
(DONADIO et al., 2005). Os produtores, desanimados com a falta de mercado
consumidor, abandonaram seus pomares minimizando os cuidados necessários, o que
agravou a incidência de várias doenças. A disseminação da doença tristeza por volta de
1937, até então desconhecida, dizimou 80% dos pomares cítricos do Brasil. As estações
de pesquisa, criadas no início do século, constataram então que existiam porta-enxertos
resistentes a essa doença, como o limão Cravo [Citrus limonia (L.) Osbeck], a laranja
doce (C. sinensis), a tangerina (C. reticulata) e o trifoliata (P. trifoliata) (DONADIO et
al., 2005; HASSE, 1987).
Por volta de 1957, outra doença, o cancro cítrico, ameaçou seriamente os
pomares de laranja do estado de São Paulo, se alastrando aos estados do Paraná e do
Mato Grosso. Houve então a eliminação de mais de 300 mil árvores, coordenada pelo
Instituto Biológico de São Paulo, o que culminou com a criação, em 1977, do Fundo da
Defesa da Citricultura (FUNDECITRUS), e do Banco do Germoplasma Sadio,
localizado na então Estação Experimental de Limeira. O FUNDECITRUS foi criado
13
com o objetivo de administrar recursos de citricultores para a erradicação das doenças
que atacavam os pomares de laranja. Já o Banco do Germoplasma Sadio garantiu, a
partir da sua criação, a distribuição, tanto no Brasil como no exterior, de material de
propagação registrado e sadio por meio do Programa de Registro de Matrizes do Estado
de São Paulo, criado em 1969 (CARVALHO et al., 2005; DONADIO et al., 2005). Foi
criado também, em 1994, o Sistema de Produção de Mudas Certificadas. Revisado em
1998, esse sistema garante a produção de mudas livres de doenças porque todo o
processo é executado em ambiente protegido (CARVALHO et al., 2005).
A partir de 1960, houve uma diminuição na oferta de matéria-prima nos Estados
Unidos por causa da ocorrência de fortes geadas na Flórida, impulsionando a produção
de citros no Brasil, que passou da produção de frutas de mesa para frutas para a
indústria, visando o mercado internacional de suco concentrado congelado (BOTEON
& NEVES, 2005). Houve então um aumento muito rápido no número de árvores
plantadas no estado de São Paulo a partir de 1985, o que também foi diretamente
proporcional ao aumento da exportação de suco concentrado congelado de laranja
(DONADIO et al., 2005). Atualmente, o Brasil é o maior exportador desse produto no
mundo, seguido dos Estados Unidos. A fruta para ser consumida in natura representa
30% da produção, mas apenas cerca de 1% desse total é exportado (BOTEON &
NEVES, 2005; DONADIO et al., 2005).
O maior estado brasileiro produtor é São Paulo, seguido da Bahia, Sergipe,
Minas Gerais e Paraná, e a maior parte da produção é exportada para a Europa, Estados
Unidos e Japão (BOTEON & NEVES, 2005; DONADIO et al., 2005). As variedades
mais cultivadas são as de laranja doce Pêra, Natal e Valência. O Centro APTA Citros
Sylvio Moreira, do Instituto Agronômico (IAC), localizado em Cordeirópolis/SP, lidera
as pesquisas na área de citricultura no país e no exterior (DONADIO et al., 2005).
O Programa de Registro de Matrizes do Estado de São Paulo vem garantindo,
desde a sua criação, a produção de mudas livres de doenças. Essas mudas são
produzidas, principalmente, por sementes e por enxertia, embora existam outros
métodos, como a estaquia, o cultivo de tecidos (POMPEU JÚNIOR, 2005) e a
microenxertia, método que permite livrar o material contaminado da maioria dos
patógenos (BAPTISTA et al., 1991). No entanto, a enxertia é o método mais utilizado e
é considerada a base da citricultura (POMPEU JÚNIOR, 1991).
As sementes da maioria das variedades cítricas formam embriões nucelares por
meio da diferenciação de células somáticas do nucelo. Esses embriões possuem o
14
mesmo genoma da planta-mãe, e por isso formam plantas idênticas a ela. São essas
plantas que são usadas como porta-enxertos, pois apresentam um alto vigor e uma
produtividade mais tardia se cultivadas em pé-franco (POMPEU JÚNIOR, 2005). A
utilização desses embriões também garante a sanidade vegetal, pois não há formação de
vasos condutores suficientes para a translocação de patógenos da planta até eles
(CARVALHO et al., 2005).
Nos últimos anos, uma outra doença vem ameaçando a citricultura brasileira, o
“huanglongbing” (HLB) ou “ex-greening”. Transmitida por uma bactéria, a Candidatus
Liberibacter spp. que tem como vetor o psilídeo Diaphorina citri Kuwayama, é
considerada atualmente uma das piores doenças dos citros. Provavelmente originária da
China, foi diagnosticada no estado de São Paulo em 2004. A pesquisa, ainda no início,
recomenda a erradicação das árvores contaminadas, o controle do vetor psilídeo e a
utilização de mudas sadias. Por não existir ainda nenhuma variedade descoberta que
seja tolerante ou imune à doença (FUNDECITRUS, 2008), o HLB é a nova ameaça do
século XXI à citricultura.
2.5.1 Enxertia e os porta-enxertos limão Cravo e trifoliata
A enxertia é um método de propagação que une partes de plantas de tal maneira
que se crie uma associação benéfica entre dois indivíduos geneticamente diferentes, que
passam a se comportar como uma planta só (POMPEU JÚNIOR, 2005; STUCHI,
2003).
O objetivo da enxertia é obter plantas de melhor qualidade, mais produtivas e
longevas (POMPEU JÚNIOR, 2005). Entre as vantagens que apresenta, está a obtenção
de plantas uniformes e praticamente idênticas à planta-mãe, a precocidade da produção
e o aumento da produtividade (POMPEU JÚNIOR, 1991).
O porta-enxerto e a espécie enxertada se influenciam mutuamente, entre outros,
no crescimento, no tamanho, na frutificação, na síntese de nutrientes, no teor de
açúcares, na acidez dos frutos, e na resistência à seca e ao frio. A influência do portaenxerto sobre a copa é maior do que a da copa sobre o porta-enxerto, mas isso varia
muito de região para região e das condições edafoclimáticas de cada local. Sendo assim,
porta-enxertos e plantas a serem enxertadas (copas) são escolhidos de acordo com o
resultado que se almeja, como uma maior produção de frutos, uma maior resistência a
doenças ou árvores de tamanho reduzido que facilitam a colheita (POMPEU JÚNIOR,
2005). Existem alguns tipos de enxertia, como a borbulhia, a garfagem e a encostia, mas
15
a borbulhia é a mais utilizada na citricultura. Esse método consiste na justaposição de
uma gema sobre um porta-enxerto enraizado (SIMÃO, 1998; TEÓFILO SOBRINHO,
1991).
A borbulhia na citricultura é feita pelo método do “T” normal ou do “T”
invertido, quando o caule do porta-enxerto atinge o diâmetro de 6 a 8 mm
(CARVALHO et al., 2005), comparável ao diâmetro de um lápis. No caso do “T”
normal, faz-se uma fenda no cavalo (porta-enxerto) no sentido transversal e
posteriormente no sentido longitudinal, de modo a formar um “T”. Levantando-se a
casca, a gema é então introduzida, e posteriormente amarrada junto ao porta-enxerto de
cima para baixo, com fitilho plástico ou biodegradável, a fim de conservar a umidade e
manter a gema unida ao porta-enxerto. No método do “T” invertido, o processo é
semelhante ao do “T” normal, invertendo-se as fendas de modo a se formar um “T”
invertido. A amarração é feita de baixo para cima. O método do “T” invertido apresenta
vantagens sobre o do “T” normal por evitar a penetração de água na região da enxertia
(TEÓFILO SOBRINHO, 1991). O enxerto deve ser feito a uma altura de 10 a 20 cm a
partir do colo da planta. Após 20 dias da realização da enxertia, retira-se o fitilho (a
retirada é desnecessária se o fitilho for biodegradável) e efetua-se a decapitação ou o
vergamento da haste do porta-enxerto acima do ponto de enxertia, de modo a forçar a
brotação da borbulha (CARVALHO et al., 2005; TEÓFILO SOBRINHO, 1991). No
entanto, segundo CARVALHO & MACHADO (1996), o método de decapitação do
porta-enxerto para o forçamento de borbulhas é mais eficaz que o método de
vergamento da haste do porta-enxerto.
A altura da região de enxertia também influencia no tamanho, na produtividade,
na absorção de nutrientes pela planta e na incidência de doenças (BITTERS et al., 1981;
POMPEU JÚNIOR, 2005), mas não interfere na qualidade dos frutos. Isso varia de
acordo com o porta-enxerto e a copa, mas é mais comum em plantas enxertadas em
trifoliata e em seus híbridos. A altura ideal de enxertia ainda não está estabelecida, e a
altura em voga corresponde mais à prática, à tradição dos viveiros (POMPEU JÚNIOR,
2005) e à conveniência do enxertador (BITTERS et al., 1981).
Segundo KOLLER et al. (1983), a elevação da altura da enxertia pode reduzir a
incidência da gomose, como foi comprovado enxertando-se limão [Citrus limon (L.)
Burm. f.] a 80 cm do colo da planta. Já a laranja Caipira (C. sinensis), enxertada a 20
cm do colo da planta, teve maior desenvolvimento de sua copa quando comparado à
enxertia a 80 cm do colo. No entanto, não houve diferença significativa entre as alturas
16
de enxertia (20, 40 e 80 cm) sobre a produtividade e a altura das plantas. Mas para
BITTERS et al. (1981), a melhor produtividade para a variedade de laranja doce
Valência, enxertada sobre tangerina Cleópatra (Citrus reshni Hort ex Tan.), ocorreu
quando o ponto de enxertia foi a 30 cm do colo da planta, comparando-se as alturas de
5, 15, 30, 45, 60 e 90 cm. Já para essa mesma variedade enxertada sobre o citrange
Troyer (C. sinensis x P. trifoliata), a altura ideal de enxertia foi a 15 cm do colo da
planta. Os autores mencionam ainda que, acima da altura ideal encontrada para a laranja
Valência, enxertada tanto sobre a tangerina Cleópatra (30 cm) como sobre o citrange
Troyer (15 cm), a produtividade e a altura das árvores decresceram em razão do
aumento da altura do ponto de enxertia. SAMPAIO (1994) concluiu ainda que
borbulhas de laranja Piralima (C. sinensis), enxertadas sobre o trifoliata nas alturas de 0
e 10 cm do colo da planta, apresentaram maior volume de copa e conseqüentemente
maior produtividade, do que aquelas enxertadas a 20 e a 40 cm de altura. Portanto,
existem comportamentos variados para diferentes alturas de enxertia, que dependem
ainda da combinação copa/porta-enxerto (BITTERS et al., 1981; KOLLER et al., 1983).
Outros experimentos são necessários para que se estabeleça de modo conclusivo os
efeitos das variações nas alturas de enxertia.
A técnica de enxertia vem sendo usada desde o século V, mas o marco da
utilização de porta-enxertos na citricultura aconteceu em 1842, quando se descobriu, na
Ilha dos Açores, pertencente a Portugal, porta-enxertos resistentes à gomose (CHAPOT,
1975 citado por POMPEU JÚNIOR, 2005). No Brasil, a enxertia começou a ser
utilizada no início da produção de citros para fins comerciais, sendo que as variedades
mais utilizadas como porta-enxerto eram as de laranja doce. Quando se constatou a
baixa resistência dessas variedades à gomose, variedades de laranja azeda (Citrus
aurantium L.) passaram a ser utilizadas, e foram os principais porta-enxertos até a
década de 1940. A disseminação da doença tristeza levou à morte as plantas enxertadas
sobre essa espécie, e pesquisas então comprovaram que os porta-enxertos de limão
Cravo, tangerina Cleópatra, tangerina Sunki (Citrus sunki hort. ex Tanaka), laranja
Caipira e limão Rugoso (Citrus jambhiri Lush.) não apresentavam os sintomas da
doença. Essas variedades foram então utilizadas para a renovação da citricultura
(POMPEU JÚNIOR, 2005).
Já no início da 2a Guerra Mundial, o limão Cravo se estabeleceu como o portaenxerto mais adequado para muitas regiões brasileiras. Apesar de ser suscetível à
exocorte e à xiloporose, constatou-se posteriormente que essas doenças eram
17
transmitidas por união de tecidos e ferramentas contaminados (CARVALHO et al.,
2003; POMPEU JÚNIOR, 2005), o que tornou viável a produção desses porta-enxertos
por meio de sementes. Atualmente, é o porta-enxerto mais utilizado no estado de São
Paulo, seguido da tangerina Cleópatra e do citrumelo Swingle (Citrus paradisi Macfad.
x P. trifoliata), apesar de que sua utilização está diminuindo por causa de sua
suscetibilidade à morte súbita dos citros. Essa variedade também é suscetível ao
declínio dos citros e a alguns nematóides (POMPEU JÚNIOR, 2005). No entanto,
apresenta diversas outras vantagens, como por exemplo facilidade na formação das
mudas, compatibilidade com todas as copas, produção precoce de alta qualidade e de
alta produtividade, alto vigor, resistência à seca e tolerância à tristeza (DONADIO et al.,
2005; POMPEU JÚNIOR, 2005).
