Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 PLANTAS TÓXICAS: “BRINCANDO COM O PERIGO” Ana Paula Melila Gomes (Mestranda PPGEAS/ FFP/ UERJ) Marcelo Guerra Santos (Professor Adjunto PPGEAS/ FFP/ UERJ) Resumo As crianças são as mais acometidas por intoxicações com plantas. O presente trabalho teve como objetivo registrar o conhecimento que os alunos do Ensino Fundamental possuem sobre plantas tóxicas. Responderam aos questionários 75 alunos com idade entre oito e 14 anos, de uma escola pública de São Gonçalo, Rio de Janeiro. A maioria dos alunos utiliza plantas em suas brincadeiras, a roseira, “mato” e a comigo-ninguém-pode são as mais frequentes. As brincadeiras que mais utilizam plantas são “comidinha”, “bandeirinha”, “casinha”, “chicotinho-queimado” e em todas são citadas plantas tóxicas: comigo-ninguémpode, copo-de-leite e mamona. Metade dos alunos não soube explicar e dar exemplos de plantas tóxicas. Os resultados apontam para a maior difusão do conhecimento sobre as plantas tóxicas. Palavras-chave: etnobotânica, ensino de fundamental, brincadeiras infantis. Introdução As plantas estão cercadas por inúmeros inimigos potenciais. Os ecossistemas estão cobertos por uma infinidade de seus predadores, em especial os animais herbívoros, além dos microrganismos patogênicos. Por sua condição fixa, as plantas tiveram que desenvolver defesas específicas contra os consumidores primários. As substâncias produzidas pelas plantas, os metabólitos secundários (ou especiais), possibilitam uma maneira mais elaborada e eficaz de defesa contra os herbívoros e microrganismos patogênicos. Algumas destas substâncias são tóxicas aos animais (RICKLEFS, 1996). Intoxicação é a capacidade de um determinado composto químico provocar danos ao organismo vivo, acompanhada, geralmente, de sinais e sintomas dos efeitos maléficos da substância (AMORA, 2008). Registros do Sistema Nacional de Toxicologia (SINITOX), com sede na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), apontam que foram notificados no Brasil no ano de 2013, 441 casos de intoxicação de pessoas por plantas, sendo 321 casos com crianças e adolescente de até 14 anos de idade. O único óbito registrado encontra-se dentro da faixa etária de cinco a nove anos de idade e a vítima era do sexo masculino. O caso de óbito foi registrado, quanto à circunstância, como acidente individual (SINITOX, 2013). As intoxicações podem ocorrer de forma acidental, principalmente envolvendo crianças. Em adultos, as intoxicações podem ocorrer de modo acidental e intencional com uso de plantas alucinógenas ou ainda em tentativas de aborto. Segundo o SINITOX (2013), dos SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7472 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 441 casos de intoxicações por plantas registradas para o Brasil no ano de 2013, 357 foram acidentais, 14 acidentes coletivos e os outros 70 casos foram por outras circunstâncias. Estudos realizados por Oliveira (2007) relatam dados colhidos na Unidade de Emergência do Hospital das Clinicas de Ribeirão Preto, entre os anos de 1995 e 2005, sobre intoxicações por plantas envolvendo pacientes com idade de três a 14 anos. Todos os casos foram acidentais, durante brincadeiras individuais ou em grupo nas calçadas, praças ou terrenos baldios. Dos 269 casos de intoxicação, 59 (22%) ocorreram com plantas da família Euphorbiaceae. O pinhão-paraguaio (Jatropha curcas L.) foi a espécie com o maior número de casos registrados para a família, sendo responsável por 68% dos relatos, seguido pela mamona (Ricinus communus L.) com 20% e a coroa-de-cristo (Euphorbia milii Des Moul.) com 12% dos casos. Segundo o SINITOX (2013), a frequência dos gêneros envolvidos nas intoxicações no ano de 2013 foi de 234 (53,06%) casos com pessoas do sexo masculino e 191 (43,31%) casos com pessoas do sexo feminino, 16 (3,63%) casos não informaram o gênero. O maior número de registros ocorreu para