DOI: http://dx.doi.org/10.15528/2176-4158/rcpa.v12n1p50-52 Toxidade do Macerado das Flores de Maniçoba (Manihot glaziowii Mull) Fornecido Artificialmente em Condições Controladas para Abelhas Andrezza Kyarelle Bezerra de Moura1, Renata Chaves Fernandes1, Francisco Joelson Correia de Freitas2, Ismael Malaquias dos Santos Fernandes1, Belchior Luiz Dantas3, Luciene Xavier de Mesquita4, Patrício Borges Maracajá5 Resumo: Esta pesquisa foi realizada com o objetivo de avaliar o efeito tóxico do macerado das flores de maniçoba (Manihot glaziowii Mull), fornecido para abelhas Apis mellifera em condições controladas. Cada planta foi pesada em três frações distintas, ou seja, (0,25%, 0,50% e 1,0%) e adicionadas ao “candi” e água. Para análises dos dados utilizou-se o teste não-paramétrico Log Rank Test, na comparação das curvas de sobrevivência. Foi medido o tempo médio de mortalidade e avaliou-se a existência do efeito tóxico do extrato das flores, o tempo médio de mortalidade variou de 14 a 18 dias. Os resultados demonstraram que o extrato de pólen dessa flor na concentração 1,00% proporciona a morte precoce das abelhas operárias. Palavras-chave: alimentação, apis mellifera Toxicity of Macerad of Flowers Maniçoba (Manihot glaziowii Mull) Artificially Provided in Controlled Conditions for Bees Abstract: This research was accomplished with the objective of evaluating the poisonous effect of the softened of the maniçoba (Manihot glaziowii Mull) flowers, supplied for bees Apis mellifera in controlled conditions. Each plant was weighed in three different fractions, in other words, (0,25%, 0,50% and 1,0%) and added to the “candi” and water. For analyses of the data the no-parametric test Log Rank Test was used, in the comparison of the survival curves. It was measured the medium time of mortality and the existence of the poisonous effect of the extract of the flowers, the medium time of mortality was evaluated varied from 14 to 18 days. The results demonstrated that the extract of pollen of that flower in the concentration 1,00% provides the precocious death of the labor bees. Key words: food, apis mellifera Aluna do curso de Zootecnia do departamento de ciências animais – DCA – UFERSA/RN Aluno do curso de Veterinária do departamento de ciências animais – DCA – UFERSA/RN 3 Aluno do curso de Agronomia da Universidade Federal Rural do Semi – Árido –UFERSA/RN 4 Mestrado em Ciência Animal – UFERSA. E-mail: [email protected] (autor para correspondência) 5 Professor Associado II do departamento de ciências vegetais - DCV – UFERSA/RN 1 2 Rev. Cient. Prod. Anim., v.12, n.1, p.50-52, 2010 Introdução distribuídas em conjunto de 20 insetos por caixa de madeira medindo 11-cm de comprimento por 11- No Brasil são conhecidas mais de 80 espécies de cm de largura e sete cm de altura e orifícios nas plantas tóxicas para herbívoros que causam perdas laterais fechados com tela de nylon para ventilação, econômicas, por conceito de mortes de animais, previamente forradas com papel filtro e com tampas estimadas entre 160 e 224 milhões de dólares de vidro. Estas distribuídas em três repetições e (Riet-Correa, 2001). No entanto, se desconhecem o controle, perfazendo 12 caixas e 240 abelhas a freqüência e a importância das intoxicações por operárias por planta testada. Acondicionadas em plantas cianogênicas. estufa BOD com temperatura ajustada a 32 ºC e As interações de herbivoria e polinização umidade de 70%. são tradicionalmente estudadas separadamente, Durante a realização dos bioensaios, o grupo muitas particularidades estão sob seleção por controle recebeu apenas o candi (mistura de açúcar ambos, herbívoros e polinizadores. Por exemplo, de confeiteiro e mel na proporção 5:1) e água. E compostos secundários comumente associados com os insetos do tratamento receberam o candi com o a defesa contra herbívoros tem sido encontrados macerado das flores da planta. no néctar de muitas plantas, e muitas espécies Cada planta foi pesada em três frações