TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL GLÓRIA REBELO é Licenciada e Mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) e, ainda, Mestre em Sistemas Socio-organizacionais da Atividade Económica e Doutora em Sociologia Económica e das Organizações, ambos pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa (ISEG/UTL). Especialista nas áreas de Direito do Trabalho, Relações Laborais e Políticas Públicas, exerce a atividade regular de Professora Universitária e de Investigadora. Participa regularmente como conferencista em cursos de Pós-graduação e Mestrado em diversas Universidades, em encontros científicos nacionais e internacionais, e em eventos profissionais. É autora de diversos livros, nomeadamente de A responsabilidade Civil pela Informação Transmitida pela Televisão (1999), Trabalho e Igualdade – Mulheres, Teletrabalho e Trabalho a Tempo Parcial (2002), Emprego e Contratação Laboral em Portugal – Uma análise socioeconómica e jurídica (2003), Conjunturas e Tendências – Vol. 1 – Uma Visão sobre Portugal, a Europa e o Mundo (2009), Trabalho e Emprego – Actualidade e Prospectiva (2010), Conjunturas e Tendências – Vol. 2 – Uma Visão sobre Portugal, a Europa e o Mundo (2011), Trabalho e Emprego – Vol. 2 – Actualidade e Prospectiva (2012) e Estado Social e Austeridade – Textos do Tempo da Austeridade (2014). Em 2009 organizou a edição Código do Trabalho das Edições Sílabo. É, também, autora de diversos working papers, de diversos artigos publicados em revistas científicas e técnicas, revistas e jornais de grande divulgação nacional, tendo sido, entre setembro de 2005 e setembro de 2007, colunista do Jornal de Negócios e, entre janeiro de 2010 e junho de 2011, colunista do Jornal de Notícias. O desemprego a par com a proteção social encontram neste livro uma atenção especial que é totalmente adequada e que passa por uma análise não só do caso português, mas do contexto europeu. (...) um dos aspetos mais ricos do livro é esta conjugação entre emprego, crescimento, segurança social e demografia, feita através (...) dos ângulos económico, sociológico e jurídico. (...) Trata-se, em síntese de um livro de leitura obrigatória para quem queira obter mais informação e reflexão sobre a realidade portuguesa. Eduardo Paz Ferreira Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa Uma Perspetiva Socioeconómica e Jurídica Há nele uma visão panorâmica (...). São, assim, tratados os aspetos mais salientes da estrutura particular do mercado de trabalho nacional, de par com os fatores externos associados à dimensão europeia de muitos dos nossos problemas, (...) este conjunto de ensaios constitui, sem dúvida, um contributo muito relevante para o debate da problemática do emprego e da proteção social, num país em situação de dificuldade financeira e de claudicação demográfica, como é o caso de Portugal. António Monteiro Fernandes Professor Catedrático do ISCTE-IUL Uma Perspetiva Socioeconómica e Jurídica ISBN 978-972-618-789-9 9 789726 187899 R E B E L O TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL Uma Perspetiva Socioeconómica e Jurídica 494 TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL G L Ó R I A EDIÇÕES SÍLABO Aos meus filhos António, Pedro e João. «A democracia política e a democracia económica pressupoem-se reciprocamente, e as imperfeições da democracia política resultam em grande parte de não haver a social.» António Sérgio Democracia, Clássicos Sá da Costa, Lisboa, 1974: 6. TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL Uma Perspetiva Socioeconómica e Jurídica GLÓRIA REBELO EDIÇÕES SÍLABO É expressamente proibido reproduzir, no todo ou em parte, sob qualquer forma ou meio, NOMEADAMENTE FOTOCÓPIA, esta obra. As transgressões serão passíveis das penalizações previstas na legislação em vigor. Visite a Sílabo na rede www.silabo.pt Editor: Manuel Robalo FICHA TÉCNICA Título: Trabalho e Segurança Social – Uma Perspetiva Socioeconómica e Jurídica Autora: Glória Rebelo Capa: Pedro Mota 1ª Edição Lisboa, fevereiro de 2015. Impressão e acabamentos: Publidisa, Lda. Depósito Legal: 387852/15 ISBN: 978-972-618-789-9 EDIÇÕES SÍLABO, LDA. R. Cidade de Manchester, 2 1170-100 Lisboa Telf.: 218130345 Fax: 218166719 e-mail: [email protected] www.silabo.pt Índice Prefácio 11 Apresentação 15 1. Os desafios à criação