Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA: A METAMORFOSE NO VOCÁBULO “MENINA” Silmara Silveira Lemes Sampaio de Queiróz (PPGL-UEMS) 1 [email protected] Elza Sabino da Silva Bueno (UEMS)2 [email protected] RESUMO: Este artigo tem por objetivo discutir conceitos de variação e diversidade linguística, abordados na oralidade em situações informais de fala e os contextos sociais em que ocorrem. Bright (1966) deixa claro que “essas dimensões não se excluem mutuamente, mas se interseccionam para condicionar um tipo específico de comportamento linguístico”. Essas discussões sociolinguísticas ao lado de outros motivos dão origem a novas considerações sobre a oralidade, concebida não apenas como uma manifestação linguística, mas uma modalidade de uso da língua como uma prática social, uma atividade dos falantes frente a novos desafios que nos permitem analisar as diferenças linguísticas não apenas em âmbito local, regional e nacional. O estudo do vocábulo foi representativo para a identificação da variável e nos leva a crer que as manifestações da língua com suas linguagens, identificam a diversidade e a heterogeneidade linguístico-cultural dos falantes que a utilizam como meio de comunicação. Cabe salientar que o presente estudo colabora para avanços científicos no conhecimento da Língua Portuguesa, especialmente, ao abordar o fenômeno em questão. É fundamental realizar pesquisas dessa natureza e trazer os seus resultados para a realidade da sala de aula. Para mostrar a heterogeneidade linguística e seus usos da língua (escrita e falada), em diferentes situações de interação no cotidiano e outros, confrontando, desse modo, as diversas variedades presentes na localidade, e combatendo preconceitos (Bagno, 2002). PALAVRAS – CHAVE: Diversidade linguística; Mudança linguística; Variáveis; Prática social. ABSTRACT: This article aims to discuss concepts of variation and linguistic diversity, addressed in oral speech in informal situations and social contexts in which they occur. Bright (1966) makes clear that "these dimensions are not mutually exclusive, but intersect to condition a specific type of linguistic behavior". These sociolinguistic discussions alongside other reasons give rise to new considerations about orality, designed not only as a linguistic expression, but a language usage modality as a social practice, an activity of the speakers facing new challenges that allow us to analyze the linguistic differences not only in local, regional and national levels. The study was representative of the term to identify the variable and leads us to believe that the manifestations of language with its languages, identify the diversity and linguistic-cultural heterogeneity of the speakers who use it as a means of communication. It should be noted that this study contributes to scientific advances in the knowledge of the Portuguese language, especially when addressing the phenomenon in question. It is essential to conduct research of this nature and bring the results to the reality of the classroom. To show linguistic heterogeneity and its language uses (written and spoken) in different situations of interaction in daily life and others, confronting thus the different varieties in the locality, and combating prejudices (Bagno, 2002). 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS, Área de concentração: Linguagem: língua e literatura e Linha de Pesquisa: Produção de Texto Oral e Escrito. 2 . Doutora em Letras pela UNESP/Assis-SP - Docente da Graduação e da Pós-Graduação em Letras na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras da UEMS. 299 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES KEYWORDS: Linguistic diversity; Linguistic change; Variables; Social practice. Introdução As variações linguísticas podem ser entendidas por meio da sua história no tempo (variação histórica) e no espaço (variação regional). Assim, além do português padrão, há outras variedades de uso da língua cujos traços mais comuns podem ser evidenciados em situações informais de fala, em que fica claro o fenômeno da mescla linguística existente no português do Brasil. Essa proposta de discussão sobre a diversidade linguística visa levar ao conhecimento do falante o uso da língua materna na sua modalidade oral. Os termos “variação linguística” e/ou “diversidade linguística” introduzidos na literatura principalmente a partir da década de 60 vieram desde o princípio, ampliar dimensão dos aspectos da linguagem pela inclusão dos aspectos sociais relacionados às atividades linguística e social dos falantes, em situações reais de