UMA PROPOSTA DE CONDICIONADOR DE SINAIS PARA AQUISIÇÃO DE DADOS EM UM INSTRUMENTO DE MEDIÇÃO DA QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA Ivan Nunes Santos, Arnaldo José Pereira Rosentino Júnior Universidade Federal de Uberlândia Av. João Naves de Ávila, 2160, Sala 1E18, CEP 38408-100, Uberlândia - M G Brasil e-mails: [email protected], [email protected] Resumo – Este artigo trata da descrição de uma nova proposta de circuito condicionador de sinais a ser usado na etapa de aquisição de dados de um instrumento de medição e análise da qualidade da energia elétrica desenvolvido pelo grupo de “Qualidade e Racionalização da Energia Elétrica” da Universidade Federal de Uberlândia. Palavras-Chave – Aquisição de Dados, Condicionador de Sinais, Qualidade da Energia Elétrica, Qualímetro. A PROPOSAL OF SIGNAL CONDITIONING FOR DATA ACQUISITION OF A MEASUREMENT DEVICE OF POWER QUALITY Abstract – This article shows a description of a new proposal of signal conditioning which will be used to stage for data acquisition of a power quality analysis and measurement instrument developed by the team of “Power Quality and Rationalization” at the Federal University of Uberlandia. 1 Keywords – Data Acquisition, Power Quality, Quality Meter, Signal Conditioning. I. INTRODUÇÃO A busca pela qualidade e pelo melhor aproveitamento da energia elétrica tem sido alvo de grandes preocupações tanto por parte de estudiosos da área como por concessionárias, consumidores e setores governamentais. Isto se justifica, dentre outros motivos, pelo aumento contínuo de cargas com características especiais conectadas aos sistemas de potência e pelas exigências cada vez maiores de um bom nível para a qualidade da energia consumida. Diante disto, grupos envolvendo consumidores, concessionárias, instituições de ensino e pesquisa e órgãos responsáveis pela legislação pertinente, têm desenvolvido trabalhos no sentido de normatizar e regulamentar a chamada “Qualidade da Energia Elétrica”. Uma grande parte dos instrumentos hoje disponíveis no mercado para análise da qualidade da energia elétrica apresenta limitações de cunho financeiro (por serem “Artigo publicado na IV Conferência de Estudos em Engenharia Elétrica (IV CEEL) realizada no período de 22 a 25 de Novembro na Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia MG.” relativamente caros) ou limitações técnicas (ausência ou imperfeição na medição de algum fator de qualidade). Assim sendo, o grupo de “Qualidade e Racionalização da Energia Elétrica” da Universidade Federal de Uberlândia, através do projeto SIDAQEE (Sistema Integrado para Diagnóstico e Análise da Qualidade da Energia Elétrica) [1] [2] [3], procurou desenvolver um equipamento de tecnologia nacional, com baixo custo, englobando a análise dos principais fenômenos de qualidade, ou seja, variações de tensão de longa e curta duração, desequilíbrios, flutuações, harmônicos de tensão e corrente, etc. É neste contexto que o estudo realizado no presente artigo se insere, pois tem por meta o aperfeiçoamento da estrutura de hardware do projeto SIDAQEE, através do desenvolvimento de um novo circuito condicionador de sinais, possibilitando-se, assim, uma melhor aquisição dos sinais de tensão e corrente a serem analisados. O sistema de aquisição do SIDAQEE consiste de 4 canais para medição de tensão (através de pontas de prova) e 4 canais para corrente (através de alicates de corrente), totalizando 8 canais de entrada, sendo que estes últimos recebem, em verdade, sinais de tensão proporcionais às correntes aferidas e não diretamente os sinais de corrente. Em cada canal é realizado um condicionamento do sinal de entrada, que posteriormente os dados são enviados para um microcomputador, por meio de um cartão de aquisição PCCARD-DAS16/16-AO da Computer Boards (EUA), que, por sua vez, realiza o processamento dos dados recebidos. Por não corresponder aos objetivos deste artigo, não serão realizados maiores comentários sobre o método de transferência de dados via cartão de aquisição, assim como seu processamento no micro. A aquisição de dados do SIDAQEE é contínua, realizada numa freqüência de 7680 Hz por canal (que equivale a 128 pontos por ciclo de 60 Hz), tendo uma freqüência total de amostragem de 61440 Hz e uma resolução de 16 bits. É importante ressaltar que apesar do cartão de aquisição possuir apenas um conversor analógico/digital, não será necessário a implementação de um multiplexador de canais nesta estrutura de aquisição, porque o mesmo já se encontra presente internamente no cartão. Tem-se na figura 1, que se segue, um organograma geral da estrutura de aquisição de dados do SIDAQEE, com os 8 canais de entrada, os respectivos condicionadores de sinais, o cartão de aquisição e o microcomputador, conforme já descrito acima. um bom nível de