de emprego «Crise dos subprimes»: uma crise à espera de resposta 17 Economia portuguesa e criação de emprego 22 Considerações finais 24 2. Emprego em Portugal: que destruição, que criação? Crise financeira internacional e destruição de emprego 27 Da reconfiguração do mercado de trabalho em Portugal 32 Considerações finais 33 3. Emprego e proteção social: por uma visão integrada das políticas públicas Introdução: crise, desemprego e pobreza 35 Emprego e envelhecimento em Portugal 40 Considerações finais 43 4. Ética e responsabilidade social nas organizações Ainda a crise financeira internacional: sua contextualização 45 Desigualdades sociais e responsabilidade social das organizações 46 Considerações finais 48 5. Sustentabilidade, emprego e inovação Sustentabilidade e emprego qualificado 51 Sustentabilidade e inovação: o caso dos polos de competitividade tecnológica 53 Considerações finais 57 6. Empreendedorismo e trabalho independente Educação, inovação e capital humano 59 Emprego, trabalho por conta de outrem e trabalho independente 61 Considerações finais 65 7. Portugal e União Europeia: dinâmicas de emprego e de desemprego Enquadramento europeu 67 Pobreza, emprego não permanente e Desemprego de Longa Duração 71 Considerações finais 74 8. Emprego e orçamento de Estado 2014 Enquadramento: demografia e segmentação do mercado de trabalho 77 Impacto da crise financeira – Desemprego de Longa Duração e «nova pobreza» 79 OE 2014 e coesão social 82 9. Crescimento sustentável e setor cooperativo Crise financeira e desigualdades 85 A resposta do cooperativismo 87 10. Políticas públicas de inovação e desenvolvimento Do reforço em investimento público em educação 93 Condições de trabalho e inovação 96 Considerações gerais 98 11. Trabalho, demografia e segurança social Um desequilíbrio demográfico 101 Da matriz sociodemográfica e um severo «inverno demográfico» 106 Considerações finais 112 12. Crescimento e emprego qualificado: o desafio pós-troika Um percurso de qualificação em Portugal 117 Austeridade, estagnação e desemprego 120 Considerações finais 126 13. Economia e justiça social A dimensão social do projeto europeu 131 Portugal: as desigualdades na educação e no trabalho 134 Considerações finais 140 14. Responsabilidade social e desenvolvimento O Ano Europeu para o Desenvolvimento: mundo, dignidade e futuro. 143 Desigualdades e responsabilidade social 145 Considerações finais 152 Prefácio É com o maior prazer que prefacio este livro da Professora Glória Rebelo que, na sua aparente leveza, abrange um conjunto de reflexões informadas, transmitidas de forma clara, reveladoras de um conhecimento aprofundado da matéria e de um empenho cívico e social raro nos dias que correm. O curriculum académico da autora que se inicia com uma licenciatura em Direito e passa por um doutoramento em Sociologia Económica – conjugação rara entre nós – ajuda em muito a sua reflexão pluridisciplinar e permite-lhe cobrir áreas variadas, mas todas elas fundamentais para o presente e o futuro de Portugal. Por outro lado, a circunstância de o livro juntar textos escritos regularmente ao longo dos últimos dois anos permite ir recordando números e factos que por vezes se esquecem, ao mesmo tempo que demonstra a coerência do pensamento da autora. Logo o primeiro texto, escrito em 2012, conserva uma extraordinária atualidade e caracteriza de forma exemplar as consequências da crise e as formas como os diferentes espaços económicos reagiram. O desemprego é, na lógica da autora, uma realidade inaceitável resultante da desregulação e globalização. No segundo texto, encontra-se, de resto, uma análise pormenorizada da situação portuguesa. A Europa aparece como especialmente incapaz de reagir em confronto com os países emergentes e com os Estados Unidos da América. O apelo à reindustrialização e à revalorização da agricultura aparece como um caminho totalmente lógico e que tardamos a encetar de forma decidida. O desemprego, a par com a proteção social encontram neste livro uma atenção especial que é totalmente adequada e que passa por uma análise não só do caso português, mas do contexto europeu. Como não admirar um livro e um trabalho que é norteado pela preocupação exaustiva de encontrar pistas para o combate ao desemprego. «Sob o efeito desta crise, os temas da competitividade, do