1. INTRODUÇÃO A prática da enfermagem é uma das mais antigas, antes mesmo dela tornar-se profissão. O ato de cuidar segundo Pacheco (2002) consiste na prestação atenciosa e continuada de forma holística a uma pessoa enferma, realçando desta maneira a dignidade da pessoa cuidada. Para isto se faz necessário que o profissional da enfermagem busque constantemente alimentar-se de conhecimentos que o preparará para questões diversas. Este projeto tem a intenção de abrir um espaço para o profissional de saúde ampliar seus conhecimentos sobre de que maneira conduzir o tratamento psicológico e inter-relacional dos acometido pelo câncer, doença que compromete o homem como ser integral. No trabalho proposto a disciplina que será optativa, trabalhará em uma perspectiva de imersão onde os alunos irão experenciar intensamente em 60hs em encontros semanais de 2 horas/aula, toda a problemática que envolve o paciente oncológico. Destinado aos futuros enfermeiros que se interesse em aprimorar seus conhecimentos na área de oncologia clínica e suas repercussões psicológicas nos pacientes que padecem desta enfermidade. Os primeiros estudos da ligação corpo e mente no câncer tiveram início na Grécia, mas esta visão foi abandonada até o século XIX quando Freud voltou a mostrar que o psíquico podia ocasionar processos físicos. A Medicina Psicossomática, a Medicina e a Psicologia Comportamental e a Psicologia da Saúde abriram o caminho para a Psico-Oncologia, hoje muito apoiada pela Psiconeuroimunologia. As características específicas dos psicooncologistas brasileiros, bem como a sua forma de atuação levaram a uma definição baseada na nossa cultura e realidade deste campo em nosso meio. Dentre as doenças mais prevalentes nos dias atuais, o câncer – o mal do século –, enfermidade que já traz em si o estigma de limitadora, mutilante e sinônimo de morte anunciada, situação que se robustece pelo medo e pela desinformação. O câncer é a segunda causa de morte mais freqüente no Brasil, superado apenas pelas doenças cardiovasculares. Dados fornecidos pelo Instituto do Câncer (INCA) informam que, a cada ano, surgem 470 mil novos casos e 130 mil pessoas morrem de câncer no país. Entre as brasileiras, os tipos de câncer com comportamento agressivo mais freqüente são o de mama, com 49 mil novos casos anuais, o de colo do útero, com 19 mil casos, e o de intestino, com 13 mil novos casos. Em relação à mortalidade, os tipos de câncer que mais matam mulheres no Brasil são o de mama, com 10 mil óbitos anuais, o de pulmão, com 5.800 mortes e o de intestino, com 5.100 óbitos. Entre os homens, o câncer de pulmão é o que mais mata, com 12 mil mortes, seguido pelo de próstata, com 9.600 óbitos, e o de estômago, com 8 mil óbitos, o que representa quase 17% de óbitos de causas conhecidas no Brasil, notificados em 2007, número em franca ascensão. Como um diagnóstico de câncer pode ser devastador na vida de uma pessoa, compreender, controlar, tratar e, sobretudo saber lidar com os portadores de enfermidades neoplásicas é urgente para os profissionais de saúde que cuidam de forma direta e intensa destes enfermos nos momentos finais de sua existência. Para Boemer (2007), os profissionais de saúde sofrem por lembrar, a todo o momento, da sua impotência frente aos doentes que caminham para o fim em conseqüência de uma moléstia grave como o câncer. Enfrentar a morte a todo o momento torna-se missão primordial para quem trabalha na área de saúde, principalmente na oncologia, onde, a despeito do avanço da ciência no que diz respeito ao tratamento e à cura, ainda se verifica uma alta taxa de mortalidade dos pacientes. No cotidiano do profissional de saúde a morte passa a se fazer presente e, pouco compreendida e aceita com restrições, gera angústias, ansiedade e negação.( CORDEIRO & TELES, 2009). Realidade muito viva, a morte é uma constante para aqueles que trabalham na área de saúde e com pacientes portadores de doenças oncológicas em estágio final da vida. Observa-se aí um total despreparo filosófico, psicológico, técnico, religioso, pedagógico e até mesmo do ponto de vista existencial do profissional de saúde em lidar com a morte iminente deste pacientes. Educar-se para a morte é fundamental para a estruturação do profissional. Porém, a educação para a morte é algo relativamente novo e ainda pouco explorado dentro dos centros universitários. O tema era um tabu até meados do século passado, era interdita, não só temida como negada, assim dizia Philippe Áries. A literatura a respeito, tanto da formação médica, quanto da enfermagem revela que desde cedo o estudante é “moldado” para considerar a morte como “o maior dos adversários”. Ela deverá ser sempre combatida e, se possível, vencida graças à melhor ciência, ou competência disponível (Kübler-Ross, 1998) Isto posto, ratifica-se a necessidade de que profissionais se habilitem no cuidar desta enfermidade em toda sua trajetória, desde o diagnóstico até a morte. 