a região urbana com 295 casos. Por outro lado, de acordo com Fook et al. (2014) existe a possibilidade de subnotificação no meio rural, pelo fato de os centros de informações toxicológicas estarem localizados na zona urbana. Culturalmente, as pessoas têm o hábito de cultivar e consumir plantas em suas residências, porém, a falta de conhecimento sobre o potencial tóxico de algumas delas é um fator agravante para os casos de intoxicação por plantas envolvendo principalmente as crianças (CUADRA et al., 2012). A presença dessas plantas também é comum em ambientes públicos, tais como canteiros, praças, pátios de escolas entre outros logradouros. Bochner (2006) apud Vasconcello et al. (2009) afirma que as plantas não devem ser removidas de locais públicos, Esse autor aponta que uma solução para a prevenção de acidentes, seria a identificação das espécies com placas informando sobre os riscos, além de atividades educativas que informem as crianças sobre os riscos de brincarem ou colocarem as plantas na boca. Pesquisa realizada por Fook et al. (2014) em escolas estaduais de Campina Grande, Paraíba, constatou que a maioria (85%) dos estabelecimentos educacionais visitados possuíam exemplares de vegetais tóxicos em suas dependências. O conhecimento das espécies mais frequentes nas escolas pode, em muito, auxiliar os educadores na tomada de decisões que visem a prevenção de acidentes. SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7473 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 A tendência dos estudos etnobotânicos, segundo Oliveira et al. (2009), evidencia que a maior parte das pesquisas atua no tema “plantas medicinais”, fator que demonstra a importância de investigações sobre a relação humana com as plantas tóxicas. O total de casos de intoxicação envolvendo menores de 15 anos aponta para a vulnerabilidade deste público para intoxicações por plantas. As plantas exercem atração sobre as crianças por conterem flores, cores, odores, látex, que eventualmente seriam utilizados em brincadeiras infantis que imitam o cotidiano. As crianças durante alguns passatempos podem colocar as plantas na boca, nos olhos ou diretamente na pele, ocasionando intoxicações. O presente trabalho teve como objetivo registrar o conhecimento que os alunos do Ensino Fundamental de uma escola pública do município de São Gonçalo, estado do Rio de Janeiro possuem sobre plantas tóxicas, como estratégia para a difusão do conhecimento acerca da toxicidade que certas espécies apresentam e a prevenção de acidentes. Metodologia O trabalho foi desenvolvido no Centro Integrado de Educação Pública Dr. Armando Leão Ferreira (CIEP 411), sob o endereço Rua Acácio Raposo, s/nº, Engenho Pequeno, São Gonçalo, Rio de Janeiro, Brasil. O CIEP foi escolhido para o desenvolvimento deste trabalho visto que se encontra bem próximo da Área de Preservação Ambiental (APA) do Engenho Pequeno e Morro do Castro. Esta peculiaridade torna a escola uma instituição diferenciada do ponto de vista da educação ambiental. A proximidade entre o CIEP e a APA, teoricamente, proporcionaria uma maior interação entre a comunidade local e as espécies vegetais existentes na reserva, o que poderia facilitar o maior conhecimento das plantas por parte dos moradores. O público alvo do trabalho foi de estudantes do 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental. As idades recomendadas para as séries variam de oito a dez anos e seriam compatíveis com as idades dos casos mais expressivos de intoxicações por crianças e jovens de até 14 anos levantados pelo SINITOX. O questionário foi o método de coleta de dados utilizado e foi subdividido em três etapas que foram aplicadas em dois dias consecutivos durante o mês de setembro de 2010, sendo a segunda etapa realizada em casa com auxílio dos responsáveis. O questionário utilizado foi do tipo estruturado, onde o participante é levado a responder perguntas previamente estabelecidas. As