comunicação. Diferentemente do que ainda se pensa, nessa ampliação, os aspectos sociais em gerais, não foram apenas somados ou justapostos aos aspectos linguísticos. Foram integrados de tal forma a se acreditar que uma ação linguística só tenha realidade se pensada nessa dimensão mais ampla do linguístico e social. Essa ampliação teve como resultado imediato o impacto e a perspectiva de mudanças positivas nos estudos linguísticos e sociolinguísticos, pelo fato de a variação ou diversidade linguística, enquanto conceito que envolve aspectos linguísticos e sociais, permitir uma nova visão da dimensão linguística em todos os seus níveis de estudo e, como a decorrência, possibilitar o vislumbramento de possíveis respostas para investigações e atuações dos aspectos linguísticos cujo alcance estaria mais na ordem do social do que do linguístico. Conforme salienta: Se as relações comunicativas representam um aspecto das relações sociais, segue-se que os respectivos indivíduos em comunicação se tornam constantemente parceiros (reais ou potenciais) de comunicação, na medida em que formam uma unidade social que, por sua vez, deve sua existência essencialmente à comunicação linguística. Se analisarmos, então, os diferentes grupos sociais, classes e níveis, sob a ótica de suas relações comunicativas, poderão interpretá-los como um sistema de diferentes comunidades de fala que 300 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES se sobrepõem umas às outras. As comunidades de fala, portanto, correspondem às unidades dos diversos níveis estruturais da sociedade; elas apenas realçam seu aspecto comunicativo. (MONTEIRO apud DITTMAR 2008, p.42): A perspectiva de mudança nos estudos linguísticos e sociolinguísticos decorrente desses conceitos vem por conta da viabilidade de sua operacionalização, seja no processo de investigação dos aspectos linguísticos, seja no processo de sua aplicação pedagógica ou outra, uma vez que, com o surgimento da sociolinguística, na década de 60, rompe-se com uma tradição normativa de ver a língua apenas do ponto de vista da modalidade padrão da língua e passa-se a considerar também, a modalidade de fala trazida para a escola pelo aluno oriundo de meios sociais menos favorecidos, (BAGNO 2007). Viabilidade que se torna plausível pela aproximação do fato linguístico com sua realidade social. As integrações dos aspectos linguísticos e sociais, nesse sentido, sempre decorrerão da implicação na ordem teórica do pressuposto de que nenhuma ação linguística terá exequibilidade fora da dimensão social. Como por exemplo, avaliações de desempenhos dos falantes feitos à revelia do contexto social. Dai por que não tem sentido avaliar, por exemplo, a fala de alguém, como fala errada, feia, incorreta, seja por conta de alguma “dificuldade particular” do falante, seja por falta de um grau mínimo de escolarização do falante ou outra justificativa. Considerando que pessoas com nível de escolaridade mais avançado se expressam de forma diferente, uma vez que têm um conhecimento mais aprofundado do sistema linguístico da língua, além de sabê-la adequar às diferentes situações de uso, (VOTRE apud MOLLICA e BRAGA 2003). Desse modo, vale ressaltar que nosso trabalho tem como sustentação teóricometodológica a Sociolinguística variacionista, cujo princípio básico é levar em conta a relação entre língua e sociedade e o seu uso pela falante. Conforme (TARALLO 2007, p.19) “a língua falada está totalmente inserida e interligada a sociedade. Não há sociedade sem língua e nem língua sem uma sociedade para que esta se manifeste”. 301 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES É inegável as diferenças que existem dentro de uma mesma comunidade de fala. A partir de um ponto qualquer vão se assinalando diferenças á medida que se avança no espaço geográfico. O que equivale dizer que a fala de alguém sempre depende das condições sociais em que vive ou com os quais se relaciona no seu dia-a-dia. Por isso para avaliar ou conhecer qualquer fala, seja de que falante for, é necessário conhecer as condições sociais de sua fala. Em consonância com tal afirmação (CALVET, 2002, pag.12) diz que “as línguas não existem sem as pessoas que as falam, e a história de uma língua é a história de seus falantes”. Ora, se para conhecer a historia dos falantes nós necessitamos da língua, e a historia do falante reflete sua cultura e a cultura da comunidade, não podemos fazer um estudo linguístico sem pensar a interseção entre língua, sociedade e cultura. A língua impõe a seus falantes uma visão de mundo que condiciona os comportamentos psíquicos e sociais dos