Uma outra espécie muito utilizada como porta-enxerto, principalmente no Rio
Grande do Sul, é o trifoliata (POMPEU JÚNIOR, 1991; SCHÄFER et al., 2001). Citado
como um porta-enxerto tradicional na China (SPIEGEL-ROY & GOLDSCHMIDT,
1996), requer maior tempo de formação de muda, e apresenta suscetibilidade ao declínio
dos citros, baixa tolerância à seca e ainda incompatibilidade com algumas variedades,
como a laranja doce Pêra e o tangor Murcott (C. reticulata x C. sinensis) (POMPEU
JÚNIOR, 2001; POMPEU JÚNIOR, 2005).
A incompatibilidade entre duas espécies está relacionada a fatores fisiológicos,
biológicos e anatômicos. Os fatores fisiológicos se relacionam com a diferença da
necessidade de diferentes nutrientes, os biológicos com o ciclo vegetativo das plantas e
os anatômicos com a justa união dos tecidos cambiais (SIMÃO, 1998). A
incompatibilidade entre citros se expressa em um mal desenvolvimento da planta, baixa
sobrevivência e baixa produtividade, além de diferenças anatômicas, como por
exemplo, a diferença nos diâmetros de copa e porta-enxerto, sendo que este último tem
sempre o maior diâmetro. Geralmente, espécies incompatíveis entre si apresentam baixa
taxa de pegamento de borbulha na enxertia, e morte entre dois e 10 anos após o plantio.
No entanto, diferenças entre os diâmetros de copa e porta-enxerto não significam
necessariamente incompatibilidade (POMPEU JÚNIOR, 2005; STUCHI, 2003).
O trifoliata exerce um efeito ananicante sobre suas copas, o que parece estar
relacionado com o grau de incompatibilidade com as variedades enxertadas sobre ele.
Entretanto, é imune à tristeza, tolerante à morte súbita dos citros e resistente aos
nematóides dos citros. Ainda contribui para uma maturação mais tardia quando
comparado ao limão Cravo, com maior produção de frutos por metro cúbico de copa, e
18
para um alto adensamento de plantio por influenciar no tamanho reduzido das árvores
enxertadas sobre ele. Árvores menores facilitam a colheita, o controle de pragas e
doenças, e a aplicação de outros tratos culturais. No entanto, esse efeito ananicante varia
com as condições edafoclimáticas, a variedade copa, a presença de viroses e o uso de
irrigação. Seus híbridos apresentam as mesmas características no que concerne ao
potencial ananicante, especialmente o Flying Dragon (POMPEU JÚNIOR, 2001;
POMPEU JÚNIOR, 2005).
Experimentos comprovam que as plantas enxertadas sobre trifoliata são sempre
menores do que aquelas enxertadas sobre outra variedade (POMPEU JÚNIOR, 2005).
SCHÄFER et al. (2001) também comprovaram o mesmo por meio de experimentos de
propagação por enxertia da tangerineira Montenegrina (Citrus deliciosa Ten.).
O trifoliata também é utilizado como porta-enxerto para a propagação de
kunquats na China, no Japão e nos Estados Unidos, resultando em plantas menores,
ornamentais, e cultivadas em vasos. Kunquats não são produzidos por sementes por não
apresentarem bom desenvolvimento do sistema radicular (HODGSON, 1967;
MORTON, 1987).
2.5.2 Estaquia
O método de propagação por estaquia baseia-se na tentativa de regeneração dos
tecidos para a emissão de raízes. As estacas devem conter pelo menos uma gema.
Quando retiradas de ramos, elas podem ser herbáceas, semi-lenhosas ou lenhosas. As
estacas herbáceas são retiradas da parte apical dos ramos, enquanto as semi-lenhosas ou
lenhosas são retiradas de ramos em processo de lignificação ou já lignificados,
respectivamente (SIMÃO, 1998).
Embora o método da enxertia já esteja estabelecido no Brasil como um meio
seguro para a produção dos citros, a estaquia torna-se necessária a fim de se contornar
os efeitos de doenças que afetam alguns porta-enxertos, como por exemplo o limão
Cravo que é suscetível à morte súbita do citros (GIRARDI, 2005), ou de propagar
variedades que produzem pouca ou nenhuma semente por fruto. A estaquia ainda
oferece outras vantagens, como a rapidez na formação das mudas e a preservação das
características genéticas da planta-mãe (SANTOS et al., 1988).
Atualmente, o tempo de formação de mudas produzidas por enxertia é maior do
que o de mudas produzidas por estaquia. Uma muda produzida por enxertia demora de
10 a 15 meses para estar pronta, enquanto a estaca leva um período inferior a 8 meses
19
(CARVALHO et al., 2005; SCHÄFER et al., 2001). Mas, enquanto o processo de
enraizamento de estacas depende diretamente de vários fatores mencionados a seguir
(HABERMANN et al., 2006), a enxertia pode ser realizada em qualquer época do ano
em ambientes controlados de casas de vegetação. Além disso, existe uma dificuldade de
formação de raízes pivotantes em estacas, o que faz com que as plantas sejam
suscetíveis a tombamentos (POMPEU JÚNIOR, 2005).
Quando a eficiência de ambos os métodos é comparada entre si, encontram-se
resultados semelhantes de área de projeção de copa e de altura de planta. Entretanto, a
produtividade e a qualidade dos frutos das plantas estaqueadas são inferiores às das
plantas enxertadas. Além disso, elas ainda apresentam um crescimento inicial mais lento
e um maior índice de mortalidade (SCHÄFER, 2001).
Existem alguns fatores que afetam a facilidade com que certas plantas enraízam,
como a espécie, a idade da planta, a posição dos ramos, a época do ano e as condições
do ambiente e de sanidade da planta. Estacas de plantas jovens por exemplo, enraízam
com mais facilidade do que de plantas mais velhas (SIMÃO, 1998). Além disso, a
maioria das espécies cítricas não enraíza facilmente. Segundo CARVALHO et al.
(2005), a emissão de raízes em estacas propagadas por estaquia pode chegar a 100% em
cidras, limões e limas ácidas, como também relatam PLATT & OPITZ (1973), mas
apresenta um baixo índice entre as laranjas doces e as tangerinas. Para espécies de
hábito caducifólio por exemplo, a época do ano interfere no enraizamento, sendo que o
ideal para a retirada das estacas é no outono ou no inverno, enquanto para aquelas de
hábito perene é na primavera ou no verão (SIMÃO, 1998).
Estacas devem ser coletadas na parte da manhã, quando ainda estão túrgidas, a
uma temperatura entre 12 e 27 °C, que favorece o enraizamento. É também importante
manter a umidade relativa alta no ambiente de enraizamento, pois a atmosfera seca
resseca as estacas e reduz a possibilidade de emissão de raízes. Atualmente, um sistema
de nebulização intermitente mantém a umidade ao redor da estaca e diminui a
temperatura, o que contribui para a redução da transpiração e da respiração, favorecendo
o enraizamento (SIMÃO, 1998).
Como a maioria das espécies cítricas não enraíza facilmente, torna-se necessário
a aplicação de fitorreguladores (SANTOS et al., 1988) como as auxinas, as citocininas e
as giberelinas. Dentre eles, as auxinas são os que têm mais efeito no enraizamento de
estacas, pois atuam na regeneração de órgãos. São várias as auxinas sintéticas
20
disponíveis, como por exemplo o ácido indolacético (AIA), o ácido indolbutírico (AIB),
o ácido naftalenoacético (ANA) e o 2,4-diclorofenoxiacético (2,4-D) (SIMÃO, 1998).
Na Califórnia por exemplo, estacas cítricas eram propagadas com altas
concentrações de AIB (3.000 a 8.000 mg.L-1). Segundo PLATT & OPITZ (1973), a
concentração de 10.000 mg.L-1 era usada por até 2 segundos para aquelas de
enraizamento mais difícil. No entanto, ANDRADE & MARTINS (2003), BOAS et al.
(1988), GIRARDI (2005), HABERMANN et al. (2006) e SANTOS et al. (1988)
concluíram que a aplicação de fitorreguladores de crescimento (AIB, ANA e 2,4-D) a
diferentes concentrações não influencia no enraizamento de espécies cítricas.
Segundo CARVALHO et al. (2005), melhores resultados de enraizamento de
citros podem ser obtidos com a utilização de estacas semi-lenhosas, de 10 a 15 cm de
comprimento, com 3 a 4 folhas cortadas ao meio no ápice do ramo, com uma alta
umidade relativa do ar (80-100%), e uma temperatura acima de 28 °C. Os autores
mencionam porém, que o uso de substâncias promotoras de enraizamento, como o AIB
e o ANA, pode favorecer a velocidade e a uniformidade na emissão de raízes, mas não
altera o índice final de enraizamento.
Os substratos mais comumente utilizados para o enraizamento de estacas
incluem solo, areia, vermiculita, perlita e esfagno. Todos esses materiais devem ser
firmes e densos o suficiente para que a estaca se mantenha ereta até o enraizamento, e
também porosos para favorecer a presença de oxigênio e permitir o livre movimento da
água (SIMÃO, 1998).
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Caracterização Morfológica
3.1.1 Banco Ativo de Germoplasma (BAG)
O Banco Ativo de Germoplasma (BAG) localiza-se no Centro APTA Citros
Sylvio Moreira/IAC, no município de Cordeirópolis/SP, nas coordenadas 22°32’ S e
47°27’ W, a uma altitude de 639 m. Segundo a classificação de Köppen, o clima é do
tipo Cwa (clima subtropical com inverno seco e verão úmido). O solo é do tipo
Latossolo Vermelho distrófico (EMBRAPA, 2006), a média da precipitação pluvial
anual é de 1.221,2 mm, e da umidade relativa do ar é de 74,2%. A temperatura média
21
anual é de 21,4 °C, sendo que a média da temperatura máxima é 27,8 °C, e da mínima é
14,8 °C (CIIAGRO/IAC, 2008).
Cada acesso do BAG é composto por três plantas, e todas recebem os tratos
culturais rotineiros da cultura. Estão enxertadas em tangerina Cleópatra, e plantadas no
espaçamento de 7,5 x 5,5 m. As plantas das variedades kunquat Nagami, laranja
Imperial e limão Faustrine foram plantadas em novembro/1983, e as de cidra Mão-deBuda, laranja Cipó e tangerina Venezuela em janeiro/1989.
3.1.2 Variedades
Seis variedades cítricas foram avaliadas morfologicamente: cidra Mão-de-Buda,
kunquat Nagami, laranja Cipó, laranja Imperial, limão Faustrine e tangerina Venezuela.
Todas são mantidas no BAG, do Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC.
3.1.3 Coleta de dados
Para compor a amostra, foram utilizadas as três plantas de cada acesso, e
coletadas 10 folhas adultas, 10 flores totalmente abertas e 10 frutos maduros por planta,
perfazendo um total de 30 indivíduos por variedade. Esse material foi coletado na parte
externa da planta, ao redor de toda a copa, a uma altura de 1 a 2 m do solo, e avaliado de
acordo com o manual Descriptors for Citrus (IBPGR, 1999). O formato das folhas e os
tipos de margem foram estudados segundo HICKEY & KING (2004). As três árvores
de cada variedade também foram consideradas para as avaliações descritas a seguir.
3.1.3.1 Árvores
Foram tomadas as medidas de altura das árvores e de diâmetro das copas (no
sentido longitudinal à linha de plantio), utilizando-se uma régua graduada. Também
foram avaliados o formato das copas e a presença de espinhos.
3.1.3.2 Folhas
As folhas coletadas foram aquelas de tamanho mediano, que visualmente
compunham cerca de 80% das folhas da planta.
As medições de comprimento e de largura da lâmina foliar, considerando-se
sempre a maior medida, foram feitas com o auxílio de um escalímetro. Para a avaliação
da área individual das folhas, foi utilizado o medidor de área foliar da marca LI-Cor®,
22
modelo LI-3100, e para a definição da coloração foi usado o colorímetro Minolta
CR-300, da marca Konica®.
