O USO DO MATERIAL MANIPULÁVEL NO ENSINO DA TRIGONOMETRIA Alessandra Hendi dos Santos UFPR – Licenciatura em Matemática [email protected] Anderson Roges Teixeira Góes UFPR – Departamento de Expressão Gráfica; e Secretaria Municipal de Educação de Araucária/PR [email protected] Resumo O distanciamento existente entre o contexto da trigonometria ensinado em sala de aula e sua aplicabilidade no cotidiano, apresenta-se como um dos fatores que dificultam o ensino e consequentemente a aprendizagem do respectivo conteúdo. Contudo, a utilização de materiais manipuláveis no ensino da trigonometria pode ser facilitadora da aprendizagem, pois os alunos conseguem trabalhar com uma matemática concreta, manipulável e que possibilita a construção conceitual da trigonometria. Além de um aprendizado efetivo, a atividade didática com material concreto pode auxiliar na formação de alunos questionadores, críticos e com poder de argumentação. Com intuito de apresentar uma proposta metodológica diferenciada para o ensino da trigonometria, esse trabalho aborda um conceito de construção matemática através da utilização de material manipulável, diagnosticando uma matemática crítica, concreta e criativa. O material utilizado na aplicação deste projeto é de um aparelho manipulável semelhante ao teodolito (chamaremos de teodolito caseiro), pois com ele é possível ver as construções feitas pelos alunos no que tange a criatividade, estímulo e inovação. Palavras-chave: manipulável. teodolito, trigonometria, ensino, aprendizagem, Resumen La distancia entre el contexto de la trigonometría enseña en el aula y su aplicación en la vida cotidiana se presenta como uno de los factores que dificultan la enseñanza y por lo tanto, el aprendizaje de su contenido. Sin embargo, el uso de materiales didácticos en la enseñanza de la trigonometría puede ser un facilitador del aprendizaje porque los estudiantes pueden trabajar con un matemático concreto, manejable y permite la construcción de la trigonometría conceptual. Además de un aprendizaje efectivo, la enseñanza de la actividad con material concreto puede ayudar con preguntas de estudiantes, críticos y poder de la argumentación. Con el fin de presentar un nuevo enfoque metodológico a la enseñanza de la trigonometría, este trabajo aborda el concepto de una construcción matemática mediante el uso de materiales manipulativos, el diagnóstico de una crítica matemática, prácticas y creativas. El material utilizado en la ejecución de este proyecto es similar a un dispositivo de manipulación teodolito (llamado teodolito casa), ya que con ella se puede ver los edificios construidos por los estudiantes en lo que respecta a la creatividad, el entusiasmo y la innovación. Palabras clave: teodolito, la trigonometría, la enseñanza, el aprendizaje, la manipulación. 1 Introdução A trigonometria constitui um tema de extrema importância dentro da matemática, sua gênese ocorre na Era Clássica quando se acreditava que a Terra era o centro do universo. Nesta época seu objetivo era a resolução de problemas inerentes ao triângulo, posteriormente com a criação do cálculo infinitesimal e de seu prolongamento, que é a Análise Matemática, surgiu a necessidade de se atribuir as noções de seno, cosseno e tangente. “Trigonometria é o ramo da matemática oriundo da astronomia que, associado com a geometria euclidiana, possibilita o cálculo das medidas dos lados de um triângulo ou de seus ângulos.” (LAROUSSE, 2001, pag. 992). O distanciamento existente entre o conteúdo da trigonometria aplicado em sala de aula e sua aplicabilidade na vida diária apresenta-se como um dos fatores que dificultam o ensino-aprendizagem do respectivo conteúdo. Os professores, proveniente da falta de domínio do contexto da trigonometria, acabam cometendo falhas no processo de ensino, além de não explorar uma matemática construtiva e manipulável. Em detrimento desses fatores, as aulas tornam-se monótonas, sem construção de conhecimento e envolvimento dos alunos. Utilizando-se dos preceitos supracitados, pode-se averiguar que a utilização de materiais manipuláveis no ensino da trigonometria serve como um instrumento facilitador para o ensino e consequentemente a aprendizagem, pois através deles, os alunos conseguem trabalhar com uma matemática concreta, manipulável e construtivista. Além de um aprendizado efetivo, a atividade didática com material concreto pode auxiliar na formação de alunos questionadores, críticos e com poder de argumentação. Assim, no intuito de apresentar uma proposta metodológica diferenciada para o ensino da trigonometria, esse trabalho pretende abordar um conceito de construção matemática através da utilização de material manipulável, diagnosticando uma matemática crítica, concreta e criativa. O intercâmbio entre a teoria e a prática, quando bem aplicado, tende a agregar valores aos educadores e aos alunos, pois a troca existente no meio dessa experiência estabelece um ambiente de aprendizagem rico em motivação e criação. Essa observação em sala de aula será o auge deste trabalho, desta forma serão diagnosticadas as falhas, sugestões e modificações para que se efetive um ensino de trigonometria eficaz e satisfatório. 