vantagens do questionário dentre outras, são: a economia de tempo; atingir maior número de pessoas simultaneamente; maior liberdade nas respostas, em razão do anonimato; obtenção de respostas que materialmente seriam inacessíveis. As desvantagens são: a porcentagem pequena de questionários que retorna; a impossibilidade de SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7474 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 ajudar o informante em questões mal compreendidas; a devolução tardia; exige um universo mais homogêneo, entre outros fatores (MARKOMI, M. A; LAKATOS, E. M., 2003, p. 201 – 202). As respostas foram limitadas pelo direcionamento das questões, com perguntas abertas que permitiram maior liberdade como: “Que plantas você usa nas suas brincadeiras?” e fechadas e dicotômicas como: “Na sua casa tem quintal?” (sim/não) (ALBUQUERQUE, U. P.; LUCENA, R. F. P., 2004). O questionário objetivou estabelecer o tipo de relação que as crianças desta comunidade tinham com plantas e quais conhecimentos sobre plantas tóxicas elas detinham. A primeira parte do questionário procurou conhecer o público alvo trabalhado a partir da coleta de informações como o sexo (fator que interfere na escolha das brincadeiras), idade e série predominantes. Buscou-se também, verificar que vivências, conhecimentos, que contatos o público alvo teria com as plantas de modo geral. Também, se utilizariam as plantas em seus passatempos, os tipos de brincadeiras e se haveriam plantas que não poderiam usar para brincar, por orientação dos responsáveis (Apêndice 1). A segunda etapa buscou fazer um levantamento das plantas existentes nas residências das crianças, bem como, a sua utilização. Nesta etapa, realizada em casa, os alunos foram orientados a solicitar o auxílio dos responsáveis, pois, muitas crianças poderiam omitir ou confundir os nomes populares das plantas (Apêndice 2). O terceiro passo objetivou verificar o que os estudantes realmente pensavam sobre a existência e perigos que algumas plantas representam à saúde. Para isso, foi perguntado se as crianças conheciam casos de pessoas próximas que tiveram contato com plantas e passaram mal, o que seriam plantas tóxicas e se conheciam o nome de algumas delas (Apêndice 3). Mediante aos resultados obtidos com a pesquisa e com o levantamento das plantas tóxicas e/ou perigosas, de acordo com o imaginário dos participantes, foi elaborado um livreto como um meio de devolução do conhecimento à comunidade trabalhada. Retornar com os resultados para o público trabalhado mostra, além de respeito pela comunidade e compromisso ético do pesquisador, a preocupação de transmitir os conhecimentos sobre plantas tóxicas, neste caso em especial, evitando assim, possíveis casos de intoxicações por plantas envolvendo adultos, jovens e, sobretudo, as crianças. Resultados e Discussão Ao todo, participaram da pesquisa 75 alunos dos 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental, com idade entre oito e 14 anos. Desse total, 38 estudantes eram do sexo SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7475 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 masculino e 37 do sexo feminino. Todos afirmaram morar em casa e 72 crianças relataram ter quintal em casa, o que poderia facilitar o cultivo de plantas para diversas finalidades. Mais da metade dos alunos (48) já brincaram com plantas, desse total, apenas nove não souberam citar os nomes das plantas mais utilizadas durante as brincadeiras, e 39 participantes citaram 18 espécies de plantas (Tabela 1). Tabela 1- Plantas utilizadas em brincadeiras infantis por alunos do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental do CIEP Dr. Armando Leão Ferreira, São Gonçalo, RJ. Nomes populares das plantas Citações Roseira 12 Mato 7 Comigo-ninguém-pode 5 Girassol 4 Beijo, margarida, maria-sem-vergonha e samambaia. 