Dor e Subjetividade em Oncologia A palavra dor

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Dor e Subjetividade em Oncologia
A palavra dor, segundo definições em dicionários: "Substantivo feminino, dor. Sensação
penosa, sofrimento. Sofrimento moral, sentir uma dor profunda". A Associação Internacional para o
Estudo da Dor (1980) a conceitua como "uma sensação desagradável e uma experiência
emocional, associadas a um dano tecidual atual ou potencial, ou descrita em termos deste dano".
Assim, a dor é uma sensação subjetiva e, mais que o simples fato de "doer", ela vem acompanhada
de forte experiência de sofrimento físico e psíquico.
Desde os primórdios da medicina busca-se tratar a dor, o mais frequente dos sintomas. Ela é
uma condição cotidiana que expressa o sofrimento humano nas suas mais variadas formas. Cada
vez mais se tem evidenciado, de modo sistemático, que o seu entendimento e controle podem
ajudar a humanizar o atendimento em saúde, bem como a melhorar os resultados em grande parte
das abordagens terapêuticas. Na maioria das vezes, a dor está associada ao grande número de
doenças conhecidas e, com frequência, é causa de sequelas psíquicas e somáticas.
No entanto, o que se tem observado é que a dor não é considerada como um problema a ser
combatido com medidas específicas e efetivas, a despeito dos avanços científicos, o tratamento de
grande parte dos pacientes continua inadequado, apesar de ser considerado inaceitável. A
incidência de dor em pacientes hospitalizados, por exemplo, ainda é alta, de 30% a 50% de dor
moderada até intensa nas publicações recentes.
Como em toda especialidade médica, o sintoma dor se apresenta, também em oncologia, de
modo agudo ou crônico. A dor aguda é tratada de forma sintomática e na ocasião de seu
surgimento; há o sintoma e tão logo a analgesia é indicada. Na maioria destas situações, o
tratamento analgésico adequado e a abordagem causal levam ao desaparecimento do fenômeno
doloroso e de suas consequências. Mas, as dores crônicas, nessa situação, são peculiares. Nos
pacientes com câncer, a dor, quando surge, tende a ser contínua e crescente à medida que há
evolução da doença neoplásica.
Assim sendo, especialmente em oncologia, quando há o controle da dor, a tendência é de
que os temores inerentes ao diagnóstico tais como, medo do sofrimento, de não ter forças para
prosseguir, de perder a autonomia, do desconhecido e da morte, entre outros, diminuam
consideravelmente. O suporte psicológico especializado nesta área, com a abordagem da psicooncologia, especialmente focado no tratamento da dor, busca tomar consciência e tratar os
aspectos relacionados à vivência da doença, abrangendo as questões existenciais previamente
existentes e reforçadas pela descoberta, bem como as questões subjetivas que foram surgindo ao
longo do adoecimento.
Sabemos em psicossomática que cada dor, cada doença, cada sintoma tem um ou mais
correspondentes psicológicos específicos. Esse correspondente é a parte simbólica da dor, do
Dor e Subjetividade em Oncologia - Carla Mannino (13-10-2009)
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sofrimento físico. É a maneira como nossa psique, como nossa imaginação ou percepção subjetiva
e peculiar percebe a dor, o sofrimento. Geralmente, pode ser difícil e trabalhoso entender o
conteúdo simbólico contido na dor, mas ele está sempre presente e se nos permitirmos penetrar
no sintoma, por trás dele sempre há uma imagem. E, muitas vezes, observamos que, apropriarse da dor, parando simplesmente de amaldiçoá-la em forma de queixa vazia e ineficaz, buscando
um entendimento e um aprofundamento dessas ligações simbólicas, a cura acontece. Assim, se
estabelece o paradoxo: o sofrimento físico concentra a atenção e mergulhar fundo nela, faz com
que encontremos associações, lembranças, fantasias e medos. É o que se diz que a doença
sempre traz consigo a própria cura.
Tudo aquilo na natureza humana, que não encontra forma satisfatória de expressão, pode
tornar-se sofrimento psíquico e, consequentemente, físico também. Uma dor não comunicada, além
de não ter possibilidade de buscar sua causa e alívio, amplia-se, constituindo um ciclo de sofrimento
crescente.
Esse caráter subjetivo e multifatorial da dor é hoje um consenso, o que requer uma
abordagem de tratamento especializada e multidisciplinar, de modo a identificar e resolver os
problemas de comunicação e também de mensuração da dor e a ampliar os cuidados terapêuticos
oferecidos ao paciente, o suporte prestado à família e à equipe.
A dor em oncologia é uma possibilidade. Pode ser um caminho para a pessoa avaliar, elaborar e
resignificar sua vida, não só levando em consideração sua vivência anterior, mas também baseado
na sua condição atual.
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