2 Revisão de Literatura O Ensino da trigonometria é um campo de estudo entre vários pesquisadores da área de educação, como consequência, vários métodos, modelos e estratégias de melhoria são aplicados em determinados contextos, mostrando uma preocupação com o ensino. Vários são os artigos, pesquisas e trabalhos que exploram o conceito de metodologia de ensino diferenciada, especificamente no ramo da trigonometria. Entre eles podemos citar: Brito e Morey (2004), Brighenti (1998), Góes e Colaço (2009), Gaspari e Gerônimo (2008), Piva, Dorneles et al. (2009), Dias e Camargo (2007) Mendes, Moço et al. (2009). O trabalho desenvolvido por Brito e Morey (2004) tem como objetivo fazer uma pesquisa com os professores da rede pública de ensino da cidade de Natal/RN, buscando uma constatação sobre as dificuldades encontradas pelos professores no ensino da trigonometria. Por meio de algumas atividades e de uma investigação sobre a formação dos professores participantes, foi possível obter uma avaliação positiva, porém as autoras consideram que a variedade de atividades foi insuficiente para a construção dos conceitos trigonométricos abordados. A utilização dos recursos gráficos apresenta-se como um instrumento facilitador no ensino/aprendizagem da trigonometria. Com uma pesquisa qualitativa realizada com três professoras de matemática de escolas públicas, Brighenti (1994) evidencia justamente a importância da representação gráfica como uma proposta metodológica diferenciada. As professoras participantes puderam aplicar as atividades sugeridas pela autora, assim observaram a motivação e a construção dos alunos. Essa pesquisa teve resultados favoráveis no que tange aos aspectos relativos à aprendizagem dos conceitos trigonométricos. Para Góes e Colaço (2009), o desenho como instrumento facilitador do aprendizado da matemática no ensino fundamental e médio cria possibilidades reais de inserir o aluno em situações problemas de seu cotidiano. Assim, os autores criaram e aplicaram, numa escola municipal de Araucária/PR, uma metodologia do ensino da matemática por meio da geometria dinâmica. Nesse projeto, a teoria e a prática caminham juntas, extraindo a abstração que o aluno tem na construção do conceito trigonométrico. O resultado dessa pesquisa é satisfatório, pois possibilita a criatividade, construção, motivação e participação de todos os alunos. Através de uma abordagem similar feita pelos autores acima, Piva et al. (2009) enfatizam a utilização do software livre na exploração dos conceitos trigonométricos. Neste texto é evidenciada a importância que o professor deve ter ao escolher um software, qual a sua real utilização e principalmente o objetivo a ser alcançado. A utilização do software possibilita o aluno a construir o conhecimento, através da analise, experimentação e da depuração de ideias. Gaspar e Gerônimo (2008) apresentam a proposta de criação de um caderno pedagógico, que objetiva a inserção de atividades com a utilização de materiais concretos. Inicialmente, essa proposta foi apresentada a professores da rede estadual de ensino, em seguida foi aplicada em sala de aula, para que desta forma fosse possível analisar os resultados favoráveis dessa experimentação. O resultado da aplicação deste projeto é satisfatório, pois os alunos começam a ter acesso a uma matemática construtiva, manipulável e criativa. A metodologia desenvolvida por Dias e Camargo (2007) para o estudo da trigonometria pretende, por meio de uma sequência de atividades, ajudar os alunos na organização do raciocínio. É colocada, como responsabilidade do professor, a organização das metodologias que julga serem mais adequadas, respeitando o ritmo do educando, ou seja, enfoca a ideia da criação de alunos questionadores, críticos e com poder de argumentação. O texto mostra a importância em fazer uma aula investigativa, pois mesmo sem a utilização de materiais concretos é possível criar um ensino voltado ao