2 (cada) Abacateiro, aceroleira, amoreira, bananeira, copo-de-leite, dente-de-leão, 1 (cada) dormideira, espada-de-são-jorge, mamona e mangueira. Dados semelhantes foram encontrados por Melila e Santos (2010) em uma escola particular no município de São Gonçalo, onde 19 crianças (de um total de 38) declararam usar plantas para brincadeiras como: “bandeirinha”, “piques”, “médico”, “estudo de plantas”, “casinha”, “subir” (nas plantas, provavelmente em árvores) e “jardineira”. As plantas mais comuns durante as brincadeiras foram o coqueiro aparecendo, com três citações, bananeira, goiabeira e roseira em duas citações cada, mostarda, mangueira, girassol e margaridas em uma citação cada. A outra metade das crianças apontou não usar plantas em brincadeiras. As brincadeiras em que as plantas são usadas podem ser visualizadas na Tabela 2. Algumas plantas citadas são descritas como tóxicas: comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia spp. – Araceae), copo-de-leite (Brugmansia spp. – Solanaceae) e mamona (Ricinus communis L. – Euphorbiaceae) (MATOS et al., 2011). As plantas descritas como mato são plantas herbáceas sem utilidade ou usadas pelo homem como alimento para animais (MERHY; SANTOS, 2014). Na tabela 3 pode-se verificar que as brincadeiras que mais utilizam plantas são “comidinha”, “bandeirinha”, “casinha” e “chicotinho-queimado”. Novamente houve citações de plantas tóxicas: comigo-ninguém-pode, copo-de-leite e mamona. Esta informação demonstra que a falta de conhecimento sobre a toxicidade de algumas plantas utilizadas em SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7476 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 brincadeiras infantis podem ocasionar casos de intoxicação em crianças (CUADRA et al., 2012). Tabela 2- Brincadeiras em que são utilizadas plantas pelos alunos do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental do CIEP Dr. Armando Leão Ferreira, São Gonçalo, RJ. Brincadeiras Citações Comidinha 20 Bandeirinha 12 Casinha 6 Chicotinho-queimado 3 Subir (em árvores) 2 Assoprar, estourar as sementes, fazer perfume, floricultura, imitar cobra, 1 (cada) jardinagem (replantando-as) e mal-me-quer-bem-me-quer. Tabela 3- Relação das brincadeiras e plantas utilizadas pelos alunos do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental do CIEP Dr. Armando Leão Ferreira, São Gonçalo, RJ. Brincadeiras Plantas Comidinha Casinha Aceroleira, beijo, comigo-ninguém-pode, girassol, margarida, maria-sem-vergonha, mato e roseira. Amoreira, bananeira, comigo-ninguém-pode, dormideira, mamona, mato (possivelmente alguma gramínea) e samambaia. Comigo-ninguém-pode, margarida e roseira. Chicotinho-queimado Copo-de-leite, girassol e roseira. Subir (em árvores) Abacateiro e mangueira. Assoprar Dente-de-leão Estourar as sementes Mamona e maria-sem-vergonha . Fazer perfume Rosa Floricultura Roseira e aceroleira. Imitar cobra Espada-de-são-jorge Jardinagem (replantando-as) Roseira Mal-me-quer-bem-me-quer Girassol Bandeirinha A falta de conhecimentos sobre as espécies vegetais tóxicas é apontada pelos especialistas como o principal fator para ocorrência de casos de intoxicação, portanto, a melhor forma de prevenir é o conhecimento e a divulgação das espécies tóxicas, assim como a SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7477 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 prevenção para a diminuição dos acidentes envolvendo plantas tóxicas em programas educativos junto à população (VASCONCELOS, 2009). A relação entre gênero e brincadeiras (Tabela 4) revela ainda que as meninas brincam mais com plantas que os meninos. Entretanto, segundo dados do SINITOX (2013), no ano de 2013, houve um número maior de ocorrências de intoxicação por plantas para o gênero masculino (53,06%) em relação ao feminino (43,31%). Apenas 11 meninas (das 37) não brincaram com plantas e as demais utilizaram plantas em brincadeiras que lembram as atividades domésticas. Entre os meninos, 16 afirmaram não brincar com plantas e o restante teve contato com plantas na brincadeira chamada de “bandeirinha”. Tabela 4- Brincadeiras realizadas com plantas de acordo com o gênero dos alunos do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental do CIEP Dr. Armando Leão Ferreira, São Gonçalo, RJ. Sexo feminino Sexo masculino Brincadeiras Citações Brincadeiras Citações Comidinha 17 Bandeirinha 10 Casinha 3 Casinha e comidinha. 