Para a definição prática da coloração, foram utilizadas as lâminas foliares
inteiras, e tomadas três medidas aleatórias por lâmina foliar, de modo que o colorímetro
gerasse uma média que representasse a coloração da lâmina por inteiro. Dessas três
medidas, procurou-se localizar uma na parte basal, uma na parte central e uma na parte
apical da lâmina. A configuração do colorímetro utilizada foi a L*a*b*. Nessa
configuração, L* representa a luminosidade, e a* e b* representam a coloração. Valores
negativos muito baixos de L* representam a coloração preta ou muito escura, enquanto
valores positivos muito altos representam a coloração branca ou muito clara. Se a* for
negativo, representa a coloração verde, e se for positivo, a coloração vermelha. Com
relação a b*, se for negativo representa a coloração azul, e se for positivo, a coloração
amarela. Na ausência de valores de L*, valores de a* e b* próximos de zero
representam cores acromáticas. A definição da coloração e sua intensidade (mais clara
ou mais escura) porém, dependerá do conjunto dos valores obtidos das três variáveis
(L*, a* e b*) (MINOLTA, 1998).
Além das citadas, as seguintes variáveis também foram avaliadas: tipo da folha
(simples ou composta), formato da lâmina foliar, tipo de pecíolo (menor ou maior que a
lâmina foliar, ou ausente), tipo de margem, coloração da folha jovem e presença de
variegação. A coloração das folhas jovens foi avaliada visualmente e definida segundo o
manual Descriptors for Citrus (IBPGR, 1999), que considera somente as cores verde e
roxa. Quando a variegação foi constatada, considerou-se, para fins de definição de
coloração, as regiões fora das áreas de variegação. A presença ou a ausência de
fragrância também foi anotada.
3.1.3.3 Flores
As medidas de diâmetro de flor e de comprimento e largura de pétalas foram
feitas com o auxílio de um escalímetro. Além disso, avaliou-se o número de pétalas, a
coloração e o arranjo das flores na planta (se florescem isoladamente ou em
inflorescências). A coloração das pétalas foi definida segundo Descriptors for Citrus
(IBPGR, 1999), pois apresentam tamanho muito reduzido para a área do medidor de
coloração do colorímetro. As cores consideradas no manual são o branco, o amareloclaro, o amarelo e o roxo. A presença ou a ausência de fragrância também foi anotada.
23
3.1.3.4 Frutos
Os frutos foram coletados quando apresentaram, visualmente, coloração amarela
para as variedades cidra Mão-de-Buda, tangerina Venezuela e laranja Imperial, e
coloração laranja para a laranja Cipó e o kunquat Nagami. Os frutos do limão Faustrine
foram coletados verdes, pois permanecem nessa coloração mesmo quando maduros. As
medidas de altura e diâmetro dos frutos foram feitas com o auxílio de um paquímetro,
considerando-se a região equatorial do fruto para a definição do diâmetro. Uma balança
foi utilizada para a medição da massa dos frutos, e o colorímetro Minolta CR-300 foi
usado para a definição da coloração da casca.
Para a definição prática da coloração, foram utilizados os frutos inteiros, e
tomadas três medidas aleatórias ao redor de cada fruto, de modo que o colorímetro
gerasse uma média que representasse a coloração do fruto por inteiro. Quando a
variegação foi constatada, considerou-se, para fins de definição de coloração, as regiões
fora das áreas de variegação. A configuração do colorímetro utilizada também foi a
L*a*b*. Outras variáveis ainda foram avaliadas, a saber: formato do fruto, textura da
casca, natureza das glândulas de óleo (discretas ou acentuadas) e localização dos frutos
na copa. A presença ou a ausência de fragrância também foi anotada.
3.1.4 Análise estatística
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado. Para a
avaliação dos dados quantitativos, foram utilizadas as ferramentas da estatística
descritiva por meio do software Sisvar® (FERREIRA, 2003). A média das 30 medidas
simples coletadas de cada variável representou a variedade. O desvio padrão para cada
variedade também foi calculado. Para a análise dos dados qualitativos, a porcentagem
de freqüência de cada característica foi estimada.
3.2 Enxertia
3.2.1 Variedades
As variedades testadas no experimento de propagação por enxertia foram a cidra
Mão-de-Buda, o kunquat Nagami, a laranja Cipó, a laranja Imperial e a tangerina
Venezuela. O limão Faustrine foi excluído deste experimento pois as plantas não tinham
material vegetativo suficiente para a retirada de ramos com borbulhas adequadas para a
enxertia.
24
As gemas dessas variedades foram enxertadas nos porta-enxertos de limão
Cravo e trifoliata Limeira.
3.2.2 Localização do experimento
O experimento foi instalado em telado anti-afídico, no Centro APTA Citros
Sylvio Moreira/IAC, localizado em Cordeirópolis/SP. A temperatura média no interior
do telado, no período do experimento (91 dias, de 10/12/2007 a 10/03/2008), foi de
25,3 °C, sendo que a média da temperatura máxima foi 31,8 °C, e da mínima foi
18,8 °C.
3.2.3 Porta-enxertos
Sementes de limão Cravo e de trifoliata Limeira foram semeadas em março de
2007, em tubetes de 50 mL, contendo o substrato Rendmax Citrus, da marca Eucatex®.
Esse substrato contém, em sua composição, casca de pínus, vermiculita expandida e
carvão moído, e é comumente utilizado para a produção de mudas cítricas (ZANETTI et
al., 2003). Após cerca de quatro meses a partir da data de germinação (em julho de
2007), as mudas foram transplantadas para sacos plásticos de coloração preta com
capacidade de 4 L, também contendo o substrato Rendmax Citrus. Durante o período de
desenvolvimento dos porta-enxertos, a irrigação foi feita diariamente e de forma
manual. A enxertia foi realizada quando as mudas apresentavam diâmetro de caule de 6
a 8 mm, comparável ao diâmetro de um lápis.
3.2.4 Enxertia
A enxertia foi realizada no dia 10/12/2007 e seus resultados foram avaliados
após 91 dias, em 10/03/2008. As mudas permaneceram sob o telado anti-afídico, e
foram irrigadas diariamente e de forma manual.
O método de enxertia utilizado foi o de borbulhia em “T” invertido que,
conforme descrevem CARVALHO et al. (2005) e TEÓFILO SOBRINHO (1991),
consiste na confecção de duas fendas no porta-enxerto. A primeira fenda é feita no
sentido transversal, e a segunda no sentido perpendicular, formando um “T” invertido.
Com a casca da fenda levantada, a gema a ser enxertada foi introduzida. As gemas
retiradas das cinco variedades avaliadas foram enxertadas a uma altura de 8 a 10 cm a
partir do nível do substrato. As borbulhas foram amarradas com fitilho plástico, de
modo que ficassem em contato com os porta-enxertos, evitando assim sua desidratação.
25
Após 20 dias da enxertia, foi feito o corte do porta-enxerto, também chamado de
decapitação, logo acima do ponto de borbulhia. Esse procedimento é necessário para se
forçar a brotação, provocando um maior crescimento da muda (CARVALHO et al.,
2005). O fitilho plástico que envolvia a região da borbulhia foi retirado após 10 dias da
decapitação do porta-enxerto.
Após 91 dias da enxertia, as seguintes variáveis foram avaliadas: pegamento da
borbulha, comprimento da brotação do enxerto, número de folhas adultas por enxerto e
massa seca da brotação.
Nesse período, não foi observado nenhum sintoma de incompatibilidade entre
copa e porta-enxerto.
3.2.5 Análise estatística
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, em
esquema fatorial duplo (dois porta-enxertos e cinco variedades), com, inicialmente, 12
repetições, totalizando 120 mudas.
Em função da morte de algumas borbulhas, essas 12 repetições foram utilizadas
apenas para o cálculo da porcentagem de pegamento de borbulha. Para a avaliação das
demais variáveis, foram utilizadas seis repetições, totalizando 60 mudas.
As médias dos dados resultantes foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de
significância, por meio do software Sisvar® (FERREIRA, 2003), com a exceção da
análise de diferença estatística entre as taxas de pegamento de borbulha, que foi feita
segundo o teste de qui-quadrado (χ2) descrito por PIMENTEL-GOMES (2000).
3.3 Estaquia
3.3.1 Variedades
As variedades testadas no experimento de propagação por estaquia foram a cidra
Mão-de-Buda, o kunquat Nagami, a laranja Cipó, a laranja Imperial e a tangerina
Venezuela. O limão Faustrine foi novamente excluído do experimento, pois as plantas
não tinham material vegetativo suficiente para a retirada de estacas.
3.3.2 Localização do experimento
O experimento foi instalado em casa de vegetação telada com sistema de
nebulização intermitente, no Centro Experimental Central, do Instituto Agronômico
(IAC), localizado em Campinas/SP, nas coordenadas 22º53’ S e 47º04’ W e altitude de
26
674 m. Segundo a classificação de Köppen, o clima é do tipo Cwa (clima subtropical
com inverno seco e verão úmido). A temperatura média no interior do telado, no
período do experimento (90 dias, de 19/03/2008 a 17/06/2008), foi de 22,2 °C, sendo
que a média da temperatura máxima foi 28,0 °C, e da mínima foi 16,3 °C.
3.3.3 Estaquia
A estaquia foi realizada no dia 19/03/2008, e seus resultados foram avaliados
após 90 dias, em 17/06/2008. As estacas permaneceram no interior da casa de vegetação
e foram irrigadas manualmente. Foi feita uma pulverização semanal com o inseticida
sistêmico Confidor 700 GrDA, da marca Bayer®, na proporção de 30 g/100 L, de modo
a combater o ataque de pragas em geral, mas principalmente de pulgões e cochonilhas.
Estacas semi-lenhosas foram coletadas de ramos com aproximadamente um ano
de idade, no período da manhã, e preparadas com cerca de 15 cm de comprimento e
metade de cada uma das duas últimas folhas apicais. O diâmetro das estacas não foi
padronizado. Depois de coletadas, as estacas foram embrulhadas em papel-jornal
umedecido e armazenadas em sacos plásticos, em caixa de isopor, com o objetivo de se
minimizar o estresse hídrico.
No dia seguinte, pela manhã, as bases das estacas foram mergulhadas em três
concentrações (0, 5.000 e 10.000 mg.L-1) de solução de ácido indolbutírico (AIB)
durante 10 segundos, e dispostas em vasos para o enraizamento, enterrando-se cerca de
2/3 de seu comprimento total. Os vasos foram então colocados em casa de vegetação
com sistema de nebulização intermitente. Esses vasos, com capacidade de 5 L, têm 20
cm de profundidade e abrigaram 20 estacas cada. O substrato utilizado foi o Rendmax
Citrus, da Eucatex®, mais vermiculita, na proporção de 1:1. A vermiculita foi
acrescentada para que se conservasse maior umidade.
Após 90 dias da estaquia, as seguintes variáveis foram avaliadas: sobrevivência
das estacas, enraizamento, formação de calos, retenção foliar, número de folhas novas
por estaca, número de raízes por estaca, comprimento da maior raiz por estaca e massa
seca de raízes por estaca.
3.3.4 Análise estatística
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, em
esquema fatorial duplo (três concentrações de AIB e cinco variedades), com quatro
parcelas e 20 estacas por parcela por concentração de AIB, resultando em 240 estacas
27
por variedade e 1200 estacas no total. No entanto, em função de uma única variedade ter
enraizado, a análise estatística em esquema fatorial duplo foi feita somente para a
variável número de folhas novas por estaca. Para a variedade que enraizou, foi então
feita a avaliação estatística no esquema do delineamento inteiramente casualizado,
considerando-se as três concentrações de AIB.
As médias dos dados resultantes foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de
significância, por meio do software Sisvar® (FERREIRA, 2003).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Caracterização Morfológica
4.1.1 Árvores
Todas as variedades apresentam espinhos, com exceção do kunquat Nagami.
Foram encontradas descrições sobre a presença de espinhos somente para a variedade
cidra Mão-de-Buda e para a espécie M. australasica, utilizada no cruzamento que
originou o limão Faustrine (LORENZI et al., 2006; SWINGLE & REECE, 1967).
LORENZI et al. (2006) também confirmam a ausência de espinhos no kunquat Nagami,
o que favorece a utilização dessa variedade em jardins públicos, em locais onde existe a
presença de muitas crianças, ou em vasos.
As variedades cidra Mão-de-Buda e laranja Cipó apresentam forma de copa
oblata (Figura 1). Porém, para a variedade Cipó que produz ramos pendentes (Figura 2)
e que pode ser conduzida sobre pérgulas (LORENZI et al., 2006), não existe uma forma
determinada. Nas condições de campo do Banco Ativo de Germoplasma do Centro
APTA Citros Sylvio Moreira/IAC, não há nenhum tipo de suporte sob a planta, o que
explicaria esse formato, conforme DONADIO et al. (1995) também descreveram. As
demais variedades apresentam formato de copa esferóide (Figura 3). As médias
encontradas para altura de planta e diâmetro de copa se encontram na tabela 1.
28
Figura 1 - Variedades cidra Mão-de-Buda (a) e laranja Cipó (b) (Cordeirópolis/SP,
2008).
Figura 2 - Ramos pendentes da variedade laranja Cipó (a) e interior da copa da mesma
variedade (b) (Cordeirópolis/SP, 2008).
