COLECÇÃO RELER ÁFRICA Título: O Antigo e o Moderno. A produção do saber na África de hoje Organizador: Paulin J. Hountondji Resumo: Como é que se articulam, em África, no domínio do saber e do saber-fazer, e tendo como referência as normas que presidem à acção, o antigo e o moderno? O que é que sabíamos ontem e como é que o sabíamos? O que é que sabíamos fazer? Que sabemos hoje e como o sabemos fazer? Que relação existe entre estes saberes e saberes-fazer de hoje e os de outrora? Qual era ontem e qual é hoje a parte de mito que existe naquilo que julgamos saber? E como é que vamos definir, em cada caso, o núcleo duro de conhecimentos sólidos e universalmente válidos? Que procedimentos, que métodos de validação, que formas de demonstração e de prova justificavam as nossas certezas de ontem? E que procedimentos e métodos são o fundamento das nossas crenças de hoje? Em ligação com estes saberes, que princípios e que regras é que regem o nosso comportamento individual e social, e que normas presidem, hoje, às nossas acções nas esferas da ética e da política? Que direitos e que deveres é que admitíamos enquanto seres humanos, enquanto mulheres, enquanto crianças, enquanto povos ou nações, e que consciência temos hoje desses direitos e deveres? Qual é o impacto daquilo que se chama hoje mundialização sobre a evolução do saber, do saber-fazer e dessa consciência dos direitos e dos deveres? Enfim, como é que se transmitiam, noutros tempos, e como é que se transmitem agora, de uma geração para outra, esses saberes, saberesfazer e normas? Que efeitos específicos induzem um modo de transmissão massivamente oral, como o que prevalecia, ainda há bem pouco, em África, e um modo de transmissão que, pelo contrário, utiliza massivamente os recursos da escrita? Para estas questões, e outras ligadas, o presente trabalho vem contribuir com alguns elementos que servirão de resposta... [sendo que]... Uma das tarefas mais urgentes parece, então, consistir em desmarginalizar os saberes ditos tradicionais, em os desencravar, em os recuperar de maneira crítica e responsável, integrando-os no movimento da “investigação viva”. Paulin J. Hountondji Nota biográfica: PAULIN J. HOUNTONDJI nasceu em Abidjan, Côte d’lvoire, a 11 de Abril de 1942. Estudou Filosofia na École Normale Supérieure, em Paris, tendo concluído o seu doutoramento em 1970 com uma tese sobre Edmund Husserl. Leccionou em França e na República do Congo, tendo mais tarde ingressado na National University of Benim, em Cotonou, onde permanece como professor de Filosofia. Durante alguns anos, Houtondji suspendeu as suas actividades académicas e ingressou na vida política, destacando-se como uma das mais duras e críticas vozes contra o regime ditatorial que vigorou no seu país. Através do seu intenso activismo político acabou por estar profundamente envolvido na restauração da democracia no Benim, em 1992, tendo servido o Governo democrático do seu país como ministro da educação e como ministro da cultura e das comunicações. Em 1994 abandonou as suas funções e regressou à vida académica. Leccionou na University of Lousville, nos EUA, onde teve a posição de Bingham Professor of Humanities, e é actualmente o Director do Centro Avançado de Estudos Africanos, em Porto-Novo. Ao longo da sua vasta e profícua carreira Houtondji destacou-se como filósofo, académico e político, sendo reconhecido como um dos mais importantes pensadores africanos da actualidade. Título: A Invenção de África. Gnose, Filosofia e a Ordem do Conhecimento Autor: V. Y. Mudimbe Resumo: Que significado tem hoje África e o que significa ser africano? O que pode ser considerado filosofia africana e o que não pode? A filosofia é parte do “Africanismo”? Estas são algumas das questões fundamentais tratadas neste livro. V. Y. Mudimbe argumenta que vários discursos estabelecem por si próprios os universos do conhecimento no seio dos quais as pessoas concebem a sua identidade. Os antropólogos e os missionários ocidentais introduziram distorções cuja influência se fez sentir não apenas nos estrangeiros, mas também nos africanos, à medida que procuraram compreender-se