3 (cada) Chicotinho-queimado e subir. 2 (cada) Bandeirinha e 2 (cada) chicotinhoqueimado. Apertar, assoprar, 1 (cada) mal-me-quer-bemme-quer, perfume e floricultura. Imitar cobra jardinagem. e 1 (cada) Para Silva et al. (2006), estudos apontam diferenças de estilos e preferências de brincadeiras, os meninos brincam em grupos maiores e são mais preocupados com status e reputação dentro dos grupos, são mais rígidos com seus papéis de gênero e mais preocupados em rejeitar a feminilidade, enquanto as meninas são mais intimistas nas interações, mais cooperativas, fazem mais trocas de confidências e são mais flexíveis. Apenas 39 crianças afirmaram receber algum tipo de orientação de seus responsáveis para não mexerem em plantas ao brincar. Porém, as orientações vindas por parte dos adultos nem sempre estão relacionadas aos cuidados de prevenção de acidentes de intoxicação. Na maioria dos casos, as crianças não sabem o motivo da orientação ou há cuidados com algumas plantas específicas que seriam utilizadas como ornamentais ou por serem comestíveis, como mostra a tabela 5. O cuidado dos responsáveis para com as crianças, em não manipularem as plantas, está relacionado desde o cuidado com a própria planta, por provavelmente representar beleza SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7478 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 e adorno, até o fato de possuírem estruturas perfurantes e toxinas causadoras de danos à saúde infantil (MELILA, A. P. S. S.; SANTOS, M. G., 2010). Tabela 5- Plantas que os alunos seriam orientados a não mexer, os motivos para a orientação dada pelos responsáveis e citações. Alunos do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental do CIEP Dr. Armando Leão Ferreira, São Gonçalo, RJ. Plantas Motivos, apontados pelas crianças, para não poder Citações mexer nas plantas Roseira Tem espinho, serve para enfeitar ou não sabem. 9 Comigo-ninguémpode Urtiga Samambaia Venenosa, dá alergia ou faz passar mal. 5 Pinica ou não sabem. Para não quebrar 4 3 Espada-de-são-jorge Pimenta Carinho pela planta ou não sabem. Arde a boca. 2 2 Abacateiro Para comer. 1 Alface Para não matá-la. 1 Babosa Dá alergia. 1 Espinheira-santa Espeta 1 Aceroleira, coqueiro, Não sabe. dormideira, espirradeira e girassol. 1 (cada) Quando os alunos foram questionados sobre quais plantas possuem em casa e para que elas são utilizadas, eles relataram 73 nomes populares, que são usadas para diversas finalidades: comestível (31 plantas), ornamental (23), medicinal (19), religioso (2) e cosmético (1) (Tabela 6). O quintal é o espaço onde são cultivadas espécies frutíferas e hortaliças, plantas para enfeitar e para tratar doenças. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 80% da população mundial depende de plantas para cuidados com a saúde, relatam ainda, que 85% da medicina tradicional utiliza as plantas medicinais, seus extratos vegetais e seus princípios ativos. Entretanto, a sua prescrição e utilização devem ser acompanhados por um especialista, para evitar o uso indevido e, até mesmo, a utilização de plantas tóxicas. Do total de participantes (75), 35 não souberam explicar o que seriam plantas tóxicas e não escreveram exemplo. Os outros 40 alunos explicaram e desses, seis alunos não souberam citar quais são as plantas tóxicas. As plantas mais citadas pelas crianças como sendo perigosas nem sempre estão relacionadas às substâncias tóxicas (metabólitos secundários) que elas SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7479 