isolação galvânica entre a rede elétrica e os circuitos eletrônicos de aquisição, além disto, a utilização deste arranjo de entrada permite que os sinais de entrada possam ser ligados tanto na configuração estrela como na delta. Fig. 1. Organograma geral da estrutura de aquisição de dados do SIDAQEE. As pontas de prova podem ser conectadas diretamente em um sistema elétrico de baixa tensão ou em um barramento de alta tensão por meio de TP’s (Transformadores de Potencial). Enquanto os alicates de corrente são sensores capazes de gerar uma tensão de saída em função da corrente existente no primário. II. CONDICIONADOR DE SINAIS PROPOSTO O circuito condicionador de sinais nesta nova proposta pode ser dividido em 3 partes: amplificador de instrumentação, filtro anti-aliasing e circuito sample/hold (amostragem/retenção). A seguir serão apresentadas de forma detalhada cada uma das 3 partes, supramencionadas, do circuito condicionador de sinais. A. Amplificador de Instrumentação O amplificador de instrumentação é a primeira etapa do condicionador de sinais, o qual consiste de um amplificador INA111/AP da Burr-Brown, apresentando como principais característica uma elevada impedância de entrada (aproximadamente 10² ? ), reduzida corrente de polarização (10pA), baixo tempo de resposta (em torno de 4µs), alta rejeição de ruído em modo comum (próximo de 106dB), reduzida tensão de offset (menor que 500µV) e tensão de suprimento variando de +/-6V à +/ -18V. Maiores informações sobre o INA111/AP podem ser encontradas na página www.burr-brown.com ou em seu data sheet. Como os sinais advindos das pontas de prova (de algumas dezenas de volts) possuem amplitudes bem maiores que aqueles gerados pelos alicates de correntes (de alguns poucos milivolts) demandou-se a adoção de diferentes circuitos de entrada para adaptação destes sinais. Essa diferenciação entre os circuitos ocorre, basicamente, pela omissão de dois resistores de entrada, que será esmiuçado a seguir. 1) Canais de Tensão – Primeiramente foi feito um duplo divisor de tensão, usando um resistor de 2,2 M? em série com um de 3,3 K? , o que nos fornece uma atenuação de cerca de 667,67 vezes. Posteriormente foi desenvolvido um estágio de amplificação deste sinal atenuado por meio do INA111/AP, conforme pode ser visto na figura 2. O elevado valor de 2,2 M? da resistência do divisor de tensão garante Fig. 2. Circuito do amplificador de instrumentação para os canais de tensão. A regulação do valor final de atenuação/amplificação é realizada pelo ajuste do potenciômetro de 10 k? , o qual varia o ganho do INA111/AP. 2) Canais de Corrente – A única diferença deste módulo para o de tensão é a ausência dos dois resistores de 2,2 M? de atenuação, devido à baixa tensão encontrada no secundário dos alicates de corrente (em torno de milivolts). O circuito do amplificador de instrumentação dos canais de corrente pode ser visto na figura 3. Fig. 3. Circuito do amplificador de instrumentação para os canais de corrente. Em relação à isolação entre a rede elétrica e os circuitos eletrônicos de aquisição nos canais de corrente, ela é dada pelos próprios alicates de corrente, uma vez que os mesmos na presença de sobrecorrentes saturam, protegendo-se, assim, os circuitos do condicionador de sinais. OBSERVAÇÕES: Estão sendo usados capacitores de 0,1 µF junto às entradas de suprimento do INA111/AP, que são para filtrar possíveis ruídos, conforme sugerido no data sheet do mesmo. A tensão de suprimento adotada para o INA11/AP é de +/-9V. Colocando-se o potenciômetro de ajuste de ganho próxima aos 8 k? de resistência, teremos um ganho para o INA111/AP de aproximadamente 7,25 vezes, dado pela equação (1) abaixo. G =1 + 50kΩ RG (1) Onde: G RG - Ganho de tensão. - Resistência de ajuste do potenciômetro. B. Filtro Anti-Aliasing Um teorema definido por Nyquist [4] estabelece que a taxa de conversão mínima de um sistema de aquisição deve ser igual à pelo menos duas vezes a freqüência da máxima componente harmônica a ser analisada. Isto garante que o sinal a ser analisado seja bem representado. Em nosso caso específico, o medidor tem que ser capaz de analisar harmônicas de 50ª ordem de 60 Hz (ou seja, 3000 Hz), conseqüentemente a taxa de amostragem segundo Nyquist deverá ser no mínimo de 6000 Hz. Contudo o SIDAQEE trabalha com uma amostragem de 7680 Hz, que representa um valor 28% acima do mínimo estabelecido. A violação deste teorema poderá produzir uma superposição ou aliasing destas freqüências “superiores” na faixa de freqüência desejada. Na prática o aliansing está sempre presente devido a ruídos ou a existência de energia do sinal fora da banda de interesse. A solução deste problema ocorre pela implementação de um filtro anti-aliasing, ou seja, um filtro passa-baixa capaz de promover atenuação para freqüências