29
Figura 3 - Variedades kunquat Nagami (a), laranja Imperial (b), limão Faustrine (c) e
tangerina Venezuela (d) (Cordeirópolis/SP, 2008).
Tabela 1 - Altura de planta e diâmetro de copa de variedades cítricas com potencial
ornamental enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008).
Variedade
Altura da Planta (m)*
Diâmetro da Copa (m)*
2,59
3,60
2,37
4,37
2,79
4,45
4,00
3,83
4,08
4,36
3,15
3,99
Cidra Mão-de-Buda
Kunquat Nagami
Laranja Cipó
Laranja Imperial
Limão Faustrine
Tangerina Venezuela
*Média obtida a partir de três plantas.
30
Todas as médias de altura encontradas concordam com a bibliografia consultada,
mencionada a seguir, com exceção da laranja Imperial que, segundo LORENZI et al.
(2006), atinge de 5,00 a 10,00 m de altura. No entanto, o formato de copa encontrado
corresponde ao descrito por SWINGLE & REECE (1967), mas não foram encontradas
outras citações a respeito do formato de copa para as variedades estudadas. A laranja
Cipó, também uma variedade de laranja doce, não deve ser comparada por essas
medidas, pois produz ramos pendentes. Ainda segundo LORENZI et al. (2006), as
cidras atingem cerca de 2,50 m de altura e as tangerinas de 3,00 a 5,00 m, o que
corresponde aos dados encontrados. Além disso, SAUNT (1990) e SWINGLE &
REECE (1967) encontraram medidas de altura para a variedade kunquat Nagami de
3,00 a 4,00 m, sendo que o valor encontrado neste trabalho foi de 3,60 m.
Não foram encontrados dados sobre a planta para a variedade limão Faustrine.
No entanto, HODGSON (1967) e SWINGLE & REECE (1967) mencionam que as
árvores das espécies utilizadas no cruzamento são de pequeno porte, enquanto
LORENZI et al. (2006) encontraram alturas de 2,00 a 4,00 m para a espécie C.
aurantifolia. Provavelmente a variedade Faustrine herdou essa característica.
Dados sobre o diâmetro das copas não foram encontrados na bibliografia
consultada.
4.1.2 Folhas
Todas as variedades apresentaram folhas do tipo simples e presença de
fragrância. Essas avaliações concordam com as descrições de tipo de folha encontradas
para as variedades de laranja doce Cipó e Imperial (DONADIO et al., 1995; SWINGLE
& REECE, 1967), para a tangerina Venezuela e o kunquat Nagami (SWINGLE &
REECE, 1967). Plantas do gênero Fortunella e C. aurantifolia, utilizadas no
cruzamento que originou o limão Faustrine, também produzem folhas simples
(SWINGLE & REECE, 1967). A presença de fragrância só foi constatada em C.
aurantifolia e em C. sinensis (as laranjas doces) (LORENZI et al., 2006).
Dentre as variedades avaliadas, a cidra Mão-de-Buda e as laranjas doces Cipó e
Imperial se sobressaíram por produzirem as maiores folhas (Figura 4). A tabela 2 mostra
os dados de comprimento, largura e área individual medidos para as folhas das
variedades estudadas. Seus respectivos formatos (Tabela 3) são expressos pelas
medidas. Como a maioria delas apresenta formato elíptico, ou qualquer outro formato
31
que se aproxima do elíptico, a largura será sempre cerca da metade da medida do
comprimento.
Figura 4 - Folhas das variedades cidra Mão-de-Buda (a), kunquat Nagami (b), laranja
Cipó (c), laranja Imperial (d), limão Faustrine (e) e tangerina Venezuela (f)
(Cordeirópolis/SP, 2008).
Tabela 2 - Comprimento, largura e área individual de folhas de variedades cítricas com
potencial ornamental enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008).
Comprimento (cm)*
Largura (cm)*
Área Individual (cm2)*
Cidra Mão-de-Buda
10,12 ± 0,58
5,15 ± 0,28
38,09 ± 3,50
Kunquat Nagami
4,40 ± 0,30
1,95 ± 0,18
5,27 ± 0,58
Laranja Cipó
9,12 ± 0,59
5,46 ± 0,36
33,02 ± 3,30
Laranja Imperial
9,34 ± 0,71
5,13 ± 0,41
31,94 ± 3,19
Limão Faustrine
3,00 ± 0,32
1,45 ± 0,12
2,91 ± 0,33
Tangerina Venezuela
3,74 ± 0,24
1,97 ± 0,20
4,71 ± 0,53
Variedade
*Média ± desvio padrão.
As medidas encontradas para tamanho de folha correspondem aos valores
descritos na bibliografia consultada, mencionada a seguir, embora algumas vezes sejam
citados valores bem abrangentes. Segundo LORENZI et al. (2006), folhas da variedade
cidra Mão-de-Buda medem de 7,00 a 17,00 cm de comprimento, enquanto as das
variedades de laranja doce Cipó e Imperial têm de 7,00 a 15,00 cm. Aliás, as medidas
encontradas para essas duas variedades de laranja doce são muito próximas entre si,
32
além de corresponder à média do comprimento de folha (9,93 cm) encontrada por
DONADIO et al. (1995) para uma outra variedade de laranja doce, a Pêra. Folhas do
kunquat Nagami, segundo SWINGLE & REECE (1967), medem de 3,00 a 9,00 cm de
comprimento, enquanto para LORENZI et al. (2006), as da tangerina Venezuela medem
de 3,00 a 7,00 cm. Percebe-se portanto, que os valores encontrados correspondem aos
valores da bibliografia, embora aqueles estejam sempre incluídos na metade mais baixa
do intervalo descrito. Folhas do limão Faustrine são, provavelmente, uma média do
tamanho das folhas das três espécies utilizadas em seu cruzamento, pois as de M.
australasica medem de 2,20 a 2,50 cm de comprimento, e as de C. aurantifolia, de 5,00
a 7,50 cm (SWINGLE & REECE, 1967).
Medidas de largura só foram encontradas para M. australasica e para a
variedade de laranja doce Pêra. Para a primeira, a largura varia de 1,40 a 1,50 cm
(SWINGLE & REECE, 1967), o que corresponde à média da largura encontrada para o
limão Faustrine e, para a segunda, a média encontrada por DONADIO et al. (1995) foi
de 5,43 cm, mais uma vez corroborando com as medidas encontradas para as duas
variedades de laranja doce avaliadas, Cipó e Imperial.
Quanto à área individual da folha, só foram encontrados dados para algumas
variedades de laranja doce. Para a laranja Valência por exemplo, folhas que medem de
9,00 a 10,50 cm de comprimento, devem apresentar uma média de área individual de
31,80 cm2 em folhas produzidas por árvores de 29 anos (TURRELL, 1961 citado por
ERICKSON, 1968), o que corresponde aos dados encontrados. Já DONADIO et al.
(1995) encontraram uma média de área individual de 39,25 cm2 para a laranja Pêra, um
pouco acima do valor apresentado neste trabalho. Como as plantas estudadas por esses
autores estavam plantadas no município de Bebedouro/SP, essa diferença pode ter sido
ocasionada tanto pelas condições edafoclimáticas específicas da região, como pela
diferença de idade das plantas.
33
Tabela 3 - Formato de folhas de variedades cítricas com potencial ornamental
enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008).
Variedade
Cidra Mão-de-Buda
Kunquat Nagami
Laranja Cipó
Laranja Imperial
Limão Faustrine
Tanger. Venezuela
Elíptico1 (%)
Oval2 (%)
Obovado3 (%)
Ovado4 (%)
53,3
90,0
90,0
90,0
76,7
83,3
46,7
----------------
---10,0
---10,0
23,3
----
------10,0
------16,7
1
Em forma de elipse (HICKEY & KING, 2004).
Em formato elíptico, mas com uma largura maior (HICKEY & KING, 2004).
3
Em formato de ovo, mas mais largo na porção apical (HICKEY & KING, 2004).
4
Em formato de ovo, mais largo na porção basal (HICKEY & KING, 2004).
2
Descrições sobre os formatos das folhas só foram encontradas para as variedades
cidra Mão-de-Buda (HODGSON, 1967; SAUNT, 1990; SWINGLE & REECE, 1967) e
laranja Cipó (DONADIO et al., 1995), e para a espécie C. aurantifolia (SWINGLE &
REECE, 1967), e concordam com os dados apresentados. Apesar disso, QUEIROZVOLTAN & BLUMER (2005) mencionam que os citros em geral produzem folhas de
formato elíptico. Avaliações feitas nas lâminas foliares da cidra Mão-de-Buda porém,
demonstraram que apenas 53,3% das folhas apresentaram formato elíptico, e que o
restante (46,7%) tem formato oval. Esses formatos são semelhantes entre si, sendo que o
formato oval apresenta uma largura maior do que o elíptico (Figura 5).
Fonte: HICKEY & KING, 2004.
Figura 5 - Formatos encontrados nas folhas das variedades estudadas: elíptico (a), oval
(b), obovado (c) e ovado (d).
34
As folhas são, em sua maioria, brevipecioladas (Tabela 4), com exceção da cidra
Mão-de-Buda e do limão Faustrine que apresentam, respectivamente, 80,0% e 53,3% de
ausência de pecíolo, discordando de LORENZI et al. (2006). Esses autores descreveram
as folhas da cidra Mão-de-Buda como sendo brevipecioladas. Já para o limão Faustrine,
o gênero Fortunella e a espécie C. aurantifolia também produzem folhas
brevipecioladas (SWINGLE & REECE, 1967), porém não foram encontradas
descrições para M. australasica, espécie que pode ter influenciado nessa característica.
Folhas dos kunquats, das laranjas doces e das tangerinas também foram descritas como
sendo brevipecioladas por KOEHLER-SANTOS et al. (2003) e SWINGLE & REECE
(1967).
Tabela 4 - Tipo de pecíolo de folhas de variedades cítricas com potencial ornamental
enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008).
Variedade
Cidra Mão-de-Buda
Kunquat Nagami
Laranja Cipó
Laranja Imperial
Limão Faustrine
Tangerina Venezuela
Brevipeciolada (%)*
Ausência de Pecíolo (%)
20,0
70,0
100,0
100,0
46,7
96,7
80,0
30,0
0,0
0,0
53,3
3,3
*Pecíolo menor que a lâmina foliar.
Com relação ao tipo de margem, o que predomina é a crenulada (Tabela 5), ao
contrário do que descreve QUEIROZ-VOLTAN & BLUMER (2005). Esses autores
citam que a maioria dos citros produz folhas com margem lisa. A exceção, dentre as
variedades avaliadas, é a cidra Mão-de-Buda, que apresenta maior porcentagem de
folhas com margem serrilhada, confirmando o que foi encontrado por HODGSON
(1967), SAUNT (1990) e SWINGLE & REECE (1967). Não foram encontradas
descrições das margens de folhas para as outras variedades.
35
Tabela 5 - Tipo de margem de folhas de variedades cítricas com potencial ornamental
enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008).
Crenulada1
(%)
Serrilhada2
(%)
Ser. + Cren.3
(%)
Cren. + Ser.4
(%)
Lisa + Cren.5
(%)
Cidra Mão-de-Buda
3,3
76,7
13,3
6,7
----
Kunquat Nagami
73,3
----
----
----
26,7
Laranja Cipó
100,0
----
----
----
----
Laranja Imperial
63,3
----
----
----
36,7
Limão Faustrine
70,0
----
----
----
30,0
Tangerina Venezuela
100,0
----
----
----
----
Variedade
1
Com “dentes” pequenos e arredondados (HICKEY & KING, 2004).
Com “dentes” pequenos em forma de serra (HICKEY & KING, 2004).
3
Margem serrilhada na metade basal passando à crenulada na metade apical.
4
Margem crenulada na metade basal passando à serrilhada na metade apical.
5
Margem lisa na metade basal passando à crenulada na metade apical.
2
Quanto à coloração, todas as variedades estudadas apresentaram valores muito
próximos entre si (Tabela 6). Esses valores, segundo MINOLTA (1998), representam a
coloração verde-escura para folhas adultas. Dados de coloração só foram encontrados
para as variedades laranja Cipó (DONADIO et al., 1995) e kunquat Nagami (SAUNT,
1990), e concordam com a coloração verde-escura. Somente as variedades cidra Mãode-Buda e limão Faustrine produzem folhas jovens de coloração roxa, sendo que o
restante produz folhas jovens verdes. A variedade laranja Imperial é a única, dentre as
estudadas, que apresentou variegação em suas folhas, conforme também encontrado por
LORENZI et al. (2006) (Figura 6). A presença de variegação é uma característica muito
atrativa para a utilização dessa variedade no paisagismo.
36
Tabela 6 - Coloração de folhas adultas de variedades cítricas com potencial ornamental
enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008).