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 podem produzir. Em algumas respostas apareceram plantas com espinhos, roseiras e plantas “carnívoras” como exemplos que representam perigo para o público infantil (Tabela 7). Tabela 6- Plantas que seriam cultivadas nas casas dos alunos, suas utilidades e citações. Alunos do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental do CIEP Dr. Armando Leão Ferreira, São Gonçalo, RJ. Planta Utilização Citações Planta Utilização Citações Roseira Enfeite e remédio 19 Erva-de-santa-maria Chá 2 Erva-cidreira Chá calmante 13 Espada-de-são-jorge Enfeite 2 Samambaia Enfeite 13 Hortelã Tempero 2 Coqueiro Enfeite e comer 11 Laranja da terra Chá (gripe) 2 Boldo Chá 9 Morango Comer 2 Acerola Chá e comer 9 Pimentão Comer 2 Capim-limão Chá 7 Romã Garganta 2 Mangueira Comer 7 Violeta Enfeite 2 Saião Inflamação 7 Abacaxi Comer 1 Alfavaca Tempero 6 Arnica Dor muscular 1 Girassol Enfeitar 6 Beijo Enfeite 1 Alface Comer 5 Cana-do-brejo Chá 1 Babosa Cabelo 5 Capim Enfeite 1 Limão Comer 5 Dama-da-noite Enfeite 1 Mamão Comer 5 Dente-de-leão Enfeite 1 Abacate Comer 4 Dormideira Chá 1 ComigoEnfeite e tirar 4 Feijão Comer 1 ninguém-pode olho gordo. Erva-doce Chá 4 Graviola Comer 1 Hortelã-pimenta Tempero 4 Ingá Comer 1 Orquídea Enfeite 4 Ipê-amarelo Enfeite 1 Margarida Enfeite 4 Ipê-rosa Enfeite 1 Camomila Chá 3 Lírio Enfeite 1 Banana Comer 3 Louro Tempero 1 Pimenta Comer 3 Mandioca Comer 1 Alecrim Chá 2 Manjericão Tempero 1 Amora Chá (pressão alta) 2 Maracujá Comer 1 Amor-do-campo Purificar o corpo 2 Oliveira Abençoa (sagrada) 1 Aroeira Enfeite 2 Papoula Enfeite 1 Antúrio Enfeite 2 Quiabo Comer 1 Goiaba Chá (prender 2 Raio-do-sol Enfeite 1 intestino) Café Chá 2 Salsa Comer 1 Cana Comer 2 Tinhorão Enfeite 1 Canela Comer 2 Tomate Comer 1 Cebolinha Comer 2 Urucum Tempero 1 Coentro Tempero 2 Vinácia Enfeite 1 Copo-de-leite Enfeite 2 Onze-horas Enfeite 1 Couve Comer 2 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7480 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Tabela 7- Plantas tóxicas segundo a concepção dos participantes e citações. Alunos do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental do CIEP Dr. Armando Leão Ferreira, São Gonçalo, RJ. Plantas Citações Plantas Citações Carnívora 12 Limoeiro e maconha 4 (cada) Comigo-ninguém-pode 8 Urtiga 3 Roseira 7 Alecrim e samambaia 2 (cada) Plantas com espinhos 5 Aroeira, azaleia, beijo, cactos, 1 (cada) camomila, capim, carrapicheira, copo-de-leite, dente-de-leão, dormideira, erva-doce, espada-desão-jorge, espinheira-santa, girassol, laranjeira, mamona, margarida, saião e onze-horas. A informação anterior avigora a necessidade de divulgar os conhecimentos sobre plantas tóxicas para as crianças, principais vítimas dos acidentes de intoxicação por plantas. Pesquisadores enfatizam ainda a necessidade urgente de atividades interdisciplinares de prevenção pela educação para reduzir o número de acidentes envolvendo plantas tóxicas. Essas ações devem priorizar os lugares frequentados pelo maior grupo de risco, ou seja, as crianças, entre os lugares públicos estão as praças, parques, jardins e as escolas (CUADRA et al., 2012). Considerações Finais A partir deste trabalho foi possível chegar a algumas considerações importantes a respeito da relação entre os participantes e as plantas. Muitas crianças utilizam plantas em suas brincadeiras cotidianas, inclusive, aquelas que são reconhecidamente tóxicas. As meninas são as que mais utilizariam plantas para brincadeiras que imitam as tarefas domésticas. Uma parte significativa dos participantes não recebe informações ou orientações de seus responsáveis para não brincar ou mexer em plantas e quando está orientação acontece, em muitos casos envolve o cuidado com as próprias plantas. As brincadeiras desorientadas podem ser um dos motivos que levam as crianças a serem as mais acometidas pelas intoxicações por plantas. A disponibilidade