BUDISMO UMA RELIGIÃO DO DESESPERO INTRODUÇÃO O filósofo e teólogo dinamarquês Soren Kierkegaard afirmou que nenhuma doença é mais mortal e nociva ao homem do que a falta de esperança. O fato é que qualquer falta de meta na vida gera insegurança, receio e medo quanto à vida. Somente o cristão tem esperança verdadeira e sólida. Diante dessa percepção, se o Cristianismo é a religião da esperança, poderíamos dizer, por outro lado, que o budismo é a religião do desespero. BREVE HISTÓRICO O budismo é a quarta maior religião do mundo. Fundado por Siddharta Gautama (560-480 a.C), que viveu no Noroeste da Índia. Filho de uma família nobre chamada Çakya, Siddharta foi mantido dentro dos palácios da família, sendo impedido de ter contato com o mundo. A lenda conta que certo dia ele fugiu do palácio e no vilarejo mais próximo teve contato com a realidade humana, representada em três figuras: um homem idoso, um homem doente e um cadáver em decomposição. Tal percepção da realidade fez que o príncipe Siddharta, aos 29 anos, deixasse o palácio e partisse à procura da felicidade na vida asceta? Algum tempo depois, após um prolongado retiro, Siddharta estava assentado debaixo de uma figueira, segundo a lenda, próximo de um afluente do rio Ganges, meditando. Nesse momento alcançou o bodhi, a iluminação, donde vem a palavra Buda, isto é, o iluminado. Buda, então, partiu para disseminar a sua revelação aos seus semelhantes. Segundo a tradição budista, Siddharta morreu em avançada velhice com aproximadamente 80 anos. Após a morte do Buda Gautama não houve nenhuma substituição e, por decisão dos seus seguidores, houve quatro "concílios" para tratar de assuntos doutrinários e outras práticas religiosas. Depois disto, o budismo se fragmentou em ramos diferentes, tendo sua expansão a partir do 2° séc. a.c. PRINCIPAIS DIVISÕES DO BUDISMO 1) Budismo Mahayana - o budismo Mahayana - o grande veículo - é uma forma popular de budismo, que acolhe todos os que procuram a iluminação. É um desdobramento das antigas escolas originais do budismo chamado Theravada, um budismo mais conservador. 2) Budismo tibetano - se caracteriza principalmente por ser uma síntese entre o budismo e a antiga religião tribal praticada no Tibet, que envolvia sacrifícios, rituais misteriosos e danças, além de veneração de deuses e espíritos. Uma de suas marcas são as chamadas rodas de oração. São cilindros com orações transcritas neles colocados no templo que ao ser impulsionados têm a função de elevar uma prece ao Buda. Outra marca é a presença do poder político desde o século XVII nas mãos do seu maior líder: o Dalai Lama. Atualmente, o Tibet é dominado pela China e Tenzin Gyatso, o 14° Dalai Lama se encontra afastado do poder, porém exerce grande influência no mundo, tendo recebido em 1989 o Prêmio Nobel da Paz. Contudo, o seu exílio é uma grande arma para a difusão do budismo no mundo. 3) Zen-Budismo - busca a iluminação, o bodhi, por meio da meditação. Ele se desenvolveu na China, Coréia e Japão, onde possui cerca de 20 mil templos e 5 milhões de adeptos. Sua principal característica é o desdém dos principais textos do budismo, por considerar impossível às palavras a transmissão da iluminação. Esse processo em direção ao bohdi deve ser feito pela contemplação e pelo silêncio, pois a iluminação vem de dentro da pessoa e não de forças exteriores. CONCEITOS-CHAVE DO BUDISMO A LEI DO KARMA O budismo possui uma percepção de mundo extremamente pessimista, como veremos a seguir. Porém, algo que torna a vida mais negativa é a existência do Karma. A Lei do Karma proclama a existência do círculo contínuo de nascimento-morte-renascimento. Essa prisão é causada pelos pensamentos, palavras e atitudes que a pessoa tem, como consequência, portanto, tal pessoa será recompensada ou não na próxima encarnação. Logo, o budismo não crê na "providência divina" que controla o universo, não crê num destino controlado conscientemente por um Deus gracioso. Tudo depende da ação do homem. Toda ação traz suas consequências: