tratamento ortodôntico baseado na atuação da musculatura labial

Rev. Cient. InFOC v.2 n.1 jan-jun. 2017
ISSN 2525443X
ODONTOLOGIA
TRATAMENTO ORTODÔNTICO BASEADO NA ATUAÇÃO DA MUSCULATURA
LABIAL UTILIZANDO APARELHO AUTOLIGADO: Relato de Caso Clínico
Orthodontic treatment based on the performance of the lip muscles using self-ligating system: case
report
*Isabella Figueiredo Assis Macedo **Leonardo Alcântara Cunha Lima ***Célia Alcântara Cunha Lima
**** Vinícius Alcântara Cunha Lima *****Thiago Barros da Silva
RESUMO
A musculatura é um fator importante no equilíbrio das influências ambientais que atuam sobre o
tecido ósseo. As forças exercidas sobre a dentição, principalmente as dos lábios, bochechas e
língua, atuam guiando a erupção dos dentes. O objetivo deste trabalho foi relatar um caso clínico de
paciente com erupção ectópica de canino, tratada com aparelho autoligado, evidenciando a
importância da musculatura labial atuando na movimentação dentária. Concluiu-se que após
recuperação de espaço nas arcadas, foi possível obter melhor posicionamento dentário pela atuação
muscular. A mecânica autoligada permite a interação da força muscular labial durante o tratamento,
devido ao atrito reduzido deste tipo de aparelho ortodôntico.
Palavras-chave: Ortodontia corretiva, Movimentação dentária, Força muscular
ABSTRACT
The musculature is an important factor in the balance of environmental influences that act on bone
tissue. The forces exerted on the teeth, especially the lips, cheeks and tongue act guiding the
eruption of teeth. The objective of this study was to report a case of a patient with ectopic canine
eruption, treated with self-ligating brackets, showing the importance of the lip muscles acting in
tooth movement. It concluded that after recovery of space in the arches, it was possible to achieve
better tooth position by muscle activity. The self-ligating mechanics allows the interaction of lip
muscle strength during treatment, due to the reduced friction of this type of braces.
Keywords: Orthodontics, Corrective, Tooth movement, Muscle Strength
* Pós-graduanda em Ortodontia. Centro Universitário Fluminense UNIFLU. Campos dos Goytacazes RJ.
**Doutor em Ciências Odontológicas - Ortodontia. Professor titular de Ortodontia. Professor do Curso de
Especialização em Ortodontia do Centro Universitário Fluminense UNIFLU. Campos dos Goytacazes RJ.
***Doutora em Ciências Odontológicas – Ortodontia. Coordenadora de Pesquisa e Extensão do Centro Universitário
Fluminense UNIFLU. Coordenadora do Curso de Especialização em Ortodontia UNIFLU. Campos dos Goytacazes RJ.
****Mestrando em Ortodontia. Professor do Curso de Especialização em Ortodontia do Centro Universitário
Fluminense UNIFLU. Campos dos Goytacazes RJ.
*****Mestrando em Ortodontia. Professor do Curso de Especialização em Ortodontia do Centro Universitário
Fluminense UNIFLU. Campos dos Goytacazes.
Recebido em 23∕ 11∕ 2016 Aceito em 30∕112016.
Endereço para correspondência: [email protected]
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LIMA Célia AC LIMA Vinícius AC SILVA Thiago B
1. INTRODUÇÃO
A musculatura é um fator importante no equilíbrio das influências ambientais que atuam
sobre o tecido ósseo, sendo este um dos mais sensíveis às alterações externas. O osso alveolar não é
exceção (JUNG, YANG & NAHM, 2003; LAMBRECHTS et al., 2010).
As forças exercidas sobre a dentição, principalmente as dos lábios, bochechas e língua,
atuam guiando a erupção dos dentes, e na manutenção da forma e estabilidade dos arcos. Considerase que exista um estado de equilíbrio entre as forças do lado de fora: lábios e bochechas, e do
interior: a língua. (RUAN et al., 2005; ARTESE et al., 2011).
Weinstein et al. (1963) e Proffit 1978), incluem as forças extrínsecas, geradas por hábitos e
pela aparatologia ortodôntica; as forças oclusais e as da membrana periodontal entre aquelas que
influenciam o equilíbrio da posição dentária.
Os dentes se movimentam quando uma das forças que atuam sobre eles torna-se de
magnitude e/ou duração maiores, alterando o equilíbrio do sistema (VALENTIM et al., 2014).
O objetivo deste trabalho foi relatar um caso clínico de paciente apresentando erupção
ectópica de canino, tratada com aparelho autoligado, evidenciando a importância da musculatura
labial atuando na movimentação dentária.
2. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS:
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário
Fluminense sob parecer nº 1.378.604.
3. REVISÃO DA LITERATURA / DISCUSSÃO
3.1 Teoria do equilíbrio / atuação muscular
Weinstein et al. (1963), estudaram a teoria do equilíbrio das forças que atuam sobre os
dentes. Segundo os autores, na época, poucos estudos haviam sido feitos para a mensuração precisa
da movimentação dentária induzida por forças musculares naturais, ou descrevendo sua influência
estabilizadora. Em seus experimentos, observaram que os dentes estão em equilíbrio com as
estruturas que os circundam, consideradas em conjunto: dentes adjacentes, a língua, a musculatura
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bucolabial, osso e ligamento periodontal e os dentes antagonistas. Concluíram que forças exercidas
pelos tecidos moles adjacentes, se aplicadas por um longo período de tempo, são suficientes para
que haja o movimento dentário, mesmo que estas forças sejam de pequena magnitude.