crescimento e do emprego não podem deixar de se associar ao debate sobre o financiamento da proteção social» escreve a autora, para concluir que «há que assegurar, em simultâneo, quer ao nível do Direito do Trabalho quer ao nível da regulação da Segurança Social, condições favoráveis ao equilíbrio das finanças públicas, ao desenvolvimento e à competitividade da economia, compatíveis com o imperativo de solidariedade social» e ainda que «hoje pensar em políticas de emprego para jovens e para trabalhadores seniores exige uma visão política integrada que considere a confluência dos fenómenos demográficos, económicos (macro e micro), laborais e de proteção social». Creio que um dos aspetos mais ricos do livro é esta conjugação entre emprego, crescimento, segurança social e demografia, feita através de uma conjugação feliz dos ângulos económico, sociológico e jurídico. Para muitos leitores habituados à visão das folhas de Excel ou ao tratamento do desemprego como um puro dado estatístico, o livro constituirá uma grata surpresa por chamar a atenção para a dimensão humana do problema e por não hesitar a recorrer a pensadores como António Sérgio, seguramente muito pouco considerados na formulação estritamente técnica e matematizante imprimida aos estudos de economia nas últimas décadas. Um aspeto muitas vezes minimizado quando se considera a problemática do desemprego, mas que não escapa à atenção da autora, é a importância da ética e da responsabilidade social nesta área, sem naturalmente desvalorizar as políticas públicas, que são objeto de um outro texto especialmente interpelante, em que a autora defende o investimento em I&D e na educação como fundamentais para o futuro. Glória Rebelo vai, no entanto, mais longe e, lucidamente, defende que «...pensar estrategicamente o desenvolvimento do país não pode dissociar-se da preocupação em assegurar coesão social, o que obrigará a uma reflexão sobre soluções e boas práticas que permitam construir uma nova identidade económica capaz de estimular emprego e inovação». O grande desafio do pós-troika é assim «...assegurar uma repartição da riqueza e dos rendimentos mais justa do ponto de vista social. É aqui que surge a necessidade de debater a premência de construirmos uma sociedade mais solidária, pois esta apresenta-se cada vez mais desagregada». Especialmente relevante é o texto consagrado à demografia e à sua ligação à sustentabilidade da segurança social, dimensão que não pode ser esquecida a propósito dos problemas de emprego. Estou seguro que os leitores encontrarão especiais motivos de interesse no texto consagrado à educação e à opinião pública em que Glória Rebelo efetua o contraste entre os direitos consagrados na Constituição e a situação atual que tende a destruir muito do efeito de redistribuição e coesão social que tinha sido conseguido também por essa via. Mas especialmente apelativa é a citação de António Sérgio feita, a este propósito, «para que a opinião pública fiscalize é necessário que ela exista; e a existência de uma opinião pública legítima e eficaz depende de um sistema de Educação, de criação de uma verdadeira elite que se interesse de verdade pela coisa pública e que conheça as necessidades fundamentais da Grei – as necessidades concretas no campo económico, nos domínios da pedagogia e da assistência pública. É este o foco a que vão ter, finalmente, todos os problemas da Democracia (...).» (Ensaios, tomo I: 238). Se a reflexão geral deste livro é muito crítica das orientações gerais de política económica, a análise do Orçamento de 2014 é especialmente concreta e faz-nos esperar pela apreciação que virá seguramente a ser feita ao Orçamento de 2015. Trata-se, em síntese de um livro de leitura obrigatória para quem queira obter mais informação e reflexão sobre a realidade portuguesa. Felicito a Professora Glória Rebelo e agradeço a honra que me deu de escrever estas breves notas sobre temas que constituem interesses comuns. EDUARDO PAZ FERREIRA Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa Apresentação Duas palavras de apresentação O presente volume vem na continuidade da produção de Glória Rebelo sobre temas enquadráveis no domínio pedregoso das políticas sociais centradas no trabalho, ou na falta dele. O que diz esta jovem professora universitária merece toda a atenção