diálogo, construção, argumentação e criatividade. A percepção de que o ensino da trigonometria possui uma ampla aplicação prática constitui uma nova metodologia, capaz de despertar o interesse dos estudantes tornando as aulas atrativas e construtivas. Com base nessa perspectiva, Mendes et al. (2009) realizaram uma oficina com uma turma de vinte e cinco estudantes do ensino médio. Foram elaboradas atividades que diferenciam do ensino voltado à memorização de fórmulas, aliando a facilidade de utilização pelos professores, devido ao baixo custo dos materiais. As autoras afirmam que a utilização dessa proposta possibilita uma aproximação entre professor e aluno, a fim de propiciar um aprendizado eficiente e de qualidade. 3 Procedimentos Metodológicos Quando uma aula é dada sem o objetivo de construção do conhecimento, ela deixa de agregar fatores importantes no que tange o ensino e a aprendizagem, como a falta de questionamentos, participação e motivação. Em detrimento a essas averiguações, propomos uma sequência de atividades que tange a aprendizagem de alguns contextos trigonométricos perante aos alunos, de tal forma que os estudantes vejam a aplicação e “verdade” nos conceitos trigonométricos que serão trabalhados. Através de ações sobre os objetos os estudantes podem construir relações entre a trigonometria e o meio em que vivem. Manipulando e experimentando vão descobrindo relações, estruturando o seu pensamento lógico - matemático no que tange às noções de trigonometria. Com o intuito de apresentar uma proposta que estimulasse a criatividade e a construção do conhecimento, foi promovida com uma turma do 2º ano do ensino médio noturno de uma Escola da rede Estadual de Ensino do Paraná, uma aula que instruiu os alunos a construir um material manipulável semelhante ao teodolito. 3.1 O Uso do Teodolito O teodolito é um instrumento óptico de medida utilizado na Topografia, na Geodésia e na Agrimensura, resumidamente usado em trabalhos topográficos. Sua utilização permite: - medir ângulos verticais e horizontais; - medir a altura de objetos perpendiculares ao chão; - verificar semelhança e congruência de triângulos. Os conceitos trigonométricos abordados com a aplicação dessa atividade são: razões trigonométricas, ângulos notáveis e medidas de alturas inacessíveis. Ao iniciar a atividade, os alunos foram divididos em grupos de 4 ou 5 alunos, propriciando uma troca significativa de experiências. Na sequência, foram distribuídos os materiais necessários para a construção do teodolito caseiro, são eles: pedaço de papelão, copo plástico de 200 ml, cópia de um transferidor, canudo, palito de sorvete, uma tabela com os valores das tangentes e uma trena. As instruções para a construção: 1) faça o contorno da boca do copo sobre o centro do pedaço de papelão. 2) corte o prato numa medida um menor que a marcação feita, de tal forma que ao colocar o copo na abertura, ele não passe para o outro lado. Figura 1: Construção do teodolito caseiro 3) cole a cópia do tranferidor no centro do pedaço de papelão. 4) faça dois rasgos pequenos na lateral do copo, para passar o palito de sorvete que servirá como mira. Figura 2: Construção do teodolito caseiro 5) cole o canudo no lado oposto a boca do copo, de tal forma que o canudo fique paralelo ao palito de sorvete. Figura 3: Teodolito caseiro Para a utilização, os alunos posicionaram o teodolito caseiro de modo que a sua base ficasse perpendicular ao objeto a ser observado, por exemplo, um ponto da intersecção entre uma das paredes da sala e o seu teto. Nesse momento foi realizada uma discussão com os alunos sobre as alturas que seriam difíceis de calcular apenas com o uso de trenas e escadas, como um prédio de vinte andares por exemplo. Através do canudo, os estudantes miravam no pico do objeto (o ponto mais alto), assim o palito marcava um ângulo no transferidor e a leitura era realizada. Mas os alunos questionaram: mas como esse ângulo vai me fornecer a atura desse prédio? Para responder a essa indagação, relembramos alguns conceitos da trigonometria, como relações métricas do triângulo retângulo (para lembrar o que é cateto oposto, cateto adjacente e hipotenusa) e razões trigonométricas (para lembrar o cálculo da tangente, que envolve cateto oposto sobre cateto adjacente). Outra análise que se apresentou de forma muito interessante é o fato dos alunos também medirem alturas que eram acessíveis de se obter com o uso de escada e trena, porém fizeram iniciamente o cálculo através do uso do teodolito, e para tirar a “prova real” de seu experimento, calcularam