distintas, produzem néctar que é tóxico ou repelente para ou seja, (0,25%, 0,50% e 1,0%) e adicionadas a alguns visitantes florais (ADLER, 2000) uma dieta artificial conhecida como “candí”, que se trata de uma mistura de açúcar de confeiteiro Material e Métodos mais uma pequena percentagem de mel. Colocadas em pequenas tampas de plástico com uma telinha As coletas de material (plantas) para este estudo de arame cobrindo, para evitar que o inseto se foram efetuadas no Estado do Rio Grande do afogue quando a dieta estiver líquida. O resultado Norte, tendo sido inicialmente identificadas por da análise estatística foi obtido na comparação agricultores da localidade em que foram colhidas, entre as concentrações do tratamento e do grupo em seguida levadas ao herbário da UFERSA para controle no experimento de ingestão macerado de comparação com a coleção e sua identificação. flores. Para análises dos dados utilizou-se o teste Em seguida foi levada a estufa para sua secagem não-paramétrico Log Rank Test, na comparação a 40ºC durante 48 horas, logo após foram levadas das curvas de sobrevivência. para serem trituradas em liquidificador que depois Resultados e Discussão de transformado em pó foram peneirados em três malhas finas de nylon, acondicionadas em tubos plásticos e devidamente etiquetadas e conduzidas para o Laboratório de Controle de Pragas. A análise estatística dos resultados mostrou diferença significativa entra as curvas de Para a montagem dos ensaios os insetos foram sobrevivência do grupo controle e dos grupos capturados no apiário da Fazenda Experimental tratados, indicando efeito tóxico do macerado obtido da UFERSA. As operárias foram selecionadas no a partir de flores de maniçoba (Manihot glaziowii favo de cria, as recém emergidas, ou seja, pelo Mull) sobre as abelhas. Pode-se verificar que a tamanho e uma coloração mais clara. Em seguida sobrevivência das abelhas foi significativamente 51 Rev. Cient. Prod. Anim., v.12, n.1, p.50-52, 2010 se que as curvas com concentração de 1,00% do extrato de pólen da flor da mamona apresentaram índice de mortalidade mais elevado, visto que as abelhas só sobreviveram em média 14 dias. A sobrevivência média das operárias do grupo controle é de até 23 dias, bem inferior aquela apresentada na literatura (38-42 dias) é considerada normal pelo fato das abelhas nas gaiolas estarem Figura 1 - Curvas de sobrevivência calculada pelo privadas da vida social, acesso a feromônios da teste não-paramétrico Log Rank Test rainha e da colônia e privadas de desempenharem conforme a concentração do macerado suas funções biológicas para as quais evoluíram obtido a partir das flores de maniçoba (FREE, 1987). (Manihot glaziowii Mull) reduzida com a utilização da dieta contendo o Conclusões macerado (Figura 1). As abelhas do grupo controle sobreviveram As flores dessas plantas não devem ser até o 23 dias, atingindo uma média estatística de fornecidas como fonte protéica para abelhas, pois 16 dias. As do grupo de abelhas experimentais se mostraram tóxicas para estes insetos. tratadas com 0,25%, 0,50% e 1,0% com macerado obtido a partir de flores de maniçoba apresentaram Literatura Citada respectivamente mortalidades médias aos 18, 16 e 14 dias. A análise dos dados mostrou diferenças ADLER, S.A. The ecological significance of toxic nectar. Oikos, n.91, p.409-420, 2000. estatísticas significativas entre os tratamentos e o controle, por isso, sugerindo efeito tóxico obtido FREE, J. B Pheromones of social bees. Chapma do macerado das flores de maniçoba para operárias and Hall Ltda: London, 1987, 218p.il. de Apis mellifera. Puderam-se observar as curvas de sobrevivência RIET-CORREA, F. & MEDEIROS, R.M.T. 2001. das abelhas confinadas e alimentadas com o Intoxicações por plantas no Brasil e no Uruguai: macerado de flores de maniçoba e a curva das importância econômica, controle e riscos para a abelhas alimentadas somente com candi. Observou- saúde pública. Pesq. Vet. Bras. 21(1):38-42. 52