de quem, de uma forma ou de outra, se interessa por tais temas – que são, em especial, os da regulação do trabalho e da gestão pública do mercado de emprego. Glória Rebelo ostenta, com efeito, galões académicos como jurista e como socióloga, sendo que, nesta última área, tem trabalhado principalmente sobre temas de sociologia económica e das organizações. Essa formação caleidoscópica forneceu-lhe um conjunto invulgarmente rico de instrumentos de análise dos problemas da gestão de recursos humanos, do emprego e desemprego, e do papel que nesses domínios desempenham ou podem desempenhar as leis do trabalho. Sobre tudo isso tem Glória Rebelo desenvolvido um pensamento muito próprio, claramente avesso a deformações ideológicas, mas penetrado por preocupações sociais reveladas em termos serenos e objetivos. Vem, de resto, publicando os resultados das suas reflexões sob formas variadas, desde o artigo de opinião em prestigiados órgãos da imprensa diária, passando por estudos inseridos em periódicos científicos, até ao volume de ensaios, como o que agora surge à luz do dia. Este livro centra-se na conjugação dos fatores, de muito diversa natureza, que condicionam, em Portugal, de forma direta ou indireta, a destruição e a criação de emprego. Há nele uma visão panorâmica que reclama o uso de óticas diferenciadas. São, assim, tratados os aspetos mais salientes da estrutura particular do mercado de trabalho nacional, de par com os fatores externos associados à dimensão europeia de muitos dos nossos problemas, as exigências imperiosas de qualificação da população ativa e os imperativos da inovação e da competitividade tecnológica, que, afinal, por via do crescimento, condicionam tudo o resto. Assente em bases estatísticas abundantes e atualizadas, e redigido sob manifesta preocupação de validade pedagógica – que não é de estranhar numa docente universitária militante –, este conjunto de ensaios constitui, sem dúvida, um contributo muito relevante para o debate da problemática do emprego e da proteção social, num país em situação de dificuldade financeira e de claudicação demográfica, como é o caso de Portugal. ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES Professor Catedrático do ISCTE-IUL 1 OS DESAFIOS À CRIAÇÃO DE EMPREGO Publicado no Cadernos de Economia n.º 100, jul./set. 2012, Ordem dos Economistas: 32-36. «Crise dos subprimes»: uma crise à espera de resposta O mês de agosto de 2007 ficará certamente na História como o mês em que o mundo assistiu à maior turbulência financeira internacional (iniciando aquela que viria a ser a «Crise dos subprimes») desde o crash de Nova Iorque de 1929 e da Grande Depressão dos anos 1930. Há muito que o mundo não conhecia uma crise – financeira, económica e social – de tamanha gravidade e dimensão. Com o seu epicentro nos EUA (recorde-se a falência, em setembro de 2008, de um dos maiores bancos de Wall Street, o Lehman Brothers) a súbita demonstração de enorme fragilidade do sistema bancário veio exigir, como se sabe, a intervenção de Estados e de bancos centrais. Deste modo, esta «crise de subprimes» rapidamente se transformou na denominada «crise das dívidas soberanas». E, desta feita, com a sua centralidade na Europa. Os programas de resposta a esta crise do sistema bancário (e à crise económica subsequente) forçaram a generalidade dos países europeus a conceber programas específicos destinados a minimizar os seus efeitos económicos e sociais, com significativas repercussões ao nível da despesa pública. 18 Trabalho e Segurança Social E, volvidos mais de cinco anos desde o início desta crise, há questões que não podem deixar de nos interpelar. Como, por exemplo, pode o sistema capitalista financeiro prosseguir desregulado, como tem acontecido desde os anos 1980? A verdade é que se constata que esta crise financeira, além de desencadear um aumento acentuado de falências de empresas e de desemprego nos países mais vulneráveis à crise – em especial os do sul da Europa – tem vindo, igualmente, o que é muito grave, a originar um manifesto empobrecimento das classes médias e a acentuar as desigualdades sociais, fazendo perigar a ideia de coesão social. Por outro lado – tal como se vem constatando no plano internacional – à medida que a generalidade dos países europeus planeia estrategicamente responder, no