diabetes Disciplina e apoio são fundamentais Na maioria dos casos, é a família que percebe os primeiros sintomas da doença, seja em crianças ou na gestante. Conhecer os diferentes tipos do problema e orientar para a importância do tratamento é um caminho de adesão P o r V i v i a n L o u r e nç o O O diabetes mais comum na infância é o tipo 1. Porém, de acordo com especialistas, devido ao aumento dos casos de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes, a incidência do diabetes tipo 2, que ocorre por resistência à ação da insulina, vem aumentando consideravelmente. A doença do tipo 1 é autoimune, ocorre quando há uma predisposição genética e o sistema imunológico do paciente destrói as células do pâncreas que produzem a insulina, hormônio 11 4 guia da farmácia fevereiro 2014 responsável pelo controle do nível de açúcar no sangue. A do tipo 2 tem maior influência de fatores ambientais como obesidade e falta de exercícios físicos. “O tipo 1 aparece com um quadro mais abrupto e não tem idade para se manifestar, podendo atingir desde bebês até jovens”, explica a pediatra da Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dra. Wilma Hossaka. O primeiro sintoma de alerta que os pais percebem de acordo com o endocrinologista pediátrico do Hospital Infantil Sabará, Dr. Felipe Monti Lora, é a desidratação. fotos: shutterstock “Se a criança vai muito ao banheiro, tem perda de peso, muita fome e sede, é melhor procurar um especialista”. Esses sintomas ocorrem quando já existe lesão de cerca de 80% das células pancreáticas produtoras de insulina. “Mas é importante lembrar que nem todos esses sintomas estão presentes, principalmente no início do quadro”, ressalta a endócrinopediatra da ADJ Diabetes Brasil, Dra. Denise Ludovico. A manifestação do diabetes juvenil pode ser de forma lenta ou em crises, como explica o Dr. Sylvio Renan. Quando evolui lentamente, a criança apresenta muita sede, come muito, mas não consegue ganhar peso. “Já quando a manifestação inicial surge de forma aguda, a criança apresenta uma crise hiperglicêmica, com sede intensa, urinando frequentemente e em grandes quantidades, muita fome, com emagrecimento, cansaço, pele seca, cefaleia, podendo também apresentar náuseas, vômitos, sonolência excessiva, além de desconforto respiratório e hálito cetônico”. A médica endocrinologista e dialetóloga, coordenadora do Centro de Diabetes do Hospital Sírio-Libanês, Dra. Christiane Nóbrega Sobral, alerta para o fato de que, como é uma doença autoimune de início rápido, na qual a criança descompensa rapidamente, ela pode entrar em coma se não for feito um diagnóstico precoce. O tratamento do diabetes tipo 1 consiste em repor o hormônio que falta, a insulina, que, atualmente, só tem aplicação subcutânea e, por isso, são necessárias as injeções. “Em crianças, o tratamento medicamentoso é a aplicação do hormônio que está diminuído pela doença. Orientações nutricionais e de atividade física são coadjuvantes no tratamento”, orienta o pediatra Dr. Sylvio Renan. O endocrinologista do Hospital Sabará, Dr. Felipe, salienta que a mudança de hábito é o que define o sucesso do tratamento. “Os horários de alimentação precisam ser programados e a reposição da insulina deve ser realizada com atenção.” Apoio fundamental De acordo com os profissionais, o apoio da família e dos amigos é fundamental para a eficácia do tratamento. “A criança necessita de grande suporte de seus pais e cuidadores, no sentido de compreender sua doença e a importância de manter o tratamento de acordo com a orientação médica”, pontua Dr. Sylvio Renan. Tanto para crianças pequenas quanto para adolescentes o apoio deve ser o mesmo. “As crianças não sabem muito bem o que está acontecendo e podem enfrentar A orientação farmacêutica é de fundamental importância para a continuação do tratamento e também como alerta para os primeiros sintomas da doença piadas de colegas, por exemplo. Já os adolescentes ficam mais revoltados e a parceria dos amigos é fundamental para seguir o tratamento”, alerta Dr. Felipe. Ele ressalta que a adolescência é o período em que o tratamento é menos seguido. “Alguns pacientes deixam de tomar a medicação, seja por revolta, ou por vergonha. Por isso a marcação tem que ser mais cerrada.” A forma como a família e os amigos recebem e convivem com o diagnóstico reflete em como eles irão lidar com a doença. “É necessário saber que o portador de diabetes terá que receber a aplicação de insulina e fazer o controle da glicemia, mas isso não precisa e nem deve alterar a qualidade de vida da criança ou do adolescente, muito menos de sua família”, explica a Dra. Denise. Os especialistas alertam que tratamento do diabetes tipo 1 tem melhorado muito e não há limites e restrições aos seus portadores, desde que mantenham o controle glicêmico. Além disso, a orientação em relação ao conhecimento sobre a doença também deve ser difundido entre os familiares e amigos. O entendimento sobre os cuidados necessários para o controle e a prevenção de complicações é fundamental para bons resultados. A endocrinologista da Santa Casa de São Paulo, Dra. Ana Beatriz Marques de Freitas Castro, acrescenta que os pais e cuidadores devem estar treinados a identificar sintomas de queda ou elevação dos níveis de açúcar para que possam atuar prontamente. “Capacitá-los a fazer o exame rápido de glicemia capilar e interpretar o resultado são de suma importância. A queda da glicose (hipoglicemia) requer ação imediata. A oferta de alimentos ricos em açúcar (desde que não haja perda de consciência) ou a aplicação de glucagon, conforme a orientação do médico que acompanha, são fundamentais. Quanto à hiperglicemia, identificá-la para que possa receber a orientação adequada do médico responsável ou em atendimento de urgência, evitando assim complicações graves.” 