a si próprios. Mudimbe vai para além das questões clássicas em torno da antropologia e da história africanas. O seu livro, argumenta o autor, procura uma “arqueologia da Gnose africana enquanto sistema de conhecimento no seio do qual emergiram recentemente importantes questões filosóficas: em primeiro lugar, no que diz respeito à forma, ao conteúdo e ao estilo da ‘africanização’ do conhecimento; em segundo lugar, no que concerne ao estatuto dos sistemas de conhecimento tradicionais”. O autor centra-se particularmente nos processos de transformação dos diversos tipos de conhecimento. O trabalho de Mudimbe... alcança a ‘descolonização’ do conhecimento académico africano... Este estudo altamente sofisticado, inovador e estimulante exige a atenção de qualquer académico. Bogumil Jewsiewicki Universidade de Laval, Canadá. Nota biográfica: V. Y. MUDIMBE nasceu em 1941 em Jadotville, no antigo Congo Belga, hoje República Democrática do Congo. Foi seminarista durante a juventude, mas afastou-se para se dedicar ao estudo das forças que enformaram a história africana. Professor, filósofo e autor de uma vasta bibliografia sobre a história e cultura africana, Mudimbe obteve o seu doutoramento em filosofia pela Catholic University of Louvain, em 1970. Em 1997 recebeu o Doutoramento Honoris Causa pela Université Paris VII Diderot e, em 2006, recebeu a mesma distinção pela Katholiene Universiteit Leuven. Foi professor nas universidades de Paris-Nanterre, Zaire, Stanford, e ainda no Haveford College. Ocupa actualmente a prestigiada posição de Newman Ivey Professor of Literature, na Duke University. Mudimbe é ainda o autor de uma extensa produção poética, vários romances e de várias obras no campo da linguística aplicada. Durante a sua longa carreira, em que os seus principais interesses se situaram sempre no campo da fenomenologia e do estruturalismo, V. Y. Mudimbe foi o presidente do Board of African Philosophy e do International African Institute (SOAS, University of London), tendo-se também tornado membro honorário da Académie Royale des Sciences d’Outre Mer (Bélgica), da Societé Américaine de Philosophie de Langue Française, da Society for Phenomenology and Existential Philosophy e, ainda, do World Institute for Advanced Phenomenological Research and Learning. V. Y. Mudimbe é, incontornavelmente, um dos grandes pensadores africanos do século XX. Título: Sociologia das Brazzavilles Negras Autor: Georges Balandier Resumo: Esta investigação reconsiderada, várias décadas depois, encontra-se hoje clarificada pelo futuro das Brazzavilles negras e pelo movimento ulterior das ciências sociais. Este fez mais do que confirmar a pertinência da escolha da nova cidade “exótica”, local de investigações e de produção de novas formas sociais, culturais e políticas, como objecto de investigação total. Ele provocou uma exploração nova e uma aplicação generalizada da abordagem, com a constituição de uma antropologia urbana. Permitiu-me, no meu primeiro impulso, utilizar o modo de leitura antropológica na descodificação das figuras e problemas da modernidade, incluindo os que são os nossos. Georges Balandier No início dos anos de 1960, as cidades africanas sentiam ainda a sua “Brazzaville negra”. A modernidade descolonizadora acabava apenas de se instalar: nenhuma discrepância se insinuava entre o leitor, a sua leitura e o que ele sabia da atmosfera urbana do continente negro... Porém, a África negra estava próxima. A cidade acessível, toda ela submissa à orelha e ao olho do viajante, do investigador, conservava uma evidência de tamanho humano. Neste período de optimismo histórico, de libertação nacional e cultural, de agitação política, a teoria de G. Balandier fazia maravilhas. O sentido da história, o sentido da vida, o sentido do método científico eram um só.... O olhar que lança G. Balandier sobre a cidade africana é então um olhar criador e fundador. [Ele] não envelheceu porque excluiu à partida as referências teóricas e metodológicas que permitiriam datá-lo e envelhecê-lo. Jean Copans Nota biográfica: GEORGES BALANDIER nasceu em 1920 em Aillevillers-et-Lyaumont, França. Estudou