Variedade
Cidra Mão-de-Buda
Kunquat Nagami
Laranja Cipó
Laranja Imperial
Limão Faustrine
Tangerina Venezuela
L* * 1
a* * 2
b* * 3
37,29 ± 2,30
36,36 ± 1,75
36,16 ± 2,48
38,51 ± 2,08
40,51 ± 2,39
37,41 ± 2,49
-15,07 ± 1,40
-11,02 ± 1,60
-14,18 ± 1,63
-12,12 ± 1,61
-15,46 ± 1,86
-13,72 ± 1,52
21,08 ± 3,09
16,15 ± 2,42
16,15 ± 3,45
16,68 ± 2,71
22,60 ± 3,66
18,91 ± 3,27
*Média ± desvio padrão.
1
L* representa valores para luminosidade (MINOLTA, 1998).
2
a* representa valores para a coloração verde (-) em direção à vermelha (+) (MINOLTA, 1998).
3
b* representa valores para a coloração azul (-) em direção à amarela (+) (MINOLTA, 1998).
Figura 6 - Variegação nas folhas da variedade laranja Imperial (Cordeirópolis/SP,
2008).
4.1.3 Flores
Todas as variedades estudadas produzem flores brancas com presença de
fragrância, conforme também descreveram LORENZI et al. (2006) para a cidra Mão-deBuda, a tangerina Venezuela, as laranjas doces Cipó e Imperial e para a espécie C.
aurantifolia. Não foram encontradas descrições de presença de fragrância para o gênero
Fortunella (os kunquats). Flores das variedades kunquat Nagami, laranja Imperial e
limão Faustrine são produzidas isoladamente, enquanto as da cidra Mão-de-Buda,
laranja Cipó e tangerina Venezuela são produzidas em inflorescências (Figura 7).
37
Figura 7 - Flores que nascem isoladamente das variedades kunquat Nagami (a), laranja
Imperial (b) e limão Faustrine (c), e inflorescências da cidra Mão-de-Buda (d), laranja
Cipó (e) e tangerina Venezuela (f) (Cordeirópolis/SP, 2008).
Dados encontrados sobre o modo como as flores são produzidas variam.
LORENZI et al. (2006) e SWINGLE & REECE (1967) por exemplo, mencionam que
as flores das tangerinas, das laranjas doces e dos kunquats são produzidas tanto
isoladamente quanto em inflorescências. A cidra Mão-de-Buda e a espécie C.
aurantifolia produzem somente inflorescências, enquanto flores da espécie M.
australasica nascem isoladamente (SWINGLE & REECE, 1967).
Flores da cidra Mão-de-Buda e das variedades de laranja doce Cipó e Imperial
se sobressaíram por apresentarem o maior tamanho, sendo que a cidra Mão-de-Buda
produz as maiores flores dentre todas as variedades avaliadas (Tabela 7 e Figura 8). As
que apresentaram o menor tamanho de flor foram o kunquat Nagami e a tangerina
Venezuela. Porém, no caso da tangerina Venezuela, esse tamanho reduzido é
compensado pela grande produção de flores por planta, observado visualmente no
campo (Figura 9). O kunquat Nagami apresentou o maior número de pétalas por flor,
sendo também a variedade que mostrou o maior valor de desvio padrão para essa
variável. No entanto, por apresentar flores de tamanho pequeno, essa variação no
número de pétalas não é significativa para fins ornamentais, pois também não é muito
distinguível visualmente.
38
Tabela 7 - Diâmetro e comprimento, largura e número de pétalas de flores de
variedades cítricas com potencial ornamental enxertadas em tangerina Cleópatra
(Cordeirópolis/SP, 2008).
Variedade
Compr.
Pétalas (cm)*
2,39 ± 0,18
Larg. Pétalas
(cm)*
0,74 ± 0,10
Núm. Pétalas*
Cidra Mão-de-Buda
Diâmetro
Flor (cm)*
4,66 ± 0,30
Kunquat Nagami
1,98 ± 0,11
0,90 ± 0,07
0,37 ± 0,03
6,13 ± 1,14
Laranja Cipó
3,99 ± 0,32
1,92 ± 0,17
0,76 ± 0,06
4,93 ± 0,25
Laranja Imperial
3,95 ± 0,12
2,01 ± 0,08
0,71 ± 0,06
5,00 ± 0,00
Limão Faustrine
2,84 ± 0,38
1,46 ± 0,18
0,66 ± 0,07
3,33 ± 0,48
Tangerina Venezuela
2,16 ± 0,08
1,00 ± 0,04
0,40 ± 0,02
5,00 ± 0,00
5,27 ± 0,78
*Média ± desvio padrão.
Quanto ao número de pétalas, LORENZI et al. (2006) e SWINGLE & REECE
(1967) mencionam que tanto a cidra Mão-de-Buda como as laranjas doces produzem
flores com cinco. No entanto, esse número variou nas avaliações feitas. As únicas
variedades que não apresentaram variação foram a laranja Imperial, concordando com
LORENZI et al. (2006) e SWINGLE & REECE (1967), e a tangerina Venezuela. Não
foram encontrados dados específicos para o kunquat Nagami, mas SWINGLE &
REECE (1967) descreveram as flores do gênero Fortunella com cinco pétalas, que
raramente variam de quatro a seis. No campo, foram encontradas flores de quatro a até
10 pétalas. LORENZI et al. (2006) mencionam ainda que flores de C. aurantifolia
podem ter de quatro a oito pétalas, o que pode explicar a variação no número de pétalas
de flores do limão Faustrine, mesmo sendo o número mais baixo dentre as variedades
avaliadas e também apresentar um valor baixo para o desvio padrão. O número de
pétalas produzidas em flores de M. australasica é desconhecido.
Só foram encontrados dados de tamanho de pétalas para as espécies utilizadas no
cruzamento que originou o limão Faustrine. Segundo SWINGLE & REECE (1967), C.
aurantifolia produz flores com pétalas que variam de 0,80 a 1,20 cm de comprimento e
de 0,24 a 0,40 cm de largura. As pétalas das flores do gênero Fortunella variam de 0,80
a 1,20 cm de comprimento, enquanto as de M. australasica são bem menores, variando
de 0,70 a 0,80 cm de comprimento. Considerando os valores encontrados, o limão
Faustrine deve ter herdado os maiores tamanhos para suas pétalas, tanto os de
comprimento como os de largura.
39
Figura 8 - Flores das variedades cidra Mão-de-Buda (a), kunquat Nagami (b), laranja
Cipó (c), laranja Imperial (d), limão Faustrine (e) e tangerina Venezuela (f)
(Cordeirópolis/SP, 2008).
Figura 9 - Botões florais e flores da variedade tangerina Venezuela (Cordeirópolis/SP,
2008).
4.1.4 Frutos
Todas as variedades avaliadas produzem frutos tanto no interior como ao redor
da copa. No entanto, a maior produção do kunquat Nagami, da laranja Imperial e da
tangerina Venezuela se localiza ao redor da copa, enquanto da cidra Mão-de-Buda se
localiza no interior. Frutos da laranja Cipó e do limão Faustrine são distribuídos
igualmente no interior e ao redor da copa. Porém, no caso da laranja Cipó,
provavelmente a maior produção se dá ao redor da copa, mas como seus ramos são
pendentes, os frutos “caem” em direção ao seu interior, como se a planta estivesse
crescendo sobre pérgulas (Figura 2b).
40
Todos os frutos apresentaram presença de fragrância e variaram muito quanto a
seus formatos entre as variedades. Descrições de presença de fragrância só foram
encontradas para as cidras (HODGSON, 1967; SAUNT, 1990; SWINGLE & REECE,
1967), os kunquats (SWINGLE & REECE, 1967) e a tangerina Venezuela (PIO et al.,
2005). No caso da variedade Venezuela, a fragrância produzida se assemelha àquela
produzida por eucaliptos, como observado subjetivamente no campo e confirmado pela
bibliografia consultada (PIO et al., 2005). A porcentagem de freqüência dos formatos é
mostrada na tabela 8 e podem ser vistos na figura 10.
Tabela 8 - Formato de frutos de variedades cítricas com potencial ornamental
enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008).
Alongado (%)
Elipsóide (%)1
Esferóide (%)2
Oblato (%)3
100,0
----
----
----
Kunquat Nagami
----
86,7
13,3
----
Laranja Cipó
----
6,7
93,3
----
Laranja Imperial
----
3,3
96,7
----
Limão Faustrine
100,0
----
----
----
----
----
10,0
90,0
Variedade
Cidra Mão-de-Buda
Tangerina Venezuela
1
Contorno elíptico, mas em um corpo tri-dimensional (HICKEY & KING, 2004).
Contorno esférico, mas em um corpo tri-dimensional.
3
Formato arredondado, porém a largura é maior que a altura.
2
41
Figura 10 - Frutos das variedades cidra Mão-de-Buda (a), kunquat Nagami (b), laranja
Cipó (c), laranja Imperial (d), limão Faustrine (e) e tangerina Venezuela (f)
(Cordeirópolis/SP, 2008).
A maioria dos frutos das laranjas doces Cipó e Imperial apresentaram formato
esferóide, como também DONADIO et al. (1995) encontraram para a variedade Cipó.
De fato, SWINGLE & REECE (1967) constataram que frutos da espécie C. sinensis
apresentam formato esferóide ou elipsóide. Frutos do kunquat Nagami são,
predominantemente, elipsóides, confirmado também por SAUNT (1990) e SWINGLE
& REECE (1967). Os da tangerina Venezuela são de forma oblata, como também
encontrado por ARAUJO & SALIBE (2002), KOEHLER-SANTOS et al. (2003), PIO
42
(1997), RADMANN & OLIVEIRA (2003) e SWINGLE & REECE (1967) para
tangerinas em geral. A totalidade dos frutos da cidra Mão-de-Buda e do limão Faustrine
são de formato alongado. Os da cidra Mão-de-Buda porém, apresentaram formatos
muito variados, concordando com HODGSON (1967) e SAUNT (1990). Além disso, a
existência de sulcos acentuados em sua superfície, conforme também citado por
SWINGLE & REECE (1967), faz com que esse formato seja dificilmente padronizado
(Figura 11). Com relação ao híbrido limão Faustrine, o formato alongado é
provavelmente proveniente de M. australasica, pois somente essa espécie, dentre as
utilizadas no seu cruzamento, produz frutos de formato alongado e cilíndrico
(SWINGLE & REECE, 1967). Frutos de Fortunella e de C. aurantifolia são elipsóides
(HODGSON, 1967; SWINGLE & REECE, 1967).
Figura 11 - Frutos da variedade cidra Mão-de-Buda (Cordeirópolis/SP, 2008).
Igualmente à diversidade de formato de frutos, medidas de dimensão e massa
também variaram muito entre as variedades estudadas (Tabela 9 e Figura 13). No
entanto, as medidas de altura e diâmetro expressam as formas encontradas, como
acontece com as folhas. Para a cidra Mão-de-Buda e o limão Faustrine que
apresentaram formato alongado, as medidas de diâmetro são cerca da metade do valor
encontrado para a altura. As medidas de altura e de diâmetro do formato esférico das
laranjas doces Cipó e Imperial são similares, expressando exatamente o formato
esférico, que deve apresentar, a partir de um eixo central, a mesma distância em todas as
direções. Essa semelhança entre suas medidas demonstra que ambas as variedades são
provenientes da mesma espécie, C. sinensis. Quanto à tangerina Venezuela, as medidas
43
de diâmetro são maiores do que as medidas de altura, o que corresponde a sua forma
oblata.
Quanto ao kunquat Nagami, apesar de apresentar o formato elipsóide, sua
relação entre altura e diâmetro é similar à das duas laranjas doces, o que demonstra que
seus frutos são também levemente esferóides. No entanto, segundo KLEIN et al. (1985),
SAUNT (1990) e SWINGLE & REECE (1967), os frutos da variedade Meiwa são mais
largos que os de Nagami. E além disso, os dados de tamanho descritos para a variedade
Meiwa correspondem aos mostrados para a Nagami (Tabela 9). Segundo SAUNT
(1990), frutos do kunquat Nagami medem de 2,00 a 3,00 cm de altura e de 0,70 a 2,00
cm de diâmetro, demonstrando o formato elipsóide, também descrito por WALHEIM
(1996). SWINGLE & REECE (1967) mencionam ainda que frutos do kunquat Meiwa
medem de 2,50 a 3,50 cm de altura e de 2,50 a 2,80 cm de diâmetro. Valores de
diâmetro encontrados nas avaliações para o kunquat Nagami até mesmo ultrapassaram o
valor encontrado na bibliografia, confirmando o que já foi mencionado anteriormente
que, apesar de os frutos apresentarem formato elipsóide, a relação altura/diâmetro
mostra que são também levemente esferóides. Além disso, SWINGLE & REECE
(1967) também mencionam que frutos do kunquat Meiwa apresentam formatos que vão
do elipsóide ao esferóide (Figura 12).