2. Metodologia Para Vigotsky o processo sócio-cultural é um fator determinante na formação da consciência dos indivíduos, enfatizando que todo conhecimento é construído através da interação entre os indivíduo que usam de sinais para uma aprendizagem efetiva além de buscar a formação integral do indivíduo, imprescindível na formação de profissionais que cuidaram de pessoas em situação de fragilidade. De acordo com Zabala (1998), na concepção construtivista ensinar envolve estabelecer uma série de relações que devem conduzir à elaboração, por parte do aprendiz, de representações pessoais sobre o conteúdo objeto de aprendizagem. A experiência e os instrumentos conduzirão o indivíduo à interpretação pessoal e subjetiva do que é tratado. Baseando-se nesta ótica, vale ressaltar que na relação ensino e aprendizagem o aluno deverá assumir um papel ativo, participante, questionador, deixando de lado aquele aprendiz que apenas serve como depósito de conhecimentos, buscando a compreensão sobre os processos que envolvam a aprendizagem a fim de torná-lo sujeito livre e com poder de decidir sobre como devem processar o ensinamento ofertado. Seguindo ainda a idéia construtivista, o professor assume papel de coadjuvante, tornando-se mediador da aprendizagem. Devendo orientar, investigar, pesquisar, criar meios favoráveis para uma aprendizagem significativa. Segundo Vigotsky (2001): (...) no processo de educação o mestre, munido de uma nova concepção do assunto, não é menos e sim infinitamente mais importante que antes. E embora, pelo visto, seu papel saia perdendo no aspecto ativo externo uma vez que ele ensina e educa menos, esse papel sai ganhando no aspecto ativo interno. (...) Na educação, ao contrário, não existe nada de passivo, de inativo. (...) no processo de educação também cabe ao mestre um papel ativo: o de cortar, talhar e esculpir os elementos do meio, combiná-los pelos mais variados modos para que eles realizem a tarefa de que ele, o mestre, necessita. Deste modo, o processo educativo já se torna trilateralmente ativo: é ativo o aluno, é ativo o mestre, é ativo o meio criado entre eles (VIGOTSKY, 2001, p. 70-73). O funcionamento da disciplina se iniciará através da utilização de filme, onde os estudantes terão a oportunidade de assistir a um caso “real” e como cada integrante da equipe multiprofissional se coloca diante da necessidade de cuidar de um paciente terminal oncológico, na sequência os alunos irão expor os seus sentimentos, medos e dúvidas sobre o processo de morte e morrer dos pacientes sob os seus cuidados possibilitando ao professor reconhecer as dificuldades e deficiências dos alunos em lidar com a situação em questão. Mesmo utilizando técnicas mais atraentes como a projeção de filmes será necessária a utilização de aulas expositivas através de quadro branco e data show, para que os alunos conheçam detalhes teóricos importantes da utilização de diferentes métodos de enfrentamento e terapêuticas utilizadas na disciplina. Assim para Masetto (2003 p. 18) “Aulas expositivas são uma técnica que a maioria absoluta dos professores do ensino superior utilizam para explicar informações aos alunos”. Vale ressaltar que nas aulas expositivas os alunos terão espaço para a participação dos alunos, oferecendo espaço livre para sanarem dúvidas e fornecerem opiniões a respeito dos assuntos teóricos, propiciando a possibilidade de interação entre todos os participantes, permitindo uma maior e melhor convivência do grupo. 3. AVALIAÇÃO A avaliação da disciplina será realizada em dois momentos: avaliação qualitativa, analisada através da participação e interesse dos alunos em todas as aulas pois segundo Cervi (2008) o ensino e a avaliação devem vislumbrados como processos que se complementam, redimensionados no contexto de unidade e simultaneidade de atuação e de intervenção. Em um segundo momento, teremos uma avaliação tradicional individual dissertativa, onde os alunos construíram e apresentaram um artigo baseado nos filmes e textos trabalhados em sala de aula. Fernandes (2009) aponta que a diversificação de métodos de coleta de informação permite avaliar mais domínios do currículo, lidar melhor com a grande diversidade de alunos e reduzir os erros inerentes a avaliação. REFERÊNCIAS: PERINA, E.; NUCCI, N. As dimensões do cuidar em Psico-Oncologia pediátrica – Desafios e Descobertas. Campinas: Livro Pleno, 2005. 1 v. PERINA, E.; NUCCI, N. As dimensões do cuidar em Psico-Oncologia pediátrica – Estudos e Pesquisas. Campinas: Livro Pleno, 2005. 2 v. CARVALHO, M. M. M. J. de. A introdução à Psicooncologia. Campinas: Psy II, 1994. CORREIA, E. S. Câncer: entre o Sofrimento Físico e Emocional a Importância de uma Assistência Psicológica. Recife: Bagaço, 2000. BIFULCO, V. A.; JÚNIOR, H. J. F.; BARBOZA, A. B. Câncer: uma visão Multiprofissional. AZEVEDO, D. R.; BARROS, M. C. M. de; MULLER, M. C. Oncologia e Interdisciplinaridade: Uma Experiência na Educação a Distancia. Rio Grane do Sul: EDIPUCRS. LEITÃO, M. S. et al. Psicooncologia: O encontro da ciência com a espiritualidade. Coletânea do VII Congresso de Psicooncologia realizado em Olinda, PE, 2002. Campinas: Livro Pleno, 2003. HOLLAND. J. C.; LEWIS S. The Human Side of Cancer: Living with Hope, Coping with Uncertainty. Nova York: Harper Collins, 2000. MARTIN, D. F. A Aprendizagem em Paulo Freire e Piaget. Trabalho de conclusão do curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências UNESP – campus de Bauru. Bauru, 2007.