filosofia na juventude. Porém, a guerra e a ocupação fizeram-no juntar-se à resistência e, desde logo, conduziram-no a um intenso activismo político. A partir dessas vivências, e no ambiente de efervescência intelectual que se seguiu à libertação, aproxima-se de Michel Leiris e desenvolve esforços para definir uma política colonial alternativa. Acaba por desenvolver a sua carreira académica e científica como antropólogo, etnólogo e sociólogo. Foi um dos primeiros investigadores a dedicar atenção ao estudo das mutações das sociedades africanas no contexto do desenvolvimento contemporâneo. Foi durante muitos anos o editor dos prestigiados Cahiers Internationaux de Sociologie (anteriormente dirigidos por Georges Gurvitch) e coordenou a importante colecção da PUF Sociologie d’Aujourd’hui. Actualmente é professor emeritus na Sorbonne (Université René Descartes, Paris-V), onde inaugurou, em 1962 a cátedra de Sociologia Africana. É membro do Centre d’Études Africaines, na École Pratique des Hautes Études. Fundou, com Michel Maffesoli, o Centre d’Études Sur l’Actuel e le Quotidien. Trabalhou com Alfred Sauvy a quem é atribuído o cunho da expressão “Terceiro Mundo”. Intelectual de renome, Balandier contribuiu de forma decisiva, com a sua Sociologia das Brazzavilles Negras, para uma mudança de perspectiva nos chamados Estudos Africanos, tanto no plano teórico, como metodológico. Título: Restituir a História às Sociedades Africanas. Promover as Ciências Sociais na África Negra Autor: Jean-Marc Ela Resumo: O continente africano suscitou numerosas investigações desde o final do século XIX. No entanto, poucos trabalhos de campo abordaram as transformações das sociedades africanas. Se quisermos tirar o continente negro do museu dos conhecimentos europeus, é necessário promover, no seio das universidades africanas, um ensino das ciências sociais que assuma o peso do presente, com as tensões e os conflitos, as crises e as mudanças que se impõem à observação do cientista social. Quer sejam sociólogos, antropólogos, historiadores ou políticos, etc., os investigadores indígenas têm um grande papel a desempenhar quanto à redefinição da África no sistema-mundo. Indo ao encontro do seu povo nos seus lugares de invenção, eles ajudam a restituir a História aos Africanos. Através do estudo do quotidiano e do actual, eles permitem-lhe que “se pense” e que progrida. No momento em que a África constitui um desafio do conhecimento, o autor defende um empenhamento e um restabelecimento dos saberes. Ele desenha um projecto concreto de implantação de estruturas pedagógicas a partir do humano, como matéria-prima, e das realidades sócio-económicas dos países africanos. Nota biográfica: JEAN MARC-ELA nasceu em 1936, em Ebolowa, nos Camarões. Sociólogo de renome, Estudou em França, na Universidade de Estrasburgo e na Universidade de Paris –Sorbonne, tendo obtido o seu doutoramento no campo das Ciências Sociais. Estudou teologia e tornou-se padre. Foi autor de uma extensa produção bibliográfica no campo da Teologia, da Filosofia e das Ciências Sociais em África. O seu livro mais aclamado, African Cry, foi internacionalmente descrito como a mais sólida ilustração do espírito da “teologia da libertação” na África Sub-Sahariana. Os seus trabalhos são amplamente citados como exemplo da teologia cristã na África Sub-Sahariana, devido ao seu enfoque na necessidade de contextualização do Cristianismo e a sua ênfase em abordagens teológicas centradas na comunidade. Jean-Marc Ela foi professor convidado na Universidade Católica de Louvain-laNeuve (Bélgica) e trabalhou intensamente na promoção de inúmeras conferências em sociologia na Universidade do Yaoundé I, nos Camarões. Durante a sua longa carreira como sociólogo, Ela preocupou-se com a necessidade de promover as Ciências Sociais em África e de os investigadores e académicos africanos assumirem um forte sentido de responsabilidade social na compreensão das sociedades africanas pós-coloniais, numa perspectiva interdisiciplinar e plurimetodológica. Veio a falecer em 2008, tendo sido sepultado nos Camarões, na localidade em que nasceu, Ebolowa.