indivíduos. Contudo, a capacidade humana de transformar o meio social e de explorar a natureza conduz o tempo todo a uma nova realidade social, que obriga o homem a uma nova visão de mundo, levando a novos recortes, novas apreensões e novos tratamentos do continuum dos dados da experiência, o que força a língua a mudar para poder continuar dando conta da realidade natural e social e servindo de instrumento da comunicação e do pensamento humanos. Essas ideias assim são sintetizadas: a linguagem determina a forma de ver o mundo e, consequentemente, de se relacionar com esse mundo (hipótese do determinismo linguístico); isso significa que para diferentes línguas há diferentes perspectivas e diferentes comportamentos (hipótese do relativismo linguístico). (SAPIR – WHORF, 1969, p.74) É interessante destacar que, para o autor tanto a língua como a cultura (realidade social) é passível de modificações; é da natureza da linguagem a mudança, visto que “não há nada perfeitamente estático” e a deriva geral de uma língua tem fundo variável. Entretanto, existe um paradoxo: que embora ambas estejam sujeitas a mudanças, essas 302 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES se dão em velocidades diferentes - a língua se modifica mais lentamente, pois um sistema gramatical, no que depende dele próprio, tende a persistir indefinidamente. A tendência conservadora se faz sentir muito mais, profundamente, nos lineamentos essenciais da língua do que da cultura, propriamente, dita. As consequências disso são que as culturas não poderão ser sempre simbolizadas pela linguagem, conforme a passagem do tempo, e que será muito mais fácil simbolizar a cultura no passado do que a do momento atual. A língua precisa adaptar-se, constantemente, às necessidades comunicativas da comunidade falante. Se não mudasse, isto é, se não se adaptasse a uma realidade social sempre nova, em pouco tempo a língua estaria, divorciada da sociedade a que deveria servir. Diante disso, podemos dizer que a língua evolui porque funciona e funciona porque evolui, é o uso da linguagem que produz sua mudança e é esse permanente mudar que garante a continuidade de seu funcionamento, para atender às necessidades dos falantes no processo da comunicação linguística (BUENO e MACHADO, 2014). No entanto, a língua é uma instituição herdada de gerações anteriores e não um contrato firmado entre os falantes no presente. Ela é produtora e produto da cultura, a diversidade cultural em todos os seus aspectos é a causa da sua diversidade linguística e cultural, cujo objetivo é facilitar a interação comunicativa entre os membros de uma determina comunidade linguística. O Brasil é o país da miscigenação, que também está presente em nossa língua, pois não falemos de uma única forma, há uma mistura e diversas maneiras possíveis de se comunicar, diante disso é impossível querer que cada um fale a língua portuguesa sem a variação. (BORTONI-RICARDO, 2004) a variação “fenômeno inerente a toda língua natural, em qualquer comunidade de fala, inclusive as monolíngues” deveria ser encarada com mais naturalidade. No entanto o que se vê diariamente nas escolas brasileiras é o ensino de uma língua homogênea, sem considerar o repertório linguístico do aluno, descontextualizado. 303 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES Por se basear em uma visão tradicional da língua, esse fator causa uma indevida exclusão do diferente, que é certo, e que traz inúmeras consequências para os falantes que por um motivo ou outro só dominam as variantes estigmatizadas e diante disso deixam de se relacionar ou falar em publico, por não acharem que sabem falar corretamente, quando na verdade não sabem usar as regras que são impostas pela gramatica normativa, o que é bem diferente de não saber falar, o que eles não dominam é a língua de prestigio imposta como única e correta pela classe dominante que detém o poder politico, econômico e cultural. É importante que se entenda que a variação linguística não deve ser tratada como erro, e sim como uma forma diferente de falar com o mesmo significado. TARALLO (2007, p. 08) afirma que são “diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto, e com o mesmo valor de verdade” já que podemos variar nossa maneira de falar de acordo com a situação em que nos encontramos essa forma de adequarmos a nossa fala às circunstâncias comunicativas (LEMLE, 1978). Em um país com uma extensão territorial tão grande como o Brasil é inadmissível a exigência de uma única forma de falar o português, uma vez que cada região possui suas peculiaridades. A língua não é una, ou