Após 15 anos, desde que Weinstein et al. (1963) propuseram colocar a teoria do equilíbrio
da posição dentária em uma base científica mais sólida, Proffit (1978) revisou esta teoria com o
mesmo objetivo. O autor discute as forças aplicadas sobre a dentição, e afirma que não são apenas
as forças geradas pelos lábios, língua e bochechas que participam do equilíbrio. As forças oclusais
são importantes no equilíbrio da posição vertical dos dentes, a qual é determinada pelas forças que
opõem a erupção dentária contra forças que a estimulam.
Ruan et al. (2005) avaliaram a distribuição de forças exercidas sobre a dentição e a relação
entre forças musculares, gênero e função oral. Afirmam que o equilíbrio dinâmico dos dentes tem
sido uma preocupação antiga, e este equilíbrio pode influenciar a posição em sua estabilidade. No
estudo, os autores observaram que, em repouso, forças dos lábios e bochechas foram maiores que as
da língua. Durante a deglutição, a pressão exercida pela língua foi maior.
Mais recentemente, Valentim et al. (2014) descreveram um método para medir as forças
exercidas pelo lábio e língua sobre um dente durante a posição habitual e na deglutição, e
verificaram que na posição de repouso, a força exercida pelo lábio foi maior do que aquela exercida
pela língua. Nenhuma diferença significativa foi observada durante a deglutição.
No presente estudo, observou-se a ação da musculatura labial guiando o posicionamento dos
caninos superiores, através da extração dos pré-molares, o que gerou espaço suficiente para o
encaixe daqueles dentes no arco. E somente, quando se conseguiu uma posição dentária mais
favorável, o aparelho autoligado foi instalado.
3.2 Aparelhos autoligados
Durante o tratamento ortodôntico, o movimento dentário é realizado pela distribuição de
forças exercidas pelos fios nos braquetes. A força de atrito é definida como a força resistente ao
movimento de duas superfícies que deslizam entre si. Este atrito é formado entre a superfície do
arco e a superfície do braquete. Grande parte da força destinada à movimentação dentária é perdida
sob a forma do atrito (LEE & HWANG, 2015; BEN REJEB JDIR et al., 2015).
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Vários estudos mostraram que aparelhos autoligados possuem menor atrito na interface
slot/clipe/arco (JAKOB et al., 2014; PASHA et al., 2015; BEN REJEB JDIR et al., 2015), o que
facilitaria a movimentação dentária, a partir da aplicação de forças menores. Desta forma, forças
fisiológicas leves, neste ambiente de baixo atrito, interagem com as forças geradas pelos lábios
(orbicular), bochechas (bucinador), língua e o sistema neuromuscular do paciente (LOPES, 2015).
Apesar de alguns autores não observarem diferença significativa entre o tratamento
ortodôntico utilizando aparelhos autoligados e convencionais (MILES, 2009; CHEN et al., 2010;
ZHOU et al., 2015; O’DYWER et al., (2016), no caso clínico aqui exposto, foi escolhido o aparelho
autoligado, para que houvesse essa interação entre a mecânica ortodôntica propriamente dita, e a
musculatura peribucal da paciente, conforme explicitado por Lopes (2015).
4. RELATO DE CASO CLÍNICO
Paciente G.D.B., gênero feminino, 12 anos de idade, apresentou-se à clínica da pósgraduação em ortodontia da UNIFLU, para tratamento. Ao exame clínico, observou-se relação
molar de classe II, canino superior esquerdo erupcionado vestibularmente em relação ao arco
dental, e canino superior direito incluso. A arcada inferior não apresentava apinhamento. A análise
facial mostrou bom perfil e face simétrica. A análise cefalométrica mostrou ângulo SNA=82,41º,
SNB=77,57º, FMIA=54,34º, FMA=24,80º (figuras 1, 2 e 3).
Figura 1 - fotografias extra e intraorais iniciais.
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Figura 2 - radiografia panorâmica inicial.
Figura 3 - telerradiografia lateral inicial.
5. PLANO DE TRATAMENTO
Com base no diagnóstico, optou-se pela exodontia dos primeiros pré-molares superiores.
Realizou-se a montagem do aparelho fixo inferior autoligado (Morelli, Roth SLI, ref.: 1014900).
Foi utilizada sequência de fios preconizada pelo fabricante.
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Aguardou-se a erupção espontânea do dente 13, após criação de espaço suficiente, através da
extração dos primeiros pré-molares superiores, e melhor posicionamento do dente 23 pela atuação
da força muscular labial (figuras 4 e 5).
Figura 4 - dois meses depois das extrações. O dente 23 apresenta-se melhor nivelado em relação às
fotografias iniciais.
Figura 5 - cinco meses após as exodontias dos dentes 14 e 24, observa-se melhor posicionamento do
dente 23 e início da erupção do dente 13.
Após sete meses das exodontias dos primeiros pré-molares superiores, o dente 13 já
apresentava-se erupcionado no arco, e o dente 23 melhor posicionado, foi, então, montado o
aparelho fixo na arcada superior, e utilizada a mesma sequência de fios do arco inferior.
Nenhum tipo de tracionamento com elásticos, molas, etc. foi utilizado na mecânica durante
o correto posicionamento dos caninos na arcada.
A figuras 6 e 7 indicam as fases de finalização, após 27 e 32 meses de tratamento,
respectivamente.
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Figura 6 - fase de finalização, após 27 meses de tratamento (20 meses após montagem superior)..
Figura 7 – após remoção do aparelho superior, cerca de 2 anos depois da montagem superior.
6. CONCLUSÃO
A partir deste estudo de caso clínico, pode-se concluir que:
a) Após recuperação de espaço nas arcadas, foi possível obter melhor posicionamento dentário
através da atuação da musculatura peribucal;
b) A mecânica autoligada permite a interação da força muscular labial durante o tratamento,
devido ao atrito reduzido deste tipo de aparelho ortodôntico.
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