o Karma. Tentar fugir do Karma é como tentar fugir da própria sombra. O único jeito de escapar do Karma é alcançando o Nirvana. Ao contrário desse pensamento, a bondade de Deus se revela ao homem, coroa da sua criação, buscando um relacionamento, uma aliança de amor e fidelidade (Jr 31.31-33; 32.38-41). O Karma, portanto, é mais uma maneira de tirar das mãos de Deus a possibilidade de vida, transferindo-a para o próprio homem. A VISÃO SOBRE A HUMANIDADE Ao contrário da maioria das religiões, o budismo nega totalmente a existência de uma alma individual e imortal em cada pessoa. Para Buda, tudo era transitório. É como se o homem fosse uma corrente elétrica que acende as lâmpadas da nossa casa. A eletricidade é uma corrente contínua e mutável. Ao queimar uma lâmpada, sendo ela substituída, ela acenderá com a mesma qualidade da anterior, mas não será nem a mesma lâmpada e nem será com a mesma eletricidade, embora seja o mesmo tipo de energia. A vida para o budismo é isto: energia. A Bíblia nos ensina que o homem é feitura das mãos de Deus, no qual foi posto o "sopro de vida" tornando-se "alma vivente" (Gn 2.7). O homem, portanto, é formado por um corpo e uma alma. Isso nos torna indivíduos, no sentido mais estrito, inseparáveis em nossa natureza, mas também único. Unidade esta que é separada na morte e reintegrada na ressurreição. O corpo será unido à alma novamente, mas transformados em glória e perfeição (1Co 15.42- 44; 51-52; 1Ts 4.17). Ao negar a existência da alma humana, Buda considera que a vida é como um sonho e, sendo tudo passageiro, como pode haver uma reencarnação daquilo que não é mais? Como o karma de uma pessoa poderia afligi-la, sendo que tal pessoa não é mais aquela que foi? Além de negar uma verdade bíblica, o budismo nega qualquer razoabilidade em si mesmo. O pessimismo de Buda afronta o Criador e o homem criado à sua imagem e semelhança, pois mesmo em sua condição de pecador, mantém tal imagem. Somos indivíduos que prestaremos contas a Deus de tudo o que pensamos e fazemos (Ec 11.9; 12.14). Na Bíblia sempre encontramos esperança para o pecador, pois, o amor de Deus se revelou em Jesus Cristo (Jo 3.16). NIRVANA A palavra nirvana significa apagar. A grande busca do budista é deixar de existir, é ser apagado. Não se deve pensar no nirvana como um céu místico, mas sim num real desaparecimento do indivíduo e da sua consciência. Quem alcança o nirvana não mais renascerá, porque não existirá mais, porquanto esse estado põe fim ao ciclo de reencarnações, que poderia ser eterno. Esse é o estado de vitória no budismo. A Bíblia é clara quanto aos estados pós-morte: ou a alegria celestial ou o tormento do inferno (SI 9.17; Mt 5.29,30; 25.34-41; Lc 16.19-31). A morte é o estágio filial. Deste ponto para frente há somente uma coisa: o juízo (Hb 9.27) para aqueles que não se arrependerem, mas vida eterna para quem receber Jesus como seu Salvador (Jo 11.25,26). DIVINDADE O budismo pode ser considerado como uma religião agnóstica. O divino não é nem rejeitado nem reafirmado, ao mesmo tempo em que ele é invocado, ou como o Buda Sidharta ou como o buda interior. Mesmo este conceito não é muito bem resolvido no budismo. Para alguns o Buda Sidharta jamais é divino; mas para os mahasanghika o Buda é eterno, onipresente e transcendente. Na verdade, Buda reconhecia a existência de uma pluralidade de deuses, cuja existência é semelhante à dos homens: transitória. Os deuses também estão sujeitos ao ciclo de renascimento e também buscam o nirvana. Muito diferente do Deus das Escrituras. O Cristianismo define muito bem o seu Deus. Podemos tomar emprestada a declaração da nossa CFW 2.1.: "Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições. Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros 011 paixões; é imutável, imenso, eterno, incompreensível, - onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo para a sua própria glória e segundo o conselho da sua própria vontade, que é reta e imutável. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro remunerador dos que o buscam e, contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia todo pecado; de modo algum terá por inocente o culpado". PRINCIPAIS PONTOS DOUTRINÁRIOS As quatro verdades sublimes Em sua iluminação, o Buda Siddharta chegou à compreensão da realidade humana, que é resumida em quatro afirmações: as quatro verdades sublimes. A primeira verdade afirma que a dor é universal, tudo que existe é dor e sofrimento. Como dissemos, o budismo é pessimista quanto à realidade. Porém, nós cristãos entendemos que a maldade do mundo é efeito do pecado dos nossos primeiros pais; e tal pecado sujeita toda a criação à dor e ao sofrimento (Gn 3.14-19; Rm 8.20.23), embora Deus tenha feito tudo perfeito e bom (Gn 1.31). A segunda verdade afirma que a origem da dor é a paixão, o desço da existência. Como desejo da existência, o budismo entende que qualquer desejo humano de prazer, como comer uma torta de chocolate, poderá gerar um sentimento de desprazer, como a torta não ser comida. Esse desprazer é dor. Segundo a Bíblia, cremos que todas as coisas criadas por Deus têm o propósito de glorificá-lo. Mesmo que o pecado original tenha trazido à criação a dor e o sofrimento, estamos sob a Providência de Deus, que tudo governa com sua graça e amor, de modo que todas as áreas da nossa vida estão sob o cuidado do Todo-Poderoso (Rm 8.28). Portanto, a fonte da nossa alegria está no Senhor. Sendo assim, podemos enfrentar tudo em Cristo Jesus (Fp 4.11-13). O fim da dor é a supressão do desejo e o aniquilamento da existência, o Nirvana, Se todos os desejos físicos e sensíveis causam dor, então deixar de desejar é uma solução imediata. Segundo a tradição budista, Buda se alimentava apenas com um grão de arroz por dia na tentativa de evitar o sofrimento. Isso conduz à última "verdade" que afirma que o meio de libertação da dor é a contemplação universal e a prática da mortificação dos apetites. O nirvana, na verdade, é a grande fuga. A realidade budista é um desespero contínuo de busca pela salvação. O próprio Buda afirmou que teve 547 encarnações antes de ser iluminado. Por conseguinte, afirmamos a graça suficiente de Deus a despeito do esforço ou do ascetismo do homem, pois a salvação está em Deus (Ef 2.8,9). A ÓCTUPLA VIA DE LIBERTAÇÃO Buda propôs oito procedimentos para a salvação do tipo faça-você-mesmo, chamados de oito vias de libertarão, que estão divididas em quatro subgrupos: 1) A perfeita compreensão - diz respeito à negação de uma alma. Negar-se como portador de uma porção imortal é abrir o caminho para rejeitar a dor que a realidade do mundo dá. 2) A perfeita aspiração - diz respeito aos verdadeiros sentimentos, evitando os extremos da luxúria e do ascetismo, compreendendo que ele está ligado ao todo da vida, que ele não é um, mas é parte do todo. 3) A perfeita fala, a perfeita conduta, o perfeito meio de subsistência a tem a ver com os princípios éticos do budismo. A fala perfeita aponta para a necessidade de não mentir, não criar fofocas e até mesmo não falar. A conduta perfeita salienta os cinco mandamentos do budismo: a) não matar nenhum ser vivo, b) não roubar, c) não ser sexualmente promíscuo, d) não mentir, e) não tomar estimulantes, como o álcool. 4) O perfeito esforço, a perfeita atenção e a perfeita contemplação - diz respeito ao modo como a pessoa pode melhorar a si mesma e purificar sua mente; Reprimindo os pensamentos destrutivos, preparando-se para a meditação e esvaziando a mente dos sentidos de tempo, espaço e ilusões da realidade. Soren Kierkegaard. O Desespero Humano. São Paulo: Editora Martin Claret, p. 23. 2 Jostein Gaarder et ai, O Livro das Religiões. 5ão Paulo, Cia. das Letras, 2001, pp. 52,53. Leonel Franca, Noções de História da Filosofia. Rio de janeiro: AGIR Editora, 1949, pp. 23,24. 3 Anthony A. Hoekema. Criados à imagem de Deus. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, pp. 240,241. 4 Budismo - conflito e novos grupos, In: Microsoft Encarta. Redmond, WA: Microsoft Co., 2001.