plano económico, a esta crise (em especial aos problemas do fraco crescimento económico e do aumento de desemprego) cresce, na maioria dos países europeus, uma lógica de protecionismo económico. Da Alemanha à França, passando pelo Reino Unido, as economias europeias mais fortes procuram redirecionar o crescimento económico para território nacional preocupando-se, simultaneamente, com a manutenção (e criação) de emprego e com o fortalecimento dos setores produtivos das suas economias, em particular o agrícola e o industrial.1 Em França parece evidente a preocupação em fortalecer a indústria química, mecânica (vide os bens de equipamento) e a metalurgia, tendo o grupo siderúrgico ArcelorMittal anunciado recentemente um volume de inves(1) Razão pela qual, por exemplo, a agência Fitch manteve, recentemente, a notação de «triplo A» para a dívida a longo prazo da Alemanha, sublinhando que – contrariando o movimento de abrandamento da economia mundial e de crise da Zona Euro – este país regista um forte desempenho económico, a par de um défice público moderado e de taxas de juro nominais baixas (de registar igualmente que o excedente comercial da Alemanha atingiu os 93,3 mil milhões de euros no primeiro semestre deste ano). Os Desafios à Criação de Emprego 19 timentos consideráveis; na Alemanha recentemente, doze grandes empresas – entre as quais da indústria química (BASF, Bayer, Wacker), do automóvel (BMW, Daimler) e da siderurgia (Thyssenkrupp, Stahl-holding-saar) – anunciaram a sua associação para efeitos de planeamento de atividades comerciais futuras1; também no Reino Unido – país particularmente afetado pela crise em razão da sua exposição ao setor financeiro – o desafio de regresso ao setor industrial é evidente, principalmente através do fortalecimento da indústria automóvel, sendo que, desde 2008, o setor vem progredindo significativamente ao nível das exportações (estimuladas pela desvalorização da libra) e da criação de emprego.2 A verdade é que, consequência da concorrência dos países emergentes, o grande impacto desta crise foi a destruição massiva de emprego ocorrida nos países europeus. De facto, e depois das «deslocalizações» verificadas para os países emergentes desde o início deste século (que explicam, em grande parte, a destruição de emprego na indústria),3 esta crise internacional veio acentuar muito a destruição de emprego (sobretudo do movimento de desindustrialização, devido ao encerramento de muitos estabelecimentos industriais, iniciado na década de 1970 com os primeiros choques petrolíferos mas mais marcado desde 2007), razão pela qual, um pouco por toda a Europa, se procura agora reverter os efeitos desta situação através de uma manifesta aposta no desenvolvimento económico setorial (em diálogo com os sindicatos), na (1) Estando este conjunto de empresas alemãs assessoradas (em termos de participação em projetos internacionais) designadamente pela Boston Consulting Group, Egon Zehnder e Pricewaterhousecoopers. (2) Se a quase-totalidade do setor está controlada por estrangeiros – entre outros, os japoneses da Nissan, da Toyota e da Honda, os indianos da Tata e os alemães da BMW – isso não impede que novos investimentos se desenvolvam no Reino Unido criando milhares de novos empregos. (3) Por exemplo, em Portugal aumentou significativamente a taxa de mortalidade das empresas e, de 2007 a 2011, Portugal foi o país da Zona Euro com maior taxa de mortalidade de empresas, sendo o comércio um dos setores mais atingidos. 20 Trabalho e Segurança Social atração de investimento (nacional e estrangeiro), no incremento da inovação, e no reforço das exportações. Nos EUA os dados do desemprego divulgados em agosto deste ano mostram, por um lado, que a economia norte-americana está a criar emprego (163.000 empregos em julho, os dados mais significativos dos últimos cinco meses) e, por outro, que tem existido uma forte progressão do emprego industrial, desempenho que testemunha um movimento profundo: a reindustrialização do país. Para muitos especialistas o essencial do crescimento americano deve-se sobretudo a um regresso a uma aposta nos setores produtivos e a uma progressão do mercado de trabalho devido à criação de emprego na indústria, movimento contrário ao que pudemos observar no passado sendo que, no atual ciclo, o setor dos