acima da freqüência de Nyquist. Em nosso caso foi projetado um filtro de configuração Butterworth passa-baixa [5], de 2 pólos, utilizando o amplificador operacional CA3140A da Intersil, o qual corresponde às expectativas do circuito. Este filtro é capaz de prover um corte no ganho de 40 dB por década a partir da freqüência de corte que será de aproximadamente 6000 Hz. O ganho de tensão do mesmo é fixo em 1,586 para que se tenha uma resposta satisfatória, conforme equação (2) abaixo. Onde: 1,586 = R1 R2 R1 +1 R2 (2) Onde: fC R C - Freqüência de corte do filtro. - Resistência do filtro. - Capacitância do filtro. Caso C = 180 nF, sendo fC = 6 kHz, teremos R = 147,4 ? , que pode ser aproximado para 150 ? (um valor de resistor comercialmente encontrado). A figura 4 apresenta o filtro anti-aliasing de configuração Butterworth passa-baixa de 2 pólos. Fig. 4. Circuito do filtro anti-aliasing. Nota-se que é colocado um potenciômetro de 10 k? entre os pinos 1, 4 e 5 para ajuste da tensão de offset do CA3140A, sendo o valor típico da mesma 2mV. Todas as informações sobre este amplificador operacional podem ser encontradas em seu data sheet ou na página www.intersil.com. C. Circuito Sample/Hold O sample/hold é a última etapa do condicionador de sinais analisado. Ele se justifica no SIDAQEE por dois motivos, primeiramente porque os conversores analógicos/digitais necessitam de um sinal de entrada estável para realizarem a conversão e, em segundo lugar, para que haja uma simultaneidade na amostragem de todos os canais, pois a digitalização ocorre em um canal por vez, conforme já dito anteriormente, contudo o circuito sample/hold é disparado simultaneamente para todos os canais, evitando-se, assim, o defasamento dos sinais de um canal para o outro. O circuito sample/hold, em questão, utiliza o integrado LF398 da National, conforme esquematizado na figura 5. - Resistor entre a saída do CA e a porta inversora. - Resistor entre a porta inversora do CA e o terra. Se R2 = 10 k?, então R1 = 5,86 k?. Utilizaremos o valor padrão mais próximo que é de 5,6 k? para se ter uma resposta maximamente plana. Este filtro anti-aliasing tem a freqüência de corte dada pela equação (3). fC = 1 2π RC (3) Fig. 5. Circuito sample/hold. Este circuito integrado possui um offset de tensão típico de 2mV que pode ser corrigido através do ajuste do potenciômetro de 1 k? colocado no pino 2, em série com o resistor de 12 k? . Já o capacitor conectado ao pino 6 tem o papel mais importante no ajuste do LF398, pois ele é responsável pelo passo de retenção (hold step) em volts e também pelo tempo de aquisição, conforme pode ser visto em seu data sheet ou na página www.national.com. Para um capacitor de 10 nF, temos um passo de retenção de 0,5 mV e um tempo de aquisição de 20 µs, que se encontram em conformidade com o projeto. O controle de disparo de sample/hold é realizado por meio do pino 8 do LF398, sendo o sinal de controle proveniente do cartão de aquisição, que não será detalhado. III. CONCLUSÕES No presente artigo foi apresentada uma nova proposta de circuito condicionador de sinais, onde procurou-se, com detalhamento de cada um de seus estágios, expor de forma clara as especificações dos diversos componentes dos circuitos constituintes, contribuindo-se, portanto, para o aperfeiçoamento do hardware do projeto SIDAQEE e para o estudo acerca da monitoração dos itens de qualidade da energia elétrica. AGRADECIMENTOS Este artigo conta com o auxílio de bolsa de mestrado financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] A. L. A. Vilaça, Uma Proposta de Instrumento para Medição da Qualidade da Energia Elétrica, Dissertação (Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Uberlândia), Uberlândia, 2001. [2] C. M. M. Queiroz, Desenvolvimento de um Instrumento para a Monitoração da Qualidade da Energia Elétrica, Dissertação (Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Uberlândia), Uberlândia, 1998. [3] E. G. Silva, Desenvolvimento de Softwares Aplicativos para Análise da Qualidade da Energia Elétrica, Dissertação (Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Uberlândia), Uberlândia, 1998. [4] A. V. Oppenheim, A. S. Willsky, Signal & Systems, Prentice Hall, 2ª Edição, New Jersey, 1997. [5] A. P. Malvino, Eletrônica Volume II, Makron Books, 4ª Edição, São Paulo, 1997. DADOS BIOGRÁFICOS Ivan Nunes Santos, nascido em 13/07/1979 em Prata-MG é engenheiro eletricista (2005) e mestrando em Engenharia Elétrica pela Universidade de Federal de Uberlândia, tendo como orientador o Prof. José Carlos de Oliveira, PhD. Arnaldo José Pereira Rosentino Junior, nascido em 08/05/1984 em Uberlândia-MG é graduando do curso de Engenharia Elétrica e aluno de iniciação científica do grupo de Qualidade de Energia Elétrica pela Universidade Federal de Uberlândia.