utilizando apenas a trena. Uma maneira de explorar a utilização do teodolito é colocar os estudantes, com diferentes alturas, a um metro de distância da edificação que será medida. Fazê-los observar, através do teodolito, o ângulo formado para enxergar o ponto mais alto deste prédio e, com a tabela das tangentes, levar cada um deles a calcular a altura do prédio. Com essa aplicação, podemos fazer a seguinte indagação: Será que os resultados obtidos serão os mesmos? Não, pois devido à diferença de alturas dos alunos, os ângulos serão diferentes. Nesse momento faz-se importante questionar o porquê desse fato ocorrer se estão medindo o mesmo prédio. O objetivo é possibilitar que os alunos pensem numa maneira (única) para calcular a altura do prédio. Antes da aplicação da atividade, foi exemplificada a utilização do teodoito através do seguinte exercício: Exemplo - Um topógrafo foi chamado para obter a altura de um edifício. Para fazer isto, ele colocou um teodolito (instrumento ótico para medir ângulos) a 200 metros do edifício e mediu um ângulo de 30°, como indicado na figura a seguir. Sabendo que a luneta do teodolito está a 1,5 metros do solo, pode-se concluir que o valor que melhor aproxima a altura do edifício, em metros, é: (Use tg 30° = 0,577). Figura 4: Imagem ilustrando o exemplo 4 Considerações Finais Frequentemente a matemática é classificada pelos estudantes como a matéria mais difícil, complicada e sem sentido, a abstração existente nos conceitos matemáticos faz com que os alunos criem uma visão ruim sobre a disciplina. Uma maneira positiva de reverter esse quadro é criar um envolvimento eficaz da equipe pedagógica com os professores, para que juntos possam formular novas propostas metodológicas que aliem a teoria com a prática, utilizando os materiais manipuláveis. Com a aplicação desse projeto, foi possível observar a empolgação e criatividade dos alunos. Eles não só participaram da atividade como também questionaram, raciocinaram e principalmente entenderam o objetivo principal da aula. Um conteúdo tão abstrato e cheio de fórmulas foi tendo sentido para os estudantes, principalmente porque eles puderam diagnosticar uma matemática que pode ser aplicada no cotidiano. Pelo fato da turma ter sido dividida em grupos, a troca e a motivação eram transferidas de aluno para aluno. A finalidade desse projeto foi trazer uma metodologia diferenciada para o ensino da trigonometria, de tal forma que propiciasse um ambiente de sala de aula rico em construção e manipulação do conhecimento. Com as análises dos seus resultados, podemos concluir que novas práticas pedagógicas podem contribuir de forma bastante eficaz para um ensino de qualidade, lembrando que é papel do professor e da equipe pedagógica trabalhar com projetos que viabilizem e promovam aulas ricas em construção e manipulação. Referências BRITO, Arlete de Jesus; MOREY, Bernadete Barbosa. Trigonometria: Dificuldades dos professores de matemática no ensino fundamental. Horizontes, Bragança Paulista, v. 22, n. 1, p. 65-70, jan./jun. 2004 BRIGHENTI, Maria José Lourenção. Ensino e aprendizagem da trigonometria: novas perspectivas da educação matemática. Rio Claro: Universidade Estadual Paulista - Instituto de Geociências Exatas de Rio Claro, 1994. 174 p. Dissertação de Mestrado em Educação Matemática. BRIGHENTI, Maria José Lourenção. Alterando o ensino de Trigonometria em escolas de nível médio: a representação de algumas professoras. Marília:Universidade Estadual Paulista, 1998. 339p. Tese de Doutorado em Educação. DIAS, Dorval Antonio Ferreira; CAMARGO, Susan Nectoux. A construção de conceitos nos estudos trigonométricos. Ciência e conhecimento, Brasil, 2007 V1 ene-jun P1-13 GÓES, Anderson Roges Teixeira; COLAÇO, Heliza. A geometria dinâmica e o ensino da trigonometria. In: Encontro Nacional de Informática e Educação, 2009, Cascavel. I ENINED, 2009 GASPARI, Claudete Aparecida Almeida; GERÔNIMO, João Roberto. O uso de materiais manipuláveis no ensino da trigonometria. Caderno Pedagógico – PDE. Secretaria Estadual da Educação do Estado do Paraná. Maringá, 2008. LAROUSSE. Dicionário da Língua Portuguesa, São Paulo 2001 MENDES, Patrícia Wyse; MOÇO, Priscila Pedroso; MACHADO, Celiane Costa; NOVELLO, Tanise Paula. Uso de material concreto no ensino de trigonometria. In: IX Congresso Nacional de Educação – EDUCERE, Paraná 2009. PIVA, Claudia; DORNELES, Lecir; SPILIMBERGO, Patrícia; DOSCIATI, André Fortin. Explorando conceitos da trigonometria através de software livre. In: X EGEM Encontro Gaúcho de Educação Matemática, 2009.