serviços pouco tem contribuído para a criação de emprego. Este relançamento da indústria norte-americana explica-se de diversas formas: desde logo, pelo esforço da Administração Obama em incrementar as exportações; depois, pela aposta feita em certos setores da economia, como o da energia; e, por fim, porque há um movimento empresarial – estimulado pela imprensa norte-americana – que vai repatriando agora para os EUA, o emprego outrora transferido para os países com custos salariais mais baixos. Mas esta crise não tem afetado do mesmo modo as diversas regiões e países do mundo. A denominada «crise das dívidas soberanas» desenvolveu-se, sobretudo, nos países da Europa meridional, com forte impacto nas economias, conduzindo inclusive à recessão. Neste ambiente, a luta contra a desindustrialização – consequência direta da perda de competitividade destas empresas nos países do sul da Europa – tornou-se um dos problemas centrais de Portugal, Espanha, Grécia e Itália. Daí que, há um ano, aquando da tomada de posse, Mario Monti tenha feito um forte apelo ao desenvolvimento industrial do país, designadamente no TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL GLÓRIA REBELO é Licenciada e Mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) e, ainda, Mestre em Sistemas Socio-organizacionais da Atividade Económica e Doutora em Sociologia Económica e das Organizações, ambos pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa (ISEG/UTL). Especialista nas áreas de Direito do Trabalho, Relações Laborais e Políticas Públicas, exerce a atividade regular de Professora Universitária e de Investigadora. Participa regularmente como conferencista em cursos de Pós-graduação e Mestrado em diversas Universidades, em encontros científicos nacionais e internacionais, e em eventos profissionais. É autora de diversos livros, nomeadamente de A responsabilidade Civil pela Informação Transmitida pela Televisão (1999), Trabalho e Igualdade – Mulheres, Teletrabalho e Trabalho a Tempo Parcial (2002), Emprego e Contratação Laboral em Portugal – Uma análise socioeconómica e jurídica (2003), Conjunturas e Tendências – Vol. 1 – Uma Visão sobre Portugal, a Europa e o Mundo (2009), Trabalho e Emprego – Actualidade e Prospectiva (2010), Conjunturas e Tendências – Vol. 2 – Uma Visão sobre Portugal, a Europa e o Mundo (2011), Trabalho e Emprego – Vol. 2 – Actualidade e Prospectiva (2012) e Estado Social e Austeridade – Textos do Tempo da Austeridade (2014). Em 2009 organizou a edição Código do Trabalho das Edições Sílabo. É, também, autora de diversos working papers, de diversos artigos publicados em revistas científicas e técnicas, revistas e jornais de grande divulgação nacional, tendo sido, entre setembro de 2005 e setembro de 2007, colunista do Jornal de Negócios e, entre janeiro de 2010 e junho de 2011, colunista do Jornal de Notícias. O desemprego a par com a proteção social encontram neste livro uma atenção especial que é totalmente adequada e que passa por uma análise não só do caso português, mas do contexto europeu. (...) um dos aspetos mais ricos do livro é esta conjugação entre emprego, crescimento, segurança social e demografia, feita através (...) dos ângulos económico, sociológico e jurídico. (...) Trata-se, em síntese de um livro de leitura obrigatória para quem queira obter mais informação e reflexão sobre a realidade portuguesa. Eduardo Paz Ferreira Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa Uma Perspetiva Socioeconómica e Jurídica Há nele uma visão panorâmica (...). São, assim, tratados os aspetos mais salientes da estrutura particular do mercado de trabalho nacional, de par com os fatores externos associados à dimensão europeia de muitos dos nossos problemas, (...) este conjunto de ensaios constitui, sem dúvida, um contributo muito relevante para o debate da problemática do emprego e da proteção social, num país em situação de dificuldade financeira e de claudicação demográfica, como é o caso de Portugal. António Monteiro Fernandes Professor Catedrático do ISCTE-IUL Uma Perspetiva Socioeconómica e Jurídica ISBN 978-972-618-789-9 9 789726 187899 R E B E L O TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL Uma Perspetiva Socioeconómica e Jurídica 494 TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL G L Ó R I A EDIÇÕES SÍLABO