Dados encontrados na bibliografia descrevem ainda que essas variedades, além
de serem distinguíveis pelo formato, também o são pelo sabor. Apesar de a avaliação do
sabor não estar prevista neste estudo, avaliou-se subjetivamente essa variável somente
para essas duas variedades. Segundo SAUNT (1990), SWINGLE & REECE (1967) e
WALHEIM (1996), frutos do kunquat Nagami apresentam um sabor ácido, enquanto
SAUNT (1990) menciona ainda que a variedade Meiwa produz os frutos mais doces
dentre os kunquats. De fato, os frutos avaliados do kunquat Nagami apresentaram sabor
mais adocicado do que os do Meiwa.
Assim sendo, baseado na bibliografia disponível e nas características observadas
neste trabalho, recomenda-se uma melhor averiguação sobre uma possível troca de
etiquetas dos acessos dos kunquats Meiwa e Nagami no Banco Ativo de Germoplasma
do Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC.
44
Fonte (a): WALHEIM, 1996.
Figura 12 - Frutos das variedades Meiwa (a1) e Nagami (a2) descritos na bibliografia,
e do kunquat Meiwa (b) e kunquat Nagami (c) cultivados no Banco Ativo de
Germoplasma do Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC (Cordeirópolis/SP, 2008).
As variedades kunquat Nagami e tangerina Venezuela, considerada uma
microtangerina, se destacaram por apresentarem os menores tamanhos de fruto. De fato,
KOEHLER-SANTOS et al. (2003) consideraram frutos de tamanho pequeno para
variedades de tangerinas quando estes mediram de 2,00 a 3,50 cm de altura e de 3,00 a
4,50 cm de diâmetro, dentre 37 variedades. O tamanho pequeno dos frutos pode ser uma
característica interessante para o cultivo dessas plantas em vaso.
45
Tabela 9 - Altura, diâmetro e massa de frutos de variedades cítricas com potencial
ornamental enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008).
Variedade
Altura (cm)*
Diâmetro (cm)*
Massa (g)*
Cidra Mão-de-Buda
Kunquat Nagami
Laranja Cipó
Laranja Imperial
Limão Faustrine
Tangerina Venezuela
13,28 ± 2,51
3,33 ± 0,24
7,63 ± 0,38
7,53 ± 0,41
7,61 ± 0,53
3,32 ± 0,23
6,31 ± 0,76
3,14 ± 0,21
7,35 ± 0,29
7,19 ± 0,36
3,29 ± 0,19
3,86 ± 0,27
265,39 ± 100,15
18,68 ± 3,51
198,78 ± 19,92
197,67 ± 25,50
43,90 ± 5,53
25,24 ± 4,16
*Média ± desvio padrão.
Figura 13 - Frutos das variedades cidra Mão-de-Buda (a), kunquat Nagami (b), laranja
Cipó (c), laranja Imperial (d), limão Faustrine (e) e tangerina Venezuela (f)
(Cordeirópolis/SP, 2008).
Dentre as laranjas doces, somente foram encontrados dados de tamanho para a
laranja Cipó, e são menores do que os encontrados nas avaliações feitas neste trabalho.
Segundo DONADIO et al. (1995), frutos medem uma média de 6,80 cm de altura e 6,90
cm de diâmetro. Já para o limão Faustrine, a média da altura encontrada nas avaliações
concordam com os dados encontrados para M. australasica (de 6,50 a 10,00 cm)
(SWINGLE & REECE, 1967). No entanto, segundo os dados resultantes, frutos do
limão Faustrine são mais largos que os dessa espécie, pois SWINGLE & REECE (1967)
encontraram valores de diâmetro que variaram de 1,50 a 2,50 cm. A largura do limão
Faustrine pode então ter sido influenciada pelas outras espécies utilizadas no seu
cruzamento, pois seus frutos apresentam formato elipsóide. Não foram encontrados
46
valores específicos para a tangerina Venezuela, mas os dados resultantes concordam
com aqueles encontrados por ARAUJO & SALIBE (2002) para outras microtangerinas.
A massa dos frutos das variedades estudadas também variou muito, a exemplo
dos formatos e dos tamanhos. A cidra Mão-de-Buda, além de apresentar frutos com a
maior massa, também foi a variedade que teve o maior valor de desvio padrão, muito
superior aos outros. Mais uma vez, esses valores confirmam o fato de que seus frutos
são dificilmente padronizáveis (Figura 14). Como o kunquat Nagami e a tangerina
Venezuela produzem frutos com as menores dimensões, os valores de massa também
foram os menores. As laranjas doces Cipó e Imperial apresentaram valores de massa
muito próximos, correspondentes ao valor encontrado para uma outra variedade de
laranja doce, a Pêra (LARANJA, s.d.). No entanto, existem valores encontrados na
bibliografia para uma mesma variedade que são discordantes. Enquanto LARANJA
(s.d.) menciona uma média de 190 g por fruto para a laranja Pêra, POZZAN &
TRIBONI (2005) mencionam um valor que varia de 146 a 156 g. E ainda, DONADIO
et al. (1995) descreveram um peso médio de 146 g para frutos da laranja Cipó, muito
inferior ao encontrado nas avaliações deste trabalho. Essas diferenças de tamanho
portanto, podem variar segundo as condições edafoclimáticas de cada local de
avaliação, conforme DOMINGUES et al. (1999) relatam. Não foram encontrados dados
de massa para as espécies utilizadas no cruzamento que originou o limão Faustrine.
Figura 14 - Tamanhos e formatos diferentes de frutos maduros da variedade cidra Mãode-Buda (Cordeirópolis/SP, 2008).
47
Os frutos das variedades estudadas também apresentaram suas cascas com
características diferentes entre si. A totalidade dos frutos avaliados de cada variedade
apresentou as características conforme descritas na tabela 10.
Tabela 10 - Características de casca de frutos de variedades cítricas com potencial
ornamental enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008).
Lisa
Áspera
Papilas1
Irregular
Esburacada
----
√
√
√
----
Sulcos
acentuados
√
√
----
----
----
----
----
Laranja Cipó
----
√
√
----
----
----
Laranja Imperial
----
√
----
√
----
----
Limão Faustrine
√
----
----
----
----
----
Tangerina Venezuela
√
----
√
√
√
----
Variedade
Cidra Mão-de-Buda
Kunquat Nagami
1
“Buracos” na casca em forma de cone invertido, em direção ao interior do fruto (HICKEY & KING,
2004).
Segundo HODGSON (1967), SAUNT (1990) e SWINGLE & REECE (1967),
frutos da variedade cidra Mão-de-Buda apresentam superfície irregular e com sulcos
acentuados, concordando com os dados encontrados nestas avaliações. No entanto,
esses mesmos autores mencionam que a superfície pode ser lisa ou áspera, enquanto só
foram encontrados frutos com a superfície áspera. A superfície lisa encontrada para os
frutos do kunquat Nagami e do limão Faustrine concorda com SAUNT (1990) para a
variedade Nagami e com HODGSON (1967) e SAUNT (1990) para duas espécies
utilizadas no cruzamento que originou o limão Faustrine, C. aurantifolia e Fortunella,
respectivamente. Não foram encontrados dados para M. australasica. Embora a
superfície dos frutos da variedade de laranja doce Pêra seja lisa (HODGSON, 1967;
POZZAN & TRIBONI, 2005; SAUNT, 1990), frutos das laranjas Cipó e Imperial
apresentaram superfície áspera, concordando com DONADIO et al. (1995) com relação
à laranja Cipó. Apesar de dados de superfície de frutos não terem sido encontrados para
a laranja Imperial, os frutos dessas duas variedades só apresentaram características
diferentes por causa da variegação presente na laranja Imperial, pois a região de
variegação é proeminente quando comparada ao restante da casca (Figura 15).
LORENZI et al. (2006) também mencionaram a presença de variegação nos frutos dessa
48
variedade. Com relação à tangerina Venezuela, KOEHLER-SANTOS et al. (2003)
descreveram uma superfície lisa para frutos de diversas tangerinas, mas não
mencionaram nenhuma outra característica semelhante ao encontrado para a variedade
Venezuela.
Figura 15 - Frutos da variedade laranja Imperial mostrando a região de variegação,
mais escura e proeminente na casca (Cordeirópolis/SP, 2008).
As glândulas de óleo presentes nas cascas dos frutos de kunquat Nagami e das
laranjas doces Cipó e Imperial são acentuadas (Figura 16) e facilmente visíveis.
DONADIO et al. (1995) também mencionaram a presença de glândulas de óleo
acentuadas na casca da laranja Cipó. Já na cidra Mão-de-Buda, no limão Faustrine e na
tangerina Venezuela, elas são discretas. Não foram encontrados dados sobre a natureza
das glândulas de óleo para as outras variedades avaliadas.
49
Figura 16 - Glândulas de óleo acentuadas na casca dos frutos da variedade laranja
Imperial (Cordeirópolis/SP, 2008).
Os valores de coloração encontrados foram novamente diferentes entre as
variedades (Tabela 11).
Tabela 11 - Coloração de frutos maduros de variedades cítricas com potencial
ornamental enxertadas em tangerina Cleópatra (Cordeirópolis/SP, 2008).
Variedade
Cidra Mão-de-Buda
Kunquat Nagami
Laranja Cipó
Laranja Imperial
Limão Faustrine
Tangerina Venezuela
L* * 1
a* * 2
b* * 3
61,91 ± 2,99
62,86 ± 1,90
69,62 ± 1,91
75,83 ± 2,07
46,94 ± 1,89
68,93 ± 2,35
1,72 ± 2,57
18,53 ± 3,25
12,94 ± 2,25
0,34 ± 2,16
-17,53 ± 0,65
5,95 ± 2,39
42,47 ± 7,37
60,38 ± 2,84
70,73 ± 1,89
66,34 ± 2,96
30,89 ± 2,21
63,45 ± 3,09
*Média ± desvio padrão.
1
L* representa valores para luminosidade (MINOLTA, 1998).
2
a* representa valores para a coloração verde (-) em direção à vermelha (+) (MINOLTA, 1998).
3
b* representa valores para a coloração azul (-) em direção à amarela (+) (MINOLTA, 1998).
Os valores de L* são próximos entre si, com exceção para a variedade limão
Faustrine, que apresentou uma coloração mais escura. Os outros valores representam
cores mais claras e vivas. Os valores de a* e b* para as variedades cidra Mão-de-Buda,
50
laranja Imperial e tangerina Venezuela correspondem à coloração amarela, conforme
também descrito por HODGSON (1967), SAUNT (1990) e SWINGLE & REECE
(1967) para as cidras em geral. Não foram encontrados dados específicos para a
tangerina Venezuela, mas SWINGLE & REECE (1967) descrevem as tangerinas com
uma coloração que varia da laranja à laranja-avermelhada. Já as variedades kunquat
Nagami e laranja Cipó, por terem um valor um pouco mais alto de vermelho,
apresentaram a coloração laranja clara, concordando com SWINGLE & REECE (1967)
para o kunquat Nagami e com DONADIO et al. (1995) para a laranja Cipó. Valores
para o limão Faustrine demonstram a coloração verde, o que corresponde à coloração
encontrada para C. aurantifolia (SAUNT, 1990; SWINGLE & REECE, 1967) e para M.
australasica (SWINGLE & REECE, 1967). Esses frutos apresentam a coloração verdeamarelada quando entram na fase de senescência (SAUNT, 1990; SWINGLE &
REECE, 1967). Frutos das espécies de Fortunella apresentam uma coloração que varia
da amarelo-ouro à laranja-avermelhada (HODGSON, 1967; SWINGLE & REECE,
1967), mas essa característica não foi herdada pela variedade limão Faustrine.
4.2 Enxertia
Dentre os dois porta-enxertos avaliados, o trifoliata Limeira apresentou maior
porcentagem geral de pegamento de borbulha, que foi de 88,3%. No entanto, a
porcentagem apresentada pelo limão Cravo, 78,3%, ainda é considerada alta quando
observada isoladamente.
Sabe-se que o trifoliata apresenta incompatibilidade com algumas variedades,
como a laranja doce Pêra e o tangor Murcott (POMPEU JÚNIOR, 2001; POMPEU
JÚNIOR, 2005). No entanto, STUCHI (2003) afirma que espécies incompatíveis entre
si resultam, muitas vezes, em uma baixa taxa de pegamento de borbulha, o que não
aconteceu neste experimento. Como já mencionado, o trifoliata Limeira apresentou
resultados gerais de pegamento de borbulha mais altos que os encontrados para o limão
Cravo, não evidenciando portanto, problemas de incompatibilidade com as variedades
copa testadas.
Os resultados específicos para as laranjas doces para o porta-enxerto trifoliata
Limeira também foram altos (91,7% para a variedade Cipó e 83,3% para a Imperial)
(Tabela 12). Não se constatou problema de pegamento para a laranja Cipó enxertada
sobre ambos porta-enxertos, entretanto, a laranja Imperial apresentou baixa taxa quando
enxertada no limão Cravo (66,7%). Neste caso, futuros experimentos, de duração mais
51
longa, são necessários para a confirmação da presença ou da ausência de
incompatibilidade entre os porta-enxertos e as variedades de laranja doce avaliadas.