das plantas tóxicas nas residências dos participantes, relacionada à falta de informação, também pode contribuir para a ocorrência de intoxicação. Algumas plantas tóxicas são utilizadas para enfeitar o ambiente e para uso simbólico, e em vários casos, são desconhecidas como contendo substâncias tóxicas. Uma expressiva parcela dos participantes não soube conceituar e exemplificar plantas tóxicas. SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7481 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Outro ponto que merece destaque seria a falta de orientação nos meios de comunicação, em geral, há diversos programas que ressaltam a toxidade de animais enquanto que sobre plantas, poucas são as informações de caráter preventivo. O não reconhecimento das plantas tóxicas que estão ao redor das pessoas também facilitam os acidentes de intoxicação por plantas. Enfim, fica evidente a necessidade de ações na área da saúde articulada com a área da educação, visando maior divulgação das plantas tóxicas e consequentemente a prevenção de casos intoxicação por plantas. Agradecimentos Agradecemos a FAPERJ, CNPq e PROCIÊNCIA (UERJ) pelo suporte financeiro. Aos professores, alunos, responsáveis dos alunos, funcionários e direção do CIEP 411 pela disponibilidade para a realização desta pesquisa. Referências Bibliográficas ALBUQUERQUE, U. P.; LUCENA, R. F. P. Métodos e Técnicas na Pesquisa Etnobotânica. Recife: Livro Rápido/NUPEEA, 2004. AMORA, S. Minidicionário Soares Amora da Língua Portuguesa. 18ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008. CUADRA, V.P.; et al. Consequences of the Loss of Traditional Knowledge: The risk of injurious and toxic plants growing in kindergartens. Ethnobotany Research & Applications, v.10, p.77-94, 2012. FOOK, S. M. L.; et al. 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Avanços nas pesquisas etnobotânicas no Brasil. Acta Botanica Brasilica 23(2): 6-15, 2009. OLIVERA, R. B.; et al. Intoxicações com Espécies da Família Euphorbiaceae. Revista Brasileira de Biociências, v. 5, supl. 1, p. 69-71, 2007. SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7482 Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 RICKLEFS, R. E. A Economia da Natureza. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1996. SILVA, A. C. et al. Diferenças de gêneros nos grupos de brincadeiras na rua: a hipótese de aproximação unilateral. Psicologia: reflexão e crítica, Porto Alegre, v. 19, p. 114‑121, 2006. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/%0D/prc/v19n1/31300.pdf>. Acesso em: 9 de jun. de 2016. SINITOX. Sistema Nacional De Toxicologia/ Fundação Oswaldo Cruz. Tabelas. Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: <http://sinitox.icict.fiocruz.br/dados-nacionais> Acesso em: 17 de Jun. de 2016. VASCONCELOS, J.; et al. Plantas Tóxicas: Conhecer para Prevenir. Revista Científica da UFPA, v. 7, n. 01, 2009. Apêndice 1: Nome Completo: Data de nascimento: Série: Sexo: ( ) Masculino ( )Feminino Tipo de moradia: ( ) Casa ( ) Apartamento (prédio) 1-Sua residência possui quintal? ( ) Sim ( ) Não 2- Já brincou com alguma planta? Escreva o nome da planta: 3- Que brincadeiras eram essas? 4- Existe alguma planta que seus responsáveis (ou pessoas mais velhas) não deixe você mexer? Diga o nome desta planta? 5-Você sabe por que não pode mexer nessas plantas? Apêndice 2: Nome Completo: Série: 1-Que plantas você possui em casa? Cite todos os nomes que puder preenchendo o quadro: Nome da planta Para que elas são utilizadas em sua casa? 2-Desenhe e escreva o nome de alguma planta que você conhece: Apêndice 3: Nome Completo: Série: 1-Você conhece alguma pessoa que já tenha passado mal ao mexer, comer ou tomar chá de alguma planta? Explique como foi e escreva o nome dessa planta? 2-O que são plantas tóxicas? 3-Quais plantas tóxicas você conhece? Nome da planta Por que são tóxicas? SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia 7483