seja, nós não falamos da mesma maneira e na mesma sintonia das demais regiões, cada região do país tem a sua maneira característica de falar. De acordo com (BAGNO 2002, p.71-72): Já é mais do que comprovado que, do ponto de vista exclusivamente científico, não existe erro em língua, o que existe é variação e mudança e a variação e a mudança não são “acidentes de percurso”, muito pelo contrário, elas são constitutivas da natureza mesma de todas as línguas humanas vivas. A falta de respeito a essas diferenças gera o preconceito linguístico, mesmo que inconsciente, pois é um julgamento de valor que menospreza a língua do outro e, consequentemente, humilha-se a língua e a cultura de toda uma comunidade de falantes. Desvalorizando a língua, não valorizamos o indivíduo, tampouco sua identidade e a sua forma de ver o mundo ao seu entorno. 304 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES Variação/diversidade linguística A partir do momento em que as manifestações na fala se fundamentam nos aspectos linguísticos e sociais, pode-se argumentar que se alguém fala desse ou de outro jeito, a motivação para tal fato estaria também na ordem social, ou a ela também relacionada. Por sua vez, a preocupação passaria do eixo de análise do individual ou da ordem do linguístico exclusivo para a consideração das condições sociais e linguísticas relacionadas com o falante, para fundamentar critérios de uso da diversidade de formas linguísticas ou de fala. Ou seja, nesse caso específico de análise ou avaliação da fala de alguém, a preocupação focalizaria as condições sociolinguísticas desse falante em seus diversos contextos sociais. É a língua que usamos em nossos lares ao interagir com os demais membros de nossas famílias. É a língua usada nos botequins, clubes, parques, rodas de amigos, nos corredores e pátios das escolas, longe da tutela dos professores. É a língua falada entre amigos, inimigos, amantes e apaixonados. (TARALLO 2007, p.19): O que equivale dizer que a fala de alguém sempre depende do conjunto de condições sociais em que vive ou com as quais se relaciona no seu dia a dia. Por isso, para se avaliar ou conhecer qualquer fala, seja de que falante for, é necessário conhecer as condições sociais de sua fala. Corroborando com esse raciocínio, lembramos (MONTEIRO apud LABOV 2008, p.215) quando sintetiza que “a língua é uma forma de comportamento social: [...] Crianças mantidas em isolamento não usam a língua; ela é usada por seres humanos num contexto social, comunicando suas necessidades, ideias e emoções uns aos outros”. São inegáveis as diferenças que existentes dentro de uma mesma comunidade de fala, em que a partir de um ponto qualquer vão se assinalando à medida que se avança no espaço geográfico. Da mesma forma se constata diferenças dentro de uma mesma área geográfica, resultantes de diferenças sociológicas como: educação do indivíduo, sua profissão, grupos com os quais convive, enfim, sua identidade. Tudo isso pode interferir e operar como modelador da fala de alguém. 305 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES Em 1935, Antenor Nascentes, que juntamente com Serafim da Silva lançou as bases para a elaboração de um atlas linguístico do Brasil, ressaltava que a divisão do nosso país em áreas linguística esbarrava numa grande dificuldade: a falta de determinação das chamadas “isoglossas”, isto é, linhas demarcadoras de cada um dos fenômenos linguísticos que singularizariam os dialetos. Isto é verdade, mas não impediu de todo modo, a aceitação da existência de “variantes” delimitáveis. Todo brasileiro é capaz de reconhecer, intuitivamente, um grande eixo divisório entre falares do “norte” e falares do “sul”. ( LEITE 2002, p.18): Diante deste cenário nos deparamos com a variedade geográfica no vocábulo “menina”, para designar uma pessoa do sexo feminino. “Guria” ou “piá” usado atualmente de forma coloquial quando se refere a uma mulher. Essas variações dialetais são as marcas determinantes referentes a diferentes regiões dentro do país. Quando citamos “guria” ou “piá”, temos outras nomenclaturas, no entanto, recebem o nome de "variantes linguísticas". (TARALLO 2007, p. 08) afirma que:"variantes linguísticas são diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto e com o mesmo valor de verdade”. (CAMACHO, 1988) reforça que “existem múltiplos fatores originando as variações, as quais recebem diferentes denominações”. Um dialeto se circunscreve a uma zona ou região territorial, visto que frequentemente coincide com as fronteiras ou barreira geográfica e que não é privativa apenas dos níveis populares, mas de