Tabela 12 - Pegamento de borbulha para variedades cítricas com potencial ornamental
enxertadas em limão Cravo e trifoliata Limeira (Cordeirópolis/SP, 2008).
Variedade/porta-enxerto
Cidra Mão-de-Buda/limão Cravo
Kunquat Nagami/limão Cravo
Laranja Cipó/limão Cravo
Laranja Imperial/limão Cravo
Tangerina Venezuela/limão Cravo
Cidra Mão-de-Buda/trifoliata Limeira
Kunquat Nagami/trifoliata Limeira
Laranja Cipó/trifoliata Limeira
Laranja Imperial/trifoliata Limeira
Tangerina Venezuela/trifoliata Limeira
% Pegamento
91,7
50,0
91,7
66,7
91,7
100,0
66,7
91,7
83,3
100,0
A variedade kunquat Nagami foi a que apresentou as menores taxas de
pegamento para os dois porta-enxertos, sendo 50,0% para o limão Cravo e 66,7% para o
trifoliata Limeira. Já as variedades cidra Mão-de-Buda e tangerina Venezuela
mostraram as mais altas taxas, e apresentaram resultados iguais para ambos portaenxertos (91,7% para o limão Cravo e 100,0% para o trifoliata Limeira).
A tabela 13 apresenta os resultados gerais de porcentagem de pegamento de
borbulha para cada variedade. As taxas encontradas para a cidra Mão-de-Buda e a
tangerina Venezuela foram as mais altas dentre todas as variedades estudadas, seguidas
pela laranja Cipó. A variedade laranja Imperial apresentou um valor mediano porque
também apresentou uma porcentagem mais baixa quando enxertada sobre o limão
Cravo. No entanto, a taxa geral para essa variedade ainda é considerada alta quando
avaliada isoladamente. O kunquat Nagami foi a que apresentou a taxa mais baixa dentre
todas as variedades avaliadas.
52
Tabela 13 - Pegamento total de borbulha para variedades cítricas com potencial
ornamental enxertadas em limão Cravo e trifoliata Limeira (Cordeirópolis/SP, 2008).
Variedade
% Pegamento
Cidra Mão-de-Buda
Kunquat Nagami
Laranja Cipó
Laranja Imperial
95,8
58,3
91,7
75,0
Tangerina Venezuela
95,8
As porcentagens de pegamento de borbulha não apresentaram diferença
estatística significativa entre as combinações variedade/porta-enxerto, nem entre os
resultados gerais dos porta-enxertos ou das variedades, segundo o teste de qui-quadrado
(χ2) descrito por PIMENTEL-GOMES (2000). Valores do χ2 calculado e limites do χ2
tabelado a 1% e 5% de significância são mostrados na tabela 14.
Tabela 14 - Valores do χ2 calculado e limites do χ2 tabelado para análise da existência
de diferença estatística entre as porcentagens de pegamento de borbulha para variedades
cítricas com potencial ornamental enxertadas em limão Cravo e trifoliata Limeira
(Cordeirópolis/SP, 2008).
Conjunto de dados
Variedades/porta-enxertos
Porta-enxertos
Variedades cítricas
χ2 calculado1
3,60
0,36
3,10
G.L.2
9
1
4
χ2 tabelado3
5%
1%
16,92
3,84
9,49
21,67
6,64
13,28
1
O valor do χ2 calculado deve ser maior que o valor do χ2 tabelado para expressar diferença estatística
significativa.
2
Graus de liberdade.
3
Níveis de significância (PIMENTEL-GOMES, 2000).
Sabe-se que o limão Cravo confere um alto vigor à copa (POMPEU JÚNIOR,
2005) e, de fato, quando os dados de todas as variáveis medidas foram analisados, esse
porta-enxerto se sobressaiu por apresentar resultados mais altos, expressando um maior
crescimento nos enxertos (Tabela 15). Houve interação significativa porta-enxerto x
53
variedade copa para todas as variáveis medidas. Isso significa que os resultados obtidos
são específicos para cada variedade, ou seja, o comportamento do porta-enxerto, no
caso deste experimento, depende da variedade.
Sabe-se também que o trifoliata exerce um efeito ananicante sobre suas copas,
resultando em plantas menores que aquelas enxertadas sobre outro porta-enxerto,
requerendo ainda um maior tempo de formação de mudas (POMPEU JÚNIOR, 2005).
Isso explicaria a diferença de crescimento inicial de brotação entre o trifoliata Limeira e
o limão Cravo.
Comparando-se apenas as variedades, a tangerina Venezuela apresentou os
maiores resultados para todas as variáveis medidas, seguida das laranjas doces Cipó e
Imperial (Tabela 15). A variedade Cipó porém, se sobressaiu à Imperial por ter
apresentado diferença estatística positiva na variável massa seca do broto. Os resultados
gerais mais baixos foram apresentados pelas variedades cidra Mão-de-Buda e kunquat
Nagami, sendo que não houve diferença estatística entre elas.
54
Tabela 15 - Comprimento de broto, número de folhas adultas e massa seca do broto de
variedades copa cítricas com potencial ornamental enxertadas em limão Cravo e
trifoliata Limeira (Cordeirópolis/SP, 2008).
Comprimento de Broto (cm)
Variedade
Porta-enxerto1,2
Limão Cravo
Trifoliata Limeira
Média variedade
Cidra Mão-de-Buda
7,09 Aa
1,00 Aa
4,04 a
Kunquat Nagami
Laranja Cipó
Laranja Imperial
Tangerina Venezuela
19,23 Bb
28,09 Bb
26,55 Bb
61,45 Bc
3,34 Aab
17,53 Ac
14,63 Abc
24,81 Ac
11,28 a
22,81 b
20,59 b
43,13 c
Média porta-enxerto
28,48 B
12,26 A
Número Folhas Adultas
Variedade
Porta-enxerto1,2
Limão Cravo
Trifoliata Limeira
Cidra Mão-de-Buda
Kunquat Nagami
Laranja Cipó
Laranja Imperial
Tangerina Venezuela
6,33 Ba
7,00 Bab
11,83 Ab
11,17 Aab
20,83 Bc
2,67 Aa
3,33 Aab
10,67 Ac
7,83 Abc
10,00 Ac
Média porta-enxerto
11,43 B
6,90 A
Média variedade
4,50 a
5,17 a
11,25 b
9,50 b
15,42 c
Massa Seca do Broto (g)
Variedade
Porta-enxerto1,2
Limão Cravo
Trifoliata Limeira
Média variedade
Cidra Mão-de-Buda
2,37 Ba
0,40 Aa
1,39 a
Kunquat Nagami
Laranja Cipó
Laranja Imperial
Tangerina Venezuela
2,02 Ba
4,59 Bb
4,37 Bb
6,62 Bc
0,28 Aa
2,05 Ab
1,16 Aab
1,73 Aab
1,15 a
3,32 bc
2,76 b
4,17 c
Média porta-enxerto
3,99 B
1,12 A
1
Médias seguidas por letras maiúsculas iguais nas linhas indicam não existir diferença significativa entre
os porta-enxertos pelo teste de Tukey a 5% de significância.
2
Médias seguidas por letras minúsculas iguais nas colunas indicam não existir diferença significativa
entre as variedades pelo teste de Tukey a 5% de significância.
Quando os dados resultantes da interação porta-enxerto x variedade são
comparados entre si, percebe-se que o limão Cravo não diferiu estatisticamente do
55
trifoliata Limeira na variável comprimento de broto para a cidra Mão-de-Buda e no
número de folhas adultas para as variedades de laranja doce Cipó e Imperial. Aliás,
essas duas variedades apresentaram resultados similares para os dois porta-enxertos,
sendo que a Cipó ainda se diferenciou positivamente da Imperial.
A tangerina Venezuela diferiu estatisticamente das demais, apresentando
resultados ainda mais altos quando enxertada sobre o limão Cravo (Figuras 17 e 18). A
análise estatística revela porém, que essa variedade também apresentou bons resultados
quando enxertada sobre o trifoliata Limeira, mas que, para esse porta-enxerto, a laranja
Cipó se sobressaiu na variável massa seca do broto, passando a ser então a variedade
que apresentou os maiores resultados de enxertia sobre ele. Depois da tangerina
Venezuela, a laranja Cipó também apresentou os resultados mais altos para o portaenxerto limão Cravo (Tabela 15), embora exista apenas uma pequena diferença
estatística com relação à laranja Imperial (na variável número de folhas adultas) e ao
kunquat Nagami (nas variáveis número de folhas adultas e massa seca do broto). A
laranja Imperial apresentou valores medianos para todas as variáveis medidas para
ambos porta-enxertos, mas, com exceção da variável número de folhas adultas, o limão
Cravo, mais uma vez, apresentou maiores resultados que o trifoliata Limeira (Figuras 17
e 18).
O kunquat Nagami e a cidra Mão-de-Buda apresentaram os menores resultados
dentre todas as variedades avaliadas e, de novo, o limão Cravo se distinguiu
positivamente do trifoliata Limeira (Figuras 17 e 18). Com exceção da variável massa
seca do broto, o kunquat Nagami apresentou resultados mais altos que a cidra Mão-deBuda para os dois porta-enxertos. A cidra Mão-de-Buda foi, então, a que apresentou os
menores resultados dentre todas as variedades avaliadas, para ambos porta-enxertos.
56
Figura 17 - Mudas das variedades cidra Mão-de-Buda (a), kunquat Nagami (b), laranja
Cipó (c), laranja Imperial (d) e tangerina Venezuela (e), enxertadas em trifoliata Limeira
(Cordeirópolis/SP, 2008).
Figura 18 - Mudas das variedades cidra Mão-de-Buda (a), kunquat Nagami (b), laranja
Cipó (c), laranja Imperial (d) e tangerina Venezuela (e), enxertadas em limão Cravo
(Cordeirópolis/SP, 2008).
A variedade que apresentou os maiores resultados de crescimento foi a tangerina
Venezuela, seguida da laranja Cipó, laranja Imperial, kunquat Nagami e cidra Mão-deBuda. A cidra Mão-de-Buda porém, apresentou uma alta taxa de pegamento de
borbulha, podendo ser considerada com resultados gerais melhores que o kunquat
Nagami por exemplo, que apresentou as menores taxas de pegamento. Vale lembrar
ainda que, pela existência de interação significativa porta-enxerto x variedade, esses
resultados são considerados específicos para cada variedade.
4.3 Estaquia
Os dados resultantes das diferentes concentrações de AIB para cada variedade,
com exceção da cidra Mão-de-Buda, indicaram valores muito baixos ou por vezes nulos
(Tabela 16).
57
Tabela 16 - Sobrevivência, formação de calos, enraizamento e retenção foliar de estacas
semi-lenhosas de variedades cítricas com potencial ornamental sob diferentes
concentrações de AIB (Campinas/SP, 2008).
Variedade/Concentração AIB
Sobrevivência
(%)
Formação
de calos (%)
Enraizamento
(%)
Retenção
Foliar (%)
98,7
0,0
97,5
67,5
Cidra Mão-de-Buda/5.000 mg.L
93,7
0,0
93,7
73,7
Cidra Mão-de-Buda/10.000 mg.L-1
98,7
0,0
98,7
75,0
7,5
1,2
0,0
7,5
Kunquat Nagami/5.000 mg.L
2,5
1,2
0,0
2,5
Kunquat Nagami/10.000 mg.L-1
2,5
0,0
0,0
2,5
36,2
16,2
0,0
35,0
63,7
32,5
0,0
55,0
71,2
47,5
0,0
65,0
61,2
31,2
0,0
61,2
82,5
57,5
0,0
68,7
Laranja Imperial/10.000 mg.L
80,0
41,2
0,0
73,7
-1
33,7
0,0
0,0
25,0
36,5
5,0
0,0
35,0
21,2
2,5
0,0
21,2
Cidra Mão-de-Buda/0 mg.L-1
-1
-1
Kunquat Nagami/0 mg.L
-1
-1
Laranja Cipó/0 mg.L
Laranja Cipó/5.000 mg.L
-1
-1
Laranja Cipó/10.000 mg.L
-1
Laranja Imperial/0 mg.L
Laranja Imperial/5.000 mg.L-1
-1
Tangerina Venezuela/0 mg.L
Tangerina Venezuela/5.000 mg.L-1
Tangerina Venezuela/10.000 mg.L
-1
Segundo CARVALHO et al. (2005), a capacidade de emissão de raízes depende
da espécie cítrica. Esses autores afirmam que as cidras enraízam facilmente, podendo
chegar a até 100,0% das estacas, enquanto as laranjas doces e as tangerinas sempre
apresentam baixos índices (CARVALHO et al., 2005; SANTOS et al., 1988). No caso
deste experimento porém, o índice de enraizamento para o kunquat Nagami, para as
duas variedades de laranja doce Cipó e Imperial, e para a tangerina Venezuela foram de
0,0%. A cidra Mão-de-Buda foi a única variedade que enraizou.