2014 fevereiro guia da farmácia 11 5 Especial saúde diabetes emagrecimento, poliúria (aumento do volume urinário), sede excessiva, fadiga, náuseas/vômitos e infecções frequentes. “O maior risco para desenvolver diabetes gestacional são idade materna avançada (acima de 35 anos), obesas, gestação gemelar, casos de diabetes na família, pressão alta, e filhos que O que o paciente, usuário de insulina, não nasceram com mais de 4 quilos”, pode esquecer: explica o ginecologista e obstetra do Hospital Sírio-Libanês, Dr. José • Manutenção da insulina. Carlos Sadalla. • Armazenamento da insulina. “O tratamento tende a ser • Periodicidade do uso. mais eficaz quando o diag• Transporte da insulina/monitorização glicêmica. nóstico acontece de maneira • Aplicação/administração da insulina. precoce. Muito importante • Conhecer os tipos de canetas/seringas/agulhas disponíveis o acompanhamento multino mercado. disciplinar, composto por • Conhecimentos sobre aparelhos de monitorização obstetra, endocrinologista, (glicosímetros). nutricionista e profissional • Como proceder em casos de hipoglicemia. em atividade física”, orienta o ginecologista e obstetra do Hospital Samaritano, Dr. Rodrigo Pereira de Freitas. O objetivo do tratamento é manter em níveis normais a glicemia para evitar complicações maternas e fetais. “Geralmente isto é alcançado através de medidas dietéticas com reeducação alimentar. Casos mais severos (a minoria) podem necessitar de uso de insulina diária”, destaca o Dr. Sadalla. Alertas do diabetes gestacional Entre os principais riscos para a mãe e o feto, a Dra. O diabetes gestacional é a morbidade de maior Claudia Chang pontua hipertensão e doenças cardioprevalência na gestação e nos últimos anos nota-se vasculares. “Além disto, o diabetes gestacional é um um aumento significativo nos casos. Na maioria das fator de risco para o desenvolvimento do diabetes tipo vezes, trata-se de uma patologia assintomática ou de 2 depois da gestação.” sintomas inespecíficos. “Hoje em dia, as alterações Os principais riscos para o bebê estão relacionados glicêmicas são as anormalidades endocrinológicas mais a macrossomia (aumento do tamanho do feto, o que comuns durante a gestação, podendo chegar a 13% posteriormente leva a uma grande predisposição à obede ocorrência. No Brasil, o registro é de 7,6%”, avalia sidade) e polidramnio (aumento do volume do líquido a endocrinologista, Doutora (PhD) em endocrinologia amniótico). “Dentre outras complicações destacam-se e metabologia pela Universidade de São Paulo (USP), prematuridade, malformações, aumento do número Dra Claudia Chang. de cesarianas e traumatismos relacionados ao parto”, O diabetes gestacional, diferente de quem já possui finaliza a Dra. Claudia Chang. diabetes antes de engravidar, manifesta-se geralmente após 24 semanas de gestação. Usualmente a mulher não O papel do farmacêutico apresenta sintomas. Por isso, é fundamental a realização A orientação farmacêutica é de fundamental impordo pré-natal adequado, com exames de rastreamento. tância para a continuação do tratamento e também Entretanto, os seguintes sinais podem estar presentes: como alerta para os primeiros sintomas da doença. 11 6 guia da farmácia fevereiro 2014 Especial saúde diabetes A forma como a família e os amigos recebem e convivem com o diagnóstico reflete em como eles irão lidar com a doença. o portador de diabetes terá que receber a aplicação de insulina e fazer o controle da glicemia, mas isso não precisa e nem deve alterar a qualidade de vida O docente técnico em farmácia do Senac Tiradentes, Gustavo Alves, salienta que as campanhas informativas devem sempre ser coordenadas por um profissional farmacêutico, já que, em se tratando de assunto tão específico, são necessários conhecimentos sólidos. “A campanha se baseia tanto nos materiais gráficos como nas orientações. A farmácia ou drogaria pode 11 8 guia da farmácia fevereiro 2014 dispor de um local próprio para esta atividade, um espaço que oferece maior comodidade e discrição aos seus clientes”, orienta o docente. Devem ser preparados fôlderes ou panfletos com as informações mais importantes, sempre em linguagem acessível aos clientes. No ato da entrega dos planfletos, é preciso prestar sempre uma breve orientação. Os cartazes podem facilitar a identificação visual do serviço prestado, com figuras e mensagens rápidas. “Quando se fala em boca a boca, imagino a orientação formal, padronizada e feita diretamente às pessoas.” O docente ressalta que o atendimento diferenciado se dá muito mais pelo aspecto do preparo e da habilitação dos profissionais que farão o atendimento. “O diabetes infantil é uma patologia cada vez mais frequente, além de ser uma doença insidiosa. Além das orientações técnicas, há também que se ter habilidade na comunicação com os pacientes, crianças e adultos. O mesmo se aplica às gestantes. Um espaço reservado para este tipo de atendimento é sempre importante.” Os estabelecimentos farmacêuticos podem atuar como um braço do sistema de saúde, na orientação e promoção do bem-estar. “Não podem se restringir a orientar somente os clientes consumidores, mas também aqueles que buscam informações sobre a saúde. Isso fideliza e traz credibilidade para as farmácias e, principalmente, traz resultados positivos para a comunidade.”