todos os níveis em que exista diferenciação. No Brasil, os falares de maior prestígio são os usados nas regiões mais ricas. Estamos vendo, então que são fatores históricos, políticos e econômicos que conferem o prestígio a certos dialetos ou variedades regionais e, alimentam rejeição e preconceito em relação a outros. Mas sabemos que esse preconceito é perverso, não tem fundamentos científicos e tem de ser combatido, começando na escola. (BORTONI RICARDO 2004, p.34) Assim, os processos de mudanças contemporâneas que ocorrem na comunidade de fala são primordiais na Sociolinguística. Comunidade de fala para 306 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES esse modelo teórico-metodológico não é entendida como um grupo de pessoas que falam exatamente iguais, mas que compartilham traços linguísticos que distinguem seu grupo de outros; comunicam-se relativamente mais entre si do que com os outros e, principalmente compartilham normas e atitudes diante do uso da linguagem. Ao se referir a uma garota podemos encontrar os seguintes significados: “bichinha”, “piá”, e “guria”. Isso acontece porque toda língua que se usa numa área relativamente extensa tem formas e maneiras diferentes de usar um mesmo vocábulo, conforme o contexto em que o falante se encontre. Além disso, mesmo em uma única comunidade, a língua pode ser falada de maneiras distintas pelos membros dos diversos grupos sociais: essas formas diferentes são dialetos sociais ou socioletos. No entanto, há diferenças do português falado em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Minas Gerais. Leite (2002, p.9) Toda essa variação linguística explica-se, nas palavras de Antônio Houaiss, pelo próprio processo de colonização do país: dialetação horizontal por influxo indígena e diferenciação vertical entre a fala do luso e a fala do nascido e criado na terra. Segundo o cientista social Manuel Diégues Jr., o Brasil pode ser considerado uma vasta experiência de pluralismo étnico e cultural, em que as mais diversas relações de raças e culturas são responsáveis pelas diferenças existentes entre os diversos falares brasileiros. (LEITE 2002, p.9) A língua não é usada de forma igual por todos os seus falantes, ela varia de região para região, de gênero para gênero, de época para época, de classe social para classe social e assim por diante. Cabe a cada falante respeitar o modo de falar do outro. Considerações finais Finalizando aqui nosso objeto de estudo, a variedade linguística, gostaríamos de enfatizar que a variação linguística, em suma, nada mais é do que critérios de ordem social e não estritamente linguística. Não se pode falar em linguagem sem relacioná-la 307 Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 15 • Maio 2015 Edição Especial • Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES com a sociedade, pois a relação que existe entre elas é a base que constitui o ser humano. A história diz que a humanidade são seres que se organizam em sociedade e possuem um código, ou seja, uma comunicação oral que é a língua de cada falante. Para analisar esse fenômeno linguístico que se chama sociolinguística é preciso considerar algumas razões históricas, como por exemplo, o contexto social em que vivem estratos sociais, faixas etárias, gêneros e grau de escolaridade. Nas sociedades mais variadas convivem variedades linguísticas diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos à educação formal; que abrangem entre outras áreas a pronuncia e a nomenclatura das coisas, onde uma mesma coisa possui nomes diferentes de acordo com o lugar. Além disso, nos ficou claro que existem fatores como geográficos, sociais e a frequência de uso de novas estruturas que atuam na definição de comunidade de fala. Diante disso verifica-se que um falante tem capacidade de identificar as características de outros falantes, tornando óbvio e nítido a qual comunidade ele pertence. Apesar da diferença dos falares, os habitantes desse enorme território compartilham a mesma língua, e entendem uns aos outros sem dificuldades. No entanto observamos que se faz necessário a adequação da língua nas comunidades, sistematizála, regularizá-la e normatizá-la, tornando-a suporte da norma padrão, assegurando assim a unidade de língua. Referências BAGNO, Marcos et alli. 2002. Língua materna: letramento, variação & ensino. São Paulo: Parábola. BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico, o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2007. BORTONI-RICARDO, Maris Stella. Educação em sociolingüística na sala de aula. 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