A variedade Mão-de-Buda também se sobressaiu pela porcentagem de
sobrevivência para todos os tratamentos, muito mais alta (próxima a 100,0%) que a
encontrada para as outras variedades. Embora a porcentagem de retenção foliar para as
três concentrações seja próxima à encontrada para a laranja Imperial (cerca de 70,0%), a
variável número de folhas novas medida para a cidra Mão-de-Buda diferiu
estatisticamente das demais (Tabela 17). As porcentagens obtidas para as diferentes
variáveis medidas para essa variedade, considerando-se as três concentrações de AIB,
foram similares entre si, não havendo diferença entre os tratamentos. Dados resultantes
58
das concentrações 0 e 5.000 mg.L-1 concordam com BOAS et al. (1988), que
encontraram enraizamento total de estacas semi-lenhosas com folhas para uma outra
variedade de cidra, a Etrog. No entanto, esses autores constataram enraizamento em
apenas 67,0% das estacas tratadas com 10.000 mg.L-1 de AIB, porcentagem inferior à
encontrada neste trabalho. A taxa de formação de calos para a cidra Mão-de-Buda foi
nula porque as estacas que não enraizaram também não formaram calos.
A laranja Imperial foi a variedade que apresentou a segunda maior porcentagem
de sobrevivência, de formação de calos e de retenção foliar, seguida pela laranja Cipó,
tangerina Venezuela e kunquat Nagami.
Para a laranja Imperial, a concentração 5.000 mg.L-1 apresentou os melhores
resultados para sobrevivência e formação de calos, embora a mais alta taxa para
retenção foliar tenha resultado da concentração 10.000 mg.L-1. No entanto, essa mesma
variável para a concentração 5.000 mg.L-1 apresenta um valor próximo daquele
resultante da concentração 10.000 mg.L-1, o que faz com que 5.000 mg.L-1 seja a
concentração que apresentou os melhores resultados gerais para a laranja Imperial.
Já a avaliação dos dados para a outra variedade de laranja doce avaliada, a Cipó,
confirma que a concentração 10.000 mg.L-1 se sobressaiu dentre as demais, pois
apresentou os resultados mais altos para todas as variáveis medidas.
Embora esses resultados sejam satisfatórios, nenhuma estaca de ambas
variedades enraizou, concordando com BOAS et al. (1988), que encontraram resultados
de enraizamento nulos para uma outra variedade de laranja doce, a Pêra,
independentemente das concentrações de AIB aplicadas. ROCHA et al. (1988) também
encontraram enraizamento de 0,0% em estacas herbáceas da laranja doce Valência
tratadas com diferentes concentrações de AIB (0, 2.000, 4.000 e 8.000 mg.L-1).
Apesar de nenhuma estaca das duas variedades ter enraizado, a porcentagem de
sobrevivência e de formação de calos mostra que é necessário a instalação de um outro
experimento com uma duração mais longa, pois as estacas dessas variedades podem
necessitar de um maior período para a emissão de suas raízes do que as outras. É
importante também que o experimento seja realizado durante o verão ou a primavera,
épocas mais quentes que beneficiam o processo de enraizamento. Porém, não é
necessário testar outros tipos de estacas (herbáceas ou lenhosas), pois experimentos
anteriores já comprovaram sua ineficácia (ROCHA et al., 1988). Ainda segundo esses
mesmos autores, melhores resultados no enraizamento de estacas de laranjeiras doces
podem ser obtidos por meio de um outro método de propagação, a alporquia.
59
Os dados resultantes das avaliações feitas para as estacas da variedade tangerina
Venezuela apresentaram valores baixos. Os valores mais altos foram encontrados para a
concentração 5.000 mg.L-1, e permanecem em torno de 35,0% tanto para a porcentagem
de sobrevivência como de retenção foliar. Para essa mesma concentração, a
porcentagem de formação de calos foi de apenas 5,0%. Nenhuma estaca enraizou,
considerando-se os três tratamentos.
Não foram encontrados dados de experimentos específicos para a variedade
Venezuela na bibliografia consultada, mas SANTOS et al. (1988), trabalhando com o
enraizamento de estacas semi-lenhosas com folhas de uma outra microtangerina, a
Sunki, também encontraram enraizamento nulo para diferentes concentrações de AIB
(100, 500, 1.000, 2.000, 3.000, 5.000 e 10.000 mg.L-1). No entanto, para estacas semilenhosas sem folhas da mesma variedade, a concentração 3.000 mg.L-1 foi a que
apresentou a melhor porcentagem de enraizamento, chegando a 100,0%. As outras
concentrações, com exceção da 5.000 mg.L-1 que apresentou enraizamento nulo,
apresentaram uma porcentagem mínima de enraizamento de 50,0%.
Embora, neste trabalho, a concentração 5.000 mg.L-1 tenha apresentado os
melhores resultados de sobrevivência, de formação de calos e de retenção foliar para a
variedade Venezuela, foi esse o tratamento que apresentou o menor número de folhas
novas produzidas (Tabela 17). No entanto, para a tangerina Venezuela, os resultados da
análise estatística para essa variável não apresentaram diferença significativa entre os
tratamentos. Outros experimentos são então necessários a fim de se testar diferentes
condições, como por exemplo a ausência de folhas nas estacas, e de se buscar melhores
resultados.
Também para o kunquat Nagami, as taxas de sobrevivência, de formação de
calos, de enraizamento e de retenção foliar foram no geral muito baixas, não atingindo
nem mesmo 10,0% para todas essas variáveis (Tabela 16). A totalidade das estacas que
sobreviveram também reteve suas folhas. No entanto, o número de folhas novas para
essa variedade foi nulo para todos os tratamentos (Tabela 17). Neste caso, os
tratamentos não foram suficientes para induzir o enraizamento de estacas da variedade
kunquat Nagami, e outros experimentos de propagação por estaquia são necessários,
utilizando-se diferentes concentrações de AIB ou até mesmo outro fitorregulador.
No experimento de enxertia mostrado neste trabalho, as borbulhas da variedade
kunquat Nagami também foram as que apresentaram os menores resultados de
pegamento entre as variedades avaliadas. No entanto, a enxertia ainda pode ser uma
60
alternativa de propagação para essas espécies, mas outras técnicas precisam também ser
testadas para uma melhor definição do método mais eficiente.
Tabela 17 - Número de folhas novas por estaca semi-lenhosa de variedades cítricas com
potencial ornamental sob diferentes concentrações de AIB (Campinas/SP, 2008).
Número Folhas Novas
Variedade
Cidra Mão-de-Buda
Kunquat Nagami
Laranja Cipó
Laranja Imperial
Tangerina Venezuela
Média concentração AIB
Concentração AIB (mg.L-1)1,2
0
5.000
10.000
3,35 Bab
0,00 Aa
0,06 Aa
0,00 Aa
0,25 Aa
3,86 Bb
0,00 Aa
0,04 Aa
0,21 Aa
0,10 Aa
2,87 Ba
0,00 Aa
0,16 Aa
0,05 Aa
0,24 Aa
0,73 A
0,84 A
0,66 A
Média variedade
3,36 b
0,00 a
0,09 a
0,09 a
0,20 a
1
Médias seguidas por letras maiúsculas iguais nas linhas indicam não existir diferença significativa entre
as concentrações de AIB pelo teste de Tukey a 5% de significância.
2
Médias seguidas por letras minúsculas iguais nas colunas indicam não existir diferença significativa
entre as variedades pelo teste de Tukey a 5% de significância.
Não houve interação significativa entre as concentrações de AIB e as variedades
para a variável número de folhas novas. A cidra Mão-de-Buda, mais uma vez, se
sobressaiu dentre todas as variedades avaliadas, mas não houve diferença significativa
entre as concentrações para essa variedade. No entanto, quando comparada às outras
variedades avaliadas, a concentração 5.000 mg.L-1 apresentou os melhores resultados,
seguida da concentração controle (0 mg.L-1). Não houve diferença estatística
significativa entre a cidra Mão-de-Buda e as outras variedades para a concentração
10.000 mg.L-1. Algumas estacas das outras variedades produziram novas folhas, mas
esse número foi tão baixo que não diferiu estatisticamente daquelas que não produziram
nenhuma folha, como foi o caso das estacas do kunquat Nagami.
Os resultados deste experimento corroboram com os encontrados por BOAS et
al. (1988), que não encontraram diferença significativa entre estacas semi-lenhosas com
folhas das variedades de laranja doce Natal e Valência e de tangerina Ponkan e Cravo,
para diferentes concentrações de AIB. No entanto, resultados encontrados para estacas
61
de uma outra variedade de cidra, a Diamante, diferiram significativamente das outras
variedades mencionadas.
Neste experimento, a cidra Mão-de-Buda foi a única variedade que enraizou. Os
resultados de número de raízes, de comprimento médio da maior raiz e de massa seca de
raízes por estaca são então mostrados apenas para essa variedade (Tabela 18).
Tabela 18 - Número de raízes, comprimento médio da maior raiz e massa seca de raízes
por estaca semi-lenhosa da variedade cidra Mão-de-Buda sob diferentes concentrações
de AIB (Campinas/SP, 2008).
Concentração AIB
Número Raízes*
0 mg.L-1
5.000 mg.L-1
10.000 mg.L-1
14,54 a
15,56 a
17,50 a
Compr. > Raiz
(cm)*
8,79 b
6,72 a
9,23 b
Massa Seca Raízes
(g)*
0,10 b
0,07 a
0,12 c
*Médias seguidas por letras iguais não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de
significância.
Para a variedade Mão-de-Buda, não houve diferença entre os tratamentos para o
número de raízes produzidas. Os dados de comprimento médio da maior raiz por estaca
indicaram os melhores resultados para as concentrações 0 e 10.000 mg.L-1. No entanto,
esses dados estão abaixo dos encontrados por BOAS et al. (1988). Esses autores
encontraram 14,30 cm para a concentração controle (0 mg.L-1), enquanto o valor
encontrado para esta concentração neste trabalho foi de 8,79 cm. Do mesmo modo,
encontraram 9,30 cm para a concentração 5.000 mg.L-1, contra 6,72 cm deste trabalho, e
11,50 cm para a 10.000 mg.L-1 contra 9,23 cm deste trabalho. Porém, os autores não
mencionaram a data que o experimento foi conduzido, o que pode ter influenciado
positivamente nos resultados.
A análise estatística dos dados de massa seca de raízes mostra que a
concentração 10.000 mg.L-1 de AIB diferiu positivamente das demais, indicando que
esta é a melhor entre as três concentrações testadas para o enraizamento de estacas da
variedade cidra Mão-de-Buda.
Alguns fatores podem ter influenciado nos baixos resultados gerais encontrados,
como a concentração do fitorregulador AIB, juntamente com o tempo de imersão das
estacas, ou a época do ano, pois o experimento foi instalado no final do verão e durou
62
estacas, ou a época do ano, pois o experimento foi instalado no final do verão e durou
quase o período total do outono. Outro fator que pode ter influenciado no enraizamento
é uma possível desidratação sofrida por parte das estacas, pois antes de terem sido
colocadas para enraizarem, foram armazenadas por cerca de 24 h depois de coletadas.
Além disso, seria também importante testar estacas sem folhas, pois segundo SANTOS
et al. (1988), as folhas podem ter retirado água das estacas, reduzindo a tendência ao
enraizamento.
Novos experimentos são portanto necessários, em outras épocas do ano, com
outras concentrações de AIB ou outro fitorregulador, e até mesmo outros tipos de estaca
(herbáceas ou lenhosas). É necessário também testar outros métodos de propagação,
além da enxertia já testada neste trabalho.
5 CONCLUSÕES
a) Existem diferenças morfológicas acentuadas entre as variedades estudadas e todas
apresentam potencial ornamental.
b) A cidra Mão-de-Buda se destaca por produzir frutos de formato único, que se
assemelham a uma mão, além do maior tamanho de flor. As variedades de laranja doce
Cipó e Imperial se sobressaem por produzirem, respectivamente, ramos pendentes e
folhas e frutos variegados. O limão Faustrine apresenta potencial paisagístico por seus
frutos de formato alongado, e as variedades kunquat Nagami e tangerina Venezuela por
produzirem frutos de tamanho reduzido.
c) A propagação por enxertia é mais eficiente do que a estaquia para as variedades
estudadas.
d) Embora o porta-enxerto limão Cravo tenha apresentado os maiores resultados de
crescimento, a utilização do trifoliata, por ter induzido um crescimento mais lento do
enxerto, pode favorecer o cultivo em vaso das variedades estudadas.
63
e) O método de propagação por estaquia somente é eficiente para a variedade cidra
Mão-de-Buda, independentemente da concentração de AIB utilizada.
64
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